Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 63
Capítulo Vinte - Furacões e Redemoinhos


Notas iniciais do capítulo

Maratona!♥
A música que usei como inspiração para o capítulo foi "Future Days" da incrível banda Pearl Jam. Recomendo muito ouvirem e repetirem enquanto leem o capítulo!
link:https://www.youtube.com/watch?v=Ui1NvdntbpM



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If I ever were to lose you
I'd surely lose myself
Everything I have found dear
I’ve not found by myself

 Tudo aconteceu em câmera lenta.
Ela não olhou para trás, apenas estendeu os braços para o lado, um gesto de proteção para aquele por quem havia se apaixonado. O ruivo tinha pela primeira vez uma reação aparente no rosto, os olhos escuros, na verdade acinzentados mais do que negros, arregalados, ele fez menção de puxa-la para trás, para perto de si, mas o homem com a arma acabou apontando novamente para ele e Castiel teve de parar, não por ele, mas por ela. Por medo de ela se arriscar mais do que já estava fazendo.
Rosa tinha ambas as mãos sobre os próprios lábios, os olhos arregalados e aflitos. Castiel tinha um braço estendido impedindo-a de passar de onde ele estava para evitar mais movimentos bruscos que pudesse compromete-los de alguma maneira. A aflição era grande e a sensação de sonho, melhor, pesadelo, cada vez mais aparente. Que acordasse logo, pelo amor de Deus.
Natsumin prendia as lágrimas com força e se recusa a olhar para trás, ver o rosto dele cada vez mais perto, ou notar que não havia nada em seus olhos, nem mesmo a sensação de agradecimento. Naquele momento, antes de pensarem em mais movimentos bruscos, enquanto ouviam apenas as respirações altas e fortes uns dos outros, a tensão que atingia também os próprios bandidos, tudo parecia um filme em pelícúla defeituosa, com riscos na emulsão como memórias fraquejadas, cores desvanecendo.... Dentro dela, na verdade, tudo desvanecia ao cinza, ela perdia o contorno da verdade, tudo parecia cada vez mais embaçado, sua cabeça doía pelas emoções que prendia, seu peito ardia em explosão. Droga, como estava perdida de paixão.


Try and sometimes you'll succeed to make this man of me
All my stolen missing parts I’ve no need for anymore


Os policiais adentraram repentinamente, as ameaças ao homem armado nítidas e claras nas vozes duras. Entraram em grupo de cinco, bem armados, enquanto a viatura esperava do lado de fora. A tensão era tão grande e eles foram tão profissionais e meticulosos que sequer um dos presente os notou até entrarem por aquela porta.
Não sabia se era o alívio, a descarga sentimental, o choque dentro de si mesma.... Só sabia que se sentia cada vez mais fraca e se sentia dentro de um redemoinho, não conseguia para de girar, queria vomitar, a sensação era terrível, mas não conseguia, não tinha forças pra vomitar. Então tudo apagou.

I believe and I believe ‘cause I can see
Our future days, days of you and me


— Natsumin!
Rosa sorria com os olhos e os lábios sem mostrar os dentes. Tinha as duas mãos no rosto da menina e parte de seu cabelo prateado caía sobre a face dela - fazendo-a inclusive coçar o nariz - e Rosa os retirava, mas retornavam, teimosos. Leigh de repente apareceu por trás e retirou-os para Rosa. Uma mão em seu ombro, acariciando-o, a outra em seu cabelo. Eram, de fato, um belo casal.
Natsumin não movia o corpo, apenas os olhos e passeando-os pelo local, pôde identificar mais ou menos onde estava. Ainda parecia a casa de Lysandre. A lembrança daquele sonho esquisito fez sua cabeça doer. Ela não falou nada, mas em seus olhos via-se a preocupação. Onde ele estava? Onde estava Castiel?
Encontrou-o enfim.
Na sacada do que parecia ser um quarto onde estava, decorado em cores e tons sutis, do bege ao marrom sem variar muito. Tinha os braços cruzados sobre o peito, a cabeça baixa, pensativa, à sua frente, mas com o corpo de lado para ele e de costas para Natsumin na cama, estava Lysandre. Rosa, boa observadora, não deixou passar.
— Você foi magnífica, Natsumin. — ela retirou os olhos dos da menina, que deu um pequeno sorriso, e virou-os para o Castiel da sacada. — Ele subiu as escadas com você no colo. Foi tão bonito. — Rosa sorriu. — Desde então ele não saiu daqui do quarto. Lys o está fazendo companhia agora.
Natsumin apenas desviou o olhar. Obviamente não lembrava de nada além de ter apagado e o que acontecera antes disso. Mas, até agora ainda acreditava que tivera sido um sonho. Então a verdade era que não fora mesmo.

Back when I was feeling broken
I focused on a prayer, you came deep as in the ocean
Its something I cant hear


— Não negue pra mim, Natsumin. — Leigh se afastou e Rosa segurou as duas mãos da menina. — Eu vinha percebendo há um tempo, mas sei bem como você é e preferi respeitar o que você queria por um tempo.
Natsumin apertou os dedos dela levemente. Era quase um "sim".
— Lembra do que eu te disse na loja do Leigh, antes do seu "encontro"?— Rosa apertou suas mãos de volta, mas Natsumin virou o rosto para o lado.
— "quando estamos apaixonadas, há um brilho diferente nos olhos" — a menina repetiu a frase sem olhar Rosa nos olhos.
— Nats, olha pra mim. — Natsumin levantou o dorso, encostando-se a um travesseiro. Não queria mais ficar deitada. Fez o que Rosa pediu. — Você tem esse olhar toda vez que está junto dele. E hoje brilhou ainda mais forte quando o defendeu.
— Rosa, é um segredo só nosso. Promete? — Natsumin focou os olhos profundamente nos dela, a imensidão daqueles olhos azuis não escondiam a aflição maior que era alguém descobrir o que sentia. A capa de marionete caindo aos poucos, as cordas se arrebentando. Tudo um sinal de que estava perdendo-se no caminho que traçara a sim mesma e aquilo era a maior dor que podia sentir. Por amor aos pais, precisava privar-se do amor de Castiel.
— Só se me prometer que contará pra ele.


All the complexities and games, no one wins but somehow they're still played
All the missing crooked hearts they may die but in us they live on


— Rosa, eu não....
Nesse momento, entraram Ayuminn e Tsubaki também. Avisadas por Leigh, era certo. Tsubaki não estava no momento em que tudo acontecera, mas como combinado, chegara depois para resolver a história com Natsumin, até se deparar com a casa cheia de policiais. Entrara em desespero, era um fato, Tsubaki nunca foi de retrair seus sentimentos e sempre foi muito impulsiva. Rapidamente identificara Ayuminn e ficaram conversando por horas. Viu como Natsumin foi carregada nos braços do ruivo arrogante do colégio. Havia algo de diferente nele naquele momento, como se, mesmo que momentaneamente, ele estivesse abandonando toda a pose de bad boy. Ele subia os degraus olhando para o rosto de olhos fechados de Natsumin. E, mesmo ele tendo olhado para os lados antes para se certificar de que ninguém o observava, ao longe Tsubaki pôde vê-lo pousar os lábios na testa de Natsumin antes de entrar com ela para o quarto. Ficaram sozinhos por pelo menos quinze minutos e ninguém além do ruivo tinha ideia do que acontecera naquele quarto naquele momento.
Passados os quinze minutos, Rosa ficou lá com ela e, a pedido de Ayuminn, Tsubaki ficou ali embaixo até Leigh, como prometido, voltar para dizer que Natsumin acordou. Ayuminn sabia como Tsubaki era barulhenta, ainda mais uma Tsubaki desesperada como estava, então Tsubaki não hesitou ao concordar.


I believe and I believe ‘cause I can see
Our future days, days of you and me


Quando passaram aquela porta, Tsubaki não conseguiu conter as lágrimas. Natsumin estava falando algo com Rosa, mas imediatamente foi interrompida e a menina de cabelos castanhos e olhos amarelos correu para a menina na cama, abraçando-a com tanta força e tanto amor que Natsumin não reclamou das dores na cabeça. Tsubaki chorava como uma criança que se perdeu da mãe no supermercado ou quando o seu animal de estimação foge de casa. Chorou como nunca havia chorado nos últimos meses, último ano. Sentira tanta falta de Natsumin, ouviu o que ela fez, um gesto tão bonito por alguém que Tsubaki não conhecia ao certo, mas estava curiosa para saber o que o ruivo pensava no momento. Separou-se daquele abraço, apertou as mãos de Natsumin ligeiramente e afastou-se para que Ayuminn fizesse o mesmo. Ayuminn, mais sutil, já tinha lágrimas nos olhos e abraçou Natsumin com doçura e levemente, deixando as lágrimas caírem por completo assim que apertou a antiga amiga com força. Natsumin notou que a menina tinha o corpo muito quente, estava em febre e com certeza precisava de melhor tratamento do que ela. Mas não foi preciso esclarecimentos naquele momento. Ou pedido de desculpas. Depois que se separaram daquele abraço, só havia sorrisos contentes nos rostos das quatro e um destaque para o sorriso de orgulho de Rosa.


When The hurricanes and cyclones raged
When winds turn dirt into dust
When floods they came and the tides they raised, ever closer became us


— Pensei que tivesse parado.
Dessa vez inverteram as posições. Castiel era quem estava virado para a sacada, apoiado na grade de mármore na altura do seu abdômen mais ou menos. E Lysandre, por sua vez, era quem estava de lado, encostado à parede e com os braços cruzados. Apesar de os olhos e rosto estarem voltados para o jardim.
— Eu parei. — Castiel manteve o semblante sério e tragou mais uma vez, entreabrindo os lábios tranquilamente para soltar a fumaça acinzentada lentamente. — Isso é só pra relaxar.
Lysandre franziu o cenho e manteve-se calado. Conhecia o amigo há muito tempo, sabia que algo o inquietava e que tinha a ver com a situação com Natsumin e o contrato com Debrah. Realmente precisava relaxar, mas Castiel acabava encontrando uma maneira ruim para isso.
— "Quando furacões e ciclones se enfureceram
Quando os ventos transformaram a sujeira em poeira
Quando as inundações vieram e as marés se levantaram
Nos tornamos ainda mais próximos". — Castiel tragou mais uma vez.
— É uma boa letra. — Lysandre aprovou.
— Não é minha. Pearl Jam. — soltou junto à fumaça. Em seguida, os olhos voltaram-se para Lysandre, esperando-o entender o que ele quis dizer.
— Entendo. — Lysandre voltou o rosto ao jardim. Castiel fez o mesmo.
Ambos não precisavam de muitas palavras para entender um ao outro. Assim como Castiel bem percebia que Lysandre estava caidinho pela novata que trabalhava na casa dele, inclusive tinha um olho roxo enfeitando a cara nesse momento justamente por defendê-la, e Lysandre sabia que Castiel e Natsumin eram mais íntimos do que pensavam.
Enquanto olhando aquela fumaça esvair-se no vento, Castiel lembrava-se do que aconteceu depois que colocou Natsumin na cama. Olhando aquele rosto desacordado, Deus, como ela era linda. Por dentro e por fora. Ficou por um tempo ali, olhando seu rosto deitado no travesseiro, sentou-se ao lado de seu corpo pequeno e esbelto e, finalmente, segurou sua mão.
— Obrigado, garotinha. — teve vontade de beija-la naquele momento, mas se conteve. — Mas nunca mais faça isso de novo. — ele baixou o rosto, pousando a testa suavemente na dela. — Eu tive muito medo de te perder hoje. por favor, nunca mais faça isso comigo. — a tentação de beija-la era ainda maior agora, mas conteve-se e se afastou, seguindo para a sacada antes que alguém o visse ali, tão próximo dela.


All the promises at sundown, I met them like the rest
All the demons used to come round I'm grateful now they've left


— Ela acordou.
Rosa repentinamente apareceu na sacada e Castiel não se virou, apesar de em seu rosto estar aparente o alívio. Lysandre assentiu e sorriu para Rosa e virou o corpo para trás, observando o grupo de meninas. Olhou para Castiel, convidando-o a segui-lo e o ruivo assentiu, apagando o cigarro e jogando-o na pequena lata de lixo no canto da sacada. Os dois aproximaram-se e Castiel pôde ouvir Natsumin pronunciar algo estranho "espero que um dia vocês possam me perdoar" para as novatas. Para ele pouco importava, já tinha problemas demais. Resolveu esquecer.
A menina levantou os olhos ao ver os rapazes se aproximarem.
— Que bom que está bem, Nastumin. — Lysandre sentou-se ao seu pé na cama e apertou uma de suas mãos com as suas.
— Foi só uma dor de cabeça. — Natsumin sorriu. Os olhos passaram rapidamente pelo ruivo que tinha ambas as mãos nos bolsos e desviava o olhar. Naquele momento houve um rápido encontro, mas ambos desviaram os rostos. — Mas acho que já dei trabalho demais, acho que vou pra casa.
— A teimosa está falando isso desde que acordou. — Rosa balançou os ombros.
— Eu a levo em casa, sem problemas. — Lysandre levantou-se e ofereceu a mão para ajuda-la a levantar-se também. Natsumin mais uma vez passou os olhos por Castiel, sério e agora de braços cruzados.
— Não se preocupe, eu vou com Tsubaki e Ayumin. — Natsumin sorriu para o rapaz, depois para as meninas.
— Ayuminn está doente, não terá condições....
— Eu irei, estou um pouco melhor. — Ayuminn cortou-o, na face formando-se o rubor. E Rosa balançou a cabeça novamente.
— A senhora não vai, eu te proibo. — Rosa posicionou-se. — Não era nem para estar aqui, está com febre. — voltou os olhos para Lysandre. — E nem o senhor, Lys. Já viu esse olho horroroso? É melhor os dois ficarem aqui. — olhou para Castiel, esperou uma resposta, mas o ruivo não se pronunciou.
— Ela vai comigo, Rosa. — Tsubaki se manifestou. — E eu tenho muita coisa pra fazer hoje então também preciso ir agora.
— Resolvido então. — Rosa não deixou de tentar notar alguma reação em Castiel, mas o ruivo permanecia impassível.


So persistent in my ways, Angel I am here to stay
No resistance, no alarms
Please this is just too good to be gone


Enquanto a tarde vinha chegando ao fim e os ventos do sul balançavam seus cabelos... ele não tirava os olhos dela.
Enquanto as meninas riam e se abraçavam, brincavam umas com as outras, aliviadas, sentidas, mas acima de tudo felizes. Felizes por estarem vivas, felizes por, apesar do susto, tudo ter corrido bem, todos estarem mais unidos após os furacões e ciclones... ele não tirava os olhos dela. 
— Bom, adeus, gente! — Tsubaki sorriu e acenou depois de ter se despedido com abraços de cada um, desde Leigh à Castiel, que, mesmo sem querer, acabou ganhando um abraço entre risos dos que assistiam, incluindo Natsumin. A menina, por sua vez, abraçou Rosa, Lysandre, apertou a mão de Leigh que retribuiu com um ligeiro aperto em seu ombro e abraçou Ayuminn. Apenas acenou para Castiel, que mantinha-se impassível com as mãos nos bolsos e os olhos.... Bom, embora ela não percebesse,... ele não tirava os olhos dela.
E no fundo desses olhos, havia todas as vontades que ele reprimia, os anseios que escondia, mas naquele momento, esses mesmos olhos eram seu grande inimigo. O denunciavam e apenas os que o notavam poderiam perceber. Natsumin não o fazia, afinal estava na mesma situação dele, acabaria se denunciando. Havia algo de distinto em Castiel naquele momento. Algo que o fez impedir Natsumin de passar por aquele portão. Algo que o fez segurar seu pulso para que a menina olhasse-o nos olhos e visse naquela profundidade cinza escura, quase negra, naquela negritude.... O seu anseio por ela.
— Espera. — ainda com a mão segurando o pulso dela. — Não acha que vou te deixar sair assim. — deixou-se soltar aquele adormecido sorriso de coiote, dessa vez mais sutil, enquanto o restante já passava o portão à frente deles, junto à Tsubaki e quase nem notando que Natsumin ficara para trás com o ruivo. Ou melhor, fingindo que não notaram.
— Castiel, eu preciso... — ela tentava desvencilhar-se do braço dele.
— Todos nós precisamos de alguma coisa e no momento, preciso de você. — ele retornou ao semblante sério. Nesse momento, Natsumin ruborizou, em suas órbitas azuis via-se a pequena parcela de felicidade que nunca se permitiria ter.
— Não nesse sentido. — ele desviou o olhar e ela agradeceu por aquele balde de água fria. — Preciso falar com você.
Natsumin abaixou os olhos e o rosto. Não queria olha-lo, não queria deixar seus olhos a denunciarem.
Castiel de alguma forma sorriu naquele momento. Bem sutil, quase imperceptível. Levantou o queixo dela com a ponta dos dedos, precisava mesmo falar com ela. — Mas a sós. — olhou para o aglomerado de gente além do portão. Naquele momento puderam reparar que estiveram sendo observados. Tsubaki que não sabia como disfarçar tentou desviar o olhar, mas acabou virando o corpo inteiro e não rápido o suficiente. Ayuminn abaixou o rosto, Rosa passou a assobiar e Lysandre e o irmão permaneceram impassíveis.
— Vamos logo. — Natsumin esquivou-se do ruivo, passando a andar na sua frente e balançando a cabeça enquanto sorria pela reação nada discreta das amigas. Natsumin aproximou-se, despediu-se de cada uma com abraços apertados e a promessa de que em breve se esclareceriam. Estava na hora de começar a lidar com o seu passado sem machucar as pessoas que ama. Abraçou Lysandre também e Leigh, apesar de não ser muito íntima de ambos, nesse dia as emoções estavam à flor da pele. Castiel tocou o ombro de Lysandre e e acentiu para Leigh e as meninas, sem dizer uma palavra. Os dois seguiram a pé pela rua, em silêncio. Do portão, eram observados pelos diversos pares de olhos.
Sim. Rosa pensou consigo mesma. Quando os dois estão juntos, o mundo para ao redor.


I believe and I believe ‘cause I can see
Our future days, days of you and me
You and me
Days of You and Me


Nossa.
A cada passo tudo o que podia sentir era seu coração disparar. Não entendia o motivo, era uma queimação iminente, que assim que chegava ao ápice, desvanecia para logo retornar. Um incômodo que deixava Natsumin desconfortável. Sentia-se quente e podia apostar que o rosto estava rubro. Evitava olhar para ele principalmente por esse motivo. Também, sabia que Castiel não falaria nada até que chegasse à sua casa. Se queria falar a sós com ela, era porque tinha algo muito sério para questionar.
No caminho que levava à casa dele, ia recordando-se dos momentos que tiveram na porta da sua casa, quando ele a carregou para a cama na chuva, quando chegou ali pela primeira vez, quando conheceu Dragon. Os olhares que dividiram sob aquele teto foram tão intensos que ela já se julgava por ter se entregado à ele mesmo que apenas através do olhar. Respirou fundo, as mãos estavam geladas, algo a dizia que seria definitivo, que essa conversa seria uma porta para a entrega de si mesma àquele ruivo mal humorado, àquele diamante bruto, ou a passagem para o adeus.
Ela não percebia, mas ele a olhava de soslaio, a cabeça baixa e parte do cabelo rubro bloqueando a visão do perfil dela. Natsumin era muito bonita, tinha que admitir. Mas também tinha que se decidir. Não sabia o que queria exatamente em relação à ela, precisava esfriar sua cabeça e apenas o desejo não seria suficiente para mantê-lo ali. Tinha um compromisso a tratar, não poderia largar seus sonhos por causa de um desejo estúpido. Se a queria? Sim, como queria, mas não tinha ideia de como, se seria ter Natsumin o suficiente para mantê-lo completo. Castiel sentia que só poderia estar completo ao lado de Debrah. Não sabia ao certo se planejava voltar com ela, ao que tinha, a única certeza que tinha era que precisava dar asas a seu sonho, seguir com o que sempre quis e essa era a oportunidade de ouro.
Só que depois de hoje... Droga! Natsumin se dispôs a sacrificar sua vida por ele, isso sim significava muita coisa.
E ele só queria saber o que fazer com essa significância.
Queria também saber o que poderia fazer, o que se dispusera a fazer. Ao menos sabia o que queria, ou por que a chamara para conversar a sós, mas intuitivo por si só, não pensou duas vezes depois de vê-la naquele portão, depois de leva-la mais uma vez em seus braços, desacordada. Depois de sentir Natsumin tão perto, de ver sua coragem para se sacrificar por ele, isso tinha que significar alguma coisa. Não é todo dia que nos sacrificamos, afinal. E não é por qualquer um.
Não sabia se aquilo o fazia ter medo. Ou ainda mais.... desejo, era só isso. Desejo por ela.
Aproximando-se daquela porta pequena e gasta, porque Castiel recusava-se a fazer obra naquela casa, não acreditava ser sua, mas dos pais e queria um dia ter a casa que poderia sim ser chamada de "sua", Natsumin já conseguia imaginar a sala escura, com o sofá de coura, a estátua do Slash, a bancada de bebidas, a TV, Dragon, o quarto de guitarras....
Mas, antes que ele pudesse abrir a porta, Natsumin foi surpreendida.
— Natsumin, o que quer de mim?
Castiel encurralou-a na porta pelo lado de fora, os cenhos franzidos, as expresões rudes. Natsumin já sentia aquela tensão de Dèjá Vu, o beijo na porta do quarto de guitarras, o calafrio no corpo inteiro... Seu corpo inteiro tremia pelo susto e pela tensão. Ainda estava sensível pelo que acontecera, era um fato. Mas aquela casa, a casa de Castiel... Ah, a trazia tantas memórias...
— O que? — foi tudo o que conseguiu dizer, os olhos arregalados, os lábios em pânico entreabertos.
— É isso mesmo,você... você consegue mesmo calada, mesmo com a cara de boba que está fazendo agora, me tirar do sério. — ele não alterou as expressões, Castiel estava falando sério.
— Eu não estou entendendo... — ela foi desfazendo a cara de "boba" como ele mesmo afirmou, fechando os lábios e diminuindo a tensão nos olhos, desviando-os para baixo.
— Por que se colocou na minha frente? — os olhos dele estavam menos rudes e agora havia um brilho diferente neles, algo que Castiel não percebia, mas ela sim. Natsumin sentiu orgulho daquele brilho naquele momento.
— Foi só um impulso. — negou a si mesma de permitir-se inundar-se na profundeza daquele olhar quase negro dele.
— Não me dê uma desculpa vazia, Natsumin. — ele se aproximou, agora ambos os braços dele a cercavam, as mãos dispostas na altura do rosto dela, a cabeça dele abaixando-se como que para dar um beijo. — Já conheci muitas pessoas vazias e você não é uma delas! — a voz estava mais alta.
— Castiel, não há outra explicação. — ela foi fria, como deveria ser, porque nunca mais se permitiria entregar-se ao que sentia até cumprir sua pena, precisava privar-se do amor que estava sentido, essa paixão intensa que fazia seu peito queimar como o fazia naquele momento e seus olhos lacrimejarem, aquela mesma paixão que a fazia ter vontade de abraça-lo, deitar-se no colo dele e pedir carinho, algo para acalenta-lo, sentia-se uma criança desamparada e precisava, ah, Deus, como precisava do amparo de Castiel, mas, por Deus,como não podia tê-lo....
Castiel bufou, olhou para cima e crispa os lábios. Não acreditava. Definitivamente não acreditava na palavra dela, recusava-se. Afastou-se, aproximou-se da fechadura, retirou a chave do bolso da calça jeans e abriu a porta. Esperou-a passar primeiro, quando ela o fez, soltou um suspiro.
— Sim, há sim, eu sei porque eu vejo que tem algo que você não diz, Natsumin, — Castiel fechou a porta com força. — algo que você esconde porque o tempo todo você nunca é você mesma! Quem é você?
— Castiel, você deveria agradecer e ponto. — permitiu-se ser ainda mais fria, estava com raiva de si mesma e a rebelde adormecida começava a socar o saco de batatas. Quem é você, Natsumin? Quem diabos é você? Vai perdê-lo mesmo? Olha para ele, olha bem para Castiel e diga que não o ama! Diga!
— Acontece que eu não consigo. — inesperadamente Castiel se aproxima de maneira sutil e com a mão direita afaga o rosto abaixado da menina. Ele vai acariciando aquela pele macia, sabendo que há algo que ela esconde, não conseguia tirar da cabeça Natsumin pedindo perdão às novatas, Natsumin indo embora chorando do restaurante, Natsumin tão calada e fria, Natsumin trocando sua vida pela dele. Ele escondia algo sim, mas, diabos, ele tinha tanta coisa com a qual se preocupar, por que? Por que ela? Por que? ele a afaga, passando a mão em seu rosto.
Naquele momento, Natsumin o sentiu tão... diferente. Era como se Castiel a estivesse dizendo adeus. Aquilo doía. Doía tanto que ela teve vontade de chorar, mas resistiu. Ele passou o cabelo dela para trás de sua orelha. Se afastou.
— Você tem que parar com seu joguinho, está interfirindo na minha vida e nas minhas decisões. — esfregava o próprio rosto com as mãos rudes enquanto andava pela sala em círculos.
— Eu não entendo. — ela repetiu, olhos baixos. Droga, como ele era bonito. Como gostava de olhar para seu rosto.
— Claro que entende! Você sente ciúmes da Debrah, não é? — ele parou de andar em círculos e virou o rosto rude, com cenhos duramente franzidos para o dela. As mãos estavam na nuca, os cotovelos para cima.
—Ciúme? — ela levantou bem o rosto para encara-lo, a rebelde começou a gostar do jogo e parou de socar o saco de batatas um pouco para assistir. — Isso é um dèjá vu porque já tivemos essa conversa, Castiel! Por que vou sentir ciúmes da Debrah? Ela não significa nada para mim!
—E pelo visto nem eu — Castiel deu um largo passo para frente, ficando com o rosto bem próximo do dela. Em seguida, afastou-se bruscamente.
Natsumin calou-se por alguns segundos. Não conseguia acreditar, sério mesmo que depois de tudo o que aconteceu ele acreditava que não significava nada para ela? A rebelde colocou a foto o ruivo no saco. Toma um soco, ruivo! Ah, se ele soubesse... Se ele soubesse como ela se sentia, se ela pudesse....
Não, ela não podia.
— Por que me beijou no restaurante? — o ruivo disparou a pergunta antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa. As mãos ainda na nuca.
— Foi um...
— NÃO FALE QUE FOI UM IMPULSO! — o ruivo grita tão alto que o rosto ficou da cor do cabelo.
Ela revira os olhos e deixa escapar um suspiro. Se ele soubesse...
— Eu tomei minha decisão. — Castiel batia no próprio peito, fazendo um ruído que incomodava. — Eu vou embora com Debrah. Logo depois da formatura. Ela está em turnê e precisa de um guitarrista. — fixou os olhos em Natsumin, esperando sua reação.
Mas nada do que aconteceu a seguir era esperado por ele.
— Ah..... — os olhos da menina lacrimejaram, as expressões frias foram se desfazendo, dando lugar a algo próximo à felicidade, os olhos pareciam sorrir apesar dos lábios estarem comprimidos. — Finalmente. — ela sorriu finalmente, mostrando os dentes.
— O que? — Castiel tinha os olhos arregalados para ela.
— Finalmente vai realizar seu sonho, isso me deixa feliz, Castiel. De verdade. — ela tinha as mãos sobrepostas sobre o próprio abdômen, uma apertava a outra em nervosismo. Era uma mistura de felicidade e tristeza, mas mais felicidade por ver que ele finalmente irá viver o que sempre sonhou, o que um dia ela sonhou ser também, mas hoje estava longe disso. Natsumin jurou nunca mais se aproximar da música e Castiel, ah, esse diamante bruto a trazia cada vez mais perto do seu grande sonho, ele a arrastava para seus desejos do passado. E tudo o que ela podia fazer era esperar que seus anseios do passado se realizassem nele. Ela, de alguma maneira, sentia-se quase completa e para alguém vazia como ela optou por ser, isso era mais do que o bastante.
— Natsumin... — ele a abraçou com força, as mãos em sua cintura fina e os braços da menina nem puderam abraça-lo, ele foi tão rápido que prendeu os braços dela no seu peito, mas ela não se incomodou, o aperto dele, o cheiro tão perto... Se sentia privilegiada por apaixonar-se por uma pessoa tão cheia de sonhos, de expectativas. Uma pessoa que não era vazia, que não era superficial. Esse era Castiel, seu diamante bruto. — Não brinca comigo.


When The hurricanes and cyclones raged
When winds turn dirt into dust
When floods they came and the tides they raised, ever closer became us


— Isso é a coisa mais verdadeira que já falei em toda a minha vida. — ela pronunciou com os lábios no ombro dele.
— Natsumin. — ele a solta daquele aperto e dessa vez segura suas mãos, envolvendo-as nas dele, como uma só. — Você sabe bem que basta uma palavra sua, qualquer coisa para me impedir de ...
Natsumin tira uma das mãos debaixo das dele e coloca em seus lábios para impedi-lo de terminar.
— Você tem que ir. — ela o encara com os olhos tão profundos quanto os dele.
— Pare de brincar comigo! — ele se afasta mais uma vez, as mãos passando desesperadas pelo cabelo rubro.
Ela repentinamente põe-se na ponta do pé e dá um beijo em seu rosto. Castiel surpreende-se e não se move. Natsumin não espera para afastar-se e seguir em direção à porta.
— Não sou seu brinquedo, Natsumin. — ele pronunciou com a menina ainda de costas para ele. Natsumin não queria virar-se não queria deixa-lo vê-la com os olhos vermelhos, já não estava mais conseguindo conter as lágrimas, droga! Ainda era fraca, Natsumin precisava ser fria, precisava ser uma marionete de si mesma!
Ela fica em silêncio, de costas.
— Você ..... — ele aperta a mão dela suavemente para que se vire para ele, mas ela não o faz. — Se me considera pelo menos um pouco, então tem que se afastar de mim. — ele soltou sua mão. — Pare com isso de ficar entre eu e Debrah, você está me confundindo.
— Idiota... — a voz dela saiu extremamente baixa, mas ele pôde ouvir. — Se pensa que quero ficar entre você e ela, o problema é seu... Minha consciência está tranquila. — a menina saiu e bateu a porta com força, indo embora correndo ainda com aquela sensação de dèjá vu circulando sua mente e a paixão e a dor queimando seu peito.
Castiel aproximou-se da porta. A mão fez menção de tocar a maçaneta, mas não o fez. Ele deixou a cabeça tombar na porta e a mão direita fechada em punho fez um estrondo quando atingiu a madeira.


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Notas finais do capítulo

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