Castiel estava cansado. Todos os músculos de seu corpo doíam e ele podia sentir a adrenalina ainda pulsar em suas veias. Ele podia matar Viktor. Na verdade, ele queria. Aquele idiota havia voltado para o colégio com certeza para tentar ameaça-lo. Ele havia ficado com ciúmes assim que viu Ambre dando em cima dele. Mas o que Castiel podia fazer? A idiota da Ambre sempre foi apaixonadinha por ele. Ele sabia disso. Mas Viktor não. Viktor era ex-namorado de Ambre e Castiel o aplaudira por isso, afinal só um maluco conseguiria namorar aquela garota.
. Sua raiva era tanta que ele podia arrancar a cartilagem daquele babaca e... Droga. Uma veia alta subiu em sua testa, provocando uma forte dor no local do ferimento. Ele estava com vontade de arrancar todos os curativos que foram feitos na enfermaria. Ele detestava parecer indefeso. Com aquele curativo na testa ele parecia um imbecil indefeso. Uma mocinha.
Assim que ultrapassou a porta da enfermaria, ele arrancou o curativo branco da testa.
Castiel olhou o relógio enquanto caminhava pelos corredores de Sweet Amoris em direção ao pátio e ao vestiário. Já eram cinco horas da tarde e o torneio das meninas já havia acabado. Assim como a hora delas tomarem banho. O vestiário imenso era divido para os sexos em horários. O uso feminino era até às quatro e meia. E o colégio estava praticamente vazio. Ele poderia tomar um banho e depois ligar para Lysandre para combinarem de ir ao porão ensaiar. A diretora estaria estressadinha demais para se preocupar com o porão. Pelo menos por hoje.
Ele abriu a porta do vestiário.
Assim que entrou, um cheiro de diversos cremes para corpo e cabelo, perfumes femininos e outros produtos emanou no ar. Ele piscou os olhos três vezes ao senti-los arderem por conta da quantidade de elementos químicos que se dispersavam no ar, o que indicava que o vestiário havia sido usado recentemente.
Ele ouviu um ruído. Algo como uma respiração ofegante. Em seguida, uma porta sendo fechada.
Castiel parou de andar, ainda próximo à entrada principal. Ele não podia estar ficando maluco. Era óbvio que tinha alguém ali. Ele ouviu... Ouviu?
Castiel balançou a cabeça, convencendo-se de que não era nada e que, mesmo se fosse, que se dane, se o vissem pelado. Não tinha nada de ruim para esconder.
Ele jogou a mochila em um dos bancos de mármore do vestiário. Em seguida, puxou com força a camisa que grudava no corpo por conta do suor. Logo depois, ele retirou as bermudas brancas do time de basquete e jogou a toalha branca no ombro, dirigindo-se à antepenúltima porta do vestiário. Era o seu lugar de tomar banho.

***
Natsumin colocou a mão na boca, a fim de esconder sua aflição. Suas mãos estavam geladas devido ao frio e ao nervosismo e sua testa suava, mesmo sem sentir calor. Ela passou a mão pela franja negra, jogando-a para cima, deixando a testa mais livre.
Castiel estava ali. Justo Castiel. Quando algo tinha que acontecer de errado, tinha que ser logo de uma vez só?
Ela fechou os olhos, aguardando. Talvez Castiel nem mesmo fosse notar sua presença. Era impossível ele escolher justo a antepenúltima porta do vestiário. E ainda a sem tranca.
Natsumin deu um sorriso em silêncio. Como ela conseguia ter tanta sorte? E era claro que ela estava sendo irônica.
Mas seu sorriso não durou muito tempo. A antepenúltima porta foi aberta.
***
Castiel abriu a porta. A antepenúltima. Seus olhos negros se depararam imediatamente com uma figura de olhos azuis arregalados. Natsumin. Ela havia acabado de levantar a cabeça e estava encolhida no banco de mármore em frente à parede branca. Ele abriu o seu melhor sorriso.
Natsumin deixou-se ser encarada pelos olhos negros de Castiel. Ele estava sem camisa, na verdade, ele estava usando apenas uma cueca box preta. Natsumin sentiu-se ruborizar. Ela nunca havia visto um garoto de cueca.
— Ora, ora. — Castiel passou a toalha branca pelo pescoço, deixando as duas pontas do pano em cada lado do pescoço. — O que temos aqui.

— Vira para lá, por favor— Natsumin disse, fazendo com que Castiel virasse de costas para ela. Ela nem sabia como conseguia manter a voz serena e calma.
Castiel não podia acreditar. Ela estava nua! Ele não sabia se continuava a rir ou a provocava, ou a encarava. Sua cabeça se tronava uma mesclagem de confusões assim que via aquele par de olhos azuis sinceros e misteriosos. Natsumin era diferente. E ele gostava disso.
Na verdade, ele gostava da imagem que havia acabado de ver. Natsumin nua... Uau! Ele não havia visto nada demais, afinal ela tapava todo o corpo com os braços, pernas, cabelo e tudo o que poderia usar, mas... Apenas o fato de pensar que Natsumin estava nua atrás dele já era satisfatório.
— Toma. — Ele jogou a toalha branca para trás. — Não vai ser muito legal ver uma tábua nua. Se pelo menos você tivesse um pouquinho mais de carne...
— Não vou nem agradecer. — Natsumin ironizou, enrolando-se na toalha branca de Castiel que, a propósito, tinha o cheiro forte dele. O mesmo cheiro que ela havia sentido de manhã.
— Me ver de cueca já é o suficiente para você, não acha? — Castiel abriu o sorriso de coiote, e cruzou os braços sobre o peito musculoso, olhando para Natsumin, que segurava a toalha branca desajeitada, enquanto tentava jogar o cabelo preto molhado para trás, sem sucesso. Ele não estava se intimidando. Nem um pouco.
— Dá para parar de me olhar? — Natsumin soltou, sem conseguir deixar de ruborizar. Droga! Droga! Droga! Aquilo tinha que ser só um sonho!
— E quem disse que estou olhando para você? — Castiel ironizou. — Não tem nada de mais para eu ver por aí.
— Ah é? — Natsumin praguejava por dentro. — Então como me explica esse sorriso? — Natsumin evitou ao máximo olhar para a cueca preta dele.
— Você é mulher, Natsumin. E eu sou homem.
— Você é realmente um gênio.
Castiel sorriu. E dessa vez não era um sorriso sarcástico. De certa forma, Natsumin se sentiu feliz por isso.
— O que eu quis dizer... — ele foi se aproximando dela e Natsumin podia prever o perigo iminente. — É que há muitas coisas que poderíamos fazer por aqui... Sozinhos... — ele abriu novamente o sorriso de coiote traiçoeiro.
Natsumin arregalou os olhos azuis. Rapidamente as palavras de Brita, Cathy e Diana ecoaram em sua mente. “Ele é assim... Joga fora. Não tem coração”.
Ela deu um grande passo para trás se afastando dele.
— Você caiu de novo. — Castiel sorriu, apoiando um dos braços na pilastra. — Não acha que se eu realmente te quisesse já não teria conseguido?
Natsumin cravou as unhas na toalha branca. Ela não tinha mais o que dizer. E também não poderia ser rude demais. Infelizmente, Castiel era a única pessoa que poderia ajuda-la naquele momento.
— Castiel... — Natsumin passou a mão pela testa suada, levantando a franja novamente. — Alguém roubou minha roupa. Na verdade, quase tudo meu. Eu não posso sair daqui assim e...
— E eu com isso? — Castiel mantinha os ombros cruzados.
Ah quer saber? Natsumin começou a andar em direção à porta central do vestiário. Castiel já a havia visto nua. N-U-A! Não seria tão vergonhoso se alguém a visse de toalha. Ela procuraria sua roupa sozinha. Não estava com paciência para aturar as piadinhas dele.
— Calma, novata. — Castiel agarrou seu braço. — Você não pode sair assim. Vamos lá, podemos ser amigos se você colaborar. — seu sorriso traiçoeiro não saía do rosto. — Me diga onde estão suas roupas que eu pego.
Natsumin não podia acreditar no que ouvia. Não mesmo.
— Você não acha que se eu soubesse já teria ido busca-las?
— Pelada? — ele sorriu.
Natsumin ruborizou.
— Admita, Natsumin. A donzela em perigo precisa da minha ajuda.
Natsumin calou-se. Não queria confessar que precisava dele. Nem podia. Era orgulhosa demais para isso.
Ela encarou os olhos negros e ardentes de Castiel. E suspirou. Não tinha outra opção.
— Tudo bem, tudo bem. — ela tinha a voz calma, apesar de sua consciência insistir para ela sair, mesmo de toalha e acabar com a raça de quem quer que seja que fez isso com ela. Ela se arrependeria de deixar seu antigo eu retornar, com certeza, mas seu autocontrole já estava no limite. — Eu preciso de sua ajuda. Preciso que as encontre para mim.
— Acha que vai ser tão fácil assim? — Castiel aproximou o rosto do dela. — Tem uma condição.
Condição? O que diabos ele queria afinal?
Natsumin cruzou os braços contra o peito, segurando firme a toalha. Em seguida, esperou ele terminar. Os olhos azuis estavam atentos.
— A nossa aposta. — ele sussurrou com os lábios no ouvido dela. — Achou que estava livre?
Natsumin afastou o rosto do dele, a fim de encarar seu rosto bonito totalmente.
— Nunca descumpro uma promessa. — Natsumin respondeu.
— É bom ouvir isso. — ele piscou para ela. — Tenho que mudar alguns detalhes, mas acho melhor a gente conversar sobre isso depois. Quando você estiver menos... — ele sorriu. — Vulnerável.
Natsumin arqueou as sobrancelhas. Aquilo não soaria nada bom.
Castiel afastou-se e retirou algo de sua mochila. Uma chave. Em seguida, foi em direção a um dos armários vermelhos, abrindo-o logo em seguida.
— Entre aqui. — ele gesticulou com a mão, assim como um cavalheiro, que não era. — Estará mais segura. Ninguém além de mim poderá vê-la assim.
Hesitante, mas sem escolha entrou no armário. Castiel fechou a porta e a trancou. Em seguida, colocou as roupas de volta no corpo e piscou para Natsumin antes de sair.
Natsumin respirou fundo. Ainda preferia acreditar ser apenas um sonho.

***
Castiel manteve o belo sorriso no rosto assim que passou pelo pátio. Natsumin definitivamente era diferente das outras garotas. Apesar de estar obviamente envergonhada, ela não havia se oferecido para ele, ou sequer tentado parecer vulnerável. Pelo contrário, à medida que o confrontava, provava ser bem mais forte do que parecia e... Ela tinha um belo corpo. Nada muito em excesso, mais em uma harmonia que a deixava perfeita. Ele rapidamente fechou o sorriso. Não deveria nem mesmo estar pensando nela.
Na verdade, deveria sim. Ele não ligava para ela. Não mesmo. Apenas a desejava assim como a todas as outras garotas de Sweet Amoris. Ela não era diferente. Não. Não podia ser.