Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 48
Calamidade


Notas iniciais do capítulo

Bem, como prometido, vim com um cap grande para compensar minha mega demora...
Boa leitura para vocês :3



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— Nyx de Saint Ignis!

A mestiça jogou metodicamente a cabeça para o lado, de maneira que conseguisse enxergar quem a chamava. Skylar estava pronto para evocá-la pela segunda vez quando ergueu um dos dedos, pedindo silêncio.

— Não fique me chamando pelo meu nome completo, já é desagradável o suficiente sem ser dito por sua voz.

Veias saltadas pelo estresse pipocaram pela face dele, mas ela fez questão de ignorar. Respirando profundamente, clamando pela pouca paciência que tinha, Sky voltou a colocar as mãos na cintura, voltando a falar. — Pouco me importa, Boneca mestiça. Apenas quero saber o que exatamente foi aquilo que acabou de acontecer.

— Não é óbvio? Fiore estava atrás de nós duas… na realidade, como somos os únicos membros da JusticeBlade no grupo, faz até sentido… — ela calou-se, como se esperasse raciocinar por alguns segundos sobre isso. — Existem agravantes, no entanto. Para ser sincera, creio que foi mais pessoal do que pela recompensa.

Selene virou um tanto sua cabeça para trás, para fitá-los. Havia uma bola de fogo flutuante sobre cada um de seus ombros, o que fizera alguém comentar que estava parecendo um castiçal ambulante, piada que custou a Ryan algumas mechas de cabelo chamuscado. — Eu tenho certeza de que foi, mas prefiro não falar sobre isso. Acha que sua mãe tinha algo a ver com o ataque também?

— Absolutamente. — respondeu Nyx, jogando os curtos cabelos para trás com uma das mãos, voltando a fitar o chão, afinal não queria pisar em falso e ativar uma armadilha. Não que soubesse se elas existiam ou não por ali, mas precaução nunca era demais. — Embora… — voltou a aquietar-se, pensativa. — Hummm…

— Isso não explica muita coisa, esse lugar não fica no território de influência de nenhuma das duas.

— Deve haver um terceiro elemento. Alguém que se beneficiaria se fossemos detidos. — optou Gravor, saindo de seu resignado silêncio.

— Loke. — o murmúrio deixou os lábios da mestiça, livre de qualquer emoção, boa ou ruim.

Ele outra vez? — protestou Selene, os fogos tremeluzindo como se tivessem sofrido a ação de uma rajada de vento. — Esse cara está em todos os lugares?

— Talvez só seja bem informado. — sugeriu Skylar, com uma careta de desagrado. Aquele cara era mais informado do que todos eles juntos, e isso era desagradável de se pensar. Se conhecia tanto de seus inimigos, destruí-los era muito mais fácil.

— De qualquer forma, desde quando isso começou… desde o caso Red Eyes e a Noite de Máscaras, ele está por trás de todos os problemas que tivemos. — Nyx recomeçou, num tom que admitia que deveriam tomar cuidado com ele. Logo em seguida, porém, inverteu completamente o assunto da conversa. — Ei, Bola-de-pelos-caolha… me chamas-te pelo nome completo, quer dizer que está começando a me considerar parte do “bando”?

Sky paralisou-se, talvez só reparando naquele detalhe nesse instante, depois de ouvi-la falar. Tentando não parecer abalado por tal coisa, estufou o peito, fechando seu único olho antes de argumentar, com ar de satisfação. — Isso é uma coisa que tenho direito de decidir, ora essa! E já foi decidido, então não tem escolha nenhuma a não ser me obedecer.

Aquela expressão neutra de Nyx permaneceu, enquanto ela respondia, calmamente. — Não me agrada ser canibal, não posso aceitar.

— Ora, sua pulga maldita! — ele fez menção de tentar agarrá-la para tentar lhe dar uma surra ou coisa pior, mas o escuro, aliado a velocidade de Nyx, levaram a melhor, e logo ele estava batendo contra a parede do corredor.

— Se eu fosse um shifter pulga, provavelmente também não seria canibal.

— Você seria uma inútil, é isso que seria! — ele voltou a praguejar, endireitando-se e esfregando o nariz machucado pela trombada.

— Falando em utilidade, Selene seria uma ótima aquisição, poderíamos comer carne bem passada em todas as caçadas. — Gravor alegou por sua vez, entrando na brincadeira, com um tom que sugeria um óbvio humor negro na frase.

— Que tal pararem de falar de mim como se eu não estivesse presente? — a elfa resmungou, cruzando os braços. — E façam silêncio, estou sentindo correntes de ar. Devemos estar bem perto.

De fato, agora começava a entrar uma luminosidade difusa pela outra ponta do túnel, o que parecia meio ilógico, afinal estavam descendo cada vez mais para dentro da terra. O que poderia haver do outro lado para causar aquele efeito?

Eles de fato calaram-se, apressando o passo na direção da luz. O corredor de pedra alargava-se aos poucos, também, de maneira que em um dado momento, os cinco já conseguiam caminhar lado a lado tranquilamente. Selene, erguendo as chamas para vislumbrar o teto e as paredes, conseguiu notar inscrições antigas e rabiscos.

— Que raios de língua é essa?

— Não faço a menor ideia. — Skylar deu de ombros. Nyx, que havia ficado na ponta dos pés, na tentativa de ver mais de perto, também meneou a cabeça, sem saber dizer do que se tratava.

— Bom… acho que vamos ter que entrar pra descobrir. — Gravor mudou de posição, levantando do ombro o machado e cutucando Ryan brevemente. — Vai na frente.

— Hein? Por que eu?

— Porque você é nossa isca viva.

— Eu não sou isca de ninguém! — o grito de protesto dele reverberou por algum tempo, e um breve tremor fez com que eles se ajuntassem mais, com receio que houvesse um desabamento.

— Shhh… parem de gritar. — Nyx avisou, levando um dedo aos lábios. Ela tomou a dianteira, decidida a ignorar os esboços e passar para o fim do túnel. Quando a luz tornou-se ainda mais clara, foi capaz de distinguir as primeiras formas do que havia do outro lado. Não, aquilo não era possível… Não ali em baixo…

Ela estacou na saída do corredor, observando atentamente a sua volta, enquanto os outros acercavam-se dela. Haviam desembocado em uma área extensa, cercada de água cristalina e límpida. Esta escorria dos imensos paredões, tão altos que era impossível escalá-los, formando ao todo três cachoeiras. Um ar fresco soprava, uma brisa agradável. A luz que os guiara vinha do sol, bem acima de suas cabeças. Possivelmente ela só conseguia chegar ali quando ele estava bem alto no céu, mas ocasionais espelhos implantados em pontos estratégicos e secos das rochas pareciam direcionar a luz para o centro do santuário.

Bem no centro de toda aquela água – que criava um lago e corria, através de corredores em nível mais baixo que o deles, em direção ao centro da terra – havia uma pequena ilha. Sobre ela, uma árvore de proporções assombrosas. Algumas raízes haviam levantado-se, criando arcos por sobre a água ao seu redor. O tronco era tão largo que tomava quase toda a extensão da ilha, e alguns galhos tocavam os paredões, desviando o curso da água para cima da árvore. As folhas tinham um tom vivo de verde, lembravam miríades de esmeraldas. As flores eram de um vermelho potente, quase sanguíneo.

Etherea não é uma flor… — ela finalmente conseguiu falar, descendo os olhos para baixo, para o lago cristalino que a envolvia. Para chegar nele, teriam de dar um belo salto, afinal o fim do túnel estava num nível muito acima da água.

— É uma árvore. — Skylar pareceu completar seu pensamento, logo assobiando baixo. — E que árvore… — seu olhar captou uma raiz um pouco mais abaixo deles, um bom lugar para servir de apoio na queda ao descerem. Tentar agarrar as flores, contudo, seria outro problema, estavam absolutamente altas. As rochas eram praticamente impossíveis de escalar, e o tronco da árvore dava a impressão de ser muito liso. E ele definitivamente não ia profaná-la com uma adaga ou qualquer coisa semelhante que pudesse ajudá-lo a subir.

De qualquer forma, era melhor descer para ter uma visão mais de perto. Ele tomou impulso, correndo e depois saltando, agarrando com força a raiz entre os braços e com extrema facilidade pondo-se de pé sobre a mesma. Era tão grossa que não precisava se preocupar em desequilibrar ali em cima. Com um sinal, deu a entender que era segura, e Gravor seguiu-o sem receio algum. Ryan pulou em seguida, e Selene por último, caindo com extrema sutileza sobre aquela ponte de madeira natural.

Mas Nyx não se moveu.

Nem um milímetro sequer, na realidade.

Seus olhos mantinham-se presos em uma inscrição no portal em que o túnel se findava, algo que ela conseguiu entender muito bem, apesar de não conhecer a língua. Aquela frase havia aparecido em vários lugares em que estivera vagando sozinha, depois de deixar Frosty no Vale das Estrelas, antes de reencontrá-lo e fundar a JusticeBlade. Ela havia guardado-a por todos aquele tempo.

A impureza destruirá tudo que aqui se encontra.

Era um modo simples e direto de dizer que pessoas negativas, impuras, amaldiçoadas ou com tendência maldosa não deveriam entrar naquele recinto, ou acabariam profanando-o. E por tal razão, obviamente deveria haver um guardião que seguia essa regra a risca, mantendo essas criaturas distantes… talvez até mesmo matando-as.

Para ser bem sincera consigo mesma, ela já sabia que encontraria tal coisa, afinal se tratava de um tesouro dos Deuses Primordiais, de pureza imensurável. Por essa razão que havia definido que não poderia fazer tal coisa sozinha. Porque o guardião, fosse o que fosse, nunca entregaria nada a ela, e mesmo que pudesse pegar a força…

Ela poderia destruir aquela árvore com um toque.

— Qual é o problema, Nyx? — Selene retirou-a de suas divagações, colocando as mãos na cintura. — Desça logo, quanto mais rápido resolvermos isso, mais rápido podemos voltar.

De maneira instintiva, a mestiça deu dois passos para trás, em vez de se aproximar da beirada.

— O que foi, Boneca Mestiça, não sabe nadar? — Sky ergueu uma sobrancelha, crente que havia descoberto um ponto fraco para atacá-la. Mas seu olhar não demonstrava medo, apenas desconforto. Um absurdo, visível desconforto, o que não era nada comum nela. Gravor pareceu notar também essa pequena mudança de atitude, porque franziu o cenho.

— Nyx…?

Não respondeu. Agora os olhos estavam fixaram-se na cachoeira maior, a cortina de água desabando do paredão mais ao fundo. Ela começara a se abrir, e algo estava saindo lá de dentro. — Saiam dai. Saiam dai agora!

O aviso chegou quase que imediatamente ao primeiro rugido e a rajada de fogo estupenda que o seguiu. Os quatro que estavam abaixo separaram-se imediatamente, escapando de serem queimados por muito pouco.

— Mas que porra é essa? — questionou Skylar, que havia caído na água e observava a coisa crescer diante de seus olhos.

A “coisa” em questão tinha suas proporções gigantescas. A cabeça era triangular e reptiliana, com uma bocarra repleta de dentes afiados como punhais, cada um do tamanho da mão de um adulto. Os olhos eram amarelados, com a retina riscada. O resto do corpo era forte e bem desenvolvido, um ser obviamente quadrúpede, com as patas traseiras mais grossas que as dianteiras. Em todas, era possível notar quatro dedos, terminados em garras apavorantes. Uma calda longa e espigada na ponta chicoteava perigosamente no ar, num aviso mudo para que ficassem distantes, embora todo o resto de sua aparência gritasse o mesmo.

Do focinho até a ponta da calda, escamas que mais lembravam placas douradas cobriam toda a extensão de seu corpo, mantendo uma armadura constante e praticamente impenetrável. Para finalizar, das suas costas saiam um par de asas douradas e igualmente protegidas pelas mesmas escamas, embora as destas parecessem mais leves, ou talvez mais finas. Não era possível ter uma impressão correta a esse respeito, pois a criatura havia aberto a boca, da qual escapava torrentes de fumaça – assim como de suas narinas – e despejou outra rajada escaldante sobre aqueles que estavam mais próximos de seu campo de visão, Selene e Gravor.

— Um dragão. — Selene finalmente praguejou, ao se desviar pela segunda vez, talvez em resposta à pergunta que Sky fizera antes.

— Pensei que eles estivessem extintos. — protestou o shifter tigre, com um timbre claramente chocado na voz.

— Escamas, asas, lança fogo pela boca… se não for um dragão, não faço a menor ideia do que pode ser.

O ser dessa vez utilizou-se da calda para atacar Skylar, a sua direita. Ele segurou-a entre os braços, mas a força era tanta que foi jogado no meio do lago. Felizmente, o nível de água não parecia muito fundo. Pelo menos não neste ponto específico, em que a água batia em seus joelhos. — Essa coisa é um…

Ryan, que havia parado em outra raiz externa de Etherea, forçou-se a ficar de pé direito e olhou fixamente para a fera. Aquela sensação. — Não pode ser, isso é impossível! Não há como um corpo humano se converter nisso!

— Está sugerindo que essa coisa é um shifter? — Selene, forçada a desviar pela terceira vez, já parecia perder sua paciência. — Desde quando existem shifters dragões!?

— Impossível é dizer que alguma coisa é impossível, pelo que parece. — Gravor rolou por outra raiz, deixando-se cair no lago. A água bateu em seu peito, e ele mergulhou completamente para evitar outra rajada. Quando finalmente conseguiu emergir, virou-se para Selene novamente. — Você controla o fogo, não é? Faça alguma coisa!

— Está brincando comigo, o que você quer que eu faça contra um dragão? Minhas chamas são faíscas para ele!

Nyx correu seus olhos por toda aquela confusão, bufando de maneira que os cabelos saíssem da frente de seu rosto. Com um movimento lento, retirou seu sobretudo e a boina, deixando-os no chão aos seus pés, e fez com que sua foice tomasse forma novamente. Eles haviam mencionado lá em baixo que o guardião era um shifter, certo? Com cuidado extremo, focou num ponto onde só havia água e estava distante o suficiente de qualquer raiz da árvore. Seu corpo desceu, preparando-se para o salto que viria. Ela jogou-se, girando no ar e fazendo a foice gigantesca afundar sua lâmina na água, o suficiente para ficar presa ao fundo. Deteu a própria queda segurando as mãos com força em seu cabo, e finalmente conseguiu manter-se equilibrada sobre a própria arma, agarrando-a apenas com a mão direita, enquanto a outra ia aos seus lábios para fazer um som de assobio.

O dragão pareceu finalmente retirar sua atenção dos outros quatro, para cravá-la especialmente na mestiça. Se ele já parecia estar zangado antes, agora estava literalmente soltando fogo pelas ventas. O corpanzil gingou pesadamente em direção a ela, enquanto ficava estática, apenas estreitando ligeiramente seus olhos. Antes que ele puxasse o ar para que jogasse outra chama, dessa vez de uma posição onde era praticamente impossível desviar, Nyx ergueu uma mão, finalmente começando a falar.

— Espero realmente que entenda a minha língua, ou essa negociação será impossível. Que tal retornar a sua forma humana para conversarmos como as pessoas civilizadas que somos, hum?

Um rolo de fumaça foi soprado contra seu rosto, enquanto a criatura a encarava, possivelmente num gesto de zombaria. Ele recuou, lentamente e sem dar-lhe as costas, em direção a cachoeira de trás da qual havia saído. Os rosnados potentes faziam o local reverberar, mas não fez mais nenhum movimento perigoso em direção a eles. Por fim, a cabeça escamosa passou também pela cortina de água.

Não demorou mais do que alguns minutos para que ouvissem os berros desumanos que envolviam a transformação reversa. Para Gravor, Skylar e Ryan aquela era uma dor quase conhecida, embora a dele parecesse drasticamente pior, levando em consideração seu tamanho absurdo. Um pouco depois que os gritos cessaram, uma figura foi vista saindo de trás da cachoeira novamente, mas desta vez esta contornara a mesma, passando pela lateral.

Sua aparência sugeria um tipo pacífico, apesar do seu lado animal ser totalmente o oposto. Era completamente careca, embora pudessem reparar que originalmente deveria ter cabelos loiros, por causa das finas sobrancelhas. Os olhos eram amarelos, quase dourados. Seu corpo, de pele pálida, era normal, nem musculoso demais, nem de menos. Usava um roupão dourado e de tecido fino que chegava até suas canelas.

— Quem és tu, para falares em civilidade? Tu, que conspurcas este território sagrado com sua mera presença… És uma calamidade que anda e respira!

Sua voz era baixa e melodiosa, apesar das palavras ríspidas… tinha um sotaque acentuado, e embora usasse a língua geral, esta parecia ligeiramente diferente… mais arcaica. Era compreensível, mas não totalmente.

— Calamidade, dizes… — Nyx ergueu uma sobrancelha, não parecendo estar preocupada por ser o alvo primário da fúria do guardião. — Na verdade, é um título agradável… melhor do que muitas outras coisas das quais já me chamaram hoje… talvez eu deva começar a usá-lo.

— Pare de ficar provocando-o, Nyx! — Skylar alegou, acercando-se dela, embora mantivesse uma distância do homem.

— Até porque, pelo que parece, ele não vai muito com a sua cara. — Selene murmurou, da ponte natural em que estava descansando, uma das mãos na aljava com suas flechas, pronta para sacar uma. Mesmo assim, a mestiça deve ter ouvido o comentário, pois assentiu brevemente com a cabeça.

— Eu não sou bem-vinda neste local. Algo que eu previ, mas não dei tanta atenção, ainda mais depois do ataque de Fiore… — ela deu de ombros com simplicidade, mantendo contato visual com o homem. — Embora eu aprecie o título pelo qual faz questão de se referir a mim, a cortesia antiga diz que devo me apresentar apropriadamente. Nesse caso… — ela fez uma mesura tão simples e leve, com um movimento rápido de cabeça e a mão livre no peito, que mal parecia ter se movido. — Sou Nyx.

A voz dele respondeu, no momento em que fazia a mesma mesura, de tão má vontade quanto a dela própria. — Enkil. Guardião de Etherea. Sumo sacerdote da Deusa Irmã.

— Informação desnecessária. — Selene revirou os olhos, apresentando-se também, sem muita atenção. Os shifters, contudo, pareceram mais sociáveis – até mesmo corteses – ao fazerem sua parte do ritual, fazendo reverências profundas e verdadeiras. Quando Ryan se endireitou, Nyx voltou a falar.

— Viemos em busca das flores.

— És impura. Nada levarás daqui.

A resposta foi curta e áspera. Nyx estreitou ainda mais seus olhos, a mão que segurava-a na arma fechando-se com mais força. — Ainda com essa ideia? Achas que eu desceria até aqui em baixo por uma razão que não justificasse entregá-las a mim?

— Glória, poder, vantagem, dinheiro. Há muitas razões. Sinto a mão de um deus caótico sobre seu ombro. Calamidade, um monstro com feições de fada. Nada de bom pode vir disso, nada! Sua aura faz mal a este lugar sagrado, um mero toque e Etherea será perdida para sempre. E sabes disso. — ele fez um movimento lento, apontando diretamente para Nyx. — Por isso trouxe-te ajuda.

— Quem sabe. — ela finalmente desviou os olhos, correndo-os por cada um dos presentes. Skylar mostrava sinais de agitação, era bem capaz que ele se intrometesse. Selene havia assumido uma expressão taciturna, mas era óbvio que estava tentando entender as palavras de Enkil. Ryan, abalado como era de se esperar, ora cruzava olhares com ela, ora com o guardião. Gravor sustentou o olhar dela por mais tempo, como se perguntasse “o que você está escondendo?” apenas com seus olhos. “Quem sabe”, ela parecia repetir em resposta para ele, antes de voltar a observar Enkil. — Mesmo assim, não vou desistir das flores. Tenho minhas razões para necessitar delas, seja eu o que for. A questão aqui é… se irás me entregar por bem, ou se negará e, consequentemente, não poderemos evitar uma luta.

— Uma luta. — a sombra de um sorriso passou pelo rosto dele. — E como pretendes lutar? Não pode expandir seu poder, pois isso pode destruir Etherea. Também não pode tocar diretamente em nenhuma parte de seu corpo, seja ela raiz, galho, tronco, folha ou flor. Só podes locomover-se aqui em baixo utilizando a água ou sua arma desagradável, e este é um terreno traiçoeiro para qualquer um de vós. Diga-me, Calamidade, ou melhor, Nyx, como afirma se chamar… — o sorriso pareceu se alargar por um momento, antes de desaparecer completamente. —… O que fará?

— É realmente ingênuo, se pensa que ainda não pensei nisso. — ela jogou o peso do corpo para o lado, de maneira que a foice pendesse para o mesmo. Agora seu cabo parecia mais horizontal, o que levou-a a ficar agachada sobre ele, mantendo um equilíbrio perfeito, enquanto as mãos descansavam calmamente sobre os joelhos. — Vamos, pergunte outra vez… se quer mesmo saber o que farei…

— Ela tem algum tipo de plano em mente? — Ryan sussurrou para Selene, que respondeu com um dar de ombros.

— Só os deuses sabem…

— E vindo dela, não pode ser algo muito bom. — Skylar resmungou consigo mesmo, perguntando-se como diabos as coisas haviam ficado daquele jeito.

— Mas se pensarmos bem sobre isso… — foi a vez de Gravor discordar, jogando os cabelos para trás, e por estes estarem úmidos, mantiveram-se naquela posição. — Ele teria uma plena desvantagem em uma luta, também… afinal nós somos cinco, e mesmo que Enkil volte a forma de dragão, também precisa tomar cuidado para não acertar a árvore sem querer…

— Além do fato de que, ao contrário da “Calamidade que respira e se move” nós devemos poder tocar em Etherea. — complementou Selene, inclinando brevemente a cabeça para o lado, mantendo a voz baixa. — Seja lá qual for a razão que a impeça de tocá-la, para começo de conversa. O que quero dizer é que podemos roubá-la com facilidade.

— Mesmo assim… pelo menos algum de nós deveria sair machucado de uma batalha dessa magnitude. Talvez até morto, ou ainda todos nós. É um dragão, afinal. Não tem como fazermos frente a uma coisa dessas, num lugar tão traiçoeiro como este… — Skylar trincou os dentes após dizer isso, a ideia deixava-o claramente irritado.

— Vamos tentar ser otimistas… — Gravor juntou as mãos em uma posição de prece, embora não parecesse estar muito certo de que as coisas acabariam bem.

Se Enkil prestava atenção nessa pequena discussão, ou sequer pôde ouvi-la, não deu sinal. Seus olhos, tão estranhos, mantinham-se pregados em sua interlocutora. Ele demorou todo aquele tempo para imaginar o que ela estaria tramando, e ao notar que não conseguia chegar a uma conclusão lógica, finalmente baixou o olhar, parecendo um tanto quanto exasperado. — Não tenho poderes para entrar em sua mente, criatura. Diga o que tem a dizer.

— Pois bem… Tu mesmo fez o favor de mencionar que eu não posso tocar um dedo sequer em Etherea. Ela seria destruída com isso.

— E…?

— Não é óbvio? — podia-se notar quase um sorriso maldoso em sua boca, naquele instante. Talvez fosse apenas impressão. — Se me negar o pouco que preciso, destruirei sua preciosa árvore. Farei com que murche e apodreça até morrer, seja lá o que for que ocorrerá a ela caso eu a toque com esses dedos… — flexionou com cuidado os dedos da mão que mantinha livre, como se o gesto definisse suas palavras.

— Putz… — Selene apenas fechou os olhos, imaginando que aquela era a pior situação possível. Por via das dúvidas, puxou mais duas flechas, encaixando-as com a primeira em seu arco. — Isso não vai acabar bem…

— Nyx, que porra você acha que está fazendo?

Ela ignorou completamente o comentário tanto da aliada quanto de Sky e fitou com neutralidade o guardião. Sua pele havia ficado nitidamente mais pálida com aquelas palavras. — Mentiras. Não terias coragem.

— E nós precisamos dela, Lady Nyx! — protestou do seu lado Ryan, descabelando-se com a ponta dos dedos. — Quer dizer, a Anne precisa, e eu por consequência, antes que vire uma estátua de pedra!

— Coragem… não precisa ter coragem para fazer algo assim. E há outros meios mais complicados para se trazer Anne de volta. Só aceitei este pela conveniência. — ela levantou-se, ficando de pé sobre o cabo da foice, sem perder o equilíbrio em momento algum. Seus braços se cruzaram, e continuou: — Deves imaginar muito bem que, em matéria de velocidade, ganho de ti, Enkil. É um cálculo fácil de se fazer, na realidade.

— És insana… está desconsiderando a opinião de seus aliados também? E se eles ficarem do meu lado?

— Nesse caso… lutarei contra eles também, se for necessário. — tranquila, ela afirmava… como se não se importasse, ou não acreditasse que tal coisa ocorreria. — Não é nada pessoal, sabem… de verdade.

— Acho que uma parte do seu cérebro ficou para trás quando aquele cara teleportou-a. — Gravor cruzou os braços, começando a soar irritado. — Não está pensando direito, Nyx.

— Estou pensando perfeitamente bem.

— Se é isso que chama de justiça, você é uma maldita hipócrita!

— Que bela definição. — ela fechou os olhos, desviando o rosto ambas as mãos começaram a mexer-se. — Você crê que seja justo manter um remédio tão poderoso, que poderia acabar com tantas doenças, aqui em baixo, para que apenas raros exploradores possam encontrar e menos ainda consigam utilizar-se dele? Eu prefiro não imaginar o que os deuses pensam, porque eles são deuses, e não a lógica humana que possa explicá-los, mas… eu duvido que a Deusa Irmã queria isso… Se formos acreditar nas lendas, era uma entidade primordialmente boa. Uma deusa da cura, alguém que se importava com todos os seres, sem exceção.

Ela voltou a agachar-se, sinal de que não estava disposta a lutar naquele momento, o que parecia ser uma coisa boa. Gravor lhe lançou apenas um olhar magoado, mas o silêncio que se seguiu a essas palavras durou o bastante para que, quando continuasse, não fosse interrompida por mais ninguém. — O que me faz pensar que, este templo, esta terra em que estamos agora, essa proteção exacerbada, é mortal, não divina. E a única pessoa que poderia ser responsável por isso é ti… Enkil. Eu não entendo dos sentimentos de deuses ou de humanos, na maior parte do tempo, mas posso compreender o que está havendo aqui… você se ofereceu para guardar Etherea das forças impuras, mas o que não contava é que os deuses se retirariam, que sua preciosa Mestra iria abandoná-lo aqui em baixo.

— Está blasfemando!

— Estou apenas dizendo a verdade. Até porque, não a razão para que eu blasfeme contra os Primordiais. Meu problema sempre foi com os outros. — ela voltou a desviar o olhar, como se aquilo fosse algo revelador. — Crias-te esse templo em nome da deusa, e imagino que tenha cuidado muito bem dele no começo. Muitas pessoas deveriam vir para estas bandas para serem curadas de suas enfermidades, certo? Fazia seu trabalho a contento. Mas então os deuses pararam de se envolver diretamente com os mortais, cortaram suas ligações conosco. E, por nunca mais poder ver a deusa que tanto amava, tornou-se recluso e fechou as portas do templo, mantendo a única coisa que ligava-o a ela em segredo constante e rechaçando a maior parte daqueles que chegavam perto demais. E pelo que posso notar, não sabes nem a razão que fez os deuses partirem… ou sabe?

O homem mordeu o lábio inferior… sua expressão benéfica começou a transmitir uma profunda tristeza, talvez até mesmo choque. O silêncio expandiu-se mais uma vez, e era difícil até mesmo ouvir o som da respiração dos presentes. Era como se todos tomassem fôlego ao mesmo tempo, enquanto o barulho das águas encobria todo o resto.

— Não… você realmente não sabe… a prova é Ragadash.

As palavras de Nyx fizeram com que Skylar finalmente saísse de sua letargia, e dirigi-se sua própria pergunta à Enkil. — O que sabe sobre Ragadash?

— É uma cidade magos… a Capital da magia, pelo que sei. — ele respondeu com cautela, girando o tronco para observar o shifter de um olho só.

— Ragadash se foi. A milênios… A traição de Ragadash fez com que os deuses desistissem de atuar neste plano.

— Se… foi?

— Sim… foi destruída, e seus habitantes foram amaldiçoados… ninguém mais vai até lá. — Sky balançou a cabeça brevemente, não suportando ficar observando aquele olhar eternamente magoado no rosto daquele homem. Um shifter dragão… possivelmente o ser mais velho de toda a Meroé, das antigas linhagens, que vira aquele mundo antes das guerras, antes de Pesadelo. Que vira Ragadash em seus dias de glória, possivelmente. Esquecido ali no meio do nada, sem ninguém que pudesse chorar por ele. Tola e pobre criatura, inocente até o último fiapo de cabelo.

A expressão de Nyx suavizou-se um pouco, quase nada. — Faça seu trabalho como guardião, Enkil. Só precisamos de duas flores, nada mais. Ceda-as para alguém que vai lhe dar uma utilidade benéfica… para salvar vidas, se preciso for.

— Não irá mais destruir Etherea?

— Não tocarei nela… não roçarei meus dedos nem na sua preciosa água. É uma promessa, e eu cumpro todas as minhas promessas. — ela levantou a mão direita, levando a esquerda ao peito, num sinal claro de que estava lhe dando sua palavra.

O clima ruim que havia surgido pareceu desvanecer-se aos poucos, os corpos relaxaram… Ryan suspirou com alívio. Selene voltou a guardar suas flechas e passou o arco pelos ombros, em parte chateada por não ter tido ação nenhuma, em parte tranquila por não ter precisado lutar contra um dragão – ou com a própria Nyx. Skylar resmungou qualquer coisa para si mesmo, algo como “esse pessoal faz tudo pelo modo mais difícil”. Gravor parecia estar aliviado também, no entanto havia certa hesitação em seu olhar, que ele evitava cruzar com o de Nyx.

Enkil passou os dedos pela cabeça sem um fio sequer de cabelo, com os olhos de um dourado vivo, fechados, como se meditasse. Em seguida, fez um movimento lento de afirmação, abrindo um sorriso meio entristecido, meio conformado. — Eu lhes darei as flores. Escolham qual de vós irá colhê-las, e eu o ajudarei. Com exceção de ti, caríssima Calamidade…

oOo

— Tenha cuidado. E boa sorte! — Foram os últimos votos que Skylar dera a Ryan, quando o shifter mais novo finalmente invocou o teleporte, junto com uma das flores de Etherea, com a finalidade de ir para Hathea. Enkil lhes dera as duas maiores flores que tinha encontrado em toda a extensão da árvore, talvez por estar envergonhado pela sua atitude desagradável. Contudo, o guardião não estava disposto a deixar o templo. No fim, lhes dera instruções para definir que Etherea estava novamente as mãos dos necessitados, que se tivessem conhecimento de uma pessoa em tal condição, para levá-la ou enviá-la para ele.

— Que não seja impura. Nunca uma pessoa impura. Principalmente amaldiçoados. Nenhum amaldiçoado deve pisar neste templo. — Nyx havia mantido-se em silêncio naquele instante, mas nenhum dos outros pareceu notar os olhares que trocara com o guardião. Eles se prepararam para deixar o templo logo depois.

Agora os quatro que restaram se encaravam, com dezenas de perguntas na ponta da língua, as quais não pareciam dispostas a deixar escapar. Uma trégua, e quem a rompesse começaria um verdadeiro interrogatório que levaria a uma briga, e todos já estavam exaustos demais para brigar. Nyx enviou a flor que sobrara para Nyele, usando um feitiço mais simples de teleporte, ideal para transportar objetos e coisas pequenas.

— Ela insistiu que fosse assim. Creio que imagine que, caso eu não enviasse Etherea imediatamente para ela, acabaria usando-a em outra pessoa. — justificou-se a mestiça, depois de bater as mãos contra o sobretudo.

— E você faria isso? — Skylar perguntou, uma questão retórica, afinal já imaginava qual seria a resposta.

— Obviamente. Eu faço o que for necessário.

— Que estranho… poderia jurar que faria tal coisa se tivesse nos ferido, caso seu blefe não tivesse funcionado.

— Não era um blefe. — Nyx estreitou os olhos. — E eu também não esperava um voto de confiança de vós, então estamos quites.

— Ainda bem que tinha isso em mente. — Selene alegou, com um sorriso seco no rosto. — Me pergunto o que teria acontecido se Enkil não houvesse desistido.

— Nós ainda temos um pacto entre nossas equipes, então tragédias muito grandes seriam evitadas. Contudo… creio que todos vocês me odiariam… se já não me odeiam, nesse exato instante.

— É uma pessoa fácil de se odiar, Boneca Mestiça. Se eu fosse você, teria mais cuidado. — Skylar alegou, com um tom extremamente calmo. A ameaça velada não pareceu surtir muito efeito, como já imaginava. Talvez estivesse tempo demais com aquela garota irritante para saber suas reações, ou a falta delas. Entretanto… aquela situação lá em baixo tinha sido imprevisível. Aquela garota era imprevisível, e isso era assustador, pois nunca dava para se saber em que estava pensando. Se seria capaz de traí-los a qualquer instante.

Não… ele não manteria isso em sua cabeça… mas, mesmo assim, teria mais cuidado com ela. Era sempre melhor prevenir as possíveis catástrofes que poderiam ocorrer no futuro. Com o canto de seu olho bom, observou Gravor, estranhamente calado. Parecia que a pequena discussão com a mestiça havia sido problemática para ele. E o pior era que não podia ficar do lado de nenhum dos dois, pois ambos estavam certos ao seu modo.

Ele apertou brevemente o ombro do seu Braço-direito e abriu um sorrisinho para o mesmo. — Ei, alegre-se, agora estamos livres para encontrar os outros.

— E encontrar outro guardião lunático querendo nos matar. — o moreno sorriu sutilmente, fechando o punho como se fosse comemorar. — Uhu!

— E se ele fizer tal coisa vamos fazer picadinho dele e comê-lo no jantar.

— Vamos pedir para Selene deixá-lo bem passado antes, eu estava mesmo com vontade de comer churrasco… — aquele sinal de humor negro voltou a aparecer, enquanto o sorriso se alargava.

— É esse o espírito! — Sky alegou, aparentemente contente, dando um soquinho no ombro de Gravor, mas logo franzindo o cenho. Algo chamara sua atenção, e ele passou a respirar profundamente. — Esse cheiro… — automaticamente, seus olhos brilharam, e uma expressão de felicidade inundou seu rosto. — Ahn, eu sabia, eu tinha toda a certeza!

— Eh? — o outro ergueu uma sobrancelha, sem entender, mas ao concentrar-se no tal cheiro que o líder alegava sentir, pareceu entender na mesma hora. Logo, foi capaz de ver um pequeno animal de cor alaranjada descendo as rochas onde Nyx lutara mais cedo com saltos precisos. Em um dado momento ele ficou completamente fora de vista, e depois de mais algum tempo um rapaz de longos cabelos ruivos e inteligentes olhos claros veio na direção deles, acenando com entusiasmo.

— Gravor! Sky! Olha só, vocês realmente fizeram bastante estrago desta vez! Me digam, o que foi que aconteceu? Teve uma guerra por aqui?

— Basicamente isso… — o líder impulsionou-se para a frente, agarrando o outro rapaz, que era menor que ele, e o rodando no ar antes de cobrir seu rosto de beijos carinhosos. — Ya-ya! Pode até não acreditar, mas eu senti realmente a sua falta…

oOo

Sweet Nightmare

Ela já sabia que era um sonho muito antes daquela escuridão. Sempre sabia quando estava sonhando, nunca era enganada com relação a isso. Não lhe era comum acordar banhada em suor, por causa de um pesadelo. Aliás, era o tipo de coisa que nunca ocorria… com exceção de uma única vez. Contudo, também era óbvio que aquele não poderia ser, nunca, um sonho normal.

E estava tudo realmente muito escuro. E havia apenas uma luz, cegante e indistinta, que a iluminava de cima, como um lampião. Mas não era um, de forma alguma. Não havia absolutamente nada ao seu redor, além da poltrona na qual estava sentada. E mesmo assim, sabia que não estava sozinha.

— Apareça. — ousou invocar, com tranquilidade. Uma segundo faixo de luz iluminou um ponto a sua direita, e pelo canto dos olhos ela foi capaz de divisar um vulto feminino. Tão somente isso. — O que quer de mim?

— Nada… estou apenas curiosa. Queria vê-la mais de perto. No entanto, não pareces ser grande coisa.

Ela endireitou-se na poltrona, revirando os olhos verdes, entediada. — Deuses… pergunto-me o que seria interessante para vós, no fim das contas.

— Muitas coisas. Alguns mortais, principalmente. Suas vidas, suas vitórias e derrotas. O jeito como insistem tanto em mudar seu destino.

— Isso deve irritá-la mais do que impressioná-la. Afinal deve ter muito trabalho para traçar os nossos destinos, certo?

— Nada tão complexo. Tenho milênios, eras de prática.

— E continua errando miseravelmente. — interrompeu, embora soubesse que isso poderia causar-lhe um grande problema. — Sabe… existem laços que não podem ser rompidos.

— Amizades, amores, família… tudo se esvai, criança do caos.

— Nem tudo. Existem coisas que nem sua pena pode forçar a acontecer. — Sem voltar-se em direção a deusa, ela alegou… suas mãos juntaram-se, enquanto entrelaçava seus dedos. — Eu não sei nada sobre o que passa na mente de deuses, não sei o que pretende… mas pare de tentar cortar os laços que eu tenho com meu irmão. Você não é capaz disso, mesmo que realmente queira.

— Ele não é seu irmão de verdade. E um ser egoísta como ti não pode amar ninguém. Muito menos se incomodar com os laços que faz ou que perde.

— Pense como quiser. Isso só diz respeito a nós. — ela nunca negava ser egoísta. E nunca viria a negar, pois quem mais sabia da própria natureza? — Como eu disse, não deveria se intrometer. Uma pena não pode cortar coisa alguma.

— Ha… hahaha! Estás me desafiando? Uma mortal como ti, me desafiando?

— Quem sabe. — ela jogou a cabeça para trás, finalmente divisando o faixo de luz onde a outra estaria. Mas não havia mais que uma sombra com formato de mulher naquela direção. Como se estivesse ali e ao mesmo tempo não. — Eu tenho minhas razões.

— Se diz tão insensível, mas tem medo de ser afastada do seu único porto seguro, não é? Pois bem! Aceito seu desafio. E tenha certeza, Nyx de Saint Ignis, que farei com que sofra infinitamente por isso.

— Como quiser, Lady Destiny. Faça como achar melhor. Mas não conseguirá.

— Veremos… — ela tinha certeza que a sombra teria sorrido se tivesse um rosto. Ambas as luzes se apagaram e, quando a escuridão tornou-se completa, Nyx abriu os olhos para enfrentar um novo dia. Sabendo que acabava de comprar uma guerra com uma deusa de personalidade sádica. Okay… estava tudo sob controle.

Absolutamente sob controle, lembrou-se a si mesma, antes de levantar-se e unir-se aos outros, que se preparavam para continuar a jornada em direção ao templo, no qual encontrariam Etherea.


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Notas finais do capítulo

Yeah... espero que tenham gostado.
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Imagem nova da Nyx... o que acharam?
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Uma consideração com relação ao sonho do final: ele ocorreu antes da batalha contra Fiore. Também ocorreu antes do sonho do Frosty, então podem considerar que o dele foi uma consequência desse encontro.
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Yan voltou a aparecer - para a felicidade da meia duzia de fujoshis que leem essa bagaça, principalmente da Enma.
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Próximos capítulos serão gigantes, então já vão se preparando psicologicamente, galera... vou tentar não atrasar mais, afinal chegarmos a um ponto crítico, e entenderão o que quero dizer já já;
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Kisses para todos vocês e até a próxima.



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