Aslam ergueu seu rosto. Sabia que era a hora. E ele precisava tomar uma providência.
- Majestade? - uma voz doce lhe perturbou os pensamentos.
- Sim? - ele se virou, para encará-la melhor.
Zahra fitava-o, preocupada. Tinha as asas peroladas graciosamente recolhidas, e segurava firmemente sua trombeta.
- Meu Senhor, tens andado muito distante, nem notou que as estrelas lhe prepararam um jantar.
Aslam suspirou. Todos no jardim celeste olhavam para ele, preocupados tanto quanto sua capitã da guarda, e melhor amiga.
- Preciso conversar com você.
Aslam levantou-se, e caminhou para um recanto mais afastado no jardim. Zahra seguiu-o, sem reclamar. Sabia que Ele estava preocupado com algo, só não tinha conseguido identificar com o quê.
- Não posso mais suportar, Zahra. - Aslam confessou.
- Suportar? - ela repetiu, confusa.
- Ela tem me preocupado há meses, sei que vai aprontar algo. - ele sentou-se na relva, olhando para o horizonte.
- Mas senhor, ela não ousaria tentar nada, não agora, depois de tudo! - Zahra tentou chamá-lo à razão.
- Ela está mais forte. Escapou das Terras Sombrias e se apossou de um de meus protegidos. - uma lágrima de tristeza rolou pela face do Grande Leão. - Ela está tentando retornar, do mesmo modo que fez da primeira vez.
Zahra abaixou a cabeça. Sabia como aquilo tinha acontecido, e ainda se culpava. Não poderia permitir outra vez.
- O que devo fazer então? - ela disse, sombria.
- Há ainda um coração puro na terra dos reis. Preciso que a traga. - ele suspirou.
Zahra virou-se, determinada a seguir as ordens de seu Senhor.
- Zahra. - Aslam chamou, fazendo-a encará-lo.
- Meu Senhor?
- Faça o que tiver que fazer. Mas mantenha o coração puro dela. - ele piscou lentamente - Ela ainda terá uma outra missão, depois que tudo acabar.
- Sim, Senhor.
E Zahra voou, sabendo exatamente para onde ir. Mesmo não gostando.

Talvez seja um conceito ultrapassado, eu sei, mas aquele imbecil precisa parar de acreditar que ele é o centro do universo. Nem tudo gira ao redor dele e daquela estúpida cicatriz. Tão bobo... Nem consegue enxergar o perigo que corre. Por que sempre sobra para mim ajudá-lo? Tudo bem, eu vou, mas só porque ele precisa saber. Ele precisa saber que não é o único. Ele não está sozinho.