Eu estava conversando com meu pai quando Rhee veio me chamar.

Não foi, exatamente, chamar. Ela chegou no jardim, onde eu tinha cravado minha espada e conversava com o meu pai, e simplesmente gritou algo como "Armadura. Collins. Ajuda. Favor. Porão secreto" e saio correndo dali.

— Oh pai, sei ti não pensou o quando minha vida seria louca com esses mundanos — eu disse, olhando para o céu e esperando uma resposta — Sei que ti não me abandonas-te e sei que ti voltará por tua filha, pai — eu disse, falando do jeito mais Asgardiano que pude — E me proteja desse demônio que se auto-domina "Collins", Oh pai.

Eu olhei para o céu atrás de uma resposta. Como sempre ele não respondeu.

Tirei minha espada do chão e segui a trilha que Rhee tinha feito.

A trilha de pegadas de Rhee dava até um porão escondido da Torre Wander. Se erra escondido e Collins e Rhee estavam lá era porque não ia dar certo.

Desci as escadas com cuidado e quase fui atacada por uma flecha.

— Como ousas-te, mundano infeliz! — eu disse, com meu sotaque Asgardiano, para o dono da flecha.

O dono era, obviamente, Hyden, que revirou os olhos com minha resposta.

— Ajuda aqui, Princesa, o Collins acionou a armadura assassina do Tony — disse ele, jogando outra flecha no robô.

— Que os Deus protejam vocês da ira de Tony... — eu resmunguei, indo ajudá-los.

Peguei minha espada e ataquei a armadura.

— Não Torunn! — gritou Collins, em algum lugar — Se arranjar a armadura meu pai descobre!

— Cala-te demônio de raça humana, esse gigante de aço temerá sobre a minha fúria! — eu disse, erguendo minha espada e correndo até a armadura.

Tudo bem, eu odiava esse jeito de falar. E eu me odeio por odiar esse jeito de falar.

Era o meu sotaque, o sotaque da minha terra, o sotaque de Asgard. Não sei porque ele era tão... Irritante. As vezes, quando Collins me zoava por causa do sotaque, tenho vontade de rir de mim mesma junto com Collins por eu estar tão estúpida falando assim.

Mas a vergonha não importava, nunca importou, eu tenho 17 anos de prática em não me importar com isso. Sei que em algum lugar meu pai vê meu jeito de falar e sente orgulho de mim.

Orgulho.

Eu enfiei minha espada na cabeça do robô que, com os olhos piscando, caio no chão fazendo um "Back!" estrondoso.

Collins pareceu das sombras, desesperado.

— Por Deus, Torunn... — resmungou ele, sem acreditar.

— Cara, ferro — disse Rhee, em estado de choque.

— Sabe, vocês estão em uma bela encrenca.

A voz veio de trás de nos, nós nos viramos devagar e encaramos o bilionario Anthony Stark, que nos encarava na escada.

— Claro que estariam mais ainda se essa fosse a real armadura, não um protótipo — disse ele, a expressão despreocupada e divertida — Mas, ainda sim, uma encrenca.

~*~

As vezes, só as vezes, eu adorava não ter nenhum dos dois pais por perto.

Tipo, se já é ruim ouvir seus "irmãos" levando a maior bronca dos pais imagina levar uma bronca do Deus do Trovão? Pronto, ferro.

Vi Tia Natasha sair do quarto de Rhee e me lançar um olhar como "Jura? Você? Com eles?" E eu me encolher toda. Poucas pessoas faziam a filha do Deus do Trovão se encolher, Tia Natasha era uma dessas.

— Thorsdottir — ela me chamou, meu sobrenome era tao complicado que quase ninguém sabia qual era. Por isso o meu sobrenome em seus lábios me deu medo — Venha aqui.

Ela saio até uma sala e eu a segui. Peguei meus cabelos loiros e os prendi em um coque nem forte, meus olhos azuis assustados com a possibilidade da Tia Natasha me reprovar. Odeio ser reprovada.

— Porque? — ela disse, simplesmente, assim que fechei a porta.

— Natasha...

— Torunn...? — ela disse, me imitando.

— Foram aqueles demônios mortais! O demônio da Terra é o pior de todos, Collins. Eles pediram a minha ajuda contra o gigante de aço maligno e os Deuses me disseram...

— Torunn — disse Tia Natasha — Ta tudo bem, não precisa falar assim.

Eu suspirei aliviada. Com Tia Natasha eu podia falar como uma... Mundana.

— Tia, eles são meus irmãos! — eu disse, simplesmente — Eles me pediram ajuda e eu devia um favor ao capeta do Collins, eu tinha que fazer isso.

Tia Natasha suspirou e descruzou os braços, tendo uma expressão maternal em seu rosto.

— Torunn, você é minha filha e eu te adoro — ela disse, colocando uma mecha ruiva atrás da orelha — Sei que quis proteger o seus irmãos mas, das garotas, você é a mais velha. Tinha que colocar juízo pelo menos na cabeça de Skyler.

Eu estremeci ao ouvir o primeiro nome de Rhee. Primeiro nome? O negócio tava feio.

— Ela é a pior, Tia — eu disse — Ela e Collins. Se aquele capeta fosse ruivo como a Pepper ele seria gêmeo da Rhee, já tem os mesmos olhos — eu disse.

Tia Natasha riu e eu sorri orgulhosa. Era tão bom fazer a Tia Natasha rir.

— Torunn você sempre foi a mais... Pé no chão, digamos assim, desde criança — disse Tia Tasha, um brilho antigo voltou ao seus olhos — Você e a Rhee eram inseparáveis. Sabe qual foi a sua primeira palavra? Bem, foi "Tlovão" e a de Rhee foi "Pitola" mas a segunda palavra sua foi o nome de Rhee, cuja você disse "Lhee" e ela disse "Tolunn"

Eu suspirei cansada. Era óbvio que eu adorava aquela mundana ruiva. Rhee era minha irmã, de sangue ou não. Ela era uma mundana, até que, legal. Ela era divertida e determinada, seria e divertida, ela tinha puxado muito da Tia Natasha e do pai dela, seja lá quem fosse.

Um sorriso brotou dos meus lábios, de repente.

— Qual foi o castigo? — perguntei.

Tia Natasha sorrio.

— 2 semanas de treino militar reforçado e sem nada além disso — ela disse, e sorrio para mim — Você também não escapará do castigo, Torunn.

Dito isso ela saio da sala e eu encarei a porta fechada. Me atrevi a sorrir para a porta.

— Oh pai — sussurrei — Sei o que falo sobre esses mundanos a ti, mas entendo que ti não poderia ter dado uma vida melhor a tua filha do que essa.