No Need to Say GoodBye escrita por Céu Costa, Raio de Luz


Capítulo 21
Seguindo a Vera


Notas iniciais do capítulo

Continuação do Relato de Guaia.



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Depois de caminharmos por cerca de quinze minutos, começamos a sentir o terreno ficar íngreme e rochoso. Na verdade, não sei bem se foram quinze minutos, pois o céu estava nublado, e o ar acre daquele lugar deturpava os sentidos e a razão. Conforme caminhávamos, o local parecia ficar mais alto, e as rochas, maiores. Atrás de uma enorme rocha branca, mais alva do que as pedras ao seu redor, havia uma fenda, pequena e íngreme, pela qual ela nos fez entrar. Ali dentro era um breu só, tão densa que mal se podia enxergar. Pode-se dizer que encontramos uma nova definição para "escuridão do abismo".

– Minha senhora... - eu sussurrei - Não estou gostando disso...

– Quieta Guaia! - ela me repreendeu.

– Por aqui! - ouvimos a voz de Vera nos chamar.

Ela tinha em suas mãos uma tocha. Ela brilhava, mas iluminava pouco, e suas chamas não eram douradas, como as do fogo quente e acolhedor, mas eram verdes e frias, servindo mesmo apenas para podermos enxergar a moça.

Caminhamos, seguindo-a. Ela parecia extremamente confiante do caminho que tomava, embora eu não gostasse. O local era cheio de pedras rochosas, estalagtites e estalagmites, todos tão afiados, que se ela se virasse e empurrasse Valentiny contra uma delas, eu não poderia evitar sua morte.

Depois de cerca de meia hora, nós começamos a sentir a terra sob nossos pés ficar um tanto mais úmida. O teto foi diminuindo, ficando cada vez mais próximo de nossas cabeças. Logo, chegou em um ponto que quase tivemos que engatinar para passar, mas então voltou a se elevar, ficando um pouco mais confortável. Mais à frente, as rochas pontiagudas começaram a dar lugar à enormes cogumelos, uns laranjas, outros verdes, alguns marrons. Havia também uma cachoeira, que os regava. Mais à frente, passamos por ruínas. Pareciam de uma grande construção rudimentar, pois haviam pontes, escadas, passarelas e varandas, tudo de madeira e rochas esculpidas.

– Que lugar é esse? - Valentiny perguntou.

– Era uma cidade. - Vera explicou - Antigamente em Nárnia, aqui vivia o povo da terra. Eles eram excelentes construtores, e habitavam aqueles túneis. Eram governados por uma Feiticeira, a quem eram muito leais. Porém, quando Nárnia chegou ao fim, foram considerados traidores de Nárnia, e desapropriados de suas terras. Foram forçados a viver nas Montanhas Nevadas, que ficam bem aqui no centro das...

– Das Terras Sombrias? - eu completei.

– Este não é o nome deste lugar. - ela disse, fria.

– E agora, está tudo abandonado? - Valentiny perguntou.

– ..... é. Abandonado. - ela repetiu, como se não fosse verdade.

O caminho começou a ficar mais espaçoso, e o chão estava coberto de areia. Logo, avistamos um vasto lago de escuridão.

– Temos que atravessar? - Valentiny perguntou.

– Claro que sim! - ela se riu.

Valentiny subiu em minhas costas, e eu agitei minhas asas.

– Espere, o que está fazendo?! - ela gritou.

– Vamos atravessá-lo! - Valentiny respondeu, como se não fosse óbvio. - Venha, ela pode te carregar!

Vera pensou um pouco, mas logo aceitou a mão que Valentiny lhe estendia. E erguemos voo. O lago parecia não ter fim. Era tudo muito negro, por todos os lados, até onde a vista alcançava. Ele nem ao menos refletia a luz da tocha verde de Vera.

Depois de cerca de uma hora, eu já não sabia mais se estava indo para frente, para trás ou voando em círculos. Aquele lugar pertubava ainda mais a minha mente. Após atravessarmos uma densa faixa de neblina, avistamos um pequeno porto. A cidade atrás, era enorme, e toda amuralhada, como uma grande metrópole, um grande reino. Também era iluminada por tochas verdes, embora eu insista que estas não iluminam. Pousamos no porto, e Vera rapidamente desceu de mim, correndo até os portões. Ela bateu três vezes, e uma megera abriu a porta. Ela era simplemente horrenda, tinha bico de pássaro, e a pele úmida.

– Ora, vejam! - ela anunciou - Vera trouxe visitas!

Ela fechou a pequena porta, preparando-se para abrir os portões.

– Fiquem perto de mim. - Vera alertou.

Os portões foram abertos, e eu quase gritei de terror. A cidade estava cheia de minotauros, lobos, vampiros, megeras, sátiros, e todos os seres que fora exilados por Aslan. Todos comemoravam avidamente o retorno de Vera, e principalmente, o fato de ter trazido visitas. Fomos praticamente carregados pelas ruas, ouvindo os gritos de alegria de todas aquelas criaturas asquerosas, as quais eu jamais pensei que veria.

Vera conseguiu se desviar da multidão, puxando-nos para perto de uma grande escadaria, que dava para uma construção ainda mais subterrânea que o subterrâneo. Caminhamos por um longo corredor, e Vera abriu uma porta de ferro, convidando Valentiny a entrar. Mas eu não pude.

Passei o dia todo lá, do lado de fora daquela porta, deitada no chão, esperando. Aquela porta era suficientemente grossa para que eu não pudesse ver nem ouvir nada. Este dia estava sendo tão estranho, e tudo estava me deixando tão desnorteada, que eu simplesmente adormeci.

..........

Acordei com Vera abrindo a porta, e Valentiny saindo. Não sei bem quanto tempo se passou, mas posso garantir que foi muito. Vera nos guiou por escadas até uma sala enorme, circular. Ela se aproximou de Valentiny e disse:

– Esta é uma saída secreta do Mundo Inferior. Eu uso toda hora. Daqui consegue achar o caminho devolta?

– Acho que sim. - Valentiny subiu em mim.

Vera se aproximou de um canto, onde havia uma corda. Ela a puxou, e uma enorme clarabóia se abriu no teto, revelando o céu nublado. Eu estendi minhas asas, aquecendo-me para o impulso.

– Valy... - Vera chamou, fazendo-nos olhar pra ela - Não se esqueça do que eu pedi.

Valentiny respirou fundo, e eu ergui voo. Voei tão alto e com tanta força, que em pouco tempo, estava acima das nuvens de neblina. Lá, a Lua brilhava, intensa, e o céu de noite nunca me pareceu tão lindo quanto naquele momento.

– Podemos voltar pra casa, minha senhora? - eu perguntei, ansiosa.

– Sim, Guaia. - ela respondeu - Mas não por muito tempo.


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