The New Continent. escrita por Martinato


Capítulo 9
Um festival problemático.




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Tomamos bastante terreno desde que Julia finalmente parara de deleitar sobre sua captura tão insignificante, ao meu ver. Daria muito, mas muito trabalho mesmo aos nervos dela, fazer aquele Feebas evoluir logo para um Milotic. Era um Pokémon formidável, tinha de admitir, mas muito embora insolente e completamente irritante, num grau quase impossível, conseguir treiná-lo sem que ficasse boiando nas beiradas dos lagos. O mesmo valia para os Magikarps.

Seguimos a trilha e o solo representava que Yokota tinha uma vantagem de alguns minutos, talvez poucas horas, no máximo duas. Foi o tempo de nos arrumarmos e finalmente dar rumo a aventura. Gui e Alex ficaram para trás, dizendo que tinham assuntos pendentes a tratar, não os questionamos e marcamos de nos encontrar em algum ponto da cidade, que estivesse menos movimentado.

Thalles girava uma de suas Pokéballs no indicador, talvez fosse a esfera que continha Nidoran, mas nada que me fizesse perder tempo pensando.

Um repentino estalar da abertura da esfera bicolor soou pelas minhas costas, obrigando-me a virar e disseminar o que havia acontecido. Nada tão conveniente do que a repetida ação da manceba em liberar seu Quilava. Como prestava mais atenção no caminho, dei de ombros e voltei a vasculhar os cantos em buscar de algum Pokémon que me agradasse em capturar, mas desde outrora nas margens do riacho, nenhum tivera dado aquele êxtase de adrenalina.

[...]

A mata aos poucos foi ficando menos densa e as árvores ficaram para trás. Só havia descoberto campos e florestas até agora. Será que o mundo tinha ficado tão verde desde a criação das ITEP's? Pelo visto, a natureza se alongava drasticamente, com exceção dos centros urbanos, nos quais poderíamos considerar incrivelmente pequenos, afinal, atravessávamos a cidade toda em menos de um dia, e elas sempre davam acesso a uma nova trilha de terra batida.

Ao longínquo - embora não muito, aproximadamente uns sete quilômetros -, conseguimos visualizar a entrada para a cidade 3. Ela tinha um imenso portão, julguei assim, mesmo parecendo uma formiga ao topo da íngreme colina em que estávamos. Parecia bastante movimentada e havia muitas cores penduradas a todos os lados. —— Olha! Será que está tendo uma festa? —— Encantada, Julia se aproximava em passos largos e se apoiou no meu ombro para que conseguisse, talvez, um pouco mais de visão, o que a meu ver, foi completamente em vão. —— Bom, parece que sim. —— Murmurei, já que não precisava de muito esforço na garganta para ela me ouvir. —— Vocês estão com sorte. —— Se aproximou o ambientalista, sem vestígios de seus passos céleres. Parecia um fantasma. —— Este é o festival Lapras. A cidade 3 é conhecida por receber anualmente um pequeno grupo desses Pokémons. Desde a fundação dos institutos, houve-se quase uma extinção deles, então o aquário da cidade criou os ovos nos melhores ambientes possíveis e deixou com que famílias procriassem em semi cativeiros. Eles tinham contato com o mar mas ao mesmo tempo, ficavam em prol dos especialistas. Anos se passaram e agora os grupos quando atingem a idade jovem completa, são liberados para se aventurarem pelo oceano. Não é a toa que essa e a cidade 7 são as únicas com acesso ao oceano por aqui, no setor Leste, claro. —— Assoviei, surpreso com todo o conhecimento do garoto.

Não me dei ao luxo de saber mais sobre a história daquela cidade, a cada passo, Thalles vasculhava em um pequeno bloco de anotações, algo que lhe parecesse interessante para compartilhar. Estava tão distraído que nem sentiu quando seu tênis acidentalmente cobriu uma pequena mancha branca na terra e um urro de desaprovação preencheu o âmbito.

—— Zaaaaaaaaanrh! —— Enfurecido, um Zangoose saltou pela mata, deixando todas suas pequenas jabuticabas colidas rolarem pela ladeira que a trilha formava. Seus olhos expeliam ódio ao rapaz, que colocou o caderno entre o peito e se desesperou por alguns instantes, não sabendo bem como reagir.

Os Zangooses tem uma característica muito temperamental, e são sempre bastante encrenqueiros. Pisar na calda de um deles é como sentenciar sua cara completamente aberta pelos poderosos ataques com as afiadíssimas garras.

Rapidamente nos aproximamos para dar uma ligeira cobertura, mas o Ambientalista fez com que nos afastássemos. —— Qual é a sua? —— Indaguei. —— Calado. Acha mesmo que esse Zangoose está sozinho? Eles vivem em bandos, então é melhor que isso fique entre mim e esse aqui. —— Sua fala foi em vão no momento em que mais dois surgiam entre alguns arbustos volumosos. Nem precisava explicar como estavam rancorosos pela ira do seu parceiro.

Agarrei a terceira PokéBall, hoje foi o primeiro dia em que não me encontrava com nenhum dos meus Pokémons soltos. O segundo Zangoose me encarou e posicionou ao lado do primeiro. O terceiro fez a mesma coisa, mas seus olhos estavam vidrados em Jubs e seu parceiro, Quilava.

Thalles demorou um pouco mais que eu, para liberar seu Pokémon. Sua PokéBall era diferente das demais, tinha a parte superior enegrecida e dois riscos sobressaltos em dois cantos de coloração dourada. —— Uma UltraBall? —— Pensei alto, ele me olhou, sorridente e a lançou para cima.

Mareep estava cavando o chão impaciente, seu oponente cortava algumas gramas bastante crescidas, indicando que já estava pronto, mas momento algum esperava receber honra daquele trio. Eram traiçoeiros até demais.

Do orbe de Thalles, a luz branca irradiou até o chão, libertando um volumoso Pokémon, de característica mais forte que o patamar de Mareep, e um pouco equivalente a de Quilava. Um belíssimo Absol chacoalhava seus pelos, e consequentemente, arranhava o solo com suas presas afiadas. —— Escutem aqui, eu não queria machucar você. E acho que não precisamos resolver as coisas assim. —— Tentou dialogar, mas Zangoose apenas rebateu o ar com suas imensas garras, e urrou pronunciando seu nome incontáveis vezes. —— Acho que isso significa: sem acordo. —— Ponderei, com um sorriso reprimido nos lábios.

O terceiro correu e aplicou um forte e inesperado Slash bem debaixo do queixo de Quilava, no qual foi lançado alguns centímetros do chão em direção ao ar. O movimento não parou por ai, o primeiro correu usufruindo do Quick Attack, e pisoteou a barriga do oponente, fazendo sua queda adiantar-se. —— Quilava! —— Foram as únicas palavras que Julia conseguiu proliferar.

Meu erro foi ter desviado o foco para o inimigo, deixando a guarda de Mareep e minha, abertas. O Zangoose número dois correu ao encontro da ovelhinha, e com as duas mãos, executou um X-Scissor perfeitamente na face de Mareep, obrigando-a assim, cair no chão enquanto ele apoiava sua pata na cabeça dela. —— Maldito! —— A surpresa vinha mais para o lado de Thalles, que sendo o agressor de tudo, não teve um ataque vinculado ao seu Pokémon. Talvez fosse essa a vingança do trio inconveniente.

Quando achei que ele não fosse fazer nada, rapidamente ergueu o dedo indicador, e a fala saiu como um turbilhão do fundo da garganta. —— Psycho Cut! —— A lâmina curvada na direita, que se estendia em sua cabeça, rapidamente emitiu um brilho rosa, e Absol correu até aplicar o golpe no primeiro, e em seguida, usar o restante do movimento contra o segundo, afastando-os com ligeiras pulsações de dores sobre as áreas atingidas.

Absol ficou por cima de Quilava até que ele se recuperasse do choque, rosnando e protegendo seu corpo. Já da minha parte, apenas pisquei para Mareep, ainda caída, cujo conseguia me visualizar com o canto do olho esquerdo. Ela sorriu e emitiu uma forte carga elétrica, que subiu e eriçou todos os pelos do oponente, fazendo-o cair e recuar ao lado de seus amigos. —— Isso não precisa ficar assim. —— Avisou Thalles mais uma vez, com os braços cruzados e reprimindo um sorriso desafiador.

O Zangoose principal cruzou as garras e investiu contra Absol, parecia que colidiria com um movimento direto, mas não soube-se qual. —— Já sabe o que fazer. —— Foram as únicas palavras do ambientalista. Numa fração de segundos, Absol desapareceu misteriosamente, numa penumbra cinzenta e de imediato, aparecendo por cima do antagonista, pisoteando-o com extrema violência. Absol não era do tipo mais brincalhão no quesito batalhas, tinha um humor bastante centrado, a seriedade pairava em seu semblante.

Zangoose caiu, com os olhos em redemoinho. Os outros dois, bufaram. O segundo tentou investir contra Mareep, mas ondas de eletricidade o impediram de dar sequer um passo. —— Adoro a habilidade especial da minha pequena. E você? —— Perguntei ironicamente. —— Finalize com Charge seguido de Discharge. —— E assim a pequena fez, aproveitando do oponente inerte. Carregou ondas de energia em seu pelo felpudo, até que estivesse carregada o suficiente para eliminar uma energia nocauteadora.

O terceiro, por mais que conseguisse se mover, não conseguiu tal feito, pois Quilava o surpreendera com um potente Flamethrower, deixando-o fumegado e caído para trás.

Thalles foi calmamente em direção do primeiro, logo após o impacto do ataque de Mareep. Pensei que capturar Zangoose, mas o ambientalista me impediu, erguendo seu braço. —— Não. Hoje, não. —— Não o questionei, mas também não pude deixar de pensar que ele queria possuir para si próprio os três. Se fosse o caso, teria treta.

Zangoose se recuperava lentamente, e quando o viu se aproximar, ergueu com os vestígios da sua força, aplicando um Scratch no antebraço de Thalles. Sangue escorreu mas ele forçou seu semblante a não demonstrar fraqueza. —— Relaxa, amiguinho. Não vou te machucar, mas vocês são bem cabeça duras, não? —— Zangoose o encarava, com a dúvida nítida em seu rosto.

O rapaz apanhou em sua bolsa um pequeno pote com líquido viscoso, ou mais parecido com gel, não soube diferenciar estando alguns metros de distância. Ele tocou a área atingida e Zangoose reprimiu a dor. Assim como Thalles, não queria demonstrar fraqueza. Tratava-se de uma batalha de orgulho agora, e não havia maneira melhor do que enfrentar um Zangoose, como aquela.

Feito isso nos três e com um corte bem aberto escorrendo sangue, o ambientalista se orgulhou do próprio trabalho ao ver os Zangooses e rapidamente o apressamos para irmos a um médico mais próximo, levando em conta o grau do ferimento, ele poderia perder muito sangue ou até mesmo pegar uma infecção, embora a cápsula tomada na formatura desse conta disso.

[...]

O doutor que nos atendeu fez um ótimo remendo, dando alguns pontos, mas com o remédio ingerido por Thalles, a cicatrização não demoraria mais do que um dia. A medicina tinha mesmo subindo num patamar invejável. Ele agora coçava a faixa emendada no antebraço, e usava a desculpa mais comum de todas. —— Tá pinicando essa merda! —— Resmungando, já que aparentemente ainda sentia as lesões. —— Para de agir como um bebê! Para de coçar isso. Não vai adiantar nada se os pontos abrirem. —— Julia bancava a mãe, no meio de todo aquele público.

Já eu? Simplesmente andava alguns passos a frente, com Charmeleon vasculhando cada canto do lugar, como barraquinhas e homens fantasiados de Pokémons, com Mareep em cima de sua cabeça.

Todavia, a maior concentração de pessoas naquele lugar se encontrava algumas escadarias espalhada mais a frente pelo canto direito da cidade. Ela não era tradicionalmente construída na altura do relevo. Haviam vários pilares abaixo, tanto de madeira para as pontes, quanto os de concreto puro, para sustentabilidade do terreno.

A algazarra estava perfeitamente visível. Eram empurrões para todos os lados, como doidos querendo agarra a grade mais próxima do ídolo de um show de rock. Uma barricada estava fixada próximo da margem. Vários policiais mantinham os turistas ou habitantes afastados e insistiam para que parassem de empurrar uns as outros, garantindo uma visão perfeita. —— Isso tudo para ver alguns Lapras? —— Ponderou a loira. Thalles bufou e eu ri levemente. —— Que? Só acho desnecessário tudo isso. —— Quando Thalles estava próximo de repreendê-la, me adiantei. —— Mas então. E o ginásio daqui? —— O Ambientalista se virou, acariciando seu Absol, e sacou seu bloco de notas. —— Bom, ele fica próximo daqui, algumas quadras só. Mas creio que até o líder do ginásio deve estar nesse festival. —— Cruzei os braços revirando os olhos.

"Ótimo..." Pensei.

[...]

As horas se passaram e o céu aos poucos deixava o crepúsculo se esvair, dando liberdade para um manto de estrelas e um céu coberto duma imensidão negra. O astro mais próximo, brilhava em uma poderosa sintonia, demonstrando-se por completo, parecia uma luminária no meio de um quarto.

Nós comemos e reabastecemos os mantimentos. Levamos alguns equipamentos para reparos nos mercados, lá haviam de tudo para os treinadores. Descobri também um novo tipo de PokéBall. Apanhei duas demonstrativas para cada treinador. As GreatBalls. Esferas azuladas na superfície com duas listras azuis ornamentadas nelas. O vendedor dizia que ela garantia uma captura mais certeira que as PokéBalls, portanto, não deixaria uma dessas para trás.

O povo a esta altura já tinham se acomodado. Cada um dando um espaço de alguns poucos metros uns dos outros. Sentados, e pacientes, avistavam o horizonte, completamente iluminado por holofotes. Pouco a pouco as barras de metais foram sendo recolhidas. Os carros se afastavam pelas margens e logo adentravam de volta para a estrada com rampas especialmente feitas para isso.

Uma lancha saiu misteriosamente detrás de um amontoado de rochas, eles soltaram dois fogos de artifícios, que ao atingirem o céu, explodiram numa coloração azulada. Todos sentados, para não impedir ninguém de ver o horizonte, aplaudiram, eufóricos. Alguns assoviavam forte, outros, apenas gritavam. Crianças faziam tudo em pequenos intervalos de tempo.

Thalles, Julia e eu conseguimos nos agarrar numa parte do terceiro píer, o mais vazio. O bom que tivemos uma visão privilegiada do começo. —— Sabe... Eu sempre quis ter um Lapras. —— Revelei aos amigos. —— Ai tá sua chance. Quando aparecer o primeiro, pula e nada até lá e o desafia pra uma batalha. —— Satirizou a loira. —— Obrigado. Prefiro que isso acontece ao acaso. —— Murmurei, apoiando meu rosto nos braços encostados nos corrimões. —— E se caso você pensasse em pular... —— Iniciou Thalles, indicando que eu fosse um perturbado temperamental que agia completamente por impulso. Não que fosse cem por cento mentira. Após uma risada, ele continuo. —— Seria preso, pois quando eles são liberados, só podem haver capturas depois de uma semana de vantagem. Eles vivem no meio do oceano, portanto, é muito difícil um treinador conseguir ficar em busca deles nessa imensidão de água. Considere eles agora um sub lendário. —— A dúvida reinou. —— Ué... Eles não ficam nadando pelo mar? —— Thalles me encarou. —— Sim. Por que? —— Olhei para o mar. —— Ah, sei lá. Não seria difícil achar um grupo depois de vasculhar por algumas horas mar aberto. —— O ambientalista riu. —— E você acha que eles vivem só emersos? Esses Pokémons podem chegar até as maiores profundidades do oceano. Quer procurar por lá? —— Sorri. —— No dia que eu puder respirar e enxergar perfeitamente debaixo d'água, eu aceito. —— E finalmente focamos na lancha.

– 15 mins depois. -

Entediado pela demora, meus pés quase involuntariamente batiam freneticamente no solo. Não possuíamos cadeiras para o conforto. Charmeleon, agarrado a duas barras que se afastavam em vinte centímetros uma das outras, bufava, assim expelindo a típica fumaça cinzenta. Haunter levitava alguns metros acima de mim, querendo ver tudo sem que nada escapasse. Já Mareep, pela primeira vez, ficou entre meus braços, vez ou outra subindo no meu ombro com pouca dificuldade. Ela era a mais elétrica ali, o que até era considerável, bastante por sinal.

Repentinamente, um leve toque no meu ombro fez contato, me virei surpreso e me deparei com Alex, Gui logo atrás, usando um shorts agora, mas ainda com o coturno, o que dava uma imagem engraçada. —— Não perdem nada pelo visto, ein? —— Disse o tatuado. —— Claro que não. E nem vocês. —— Ele riu e ergueu uma garrafa que continham a coloração púrpura. Ao fazer isso, o hálito forte invadiu minhas narinas. —— Essa porra é alcoólica? —— Ele levou o antebraço depois de dar um longo gole, mostrando sua tatuagem com três Murkrows agarrados a uma espécie de maçã ou sei lá, não consegui distinguir com o movimento rápido.

—— Suquinho de uva, cara. —— Dizia ele rindo, e Gui bebia em outra garrafa. —— Bebam logo. —— Soou a voz do garoto por trás de Alex. Apanhei a garrafa e virei um gole, sentindo uma ardência suavemente agradável, logo depois, o sabor da bebida se espalhava pelas papilas gustativas. —— Assim que eu gosto! —— Alex glorificou minha ação, e a garrafa foi passada para Thalles e Julia, o gosto aparentemente agradou a todos.

[...]

Um grupo de pequenos barcos moviam-se em sincronia rumo ao mar aberto, várias escoltas em Jets Skis rondavam uns sete metros afastados, numa velocidade mínima, sincronizada com as lanchas. O primeiro holofote mirou, seguido por todos, assim, dando liberdade para a incrível pele azulada do primeiro Lapras brilhar em contraste a forte luz dourada. Ele urrou satisfeito, guiando uma enorme família dos mais variados tipos, medianos, com desenvolvimento mais avantajado (como o líder), normais, uns mais claros, outros mais escuros.

O som que emitiam pela garganta tranquilizou o ambiente e deixou uma paz serena. Estava tão relaxado que podia me sentar e adormecer ali mesmo, mas consegui conter a vontade pela graciosa imagem deles.

Poupei alguns poucos segundos da vista para notar os amigos ao redor. Eles deixaram as garrafas de vinho no chão, apoiadas num canto seguro para que ninguém trombasse sem querer nelas.

~ONOMATOPEIA DE UMA EXPLOSÃO~

Rapidamente vasculhei o estrondo que deixou todos os presentes aterrorizados. Meus amigos juntamente dos Pokémons deles, tanto quanto os meus, se alertaram, ficando em guarda e vasculhando o recinto, a fim de encontrar os autores daquele inconveniente.

Houveram uma série de tiros lançados na praia, acertando alguns dos policiais, que caiam tingindo o bege da areia com o rubro forte. Sequer se moviam. Tiros perfeitos e fatais.

Atrás, uma rede desceu, elevando um grupo pequeno de Lapras, enquanto alguns vagavam desgovernados e confusos, com o olhos aterrorizados, mas por pouco tempo, pois alguns Tentacruels emergiam, usando seus tentáculos e golpeando os Lapras, obrigando-os a ficarem cercados por cinco deles, num espaço pouco amplo, mas que comportasse todos perfeitamente.

Do céu, um homem montado em um Salamence aparecia, ele carregava um rifle de ultima geração, muito mais tecnológico do que dos militares possuíam antes de serem completamente extintos. A formação da Polícia Pokémon tinha mantido as criminalidades sob controle por inúmeros anos, pelo visto o Tabu tinha sido rompido.

—— Seguinte, se algum de vocês se mover, eu acabo com a vida de mais um cretino, e ainda ordeno que atirem nos inocentes que estão correndo! —— A voz vibrava em ondas sonoras poderosas, como se em cada canto da cidade estivesse escondido uma caixa de som, para amplificar o poder do aparelho.

O que mais me incomodou, foi a coleira enorme que o Pokémon do indivíduo usava. Ela emanava cargas a todo momento, e cada vez que Salamence se movia um pouco a contragosto, um azul irradiava em todo seu corpo e ele voltava ao semblante obediente.

—— Esses Pokémons não foram capturados e treinados como de costume... —— Thalles percebeu também, mas foi o primeiro a comentar. Quando olhei para trás, todos estavam espremidos entre as rochas, com os rostos raivosos, mas a angustia de não poderem fazer nada para impedirem o ato de sequestro.

Assim como eles, eu também não tinha muitas opções. Retornei Mareep a PokéBall, pois era a mais impulsiva dos presentes, a ponto de saltar e tentar resolver as coisas sozinha. Hunter, por ser do tipo Ghost, seria imune as balas. Já Charmeleon, jamais saia do meu lado sem que permitisse ou estivesse em uma zona segura.

—— Percebi isso também... E acredito que se eles não obedecerem, as coleiras liberam cargas elétricas nos corpos deles... —— Thalles se ajeitou, almejando uma visão mais privilegiada. E conseguiu por meros segundos, enquanto a guarda se escoltava os civis ou se escondiam entre os carros. Assentiu em concordância após o reconhecimento e voltou-se a olhar para baixo.

Mais três homens com um manto negro e um "U" bordado em platina nas costas se aproximaram, dois usavam Fearows, e o ultimo, mais um Salamence. Nossas chances de conseguirmos enfrentá-los de zero, caiu para menos cem. —— Que merda. Como vamos ajudá-los? Os Pokémons são muito fortes. —— Ponderava insatisfeito Alex. —— Não tem muito jeito, cara. —— Deduziu o óbvio Gui. —— Calados. Não estou a fim que nos vejam aqui. —— Disse irritada Julia. —— Como se a distância e nossos sussurros fossem propagar no ar tão bem... —— Ironizou o tatuado.

Mais uma rede foi suspensa, prendendo os Lapras e os erguendo do mar. Os gritos de agonia preenchiam todo o âmbito, acompanhados pela risada maléfica do antagonista. —— Certo, certo. Vamos logo, seus lerdos! Ou os chefes não vão curtir se falharmos. —— Me arrisquei, espionando o céu. O homem portava uma pano, cujo cobria seu rosto quase por completo, com exceção de algumas madeixas e seus olhos, contudo, nesta área, jaziam óculos com várias tralhas equipadas neles.

Praticamente socando as rochas, um zunido cortando o ar abafou o choro dos Lapras, alguns segundos depois, o som de algo pesado caindo na água emanou. Me levantei sem pensar nas consequências. Os Lapras nadavam e investiam contra os Tentacruels, que agora estavam em uma grande desvantagem.

Atrás, um Dragonite sobrevoava, junto de um homem com cabelos avantajados e arrepiados, atrás dele e se segurando nos ombros do Pokémon. O homem que portava um rifle, junto dos comparsas, miraram nele, mas suas armas pareciam não disparar.

Era, mas com bastante dificuldade, visualizar uma aura rosa sobre a área do gatilho. Repentinamente, as armas foram puxadas e jogadas ao mar. A presença de um Solrock foi revelada. Do mar, um Gyarados e um homem com as roupas inteiramente molhadas também se revelavam. Um Hyper Beam atingiu os Tentacruels que resistiam, imobilizando-os por completo. —— Como ousam?! —— Gritou o infeliz, que por trás dele, um Lunatone sobrevoou a área, acertando sua cabeça com a velocidade em que caminhava até seu dono. Este por sua vez, ficou próximo do que possuía um Gyarados, no qual já estava recuperado após a carga lançada.

—— Como ousam vocês, malditos bastardos, a roubarem os Lapras! —— Berrou o rapaz montado no Dragonite. Do mar, ao lado do Gyarados, um novo Tentacruel apareceu, junto de um Crobat, que carregava um outro homem, trajado com roupas roxas e um jeans preto. Ele saltou e ficou de pé em cima da cabeça do seu Pokémon. —— Exatamente. E óbvio que não vou permitir que façam isso, justamente na minha cidade. —— Os punhos do magnata da Team Universe se cerraram. —— Acham mesmo que vamos sair sem brigar? E a propósito, quem são vocês? —— Indagou o misterioso, ficando de pé nas costas do Salamence, como se já estivesse invicto.

Os holofotes pareceram respeitar a vontade das apresentações, visando que de todos, três deram foco no Gyarados, Tentacruel e Dragonite no ar. Os que montavam o Gyarados e Dragonite tinham uma semelhança assombrosa, com exceção do cabelo e um pouco da musculatura. Já o dono do Tentacruel, era um tanto baixinho e pouco corpulento, muito embora seu sorriso confiante vetasse completamente a sua aparência.

—— Quem somos nós? —— Começou o menor, quando seu Crobat incansavelmente batia seus dois pares de asas, ajustando sua altura ao lado do treinador. Gyarados moveu-se até o polvo grande, e com suas mandíbulas, encarou Salamence com extrema fúria no olhar. Todavia, o Pokémon dragon fez o mesmo, mantendo assim, dois alvos, um tentando intimidar mais o outro, embora fossem em vão. —— Nós, meu caro... —— Agora quem falava era o homem montado no water/flying. —— Somos os líderes dos ginásios das cidades três e sete. E meu nome é Kássio. —— Finalizou, e em contrapartida, seu Gyarados urrou fortemente, apoiando a causa. —— Eu sou Drew, e como meu amigo disse, sou o líder da cidade três, dos tipo poison! —— O líder tinha um jeito engraçado, fez sua apresentação com uma movimentação em cima de seu Tentacruel, colocando no final o indicador e o dedo do meio, em sinal de paz, um pouco a frente do seu rosto. Dragonite desceu num rasante, se posicionando no canto esquerdo, socando sua própria mão, e seus oponentes apenas o olhavam, mas mesmo sob as habilidades dos Salamences, Dragonite não recuou nem um passo, embora o semblante vez ou outra exibisse alguns traços. —— E eu sou Kaio. Nada mais a declarar sobre nós, apenas sobre os seus atos, e como um dos líderes do ginásio aquático, jamais permitirei que continuem com essa atrocidade, infelizes. —— A quantia ficou equilibrada, os líderes possuíam Pokémons tão poderosos quanto os capangas. O atual organizador da quadrilha recuou um pouco com seu Salamence, até o parceiro se agrupar, e os dois Fearows se colocarem de prontidão. Os Tentacruels retornaram as PokéBalls, não serviriam muito após a surra que tomaram dos Lapras, que agora se reagruparam próximo a costa montanhosa.

Os dois homens saltaram dentro de um helicóptero, no qual suspendia o peso dos Pokémons outrora, e com um aparelho do tamanho de um celular em mãos, pressionou-o algumas vezes e os Salamences urraram, seus olhos agora se ensanguentaram de fúria. —— Os dois, Dragonbreath agora! —— De suas mandíbulas, um brilho azulado se reprimiu, mas quando ganhou intensidade, a coloração deixou de existir, apena trazendo um traço branco e bem incandescente. O projétil foi lançado numa velocidade absurda, mirando nos Pokémons de porte mais fortes, como o Gyarados e Dragonite.

Kaio e Kássio agiram imediatamente. —— Light Screen. —— Falaram numa sincronia perfeita. Lunatone e Solrock tomaram a dianteira e criaram com seus olhos, um espelho rosado que defendia fortemente o golpe, com poucas parcelas ultrapassando a defesa. Nada que os fizessem perecer ou causar grandes danos a ponto de nocauteá-los.

O golpe foi perdendo intensidade, mas nesse meio tempo, Kássio lançou outra PokéBall ao ar, e dela um grande Walrein se propagou. Kaio saltou das costas de Dragonite e Kássio da de Gyarados, ambos ficando montados no Pokémon leão-marinho. —— Os dois, Dragon Dance! —— Mais uma vez a sincronia nas falas me surpreendeu.

Gyarados deu um salto para trás, mergulhando e emergindo rapidamente, nisso uma aura vermelha percorreu todo seu corpo. Dragonite fez o mesmo, mas no ar, e novamente a aura o acompanhava. Seus ataques físicos e velocidade tinha aumentado drasticamente. —— Cuidem dos agressores, eu vou ajudar os Lapras. —— Disse Drew. —— Certo. Solrock, ajude-o. —— Ordenou Kássio. —— Você também, Lunatone. —— Acompanhou Kaio. Os Pokémons rock/psychic foram de imediato até Drew, com seu Crobat planando próximo a água, ficando de guarda, caso houvesse algum inconveniente.

—— Sem atrasos. Vocês! Lidem com eles. —— O homem mascarado apontou para outros dois montados em Fearows, ficando com apenas um do seu lado. —— Acho bom fazer um bom serviço. —— Brigou com seu único parceiro, que assentiu e posicionou-se lado a lado. Dentro da segunda aeronave, um compartimento foi aberto, com uma jaula sendo exposta lentamente. Nela continha um Floatzel também amordaçado, e um Quagsire, mas sua coleira tinha uma forma diferente, talvez pelo fato do Pokémon ser imune a cargas elétricas.

A jaula se abriu, liberando a dupla ao mar. Não foi preciso dizer nada, os dois Pokémons já nadavam em direção de Drew e seus Pokémons. Os Lapras ficavam desgovernados um pouco mais atrás, enquanto o líder de ginásio os acalmavam com uma flauta, emitindo sons idênticos a sinfonia deles.

—— Vamos seu imprestável, Dragon Pulse! —— Iniciou mais uma a batalha. —— Dragon Dance. —— Ordenou o seu parceiro. A dupla de Dragões assumiram uma formação, onde o primeiro disparava a aura azulada em direção de Dragonite, enquanto o detrás, fazia uma volta no ar como Dragonite fizera anteriormente. —— Humf. Fracotes. Dragonite, faça essa pulsação ser direcionada para outro lado com o Twister! —— A voz de Kaio soara firme. Os olhos de Dragonite ficaram azulados e do mar, um ciclone mediano foi adquirindo forma instantaneamente, logo sendo erguido e atingido pelo Dragon Pulse, mas como tratava-se de um fluxo, o golpe não cortara o movimento, simplesmente se somava a ele enquanto era direcionado aos oponentes. —— Não vamos ficar parados, Gyarados, fortaleça isso com o Blizzard! —— Não sabia bem como funcionaria a formação, mas os rapazes estavam confiantes disso.

Um forte sopro gélido com alguns fragmentos de neve foi somado ao ciclone, que surpreendentemente não se congelou. A força das vibrações causadas pelo Dragon Pulse, deixaram uma resistência maior, concluindo, a água sempre alternava de posição, obrigando a baixa temperatura subir e descer constantemente, num tempo perfeito para atingir os alvos.

Sem delongas, o vento com o ciclone fortificado acertou o primeiro Salamence da formação, o outro teve mais sorte e conseguiu levantar voo e desviar. Mas o primeiro recebera uma carga muito forte e direta, e isto o fez desmaiar no instante em que recebera o golpe por completo.

—— Filho da puta! Rock Slide! —— Gritou o líder para o segundo. O Pokémon Dragon fez o possível, mas a velocidade dos seus movimentos eram equiparadas ao de ambos antagonistas. As rochas foram lançadas, mas com tempo suficiente para que os Pokémons armassem uma defesa. —— Hyper Beam. —— Falou calmamente Kássio. Gyarados lançou o potente raio que fez todas as pedras se fragmentarem a estilhaços insignificantes, ainda sobrando energia para rumar em direção do oponente, que aos poucos, não foi pego por completo, apenas de raspão na asa esquerda.

—— Cretinos. Dragonite, Extremespeed somado com Thunderpunch, quebre essas malditas coleiras. —— Rápido como o vento, o dragão desapareceu e reapareceu junto a queda do primeiro Salamence, socando com o punho repleto de energia elétrica, rompendo o mecanismo em vários pedaços. Com o uso da velocidade ainda, Dragonite reaparecera na frente de Salamence, socando por baixo de seu pescoço, esgueirando seu corpo pelo comprimento do alvo, sem que sua boca ficasse de fácil acesso a uma mordida ou coisa do gênero.

Mais uma coleira foi rompida. A ira instantaneamente saiu dos olhos de Salamence, que confuso, chacoalhou sua cabeça e alçou voo, sumindo pelo horizonte e deixando visível sua satisfação por estar livre de novo. Já o segundo, foi inevitável, colidiu-se com o mar e seu corpo ficou boiando graças as suas asas, que davam um pelo suporte, como uma prancha.

—— Suas chances de nos vencerem são nulas. —— Afirmou o líder do ginásio aquático de cabelos arrepiados. —— Será? —— O sorriso maligno estacou-se no semblante do homem. Kaio não moveu mais os lábios para discutir. Não sabia o que poderia ocorrer, vindo do fato de tratar-se da Team Universe.

Mas para sua surpresa, o homem recuou, fechando a porta da cabine, e o helicóptero tomou altitude, junto do planador ao lado.

Batalha ocorrendo com Drew, ao mesmo tempo.

O rapaz em cima de seu Tentacruel, usufruía de todo seu fôlego para que a melodia fizesse o grupo se juntar e finalmente relaxar. Demorou alguns instantes, mas aos poucos todos se juntavam, restando apenas quatro ou cinco ainda afastados.

Houve um barulho mais atrás, como se algo volumoso encontrasse um destino com o mar. Drew não poderia se desatentar ao que tocava, pois um erro na canção e os Lapras se enfureceriam. Crobat começou a berrar, e isso atraiu a ajuda de Solrock e Lunatone, o trio estava por conta própria, já Tentacruel, ocupava-se em dar estabilidade ao treinador, tendo onde se manter de pé.

Floatzel surgiu já utilizando um Aqua Jet na direção de Solrock, o golpe o batei em cheio, obrigando-o a se arrastar em pleno ar até que conseguisse inutilizar a velocidade do impacto. Lunatone se virou, surpreso, e foi atingido pelas costas por um Ice Beam, gerando peso em suas costas enquanto a camada de gelo se formava.

Crobat, tomando proveito de sua velocidade, rapidamente cruzou os dois Pokémons, cuspindo uma cortina roxa tóxica, que para infelicidade dos oponentes, tragaram boa parte do ar venenoso.

O veneno fez o efeito imediato, logo as injurias tomaram posse dos corpos dos Pokémons aquáticos, que exibiam seus rostos, o incomodo daquilo.

Solrock, recuperado, moveu-se até Lunatone e esferas roxas surgiram, sendo lançadas nas costas. O movimento tratava-se do Will-o-wisp, as consequências seriam deixar o oponente em status burn, contudo, como Lunatone tinha sua área completamente atingida por gelo, ambos se negaram, não causado divergência na saúde do Pokémon Lua.

Instintivamente, querendo revidar o infortúnio causado, Lunatone criou vários fragmentos de pedras ao seu redor e os lançou contra Floatzel e Quagsire. O mais danificado foi o puro water, as rochas o pegaram desprevenido e caíram por cima de sua cabeça, umas até atingiram o colar, rompendo-o e fazendo boiar na água, dando leves estaladas momentâneas.

Com o choque, o Pokémon afundou pelas profundezas e não ousou voltar mais.

Quagsire tinha apenas um sorriso no rosto enquanto as pedras caiam em sua cabeça, aparentemente não fazendo muito prejuízo a ele mesmo. Solrock tomou a dianteira, e com um belo Psychic na coleira, esta se alargou tanto que foi rompida em dois pedaços. Sereno, Quagsire abriu sua boca, curioso com o que acabara de acontecer, acenou com sua nadadeira e submergiu igual Floatzel, não aparecendo mais.

Os Lapras finalmente se acalmaram, e toda a calmaria foi restabelecida, pois as aeronaves já tinha uma distância pertinente, embora, um brilho, muito similar a uma estrela cadente, pairou no céu estrelado por alguns instante, logo desaparecendo.

Gyarados rugiu, apenas ele. Mas em seguida, os demais fizeram o mesmo, comemorando a vitória.

[...]

Fui o primeiro a levantar das rochas e saltar de encontro a praia, os Lapras se alojavam na areia por alguns instantes, para uma avaliação médica antes da liberação. Entretanto, os doutores estava bem longe, e a data prevista seria de aproximadamente meia hora antes que o primeiro viesse a chegar no lugar.

Thalles correu junto comigo, já retirando o máximo de medicamentos possíveis. Os Policiais nos barraram, mas o rapaz explicou a situação, e com uma lábia muito boa, foi autorizado a se aproximar dos Pokémons, onde apenas os líderes de ginásio e a escolta armada estava.

O Ambientalista imediatamente começou à avaliar os corpos dos pokémons, sempre mantendo uma cautela exímia, para que o toque não provocasse um surto neles. Eu o ajudava, passando medicamento em algumas áreas, outra hora, fazia alguns remendos, e vez ou outra, aplicava o Super Potion em spray nas regiões com hematomas.

Fui me afastando quando os líderes dialogavam e elogiavam o mancebo. Ele mal tinha tempo para respondê-los. E eu, como não tinha muito foco, tomei partido de cuidar dos mais afastados.

Nossos amigos ficavam numa distância de segurança obrigatória que os policiais criaram, deixaram apenas nós dois adentrar. Andei alguns metros até me deparar com um solitário, ele tinha um perfil menor que os outros, e seu rosto tinha um corte que sangrava, um líquido incomum, obviamente, não era rubro como o nosso, mas sim, um azul cristalino.

Me aproximei, e ele me encarou, com receio. Mostrei a ele os equipamentos que portava e os medicamentos de primeiro socorros. —— Posso me aproximar? —— Indaguei, sem dar um movimento em falso.

O Lapras olhou, olhou e olhou, quando finalmente decidiu de que não tratava-se de uma armadilha, abaixou seu pescoço e deixou os olhos descansando, indicando que eu poderia cuidar dele.

Andei calmamente, umedecendo um pano com o spray Super Potion, limpei a ferida e conforme o contato do pano fazia atrito, a feria ia se fechando. Já não sangrava, mas infelizmente ele ficou com uma cicatriz próximo ao chifre que se ergue em sua testa.

Massageei a área e apliquei uma dose extra por via das dúvidas. Lapras apoiou sem rosto em meu peito, parecia estar descansando, já que senti um enorme peso. Segurei a medida que me pareceu confortável, e continuei massageando sua cabeça, a fim de livrá-lo do stress. —— Você cuida muito bem dos Pokémons. Também quer ser um Ambientalista? —— A voz repentina fez Lapras se erguer e meu coração acelerar, pelo susto repentino.

Me virei e me deparei com o dono do Gyarados e Solrock. —— Não, não, eu prefiro uma jornada como treinador, mas é sempre bom aprender essas coisas. —— Sorri, voltando a me focar no Pokémon. —— Entendo. É muito nobre e esperto da sua parte. —— Ele caminhou, fazendo alguns gestos que não consegui acompanhar desde o começo, com isso, Lapras se moveu até ele, apoiando agora seu rosto no ombro do líder. Atitude que me deixou intrigado. —— Como? —— Foi a única coisa que disse. —— Oras. Sou um líder de ginásio do tipo water. Eu tenho que saber como socializar e entreter um Pokémon water. —— Seu sorriso foi contagiante, e as caricias que ele fazia no pescoço de Lapras, cada vez mais o deixava relaxado e sonolento. —— Você faz jus ao seu papel. —— Ele balançou a cabeça. —— Faço o que posso. —— Rimos brevemente. —— E ainda é modesto. Bom, pelo que vi, terei que treinar muito para conseguir uma insígnia sua, senhor Kássio. —— Ele se virou, enquanto Lapras se ajeitava no ombro do mesmo, cochilando e o púbere de costas para o Pokémon. —— Senhor é forçado. Tenho apenas vinte e três anos! E droga, você sabe o meu nome e eu não sei o seu. Isso e uma má índole. Qual o seu nome, futuro desafiante? —— O linguajar dele me pareceu bem rebuscado, mas ignorei este fato, simplesmente por conhecer várias pessoas que agiam da mesma maneira. Talvez ele devesse ler muito nas horas vagas. —— Desculpe, é que ouvi sua apresentação. Sou Vinicius, mais conhecido como Marti. Dezoito anos e bom, comecei a minha jornada recentemente. É isso, senhor dos Pokémons aquáticos. —— Ele riu e estendeu a mão, a apertei em seguida, e após o aperto, separamos as palmas. —— Certo. Te espero na cidade sete então, treine bastante! —— Exclamou, dando dois tapinhas na que devia ser a bochecha direita do Lapras, o fazendo despertar e se erguer, logo tomando caminho aos outros dois líderes. —— Uma dúvida só! —— Chamei a atenção dele no tempo certo. —— Diga! —— Ele se virou, esperando a pergunta. —— Se você e o do cabelo parecendo um texugo, são líderes, como lutamos contra vocês? E mais uma coisa, por que o Dragonite? —— Kássio sorriu, o sorriso mais largo que já tinha proferido naquela noite. —— Isso você mesmo irá descobrir quando chegar lá! E o Dragonite, como o Solrock e Lunatone, são Pokémons que nascemos e fomos criados juntos. O Kaio basicamente treinou ele a vida toda, desde que era um simples Dratini, assim como o Gyarados, mas nós, por sermos gêmeos, dividimos os Pokémons como se fossem exclusivamente de cada um. Enfim, tenho que ir agora, assuntos pendentes, vim apenas para presenciar o final do festival. Sabe como é, agenda de um líder é grande! —— Assenti, acenando e ele retribuiu o gesto, logo montando em Gyarados, enquanto Kaio de longe o esperava nas costas de Dragonite. Walrein já tinha sido recolhido e os Pokémons Rock/Psychic os seguiam levitando.

Apenas Drew e Thalles restavam, dando tchau também aos gêmeos, que sobrevoavam o mar, até desaparecerem pela penumbra.

[...]

Nos hospedamos num Hotel mais próximo, fiquei boa parte da noite junto do Lapras com a cicatriz parecendo um pequeno raio. Ele apenas saiu do meu lado quando seu rebanho voltou a ir em direção do mar. Infelizmente ficar na costa me trouxe péssimas experiências, como por exemplo, ver os corpos dos policiais que haviam falecido com os tiros do homem mascarado. Tentei não ver muito e imaginar que, por mais que seja um desejo ruim, nenhum deles tivesse uma família ou filho pequeno, para se deixar pra trás.

Conforme foi amanhecendo, Charmeleon me cutucou ao lado da cama, onde dormia num colchão imune a fogo, e esperou que despertasse. Já tinha acordado faz tempo, por isso, me virei de imediato, tocando a cabeça do meu Pokémon e acariciando a área. —— Está com fome, parceiro? —— Ele assentiu, soltando uma pequena quantia de fumaça pelas narinas, mas com um enorme sorriso no rosto.

[...]

Me arrumei e tomei um banho, logo liberei meus outros dois Pokémons e fomos para o restaurante do Hotel. Avistei Thalles e Julia, num canto, acompanhados por Alex e Gui, que tinham expressões bem sonolentas. —— Nessa idade e com ressaca?! —— Brinquei falando alto. Os dois taparam os ouvidos, falando em larmurios desgostosos. —— Fala baixo... —— Disse um. —— Cala essa boca, porra. —— Falou outro ao mesmo tempo.

[...]

Com todos alimentados, inclusive os Pokémons, a aparência dos ex bêbados melhorou bastante, embora se falássemos de comidas gosmentas como feijoada, purê ou coisas semelhantes, seus estômagos ainda se reviravam.

Nos retiramos do recinto, pagando a conta, e um barulho enorme de produtos caindo soou pela fim da rua. Andamos até lá, e vimos um Growlithe curvado, como se esperasse alguém correr atrás dele. Sua língua estava para fora e o rosto emitia bastante felicidade. Ao lado, um vendedor bastante insatisfeito reclamava com um garoto que arrumava tudo da melhor maneira possível, vendo se nada tinha sido quebrado. —— Cuide melhor do seu Pokémon! Que tipo de treinador deixa isso acontecer?! —— Berrava o velho. —— Me desculpe senhor, de verdade. Ele é bastante hiperativo. Qualquer coisa que tenha quebrado, eu pago... —— Suas palavras soavam verídicas, e isso consolou o homem. —— Tudo bem, nada quebrou, mas tome mais cuidado, ok? —— Ele assentiu, se desculpando mais uma vez, terminando de subir a mesa e colocar os produtos enfileirados, da melhor maneira que recordava.

Quando findou o ato, seu Pokémon se aproximou de novo e pulou na mesa. O loiro o agarrou a tempo, antes que derrubasse tudo de novo. —— Pelo visto conseguiu o que queria. —— Falei, e rapidamente seus olhos vieram a meu encontro. —— Você? Caramba, achei que a essa altura estaria longe daqui. —— Não soube disseminar se o comentário tinha soado positivo ou negativo. —— Hm... Não sou apressado. Enfim. Problemas com o Growlithe? —— Lyu concordou, o rosto soara uma amarga experiência. —— Bom, capturar um que vivia correndo e derrubando coisas na cidade em que fui, me pareceu uma boa ideia, diziam que ele tinha uma energia inesgotável, desde que foi encontrado tomando várias quantidades de café numa máquina. Ela vazava e tal. Ai, como não pensei que a cafeína fosse durar muito e que a energia vinha de uma força de vontade, decidi ir atrás. Agora tô com um Growlithe completamente alucinado e inquieto! Nem em batalhas ele tem objetivo. —— Todos do grupo caíram na risada, e nesse meio tempo, o canino já tinha virado seu rosto para todos os ângulos possíveis, umas seis ou sete vezes.

Quando o rapaz veio até nós, o Pokémon se soltou, voltando a correr. Ele se aproximou da lojinha daquele senhor, que com medo, apanhou o primeiro utensílio à sua frente. —— Ah não, de novo não! —— Com um objeto peculiar, parecendo uma pedra alaranjada, o homem a atirou, e Growlithe abocanhou o objeto.

Lyu se desesperou, achando que ele poderia engolir e se engasgar com a pedra, portanto, correu até o Pokémon, claro que nós fizemos os mesmo. Thalles inclusive já pegava sua bolsa, caso fosse pertinente algum equipamento.

Uma aura branca expandiu, cegando todos os presentes. O corpo do canino cresceu gradativamente, sua calda alongou-se, os pelos ficaram mais intensos e sua hiperatividade parecia ter cessado instantaneamente. Boatos de que quando um Growlithe evoluía, independente de como fosse, se tornava um Pokémon extremamente companheiro e de excelente comportamento.

Quem mais ficou boquiaberto foi o homem, por ter percebido qual produto havia lançado. Tratava-se de uma Fire Stone, pedras raras que tinham o poder de evoluir Pokémons do tipo fire. Arcanine dissipou a luz e cuspiu chamas ao alto, calculando uma área perfeita para não atingir ninguém, depois andou até seu treinador e o envolveu numa espécie de abraço com seu corpo e calda.

—— Você! Vai ter que pagar! Dois mil pela pedra! —— Se fosse anos atrás, dois mil seria uma quantia enorme, mas ultimamente o dinheiro rodava com tanta facilidade na mão de todos, que sempre carregávamos cinquenta ou até cem mil pokénotas.

Lyu pagou o homem e voltou, insatisfeito. —— O que houve? —— Perguntou Julia. —— Ah, não queria que meu Growlithe evoluísse com uma Stone. Queria pelo esforço próprio. —— Não me contive. —— Pelo menos você não vai ter mais um cheirado... Ops, "cafeinado". —— Grande parte riu, já Lyu, apenas imitou uma risada sarcástica bem forçada com ajuda de uma careta.

[...]

Em menos de cinco minutos o garoto já estava se vangloriando pela evolução. Dizendo que o destino tinha feito isso, que seu Arcanine era o melhor, e todos os tipos de elogios mais forçados que você poderia imaginar. —— Caralho, esse cara é louco ou tem sérios problemas de bipolaridade... —— Sussurrou Alex para mim. —— Concordo. —— Respondi no mesmo tom.

Cruzamos algumas esquinas e aos poucos os grupos foi se desfazendo. Thalles ficou numa loja de produtos medicinais e conversou com um homem que parecia ter ótimas dicas para ele. Lyu e Julia resolveram visitar algumas lojas de conveniência, como não se falaram muito, tiveram essa brecha para conseguirem se conhecer melhor. Gui ficou encantado com um fliperama gigantesco que possuía ali, mas eu e Alex fomos diretamente ao ginásio, onde um enorme Muk em uma placa segurava uma espécie de gota tóxica. A meu ver, parecia uma gosma mais roxa do que o próprio Muk. —— Pronto para sua terceira insígnia? —— Perguntou o tatuado. —— Mas é lógico que estou. E já sei grande parte dos Pokémons que esse líder usa. Hunter vai foder com eles! —— O garoto sorriu, erguendo o braço. —— Esse é o espírito! —— Balbuciou.

Abrimos as portas sem pensar duas vezes, e conforme demos os primeiros passos, luzes se ascenderam automaticamente, revelando um longo corredor com uma porta imensa, contudo, trancafiada. Ao menos, foi o que pensamos, inicialmente.


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