Diamante Bruto escrita por Natsumin


Capítulo 53
Mas por que acabar com o rum?


Notas iniciais do capítulo

Maratona!♥



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Estreitou os olhos.
Estava convicto da nirvana trazida pelo mar, pelas areias brancas escurecidas com o cair da noite. O mar trazia ondas carregadas, fortes, ligeiramente turvas, mas completamente encantadoras. Os olhos tinham duas cores. Um amarelo e o outro verde. Parte do cabelo prateado caía sobre o rosto. Sim, porque seus fios não eram brancos. Eram naturalmente prateados, uma madeixa mais alongada pendia sobre um dos lados do pescoço, enegrecida. Acreditava que, nesse momento, poucos estariam se lembrando dele. Não porque não gostassem dele, ele não tinha certeza de muitas coisas na sua vida, mas ela apreciava a solidão e, por não escondê-lo, talvez as pessoas não se incomodassem tanto. De fato teve um pressentimento ruim, como se o perigo iminente estivesse por perto. Também de fato, estava, afinal aquela noite era a última que teria para apreciar a paisagem tranquila do ambiente litorâneo. Observar a calmaria das águas, das pessoas. De certa forma, ele recordava a infância no campo. Mas era uma infância desvalida, nunca havia apreciado de fato o campo. Gostava daquele ambiente, mas não suportava mais conviver com aquilo por todos os dias. Preferia a cidade, em toda a sua firmeza, o concreto, apesar das pessoas parcialmente egoístas e intolerantes.
Precisava daquilo. Ficar sozinho. Precisava sentir a inspiração tocá-lo, mostra-lo como era preciso seguir seu coração, deixar, mesmo que por breves segundos, a razão. Lysandre se sentia diferente ultimamente. Como se observasse um vazio dentro de si. Precisava da presença de alguém que não fosse inconstante em sua vida.
De fato, pensava. Lysandre sentia-se o lobo solitário da tão épica música clássica e de mesmo nome. Não porque não queria momentos sozinhos, mas o vazio em seu peito era tão grande. Precisava ser preenchido por alguém que fosse ao menos amável. Alguém com quem ele poderia partilhas suas expectativas, seus sonhos, suas ambições. Alguém que não fosse idolatrá-lo a qualquer momento, uma pessoa nova que não o conhecesse por enquanto.
Alguém que ele não sabia quem era.
Penso quando apago as luzes.
Penso quando me perco em meu mundo,
E de repente me vejo no seu
Penso quando o sol toca as flores.
Penso quando as rosas se abrem.
Penso quando a luz atravessa o céu
E se põem em minha janela.
Penso nela.
Somente nela.
Mas quem ela é?
Não sei. Não conheci.
A bela grafia fora completada na folha pequena do pequeno bloco de notas. Não havia precisado retornar à casa, Deparara-se com o objeto no bolso da blusa fina de linho assim que tateou-o em busca do pequeno frasco fino, coberto por uma capa de couro preta, com doses de uísque, que ganhara do pai na última vez em que se viram. Uma relíquia da família. Voltou ao topo da página, começou a canta-la por completo.
Ela é solitária.
Uma alma solitária.
Mas eu não paro de pensar nela.
Penso mesmo quando fecho os olhos.
Penso quando apago as luzes.
Penso quando me perco em meu mundo,
E de repente me vejo no seu
Penso quando o sol toca as flores.
Penso quando as rosas se abrem.
Penso quando a luz atravessa o céu
E se põem em minha janela.
Penso nela.
Somente nela.
Mas quem ela é?
Não sei. Não conheci.

Suspirou. O rosto fino e alongado iluminado pela lua estava parcialmente com uma luz branca que tocava seus olhos, seu nariz, metade de sua testa e acabava nos lábios inferiores. O pescoço e o queixo ainda estavam na escuridão, bem como o corpo. Tateou os bolsos, abriu o pequeno frasco à sua espera e tomou mais um gole. Não gostava muito de beber, mas sabia apreciar bebidas finas e aquela noite era excepcional. Estava sozinho. Nada de ruim poderia acontecer. Fechou levemente os olhos, quis escutar pela última vez, antes de voltar à casa, a calmaria da natureza. O silêncio que fora seu centro de inspiração.
— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!
Mas rapidamente abriu as órbitas. Gritos femininos estavam logo atrás de si.
***
— Era melhor eu te afastar daqueles três.
Esqueceu-se dos discos voadores, assim que a figura soltou uma de suas mãos e andou sozinho ao encontro do mar. Observou-o aproximar-se da beira, mas sequer tocou a água.
Ohhhhh uma praia.
Ela olhou para cima, vislumbrou o céu coberto pelo manto negro da fúria. Não sabia exatamente o que aquilo queria dizer, mas soava bem. O azul de seus olhos estava quase escuro, domado pelas pupilas arduamente dilatadas. Os navios surgiam lentamente. Voluptuosos, caravelas enormes, com velas brancas e cruzes vermelhas magníficas, como nos filmes, mas logo reparou que o seu ainda não havia chegado. Poderia seu Pérola a ter abandonado? Ela abandonaria os discos voadores se precisasse! Apreciava a magnitude de Star Wars, mas caía aos pés dos encantos de seu Jack e o Pérola. Ela agachou-se um pouco, prendeu ligeiramente a respiração. Estavam... Estavam ali. Não, não, era um só. Sim, um. Um Kraken! Ela comprimiu as pálpebras sobre os olhos, focalizou bem. Não, não era um Kraken. Era algo pior.
Rum.
Ela franziu fortemente o cenho, fazendo surgirem leves ruguinhas, como traços verticais entre as sobrancelhas. Comprimiu os lábios com força, cerrou o punho e avançou. Nas mãos da figura de roupa negra à sua frente estava a perdição de qualquer pirata. Aquilo que os transformava em velhos abutres com as panças inchadas e ainda diminuía suas expectativas de vida. Que já não eram das grandes.
— O que? Está louca? — a voz de Castiel saiu com uma rispidez absurda. Natsumin havia retirado a garrafa de tequila da sua mão. Tinha uma expressão de fúria no rosto, os olhos azulados estavam enegrecidos pela noite e por sua raiva sem motivo aparente. Castiel respirou fundo para conter os nervos e passou a mão sobre o rosto, levantando-a até a testa, onde pendia a franja escarlate e jogou o cabelo para trás, tentando se acalmar.
— O rum acabou. — Natsumin soltou, apertando os dedos fortemente sobre o gargalo da última garrafa restante de... de rum!
Bem, do que ela acreditava ser rum.
— Rum? Você... você está louca! — Castiel comprimia as órbitas tão negras que escondiam a esclera branca sob o globo ocular. Tinha os dois braços dobrados para cima, as mãos próximas as laterais do rosto, com os dedos flexionados em garras, como se pudesse esganá-la naquele momento. — Por que quer destruir a tequila?
Natsumin virou os olhos repletos de indignação para o capitão ruivo à sua frente e apontou a garrafa, agora às suas mãos, para o mar.
— Um. Porque é uma bebida vil que transforma os homens mais respeitáveis em completos patifes! — ela direcionou os olhos para cima, para onde estava o sinal de fumaça de sua imaginação, onde queimavam dezenas de garrafas de rum. — Dois. Aquele sinal tem mais de trezentos metros de altura. Toda marinha real está procurando por mim, você acha mesmo que há a mínima chance de alguém não nos ver? — ela alterava o tom de voz, que ficou ainda mais alto no final da frase, transformando-se em um grito.
— O que? — Castiel agora era o indignado. Comprimia ainda mais os olhos, passava as mãos pela crista ruiva dezenas de vezes para conter a fúria. — A tequila não tem nada a ver com isso! Me dá essa droga! — Quase alcançou a garrafa entre os dedos da garota, mas ela afastou a mão para trás e empurrou-o com a outra.
Mas por que acabar com o rum?
Ela não decifrava a palavra tequila. Era rum que estava registrado em sua mente, ela ouvia aquela frase dignamente vinda das bocas de Jack Sparrow. Jack não, CAPITÃO. Capitão Jack Sparrow. Ela ainda tinha que se acostumar com isso.
Castiel finalmente entendeu o que estava havendo. Era clara a mudança em suas expressões. A bebida também começava a fazer efeito, um sorriso de coiote surgia no canto dos lábios. Tudo o que ela estava falando eram frases do filme “Piratas do Caribe”, quando a garota, Elizabeth, estava presa em uma ilha com Jack, o capitão. Natsumin estava acreditando ser Elizabeth e ele, Jack? Castiel até que gostava da situação.
— Mas por que acabar com o rum? — ele pronunciou, o sorriso era ainda mais esplêndido sobre os lábios, agora ele mostrava os dentes em um sorriso torto, enquanto cruzava os braços fortes sobre o peito e dava um passo à frente, agora mais próximo dela.
— Não ouviu o que falei? — Natsumin estava verdadeiramente irritada, aquele capitão de meia tigela não passava de um patife, amante de rum e tão vil quanto qualquer outro pirata! Queria voltar logo para casa, a marinha precisava enxergar o sinal de fumaça! — Um. Porque é uma bebida vil que...
Castiel rapidamente puxou-a para si, mantendo uma das mãos sobre os lábios da menina a fim de calá-la e a outra, segurava-a pela cintura. Em segundos, jogou-a por cima do ombro e direcionou-se ao mar.
***

Virou o rosto para trás de imediato.
Uma garota usava apenas a parte de cima do biquíni e shorts curtos de laicra. Lysandre virou-se a tempo de ver sua expressão apavorada, as sobrancelhas comprimidas para baixo, os lábios ligeiramente entreabertos, as maçãs do rosto levemente comprimidas, os olhos, impossíveis de definir as cores pela escuridão, mas exalavam medo através das pupilas dilatadas. Os cabelos eram claros, ao brilho da luz pareciam brancos, mas Lysandre acreditava serem prateados como os seus. Ela tinha um dos joelhos na areia, apoiava-se em uma árvore, de modo a parecer estar ali por bastante tempo. Ele levantou os olhos rapidamente e pode ver que puxavam-na pelo braço livre, o que não se apoiara à árvore. Era uma figura alta, escondida nas sombras. A garota segurava com força o tronco, não queria sair dali. Mas a figura alta insistia em arrastá-la para a escuridão. .
— Me solta!
Ela bradou fortemente, enquanto via por seus olhos exóticos a figura do rapaz que antes admirava, aproximar-se. O dono da belíssima voz e idem quanto á alma, corria em sua direção, enquanto ela era literalmente arrastada, jogada para trás com uma força ímpeta e disforme. Tentava se soltar, fazia todos os movimentos possíveis com o corpo, jogava-se para o lado e para frente, mas era impossível. Sabia que ele era muito forte.
Lysandre abandonou a solidão em nome à solidariedade e aproximou-se da escuridão, estreitou os olhos para focalizar as órbitas na figura que ainda corria. Dava passos mais largos, apressava-se para alcança-lo. A garota já estava de pé, ainda sendo puxada rudilmente. Chegou mais perto, observou seu braço livre e nu esticado, segurou sua mão pequena e puxou-a para si. O homem que andava rapidamente parou num ímpeto violento, recuou para puxa-la novamente com uma força ainda mais monstruosa, mas desistiu e soltou-a. A garota caiu com o rosto no peito de Lysandre, o rapaz ainda segurava uma de suas mãos quando viu a figura monstruosa surgir da escuridão, feroz.
Era um homem.
— Solte-a. — deu dois passos à frente, pelas frestas entre as folhas das árvores, a lua iluminou-o, mostrando à Lysandre sua expressão. Tinha os cabelos de um roxo escuro, quase negro, num corte baixo, quase raspado, porque os fios já cresciam. Tinha uma barba obviamente de mesma cor, os olhos eram pequenos e alongados para as laterais, as órbitas eram amarelas. Os braços fortes estava estendidos para baixo, à uma distância significativa às laterais do corpo, os punhos cerrados expressavam sua fúria.
— Creio que caiba a ela tal decisão. — Lysandre murmurou, paciente, soltou a mão levemente do braço da garota, que apoiou a mão agora livre em seu peito novamente, respirando uma respiração cortada, os olhos molhados pelas lágrimas.
— Ela sabe que vai se arrepender se escolher o contrário da minha vontade. — o homem grunhiu entredentes e girou o pescoço rapidamente, fazendo Lysandre ouvir um estalo alto.
— Não a machucará, suponho. — Lysandre pronunciou, respirando calmamente, sua paciência legendária era dificilmente esgotada.
— Não te interessa. Se não entrega-la, será o próximo. — o homem vociferou. O tom de voz parecia aumentar, daqui a pouco estaria gritando.
— Pergunte-a o que ela quer. — Lysandre contrapôs, sereno como aquela noite.
— Me deixa em paz, Neal. — a garota soltou-se dos braços de Lysandre, estava agora de costas para ele e de frente para o homem que agora era conhecido por Neal. As lágrimas secavam, os lábios estavam comprimidos e escarlates em razão disso. Ela também estava com os braços nas alterais do corpo, ligeiramente afastados e as mãos em punho. Parecia ter criado coragem para enfrenta-lo.
— Sabe muito bem o que acontece quando me afronta, Ay. — o rapaz parecia não controlar a fúria, Lysandre deu um leve passo à frente para proteger a garota caso algo mais grave estivesse para acontecer. — Vamos para casa agora. Ou posso fazer quilo que não gosta que eu faça.
A menina pareceu ter se atingido, as mãos em punho soltaram-se, Lysandre pôde ver os músculos de seus braços nus se tencionarem em nervosismo.
— Ela vai conversar comigo por enquanto. — Lysandre interferiu, pondo-se à frente da garota, Ay, para protege-la. — Te minha palavra que a levarei em segurança.
— E o que o faz pensar que serei idiota e concordar? — o cara contrapôs, incrédulo com o cara de cabelo e olhos esquisitos, que ousava confronta-lo.
— Está vendo aquela cabana? — Lysandre apontou para trás com a cabeça, para as luzes coloridas que irradiavam da casa de madeira onde está hospedado. — Está repleta de homens de mesmo porte e até maiores do que você. — mentiu.
—Traga-a antes do amanhecer. — o homem grunhiu, sobre sua testa pairou um ar fúnebre e uma aura negra. Ele deu as costas e sumiu frente á escuridão.
***
Ela se debatia, parecia uma criança teimosa que não queria tomar banho. Ele sorria enquanto carregava-a, juntamente com a garrafa de tequila. Chegou a sete pés do mar, a proximidade era tanta que podia sentir a areia úmida quando largou-a sobre a mesma.
— Você é um idiota! — Natsumin gritou, revoltada, os olhos encaravam Castiel, ou melhor, Capitão Jack, com algidez ao seu lado, ainda estava de pé e o ruivo despreocupado segurava a garrafa e virava o gargalo sobre a boca, despreocupado.
— Sou o capitão. — ele sorriu e virou a garrafa mais uma vez, ignorando-a. — Portanto, tem apenas duas opções, escolha com cautela. — deixou escapar um pigarro antes de se pôr de pé e apontar o gargalo para a garota. — Ou senta-se ao meu lado e desfruta do “rum” — gostava da brincadeira, estava entrando nela sem problemas. — Ou vou força-la a fazê-lo. — abaixou levemente o rosto, deixando-o a centímetros do dela.
— Escuta aqui, “Capitão” — Natsumin sorriu e fez aspas com as mãos. — Você... Você é... — ela aproximava o rosto ainda mais do dele, os narizes se tocaram levemente, ela sorria um sorriso torto, mimado, sexy. Ele estava domado pela tequila, o nome Debrah não existia em sua vida por aqueles minutos. — Você é mau.
— O-oque? — ela largou uma risada zombeteira, mas os rostos ainda estavam próximos.
— Isso. Mau. Muito mau. E-eu... Eu não suporto você. — ela abaixou os olhos para o peito dele, sua mão tocava o osso esterno, brincava com as pontas dos dedos sobre sua camisa preta.
— Sério? — ele deu um sorriso torto, zombeteiro, as mãos estavam caídas nas laterais do corpo, uma delas segurava a garrafa de tequila já pela metade.
— Sério e... eu estou te entendendo agora. — ela afastou-se um pouco para trás, de modo a observar inteiramente o rosto dele. — Vo-vvocê é uma farsa. — atrapalhava-se um pouco nas palavras, sua língua enrolava-se involuntariamente. — Você... — aproximou-se novamente, segurando-o pela gola da camisa. — Você sofre por dentro. Se disfarça em uma fera que quer parecer ser indomável, mas não passa de um lince covarde... — ela pôs-se na ponta dos pés, de modo que os lábios estivessem a milímetros dos dele. — Covarde, mas estupidamente sexy e... tentador...
— Jura? — ele sorriu novamente, zombando da garota enquanto esperava pelas próximas ações dela que, até agora o estavam agradando. E muito. — Mas não me odiava?
— Odeio. Odeio muito. — ela deixou escapar um sorriso tão audaz e zombeteiro quanto o dele. Tão primordial e translúcido. Tão confuso e sereno. Pôs-se a ponta dos pés, acariciou o peito forte dele, brincou com os dedos que caminhavam sobre a camisa preta dele. Pousou-os em sua nuca, acariciou os fios rubros. Aproximou os lábios lentamente.
***
— Acredito que seja errado espiar os outros. Mas não pensei que o castigo fosse ser tão duro.
Lysandre observou a figura que estava de costas, sentada na areia. As costas estavam nuas, apenas um fio fino atravessava-a, o fio do biquíni. Ela tinha os cabelos prateados jogados para frente, sobre os ombros. Eram de um cor linda, quase um furta cor onde se sobressaía o lilás. Mas em sua totalidade eram prateados, com um leve brilho lilás. Bem leve e quase imperceptível. Mas não à Lysandre.
— M-me desculpe, e-eu... — a garota virou-se para ele, Lysandre pôde finalmente observar a cor de seus olhos, eram bicolores como os seus, mas um era rosa e o outro amarelo.
— Está perdoada. — Lysandre pôs o dedo indicador sobre os lábios dela, aquela coragem que o fazia pensar que a conhecia por anos se devia aos efeitos do álcool que afetavam de forma sutil sua mente. Ele agachou-se ao lado dela, os joelhos flexionados sobre a calça verde escura, a blusa era jogada pelo vento para trás, bem como seus cabelos. — Não precisa me dar explicações. — ele deixou escapar um sorriso leviano, levantou os dois cantos dos lábios levemente, sem mostrar os dentes.
— Escutei sua voz. — ela tirou a mão dele de seus lábios, sentindo-se nervosa ao tocar sua pele pela segunda vez. — Era tão bonita e... — ela desviou os olhos para a areia, abaixando levemente o rosto. — A música me lembrou de quem eu sou.
— Ay, suponho. — Lysandre brincou, mas a menina não entendeu a piada.
— Não é isso. — ela balançou a cabeça para os lados. — Ultimamente não tenho feito coisas muito legais. Por isso ele me reprime.
Lysandre franziu o cenho.
— Creio que não deve importar o que você faça, ele não deve te tratar de tal maneira. — aconselhou, indignado com a situação, mas ainda demonstrava imparcialidade.
— Eu escolhi sair de casa. — ela pronunciou, continuando sua história e aparentemente ignorando os comentários dele. — Neal não quer aceitar isso.
Lysandre permaneceu com o cenho franzido, mas atento.
— É meu irmão mais velho. — ela completou.
Lysandre permaneceu em silêncio.
— Acho que está na hora de ir. — ela ficou um pouco sem graça, por ver que ele não mais respondia, aprecia perdido em um mundo paralelo. — Está muito frio. — ela levantou-se.
Lysandre finalmente fez um movimento, levantou-se e retirou a camisa fina de linho que era a única coisa que o aquecia naquela noite gélida. Mas estava de calças e a garota não. Podia se virar. Colocou-a sobre as costas dela.
— Obrigada. — a menina deixou escapar um sorriso pequeno, mostrando parcialmente os dentes brancos. Encolheu-se por baixo da blusa e abaixou os olhos para a areia. Nunca pensara que poderia conhecer alguém como esse rapaz que estava em sua frente nesse fim de mundo em que morava. Ela queria ir para a cidade, estudar, se formar. Não poderia ter muito se continuasse a morar para sempre em uma casa de praia. Ela acariciou o rosto dele e sentiu a pele branca se tronar quente, ela podia jurar que as bochechas dele coraram. Ele segurou sua mão e abaixou-a, mas ela foi mas rápida e em um único movimento, selou os lábios nos dele.
Lysandre sentiu-se paralisar, fora pego de surpresa, não imaginaria aquele tipo de reação. Afastou-se lentamente, os lábios grudados se separaram aos poucos, como se quisessem ficar ali por conta própria.
— Desculpe. — a garota murmurou e deu de ombros, correndo para a mata escura. Lysandre pensou em ir atrás, mas quando o fez, tudo o que viu foi a blusa de linho caída sobre a areia branca.
***
— Huuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuurggghhhhhh!
Castiel balançou levemente a cabeça para o lado, como quem diz, “foi por pouco”. Há dez segundos ela estava bem, ativa, queria, inclusive beijá-lo. Mas, quando seus lábios estavam a milímetros do ato, Natsumin havia virado a cabeça para o lado, deixando o corpo cair ligeiramente. Comprimiu os lábios insatisfeitos e prendeu a respiração por leves segundos enquanto a garota, apoiava-se em seus ombros e vomitava.
— Bem romântico. — ironizou, olhando para baixo e esperando-a parar. Quando viu que ela já não tinha mais o que expelir, pegou-a no colo em levou-a para um lugar mais arejado, próximo às árvores.
— Não me leva para casa, Castiel. — Natsumin murmurou com a voz fraca, as pálpebras cerradas, os lábios ligeiramente entreabertos e formando um biquinho mimoso. — Quero dormir aqui. Com você.
O ruivo franziu o cenho e sentou-a sobre a areia branca. Tentou retirar suas mãos de seu pescoço, mas ela o segurava com força, como se não quisesse perde-lo. Deixou escapar um suspiro, não esperava aquele tipo de resposta. Poderia até ser ilusão da sua cabeça, o álcool já o havia feito isso uma vez, quando há um tempo atrás, na festa de Melody, pensara estar batendo em Armin e vendo Natsumin chama-lo de monstro. Essa era uma ilusão diferente, mas ainda assim preocupante.
Ele não se lembrava por que era preocupante, sabia que tinha a ver com outra garota, mas sequer conseguia se recordar do nome dela. A beleza de Natsumin era tão ofuscante que junto á lua, à noite e a sua vulnerabilidade aparente, Castiel estava disposto a ficar ali com ela.
Retirou seus braços de seu pescoço quando percebeu que ela adormeceu. Sentou-se na areia com os joelhos flexionados para cima e apoiou uma das mãos sobre eles e acabou com o resto da garrafa em suas mãos, jogando-a em seguida sobre a areia. Retirou um maço de cigarros do bolso da calça e um isqueiro do outro bolso. Acendeu o cigarro, tragou-o vagarosamente, prendendo um pouco, antes de expelir o sabor de menta pela boca. Era um cigarro com sabor ruim, mas quando expelido deixava o cheiro de menta no ar. Definitivamente não dava a sensação de um cigarro comum. Mas a noite era longa, ele estava bêbado e Natsumin dormia na areia. Não se seguraria e poderia fazer coisas ligeiramente impróprias se não usasse o cigarro como distração.
— Eu quero. — ouviu-a murmurar, fazendo um biquinho ainda com as pálpebras fechadas, enquanto pousava as mãos em forma de concha por baixo da cabeça.
— Não é para garotinhas. — tragou mais uma vez e desviou os olhos para a lua.
— Quero você. — ela apoiou-se sobre os braços e puxou-o pelas braços. Castiel com o ato rápido acabou deixando o cigarro cair no chão, Natsumin aninhou-o em seus braços e beijou o pescoço do ruivo, levemente, fazendo um caminho de beijos ternos até a clavícula dele. Castiel ficou tenso, mas com as últimas doses de tequila, seu bom humor voltava aos poucos e ele abriu novamente um sorriso, acariciando os cabelos negros dela e retirando as madeixas que caíam sobre seu rosto de boneca, jogando-as para trás de seus ombros cobertos apenas por uma blusa fina.
Natsumin abriu as pálpebras completamente, observou-o com calma. Estava num sonho, era lógico, então podia aproveitar aquele momento. Selou os lábios levemente no pescoço dele mais uma vez, deixando-os ali por um tempo indeterminado, enquanto puxava com sutileza o ar. Em seguida, a cabeça confusa, tombou sobre o ruivo, o nariz roçando no pescoço dele. As pálpebras de fecharam, ela já não tinha forças para continuar.


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Notas finais do capítulo

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