The New Continent. escrita por Martinato


Capítulo 8
Um novo ciclo.


Notas iniciais do capítulo

Falar diretamente aqui pro Alex, que logo, logo ele começa a ganhar umas batalhas. qq



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Julia me aguardava impaciente na porta do Ginásio. Seus pés batiam freneticamente no chão, obrigando os vestígios de poeiras serem varridos pelos ventos forçados pelo impulso dos pisões. Rolava os olhos enquanto segurava a PokéBall de Gastly em minhas mãos. Ela estava recentemente tremendo no meu cinto, deveria ser algum incomodo que o Pokémon Ghost estivesse passando.

—— Que demora, vamos logo, quero fazer um check up no Centro, foi uma batalha muito desgastante pro Quilava. —— Assenti e me juntei a ela, e enquanto dobrávamos a esquina, tive de segurar com o triplo da força a esfera por dois simples motivos: O primeiro, e mais óbvio, vinha do fato dela tremer constantemente, parecia um vibrador na potência máxima, o que certo ponto me irritava bastante. Já o segundo, foi por causa de um rapaz - alto, com um jaleco branco mas desgastado pelo tempo, cabelos negros e um topete bem curto aglomerado na ponta, vestindo um jeans comum e sapatos de cano baixo, rotineiro na frequência de universitários da ITEP -, trombar comigo e me lançar ao chão.

—— Ai! Olhar por onde anda é sempre bom, sabia? —— Resmunguei, com as costas e as nádegas pulsando pelo impacto indesejável. —— Me desculpe! Eu preciso achar o centro Pokémon urgentemente! —— Ele me ajudou a me levantar, tomando precauções diante do meu estado, analisando se nenhuma lesão tinha sido bastante grave. —— Me desculpe mesmo. —— Reafirmou, segurando uma PokéBall também. —— Relaxa, e estamos indo pro centro, é pertinho daqui. —— O anônimo assentiu, seu sorriso brotou de uma maneira contagiante.

[...]

Já dentro do ambulatório, a enfermeira abria as portas, dando longas passadas até a recepção com uma bandeja e três PokéBalls nelas. A de Quilava, Gastly e do Pokémon desconhecido que o rapaz, que ainda não sabia o nome, trouxera as pressas. —— Eles já estão em bom estado, mas uma coisa... —— Ela me encarou com um sorriso, bastante bonito por sinal. Seria tradição todas as enfermeiras de centros Pokémons serem tão bonitas? —— Qual? —— Indaguei, meio sem jeito. —— Você vai ter uma surpresa quando o sol se pôr. —— Fiquei sem palavras para respondê-la, mas na minha cabeça, se Dudu estivesse lá, com certeza iria dizer alguma besteira de como: "Vai transar hoje a noite, ein!", ou, "Aposto que ela quer sair com você, se não sair eu saio!". Típico dele. —— Ok então... Espero que seja boa, pelo menos. —— Ela riu calmamente e bem sutil. —— E será. Com licença, preciso atender outros pacientes. —— Concordei com um aceno de cabeça e me retirei junto dela, por lados opostos.

Me dirigi até onde Julia estava, ao lado dela, encontrava-se o rapaz. Eles pareciam rir, até que notaram minha presença, carregando o compartimento com seus Pokémons e correram até mim. —— Como eles estão? —— Perguntou o sujeito. —— A enfermeira disse que estão ótimos. —— Ocultei o dialogo que tive a mais, seria constrangedor demais.

Cada um agarrou a sua esfera e o rapaz rapidamente liberou seu Pokémon. O feixe de luz branca cintilou o lugar por um segundo, até dar a força de um Nidoran macho, bastante sadio e energizado. —— Nido! —— Berrou ele. —— Pelo visto, está ótimo mesmo. —— O roedor pulou no colo de seu treinador e começou a se esfregar nele, demonstrando bastante afeto.

Quilava não fez diferente. Ele saltava e rodeava Julia, não parando quieto por um instante, mas algo me dizia que não seria sábio liberar Gastly agora. Deveria deixá-lo repousar mais um tempo. —— Ah, a propósito, meu nome é Thalles, me desculpem os péssimos hábitos, mas estava desesperado. Meu Nidoran sofreu um ataque repentino por um grupo de Spearows. As lesões foram muito graves para que alguns Potions o curassem. —— Fiz um breve movimento com as mãos, dispensando os detalhes, não era preciso revelar as condições que passara. —— Nem esquenta. Vinicius, ou Marti, o povo costuma me chamar pelo segundo. Prazer. Só uma dúvida. —— Ele me encarou, arqueando as sobrancelhas. —— Que seria? —— Perguntou depois da minha pausa dramática. —— Por que desse jaleco? Não recebeu um kit da ITEP, como a jaquetas, coturnos e etc? —— Thalles sorriu, concordando. —— Claro, mas não é a minha praia... Eu prefiro me vestir com o que pretendo trabalhar. —— Eu e Julia nos entreolhamos, mas não foi um mistério tão enigmático. —— Ambientalista? Caminho que poucos querem seguir hoje em dia. —— Concordei com ela e Thalles apenas cogitava algumas expressões de desapontamento. —— Não sei porque... Os Pokémons são incríveis, e sendo um Ambientalista você conhece muito mais do que sabe deles em batalhas. Como acha que descobriram que a crina fumegante das Ponytas não queimam quem elas querem? —— Ele parecia bastante orgulhoso em suas analogias, mas isso não deveria ser difícil de se descobrir, bastasse capturar uma e obter a confiança dela, que com o tempo... Bom, descobririam.

O garoto me encarou, parecia notar as minhas expressões negativas sobre sua filosofia. —— Parece que você tem algo contra. —— Ele apontou, mas eu rapidamente ergui as mãos, dando ênfase no entendimento negativo dele. —— Claro que não! Eu só não conseguiria viver sem as batalhas, as jornadas... Sei lá. Pra mim isso que é incrível. Não que eu não goste da profissão que você quer exercer, que isso! Mas... Pra mim, como você disse, não é a minha praia. —— Rimos, finalmente entrando num acordo.

[...]

A conversa foi longa, decidimos almoçarmos juntos num restaurante próximo que servia uma bela macarronada com almôndegas. O melhor de tudo foi que eles tinham um menu para os Pokémons, e liberei apenas dois, não que fosse injusto com Gastly, mas desde que ele voltara do Centro, o conselho da enfermeira foi libertá-lo apenas durante o anoitecer. E assim o faria.

[...]

Charmeleon caminhava mais a frente, com Mareep apoiada em suas costas. Ele tinha conquistado uma confiança com ela muito maior do que eu mesmo, e a ligação de um treinador sempre tem que ser enorme, mas obviamente não sentia inveja ou coisa do gênero, afinal, se ela me tratasse de uma maneira ofensiva, Charmeleon sempre a repreenderia. E ter um mentor como seu melhor Pokémon e amigo aplicando seus ensinamentos, ficaria bem seguro em relação ao nosso ciclo.

—— Sabe, eu vi que você é bem seletivo aos alimentos que dá para seus Pokémons. —— O coração disparou um pouco pois não esperava a voz de Thalles soar tão próximo e repentinamente. Me virei e o garoto estava do meu lado, caminhando a uns oitenta centímetros de distância. —— Ah, gosto de alimentá-los com tudo um pouco. Sempre manter uma dieta balanceada em alimentos nutritivos. Frutas principalmente. —— Thalles concordava enquanto caminhava. Jujubs mantinha uma distância relativa, pois seu Quilava a rodeava e emitia chamas em sua nuca o tempo todo, mostrando o quanto tinha ganho energias novas e um pique completamente diferente da sua primeira evolução.

—— Entendo. É o melhor tipo de alimentação que um Pokémon pode ter. Mas um conselho de um futuro Ambientalista! Nas refeições diárias, sempre os façam almoçar ou jantar a ração especial para Pokémons. Elas tem as fontes mais ricas e vitaminas que são absorvidas mais facilmente. Além de ter um excelente gosto para eles. E outra... Frutas vermelhas para os Charmanders ou tipo fire... Bom, são as melhores. —— Ele deu uma leve piscada e caminhou mais a frente, estudando a pelugem de Mareep, que assustada com o toque surpresa, eletrocutou a ele e a Charmeleon, mas apenas o réptil avermelhado lidou como um pequeno fardo. Os cabelos de Thalles se eriçaram, assim como os de seu braço. Seu rosto ficou um pouco contorcido pela forte onda de energia, mas logo voltara ao normal.

Julia começou a rir, e não pude evitar também. Encarávamos ele sem desviar o foco. Isso o deixou bem sem graça, ainda mais por não saber o motivo de tantos risos. —— Qual foi? —— Indagou ele, ajustando seu jaleco no ombro. —— Você! —— Riu mais alto a loira e eu a acompanhei. —— O que tem eu? —— Indignado, continuou procurando algum, seja lá qual fosse, indícios de alguma coisa em si. —— Sua boca, cara. Sei lá. Você levou um lábio pra cada canto, não sei explicar! —— Os olhos lacrimejaram, tantos os meus quanto os da amiga.

Charmeleon conversava na linguagem de urros com Quilava e Mareep, o trio não tinha entendido também o humor em questão. —— Ah, assim? —— Ele gesticulou os lábios, formando aquela cena bizarra de novo, como se fosse algo normal. Julia não aguentou e explodiu em gargalhadas de novo, mas eu já me encontrava sem fôlego, apenas assentindo e colocando uma das mãos na barriga, a fim de ajustar a respiração.

Charmeleon se aproximou sorrateiro por Thalles e o cutucou com uma de suas garras. O Ambientalista se virou, curioso com o que o chamava por trás. Seu erro foi olhar diretamente pelos olhos de Charmeleon, que emitia o Scary Face tremendamente intimidante. —— Ai caramba! —— Ele se curvou com os braços a fim de proteger seu rosto, mas perdeu o equilíbrio e caiu de bunda no chão. Charmeleon ergueu seus braços e fez uma breve referência ao público, no caso, Quilava e Mareep. Agora os Pokémons tinham do que rir.

Quando todos já tinham se recomposto, voltamos a caminhada para a trilha que levaria a próxima cidade. Nos portões da saída, Alex e Gui aguardavam, cada um com um sorriso triunfante no rosto. Ao lado de Gui, jazia seu atual Cacnea, com seus punhos compostos por quatro spikes verdes musgo. Mas algo novo estava rodeando, aparecendo e reaparecendo em cada parte do seu corpo e às vezes, junto de Alex. —— Controle esse demônio! —— Berrou o tatuado, insatisfeito com o incomodo que o Pokémon lhe causara. —— Ah, cala a merda da boca e deixa meu Abra em paz. —— Alex bufou. —— Prinplup, Bubble. —— A esfera abria entre sua mão, liberando o feixe de luz e obrigando a evolução do Piplup aparecer, disparando bolhas na direção de Abra, que o atordoaram um pouco.

O Pokémon psychic resmungou um pouco e logo voltou a levitar, encarando Prinplup. —— Ataque meu Abra de novo e seu cu não será perdoado. —— Alertou Gui. —— Uma batalha 3x3? —— Respondeu Alex, sorrindo e carregando três PokéBalls entre cada dedo. —— Sabe como me instigar, rapaz! —— Ele pegou mais uma, se preparando. —— CA-HAM! —— Forcei um som na garganta, mas tarde demais, eles liberaram todos seus Pokémons, contudo, foi o suficiente para que as equipes apenas se encarassem.

Ao lado de Alex, Prinplup se posicionava alguns passos à frente. Acima, na altura de seu ombro, Golbat batia as asas e encarava meu rosto, indeciso se era eu ou os Pokémons de Gui o seu alvo. Embaixo, ao lado esquerdo, na mesma altura que dos passos que Prinplup, jazia Nosepass, com seu rosto inexpressivo, mas ao mesmo tempo com o olhar direcionado a mim.

Gui me encarou, seu Cacnea erguia um dos punhos para Prinplup, mas seus olhos enegrecidos só visavam cada canto do meu corpo. Abra levitava ao lado do ombro de Gui, na mesma altura que o Golbat, batendo suas asas freneticamente. Os olhos - mais parecendo dois parênteses deitados -, só indicavam que ele me olhava pela leve inclinação em seu pescoço. Agora o terceiro foi uma surpresa. Uma tartaruga, que emanava das costas uma quantidade absurda de fumaça, e ao mesmo tempo pelas narinas, me observava. Tinha os olhos semelhantes ao de Abra, e como o pequenino, só notei pela face estar direcionada a mim.

Eram um trio poderoso, cada lado. Com vantagens e desvantagens eminentes. Mas eu estava como alvo de inúmeros ataques naquele momento, o que me manteve firme foi ver Charmeleon fixar suas patas no solo e arranhá-lo, obrigando o concreto a riscar profundamente. Ele berrou, com fumaça saindo em uma quantia similar a de Torkoal. —— Obrigado, amigo. —— Ele ergueu o queixo, confirmando o agradecimento. —— Seguinte, vocês são todos uns viados. Agora, larguem de putaria e finjam que seus pais lhe deram educação. Portanto, esse é Thalles, futuro Ambientalista. Thalles, esses são Alex, Gui e a renca toda. —— Quando me virei, só vi o vulto em branco do rapaz com jaleco, correndo e analisando cada um dos Pokémons de perto e retirando de sua bolsa uma pasta. Nela continham inúmeras folhas. Algumas caíram, mas ele não parecer perceber.

Agarrei a que voou mais próximo dos meus pés. Quando a virei, deparei-me com o desenho de Charmeleon almoçando exatamente à alguns minutos atrás. Apanhei outro. Agora tratava-se do Quilava de Julia. Todos muito bem desenhados e com traços perfeitos em cada borda e risco mais forte.

Thalles se sentou, e começou a riscar o papel com uma lapiseira de ultima geração. Ele levou cerca de uns cinco minutos para terminar o esboço. —— Mais tarde eu termino o resto. E nossa, seus Pokémons estão em muito bom estado! Impressionante. —— Os treinadores do setor Norte se entreolharam por alguns instantes, até recolher todos os seus parceiros a suas esferas. Prenderam-nas no cinto em seus devidos compartimentos e se aproximaram, apertando a mão de Thalles. —— Obrigado, e claro que vão estar. Cuido muito bem dos meus Pokémons. —— Gui parecia não se importar pela forma convicta que dialogava.

Alex deu de ombros e decidiu não responder, o que sujeitei bastante impróprio da sua típica personalidade explosiva. Acho que o melhor Pokémon que indicava ela seria o Electrode. Mas deixemos esse pensamento guardado na minha mente, não ficaria feliz se ele viesse com essa ideia de 3x3 pra cima de mim, não antes do anoitecer.

Deixamos as conversas e as argumentações de Alex de como ser um treinador é melhor que ser um Ambientalista para a trilha. Thalles parecia absorver calmamente cada argumento, mesmo que muito bem estruturados ou dos mais ignorantes vindos de Alex. Quando o treinador parou, vasculhando sua bolsa, retirando um óculos de sol modelo aviador, o ambientalista respirou fundo e esfregou as orelhas, dando alguns passos para trás, na minha direção e de Julia. —— Meu Arceus... Esse cara não desiste. —— Cochichou, procurando sua PokéBall.

Thalles liberara seu Nidoran, o roedor correu envolta do seu dono e foi em direção de alguns arbustos, mordiscando algumas folhas e vez ou outra, devorando uns frutos que estivessem caídos no trajeto. —— Ele sabia se virar muito bem antes de ser capturado, não? —— Perguntei. Thalles se virou, com um toque de espanto. —— Você é bem detalhista. Não tinha percebido isso. —— Dei de ombros. Sabia que as pessoas não prestavam muita atenção nas minhas atitudes, e se observassem, apenas me viam de longe e tomavam opiniões próprias. —— Eu gosto de entender os Pokémons também. E mesmo que eles sejam capturados, eu prefiro deixá-los sempre bastante livres e aberto ao ambiente. E gosto que aprendam a caçar. Nunca se sabe o que pode acontecer. Se por acaso um dia eu me perder deles, que Arceus não permita... Mas, se vier acontecer, quero ter criado eles bem para sobreviverem até nos reencontrarmos ou eles acharem outro treinador. —— O mancebo ajustou outra vez o jaleco, e em um dos bolsos, pegou um pequeno bloco e um lápis comum, mas bem menor, como se estivesse pela metade. Ele anotou algumas coisas e depois devolveu para o mesmo lugar que retirara. —— Bom, você vai me ser útil. —— Arqueei a sobrancelha esquerda. —— Como? —— Ele riu brevemente. —— Daqui há algum tempo eu lhe dou os detalhes mais pertinentes. —— Pisquei umas duas vezes seguidas, absorvendo o dialogo e tirando minhas próprias conclusões. Após alguns passos, deixei de ligar para aquilo e me foquei em Mareep e Charmeleon mais a frente. Mareep corria envolta dele, que apenas mantinha seus passos firmes e o semblante transmitindo a liderança nata.

[...]

O crepúsculo dominava o céu, transbordando-o em laranja escurecido, antes da penumbra vasta recorrer ao magnífico e infindável mar azul, dando espaço para as estrelas brilharem e mostrarem graciosamente seus brilhos. Faltava pouco, mas a Lua já era vista facilmente ao leste, sua forma cheia em prol do alaranjado destacava-se formidavelmente.

O cenário parecia ter sido esculpido pelo mais bonito Pokémon, com um toque celestial do Deus que cada um acreditava. Me maravilhei, e perdi noção do tempo enquanto o olhava. Não notei os passos dos que me acompanhavam, pouco me importei. Apenas me sentei no chão de terra batida, apreciando o belo cenário. Às vezes, me pregava muito paisagista, o que me faltava era o talento para produzir um quadro tão bem detalhado quanto os que a própria realidade oferecia.

Charmeleon notou a minha ausência e quando se virou, caminhou até mim calmamente e se sentou do meu lado. Mareep, como o acompanhava insistentemente, aderiu aos movimentos do reptiliano, mas desta vez, demonstrou afeto por mim, saltando em meu colo e roçando seu corpo felpudo no meu peitoral, se ajustando confortavelmente ali. Ela sorriu e me dirigiu um olhar alegre, eu apenas retribui, acariciando a pelugem em sua cabeça.

A esfera que continha Gastly em seu repouso começou a vibrar constantemente. Apanhei-a de imediato, quebrando o silêncio devido a minha movimentação. Ela tremeu já abertamente na ponta da minha mão, totalmente expandida ela se dividiu, liberando uma aura branca muito mais incandescente. O brilho no meio do breu foi tão forte que alertou os andarilhos. Eles estavam aproximadamente uns seiscentos metros de distância.

Mau consegui distinguir a forma de Gastly quando ele saiu da PokéBall. Thalles foi o primeiro que correu até o local, ficando mais próximo do que imaginava do brilho, quase como se quisesse tocá-lo. —— Incrível! —— O ambientalista parecia só conhecer aquela palavra por longos segundos, até que uma enorme língua surgiu ao meio da luz, arrastando-se pegajosa pelo seu rosto. A paralisia foi instantânea. Thalles caiu, tremendo no chão.

O brilho cedeu, demonstrando umas espécies de espinhos pontiagudos, mas a imagem se retorceu num rosto alegre, com enormes dentes fantasmagóricos e roxos. Um sorriso maníaco, com olhos brancos cintilantes me encaravam, a língua rodeando seu rosto inteiro, numa extensão questionável a proporção do corpo do Pokémon ghost. —— Incrível... —— Murmurou Thalles, aos tremeliques. —— Caramba! A enfermeira tinha razão! Que bela surpresa! Você evoluiu! —— Haunter riu e começou a flutuar ao meu redor freneticamente. Aparecia e reaparecia, em diversos ângulos diferentes. —— E pelo visto está animado. —— Ele assentiu, mais de uma vez por sinal.

Alex, Gui e Julia chegaram próximos e encararam o feito. A luminosidade de Charmander e Quilava deixava tudo mais fácil de se enxergar. O tatuador do setor Norte deu dois passos mais próximos, arrastando o corpo de Thalles e o deixando apoiado numa árvore próxima. —— Ele vai demorar pelo menos uns quinze minutos antes da paralisia passar. —— Alertou. —— Que tal matar o tempo... Treinando? —— Seu sorriso cínico destacou nos lábios, e a ansiedade por uma batalha se exerceu no brilho que seus olhos emitiam em contraste com as labaredas próximas.

Mareep se propagou a minha frente, e eu me levantei. —— Hm... Interessante. Apoio a ideia. —— O treinador baixou o zíper de sua jaqueta, até deixá-la entreaberta. Jogou-a no piso sem muita questão, demonstrando um cinto preso ao peitoral, com as PokéBalls fixadas. Agarrou a terceira. Já imaginaria qual seria meu oponente, mas Mareep insistia em querer lidar com a situação.

Não a questionei. Alex lançou a PokéBall ao ar, liberando o Pokémon revestido de pedra e o nariz longo e avermelhado. —— Cai dentro, bora pra cima, Nose! —— Ele cerrou o punho esquerdo e socou o ar acima. Nosepass emitiu o mesmo ato.

—— Bom, quer mesmo ir? —— Interroguei a ovelha. Seus pelos felpudos se eriçaram por alguns instantes, e ela me encarou com o mesmo olhar da primeira vez que a vira a campo aberto. —— Certo. Não vou te impedir. Vamos nessa! —— Apontei o dedo indicador e Mareep saltou, pisando no solo.

Charmeleon e Quilava ficavam entre alguns metros de ambos, proporcionando luminosidade para a batalha. Torkoal até seria útil, mas ele teria que manter constantemente um Ember em ação. Isso o deixaria indisposto para ocasiões futuras, portanto, Gui o deixou dentro de sua PokéBall.

Tomamos cerca de dose metros. Nosepass se mantinha inexpressivo. Nunca soube ler as expressões faciais daquele Pokémon. Talvez fossem impossíveis de se lerem, muito embora soubesse que ele estava confiante pela vantagem de tipos.

—— Sem moleza! Nose, Rock Throw! —— O pequenino se curvou um pouco, bem lentamente. Notei que seria um erro mandar ataques tão potentes se fosse levar tamanha demora para proferi-los. —— Deixe ele mais lento... Catton Spore! Se movimente para atrasá-lo ainda mais. —— A ovelha elétrica saltou e com suas quatro patas em contato com o solo, moveu-se bem rápido contra o inimigo, e de sua pelugem, algumas aglomerações de pelos seguidos por uma poeira esverdeada, indo diretamente contra o corpo de Nosepass, envolvendo-o naquelas bolas fofas, tardando ainda mais sua locomoção.

O Pokémon Rock a essa altura tinha apenas formado a pedra em suas mãos, pronto para atacá-la, mas Mareep se mantinha em movimento constante, o deixando bem desnorteado, por acompanhá-la enquanto calculava o momento perfeito para lançar a rocha. —— Vamos, não demore tanto! —— Incentivou Alex, mas em vão. —— Thunder Wave! —— Gritei. Mareep parou as costas de Nosepass e um raio azulado saiu de suas orelhas, colidindo com as costas do Pokémon Rock.

A estática dominou seu corpo e a pedra caiu de suas mãos. Ele tremia um pouco, bastante semelhante a Thalles, mas evidentemente muito mais resistente. —— Charge. —— Mareep fixou-se num ponto de costas ainda para seu adversário. Ondas eletromagnéticas rodeavam seu corpo, intensificando a carga para um próximo movimento. —— Maldito. Nose, vamos, Lock-on. —— Nosepass se virou num salto impróprio as suas condições e ficou uma mira em Mareep com suas mãos.

A carga já tinha sido absorvida pelo corpo da pequena, mas o que me preocupava vinha do movimento seguinte. Precisava de uma estratégia mais volátil em relação a esquiva. Mareep precisava ter disponibilidade no terreno. Ou então... Algo bem grande. Algo forte e bem potente que derrubasse aquele mini tanque de uma vez só. —— Vamos ser curtos e grossos. Mareep, Thunder! —— A ovelha sorriu maliciosamente. Soube que ela era especial no momento em que tinha a capturado. Ela era a mais forte do rebanho por esse simples motivo: era a única capaz de usufruir de uma técnica tão majestosa em tão pouco tempo de vida, em sua fase primária. Seria como um neném aprender malabarismo com facas. Praticamente impossível, mas com exceções inexplicáveis.

A energia em seus pelos consumiram por completo o corpo da pequena. A potência extra destacou-se, emitindo brilhos azulados, intensificando o poder - já imenso -. Nosepass teve dificuldades em se mover, Alex tinha ciência de que ele não conseguiria emitir uma ação a tempo, teria de confiar na resistência do Pokémon, o que notoriamente, não aguentaria tamanha força de impacto.

Mareep saltou, disparando aquele brilho dourado com bordas azuladas em toda sua extensão. Um poder somado com sua destruição, mais o Charge e sobretudo, o STAB. Definitivamente um tiro incalculável.

Nosepass foi atingido, e as cargas dominaram seu corpo, já sendo atraídas pela paralisia que o dominava. Ele gemeu um pouco da sua forma bastante similar a um robô. Quando a luz - que deixou tudo parecendo dia - cessou, seu corpo estava um pouco enegrecido pelo contato. O nariz completamente coberto por uma camada de carvão, como se tivesse ascendido uma fogueira em cima do coitado.

Sua respiração parecia fraca, Alex correu até o Pokémon, desesperado. —— Caralho, achei que fosse uma batalha, não um massacre! —— Ele retirou da bolsa o Potion e despejou o líquido na área atingida. Mareep, ofegante pelo movimento desgastante, caminhou triunfante pelo oponente e se apoiou na minha perna esquerda. —— Caramba, você foi incrível. Não sabia que podia dominar tão fácil os trovões. Foi incrível! —— Haunter comemorou sua vitória rodeando-a, como seu novo costume, nada tão indiferente ao que ela fazia com Charmeleon.

Por falar nisso, o réptil avermelhado fazia positivo com suas garras em direção a ela, piscando um dos olhos. Mareep sorriu e deitou um pouco sob meus pés. A peguei no colo, deixando que descansasse sobre meus braços. —— Pelo visto, ela não aguenta golpes tão potentes assim. Podemos considerar um empate. —— Guilherme se aproximou junto de Charmeleon e os demais, com exceção de Thalles, que ainda estava deitado. A batalha durara cerca de sete minutos, tempo insuficiente para que ele se recuperasse.

—— Empate? —— Enfatizou ele numa ironia. —— Só se for por cima do meu cadáver. Sua Mareep fodeu com o sistema de rocha daquele Nosepass! Olha só: ela simplesmente tacou fogo na pedra! —— Alex bufava irritado, cuidando de seu Pokémon. Com os primeiros socorros findado, o guardou dentro da PokéBall, para um merecido descanso. —— Vai ter volta, me aguarde! —— Eu ri. —— Sempre que quiser. E estou feliz com o triunfo deles. Nenhum perdeu ainda. —— Julia apoiou sua mão em meu ombro. —— Não se gabe por muito tempo. Logo, logo as coisas ficarão mais difíceis. Não se esqueça. —— Rolei os olhos, mas mantive um sorriso. —— Que seja. Mas espero que continue assim por algum tempo. —— Ri, acariciando a cabeça de Mareep levemente. Ela sorria sobre os sonhos que pudesse estar tendo.

—— Certo, vamos logo. —— Comentou Alex. —— Mas e o... —— Antes que Julia terminasse, olhamos no local e Thalles se levantava, exercitando todas as partes de seus corpo. —— Cara! É horrível ficar paralisado! Argh! Vamos, correndo. Preciso me movimentar! —— Definitivamente o humor do Ambientalista era inquebrável.

Mesmo que fosse noite, nossas energias estavam sobressaltas. Percorreríamos pelo menos mais da metade do caminho antes de cedermos ao fardo dos pés latejantes. No riacho mais próximo pararíamos e montaríamos acampamento, para de manhã, seguirmos com a mesma motivação.

[...]

O sol irradiava pelos céus, trazendo a brisa fresca da manhã em contato com nossos rostos despidos, como sempre. Entretanto, não foi esta ação me fez abrir os olhos, me tirando do conforto do mundo espiritual, repleto de sonhos impossíveis de se realizarem, muito embora quisesse sair daquela realidade.

Galhos secos estalaram por um piso improprio emitido no solo. A visão embaçada me impediu de distinguir quem era o responsável, mas após duas longas esfregadas com a costa da mão destra, nitidamente reconheci o rosto do asiático que tanto me encheu o saco nas aulas e folgas na imensidão dos bairros da ITEP. Yokota.

Saltando e fazendo Charmeleon acordar - ele dormia ao leu lado, com a calda apoiada num tronco velho -, sutilmente bocejei e fui até ele, mesmo estando descalço. —— Tá me seguindo, rato? —— Perguntei, determinado. Ele se virou, indicando que me silencia-se, com o indicador colado nos seus lábios. —— Não faz "shh" pra mim não. —— Rebati, e ele esperneou sem voz, apenas com os braços, irritado para que eu me calasse.

Curioso, cedi a birra dele e fui próximo de onde ele estava, querendo entender o real motivo de estar ali.

Na margem do lago, um grupo de Magikarps e Feebas nadavam, seus rostos despreocupados lhe davam uma característica de inutilidade, muito embora tivesse estudado suas evoluções. O fardo viria apenas com o tempo de treinos, para uma recompensa a altura, mas nenhum deles me fazia interesse. —— Se quer tanto um, cacete, capture logo. Não precisa fazer um showzinho pedindo pra eu ficar quieto. —— Yokota me encarou com um sorriso perverso, em sua mão jazia um objeto metálico de espessura similar a uma caneta. Ele saltou de onde estava, apertando com as duas mãos o utensílio. Quando levou a altura dos ombros, o objeto se expandiu, formando uma longa haste, com uma linha presa à ponta.

Ele lançou como um verdadeiro pescador a vara, fazendo a pequena Ball como isca cair no cardume. Não demorou muito para que esta afundasse e ele puxasse para cima de novo, em contrapartida. Um Feebas saiu, se remexendo e não lutando para voltar pro mar. —— Esse serve. —— Comentou. A esfera na ponta se abriu, trazendo o Pokémon adentro. —— Parabéns, agora boa sorte com seus anos de treinos até ele virar um Milotic. —— Ironizei. —— Quando ele virar um Milotic, nenhum dos seus Pokémons vai conseguir vencê-lo. Otário. —— Dei de ombros. —— Até lá, meu Charizard já vai ter socado tanto a sua equipe, que você já vai ter enchido um rio com tantas lágrimas. Bem do tamanho deste. —— Ele riu. —— Veremos, baixinho. —— Não pude me conter. —— Veremos? Abre o olho primeiro pra depois falar em ver alguma coisa. —— Notei o ligeiro desconforte pairando pelo seu corpo, mas ele se recompôs. Do mato, um Charmander pequeno saiu correndo, ele alcançou a localização do treinador, parou, o olhou, depois correu até mim, abraçando a minha perna. O reconheci por um arranhão que jazia em seu ombro. —— Nossa, que recuperação incrível! Você está ótimo, amigo. —— O Charmander saltou e cuspiu fogo para cima, contente.

Yokota bateu forte o pé no chão. Charmander o olhou, ainda sorridente. —— Já não disse pra não sair abraçando qualquer um, Char? —— Ele ficou cabisbaixo e caminhou até o treinador. —— Acontece que eu não sou qualquer um, palhaço. Eu salvei ele, junto com você. Mais consideração. —— Charmeleon parecia ter rido e foi ao encalço de Charmander. Tocou o ombro dele e começou a rugir, mas num tom aceitável, como se dialogassem sem discutir uma opinião. Charmander voltou a sorrir e caminhou até Yokota. Charmeleon fez um sinal de continência ao asiático e virou-se. O treinador apenas assentiu, com o semblante duro.

—— Que zona é essa? —— Olhei para trás e vi Julia, com seu pijama colocado por cima das vestes que usava no dia a dia. Ela estava com o semblante mais sonolento possível. —— Apenas um vendedor de pastel pescando. Ilógico, né? —— Yokota retirou a PokéBall da linha, guardou-a no bolso e ergueu o queixo, triunfante. —— Calado. Enfim, Jujubs. Capturei um Feebas, e estava de passagem, quero ganhar logo a minha terceira insígnia. Não perder tempo discutindo com anões. —— Como estava tão confiante nas palavras, nem percebeu que a garota a esta altura já tinha retirado sua Pokémon, mandado seu Hoothoot ir em busca de um Feebas, capturado um e agora estava pulando alegre e brincando com seu Charmander.

—— Viajou no tempo enquanto falava? —— O provoquei. Ele bufou e trouxe Charmander para dentro da PokéBall. —— Precisa aprender a não sair falando com todo mundo, cacete. —— Aos pisões fortes, ele foi rumo a trilha.

Thalles se levantou junto com os demais, graças aos berros contagiantes da loira, que agora liberava seu Feebas e o abraçava, mesmo que ele ainda estivesse bem molhado e com a boca aberta o tempo inteiro. —— Nossa, o que houve? —— Ele coçava a nuca, bocejando. —— Uma discussão com um feirante asiático e bom... Duas capturas, nada demais, o problema é que eles espantaram todos os Magikarps e Feebas que tinham ai. —— Ele bocejou de novo, como se tentasse imaginar todos os detalhes. —— Bom... —— Iniciou o ambientalista. —— Eu penso melhor de barriga cheia. Vou comer alguma coisa. —— Sorri. —— Olha, leu a minha mente, afinal, depois daqui, quero chegar na cidade antes do entardecer. —— Caminhei até as coisas, quase arrastando Julia para que ela largasse a mania de ficar pulando e gritando pelo Feebas.


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