Kuro se virou e deu de cara com um homem loiro, de olhos azul claros e bem alto. Por um momento eles ficaram se encarando, então Kuro percebeu que estava de frente para um elfo. Recuou alguns passos – o que parecia divertir o elfo.

– Kuro Ichiro? – O elfo olhou para ele com curiosidade e um leve divertimento nos olhos.

– Sim. – Kuro cruzou os braços. – O que quer?

O elfo olhou para trás e sorriu.

– É ele! – De trás de uma casa semidestruída saiu dois dragões, um roxo e um salmão. Kuro ficou branco, ele conhecia aquele dragão. Duas garotas seguiam os dragões. A primeira era ligeiramente alta, com longos cabelos marrons e vestia uma armadura leve. A segunda era ligeiramente baixa, cabelos longos e negros com algumas mechas vermelhas, os olhos pretos, uma tiara de ferro com uma pedra rosa no centro e um amuleto em forma de dragão no pescoço. “Akay!”.

– Yue. Você o assustou. – Disse a primeira garota.

– Não foi o Yue. – Disse Akay. Sua voz era doce e calma. Do jeito que sempre havia sido. Kuro andou em sua direção e a envolveu em um abraço.

– Akay! – Ele disse entre os cabelos de Akay.

– Olá, Kuro. – Ela sorriu e enterrou o rosto nos cabelos dele. Os dois se soltaram. – Soube do que aconteceu na vila e vim correndo para cá.

– Pois é. Os Dragon lutaram a noite toda com os dragões vermelhos, mas eles acabaram fugindo.

– Dragões vermelhos, você diz? – Akay perguntou. Ela olhou para os colegas, que acenaram com a cabeça.

– Sim. Estavam com um mago. Ele mandava ordens para eles.

– Isso é estranho... Dragões vermelhos são difíceis de domar, ainda mais dois. – Disse a primeira garota.

– Com certeza. Isso quer dizer que haviam outros escondidos. – Meditou o elfo.

– Ah! – Akay apontou para a garota e para o elfo. – Estes são Lilu Kilen e este é...

– Yue Ryuu. – Ele puxou Akay para perto, que ficou vermelha. Kuro levantou uma sobrancelha e observou os dois. – Noivo de Akay.

– Noivo? – Kuro escondeu a surpresa e limpou a garganta. – Bom, vamos ao acampamento, tenho certeza que os Dragon vão ficar feliz em ver outros domadores de dragões.

– Dragon? Já ouvi falar essa família. – Disse Yue para Akay.

– Sim, eles vivem em nossa vila há gerações. Mas não são considerados “domadores de verdade”. Nunca saem do reino.

– Ah, isso é chato. – Disse Lilu. – A coisa mais legal de se ter um dragão é poder viajar pelo mundo.

Lilu abraçou a enorme cabeça de Rox e riu de algo que ele disse na língua dos dragões. Akay respondeu na mesma língua com um ar brincalhão e recebeu um bafo de ar quente como resposta. Todos riram, com exceção de Kuro, que parecia totalmente perdido.

Ao chegarem no acampamento, deram de cara com Danie Dragon. Ela encarou Kuro e depois os dragões e por fim, Akay. Ela sorriu radiante e pulou no pescoço da jovem.

– Akay! AKAY! – Ela ria. – Minha Akay!

Gorny rugiu levemente para as duas que estavam no chão. Akay riu, assim como Danie, que levantou e abraçou o dragão.

– Como senti saudades! Sete anos longe de vocês! – Ela encarou Gorny e disse algo na língua dos dragões. – Lilla sentiu saudades de voar pelas florestas com vocês ao nosso lado.

– Posso imaginar. – Disse Akay pegando a mão de Yue, que a ajudava a levantar. – Preciso falar com Illyo. Urgente. Posso saber onde encontrar informações sobre os dragões.

O sorriso de Danie desapareceu e uma nuvem negra cobriu seu rosto.

– Deixe os dragões com a nossa família. – Ela jogou o cabelo para trás e encarou Akay. – Vocês são inexperientes demais sobre dragões.

– O quê? - Disse Lilu incrédula.

– Vocês passaram décadas presos nessa vila! Com sete anos eu aprendi muito mais que um livro pode me dizer! Quando foi a última vez que algum dragão seu atravessou o limite do reino?

– Akay, sete anos nas florestas não trazem nada para alguém como... Você.

– Pode me trazer muito mais do que ficar décadas presa dentro da mesma vila! Geração por geração!

Danie olhou uma última vez para Akay, depois virou as costas e foi embora. Akay mordeu os lábios e apertou a mão de Yue, que encarava com raiva Danie. Kuro encarou a irmã. Ela estava certa. Estava na hora de os Dragon ouvirem a voz da razão e entender que eles não eram os únicos com dragões no mundo.

– Me dêem licença.

– Akay, espere...

Akay virou as costas e respirou fundo.

– Você está bem? – Kuro virou ela e encarou seus olhos. Estavam vermelhos vivos. – Akay?

Ela saiu correndo. Yue olhou para Kuro e correu atrás dela. Lilu olhou para o irmão da amiga e suspirou.

– A segredos que devemos guardar dentro de nós. Para sempre. – Ela sorriu e acenou para o acampamento. – Me ajuda a carregar essas coisas?

– Claro.

A noite chegou rapidamente no acampamento. Kuro entrou na cabana de Akay e Yue. Havia vários equipamentos de pesquisa e livros em diferentes línguas “São bem inteligentes. Nasceram um para o outro”. Ele encarou o baú de Akay e o baú de Yue “Que segredos vocês guardam?”. Segurou a vontade de mexer nas coisas da irmã e do elfo e encarou a cama. Os dois dormiam abraçados virados um para o outro, e para a surpresa do jovem, o elfo continuava acordado e observava a garota dormir. Ele encarou Kuro com o canto do olho e levantou vagarosamente.

– O que faz aqui? – O elfo perguntou com um sorriso no rosto.

– O que você faz aqui?

– Estou noivo da sua irmã. Preciso ajudar ela em momentos difíceis. – Ele observou o garoto. – Nunca amou? Nunca ficou comprometido?

– Não. Tinha uma família para sustentar.

– Entendo... – O elfo olhou para Akay e sorriu. – Ela é muito bonita e inteligente.

– Sim.

– Você ainda não respondeu a minha pergunta; O que faz aqui?

– Queria saber se Akay ainda estava acordada.

– Pessoas sensatas, batem na porta antes de entrar. Estive acordado a noite inteira pesquisando e não ouvi nada. – Ele virou a cabeça para o lado. – Agora vai embora. Preciso dormir.

Kuro saiu da cabana e escutou Yue trancando a porta. Houve uma conversa dentro da cabana. Risadas, de Akay e Yue. E então eles se calaram. Kuro sentia-se fraco. Por que havia entrado na cabana? Realmente achava que poderia encontrar respostas para os olhos vermelhos de Akay? “Ela nunca ficou daquele jeito quando éramos crianças”. Kuro foi até sua própria cabana e dormiu. Sonhou com a vila, os dragões vermelhos, o ataque, e os enormes olhos vermelhos de Akay.

De manhã, Kuro acordou com alguém batendo em sua porta. Ele se levantou e abriu a porta. Danie entrou dentro da cabana.

– Qual a relação da Akay com o elfo?

– O quê? – Kuro encarou a garota. E coçou os olhos. – Eu... Danie, eu sei como você se sente em relação a ela, mas... Não vai dar certo.

– Qual a relação?

– Eles estão noivos.

– Noivos? – Ela saiu pela porta.

– Isso não vai dar certo... Kuro e sua boca grande...