Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 42
Não olhe para trás.


Notas iniciais do capítulo

Yoooo, seus lindos :3
Bom, eu começo a dizer que há mais algumas revelações nesse capítulo, mas deixo claro que não estou satisfeita com ele. Por algum motivo não consegui passar algumas emoções que eu queria direito, mas espero que gostem mesmo assim.
Kisses, kisses :3



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O grupo composto por Nyx, Gravor, Skylar, Ryan e Selene estava tirando um minuto de descanso, afinal andaram praticamente o dia inteiro. Enquanto preparavam o acampamento para passarem a noite, a mestiça passou todos os detalhes que eram necessários levar em consideração.

— Eu imagino que já estejam a par da situação. — Ela argumentara, enquanto começava a endireitar a lenha na fogueira. — Do “porquê” o trato com Nyele envolveu mais dois teletransportes. A questão é que nem eu nem Selene podemos retornar a Hathea, seria suicídio…

— Graças a sua mãe querida, é claro… — Alegou Selene, mirando o dedo entre as mãos de Nyx para acender a fogueira. A outra retirou as mãos rapidamente, estreitando um pouco os olhos.

— Agradeço pela parte que me toca.

— Já disse que odeio sua mãe?

— E quem não odeia? — Suspirou, acomodando-se no chão mesmo. — O que estou tentando dizer é que nossa ida é inviável. Ou seja, teremos de contar com um de vós. — O olhar neutro dela parou nos outros três.

Gravor bateu levemente no ombro de Ryan. — Você seria ideal para essa missão, não acha?

— O que? Eu? Por quê?

— Você é pequeno, não chama muita a atenção e além disso é o par da garota… Annie, não é mesmo? — Respondeu prontamente Skylar, ajeitando seu tapa-olho. — Pense bem, poderia ser um herói.

— Seria idolatrado.

— Amado.

— Venerado.

— Estão exagerando. — Selene cortou a bajulação, logo voltando ao assunto. — De fato, Ryan é o mais indicado, ele não chama… muita atenção, por causa do seu tamanho.

— Ei, dá pra pararem de me chamar de pequeno!?

Ela apenas revirou os olhos, dando de ombros. Gravor levou uma mão a boca, rindo baixinho. — Não seja tão estressado, Mini. E então, vai aceitar a proposta?

Ryan emburrou sua expressão, sentando no chão e cruzando os braços, rosnando baixo. — Tá… tanto faz, irei fazer isso. E serei um herói, será uma missão com conclusão perfeita, a mais perfeita possível.

Selene bateu palmas brevemente, assentindo com a cabeça. — É assim que se fala, Mini.

— Ah, você também não! — Houve outro protesto da parte dele, aparentemente odiava aquele apelido com todas as forças, detestava lembrar que era baixinho.

— Foco. — Pediu Nyx, com sua habitual expressão parada, mexendo a mão de um lado para o outro para chamar a atenção. — Ryan, irei lhe ensinar o feitiço para o teleporte da Nyele, mas tenha em mente que só poderá usá-lo duas vezes: quando pegarmos Etherea, para ir até Hathea e dá-la a Annie, e na volta.

— Ah, isso vai ser muito fácil, você vai ver, Lady Nyx. E também sei a localização da taverna onde ela deve estar de cor. — O garoto levou a mão ao peito, num gesto quase heroico.

— Onde ela deve estar, disse bem. A nobreza de Hathea pode muito bem tê-la tirado do local, afinal continua sendo um membro da JusticeBlade. A probabilidade de ser usada como refém para nos trazerem de volta à cidade é grande. — Opinou Selene, chegando mais perto da fogueira para mexer nas chamas com gestos calmos e padronizados.

— No melhor dos casos, considerando que ache-a rapidamente e consiga curá-la, deverá usar o feitiço novamente. Contudo, não deverá retornar para nós, mas ir direto ao grupo que está buscando a Chave. Entendido? — Continuou Skylar, esperando uma confirmação. O garoto assentiu em resposta.

— Perfeitamente, senhor! Mas e vocês?

— Nós terminaremos o que temos de fazer aqui e iremos na direção dos outros o mais rápido que der. — Gravor alegou, como se fosse a coisa mais simples do mundo.

— Vocês podiam se oferecer para serem a nossa montaria, seria esplendidamente mais prático. Para não falar de rápido. — Selene abriu um vago sorriso, enquanto Nyx virava para pegar os suprimentos que haviam trazido da mansão de Nyele.

— Mas nem em sonho! — Protestou Skylar, cruzando os braços. — A menos que tenham algo para nos compensar por isso depois…

— E o que acha que temos a oferecer, mal temos um teto onde cair mortas...

— Me pergunto quanto deve estar valendo a minha cabeça agora. — Nyx alegou por sua vez, coçando brevemente a bochecha com o dedo indicador.

— Se subiram ainda mais o preço que estava nos cartazes, um caçador de recompensas poderia ficar um bom tempo de férias. — Gravor comentou, logo sendo cortado por Skylar.

— Sem dúvida. As duas deveriam dormir com um olho aberto, quem sabe nós não mudamos de ideia…

A resposta delas foi um entreolhar rápido, e logo Selene estava gargalhando. A boca de Nyx curvou-se numa sugestão de sorriso sarcástico. — Nós temos um acordo. Se queres tanto quebrá-lo, vá enfrente.

Uma ruga de estresse surgiu na cabeça do shifter. — Bando de estraga prazeres, não sabem nem brincar. — Ele sentiu um breve tapa amigável de Gravor em seu ombro.

— Um dia você consegue, um dia…

Eles arrumaram com simplicidade o acampamento, preparando carnes para assar e alguns legumes para cozinhar, fazendo um caldo quente e suculento. Ainda estava claro quando terminaram, o suficiente para que Nyx decidisse tirar um livro de sua mochila e fosse lê-lo para passar o tempo. Este era de capa dura e aparência mais nova, e seu título era difícil de entender pela falta de contraste que havia entre suas letras e o fundo. Ryan havia decidido treinar com Skylar, e era possível vê-los digladiarem-se a uma certa distância da fogueira.

Selene havia ficado um tempo refazendo suas flechas para repôr as que perdera no confronto no Templo do Fogo, como sempre tentando isolar-se o máximo possível, mas o tédio venceu-a completamente e logo ela estava envolvida no treinamento também, o que de alguma forma não pareceria terminar em desastre. Afinal os três eram habilidosos o suficiente para não se acertarem de uma maneira letal sem querer.

Gravor olhava-os de esguelha de vez em quando, ele definitivamente não entraria ali no meio. Se alguém saísse machucado ia sobrar para o próprio cuidar do infeliz, e por mais que evitasse bancar a “mãe superprotetora” do grupo, não havia ninguém para ficar no seu lugar. Afinal os outros dali eram mais especialistas em machucar do que curar. Com exceção de Ryan, talvez, mas com ele participando do treinamento, era difícil prever o resultado.

Sua atenção foi puxada em direção a Nyx, que o chamava. — Ei, Gravor…

— O que foi?

— Como vocês, shifters, acasalam?

Ela perguntou. Com aquele seu ar neutro, o que poderia parecer quase inocente, piscando seus olhos verdes para ele. Pelo visto, havia questionado auto o suficiente para que os outros ouvissem – não que essa fosse a intenção – porque o machado de Ryan afundou no chão, enquanto ele ficava estático. Skylar, que havia feito a gracinha de jogar o bastão para cima para pegar depois, acabou esquecendo-se de segurá-lo e sentiu a arma acertar o topo de sua cabeça. Selene estava girando sua adaga entre os dedos, pronta para atirá-la, mas acabou atrapalhando-se e fazendo-a voar em direção ao tronco de uma árvore.

A reação de Gravor foi ficar extremamente sem graça. Ele corou e gaguejou por um tempo, até conseguir comentar algo: — Que… Que raio de pergunta é essa?

Nyx ergueu o livro que estava lendo, de uma maneira que o título aparecesse direito. Era uma leitura relacionada aos shifters em geral, incluindo gostos, curiosidades e reprodução. Possivelmente, havia sido escrito por um pesquisador humano, isso era bem típico deles. — Eu estava curiosa. Se usavam a forma animal ou a humana quando tem relações entre si.

— Não tem nada melhor para você ler!?

Selene levou uma mão a boca, tentando conter o riso, mas logo começou a gargalhar, apoiando-se no ombro de Sky. Uma aura depressiva voltou a descer sobre Nyx, enquanto ela fechava o livro com certa irritação. — Ela pegou meus livros também. Maldita.

— Cara… é uma pena o Lidrin não estar aqui.

— Tínhamos de eternizar esse momento. — Os comentários entre Sky e Selene começaram, enquanto ambos trocavam olhares maldosos entre si. Possivelmente aproveitavam o fato de que a inalcançável Nyx estava enfim numa posição que podia ser zombada. Ryan já estava na grama, rolando de tanto rir.

— Vocês realmente não prestam… — Suspirou Gravor, ainda mantendo a cabeça baixa para esconder a vermelhidão que havia tomado seu rosto. — Mas… não acha que Nyele pegou pesado tirando todas as suas coisas assim?

— Troca equivalente.

— Não me parece que roupas, artefatos mágicos e livros sejam uma coisa que valha tanto quanto as informações que recebemos…

— Nenhum de vocês parece ter entendido o que foi que eu troquei realmente, não é? Então deixarei bem claro. — Ela levantou-se, voltando a guardar o livro e estralando o pescoço. Dessa vez, suas palavras atingiram propositalmente a todos os presentes. — Eu dei a Nyele parte de uma vida. O que eu abdiquei foi meu título como Demon Lady.

Isso não parecia fazer lá muita diferença para os shifters, mas Selene imediatamente parou de rir, observando-a com uma expressão chocada. — Nyx, o que você…

— Oh… isso é bom, né, assim você deixa de ser tão demoníaca e passa a ser, sei lá… sociável? — Skylar coçou a bochecha, duvidava de que a outra pudesse ser realmente amigável com seu título ou sem ele. Aquela garota era estranha demais.

— Meio drástico, mas acho que você vai ficar bem. — Gravor bateu ligeiramente sobre a cabeça de Nyx.

— Continuam sem entender… — ela resmungou, fechando os olhos e tirando a mão do rapaz de seus cabelos. Ninguém entendia droga nenhuma naquele lugar, e pra começo de conversa ela nem ao menos sentia algo forte pela decisão que tomara. Não havia outra forma, era apenas… como poderia dizer? Algo inevitável, que aconteceria mais cedo ou mais tarde.

A situação deveria ficar por isso mesmo se Selene não houvesse se endireitado, aparentemente muito séria. — Nyx, o que você quis dizer com isso?

— Exatamente o que eu disse.

A elfa trincou os dentes, abaixando a cabeça e fazendo um movimento rápido com a mão. Gravor precisou desviar para não ser acertado pela bola de fogo que ela atirara na direção da líder, embora ficasse claro que a intenção não era acertá-la em cheio, pois passou rente ao seu rosto. Não alterou sua expressão. Sequer fez com que Nyx de Saint Ignis se movesse daquele local. Os olhares de ambas se encontraram. Olhos violetas, enraivecidos, e verdes, profundamente vazios.

— Por que estás zangada, Selene?

— Você é uma cretina egoísta, é por isso que estou zangada! — ela cruzou a passos apressados a distância que as separava e agarrou o pescoço de Nyx, fazendo pressão no local. Não houve resistência. A outra não fazia nem menção de mover-se.

— Se queres me matar tanto assim, eu sugeriria que use as correntes…

— Cale a maldita boca!

Ryan rosnou, preparando-se para separar as duas – e por seu apego a Nyx, possivelmente atacar Selene – mas foi contido por Skylar. Igualmente, ele fez um gesto para Gravor não se intrometer. — Ei, Boneca Mestiça… de quê ela está falando?

— De uma verdade… é claro. Algo que não poderia passar pela cabeça de vocês, afinal não são de dentro… Demon Lady é minha identidade como líder do JusticeBlade.

— Essa idiota abdicou do posto de líder.

— Você fez o quê? — Skylar aproximou-se ainda mais, cruzando os braços. — E nosso acordo? Nós temos um pacto, ao fazer isso você mesma invalidou-o. Está louca?

— Sempre teve um pacto comigo, Bola-de-pelos-caolha. Isso não vai mudar até que eu morra. Quanto aos outros, eu espero que já tenha entendido que não são seus inimigos. Nossa situação para convosco não mudou absolutamente na… — Nyx precisou parar de falar, a mão de Selene ficara ainda mais forte.

— Isso não importa. Não é verdade, Nyx? Você é um monstro, alguém que não pode amar. Você condenou aquele que chama de irmão a ficar no seu lugar, coisa que ele não é capaz de fazer, que lhe dói no fundo da alma. Porque você sabe mais que ninguém que ele se culpa todos os malditos dias pelo que aconteceu a você e ao seu pai, por aquilo ter ocorrido enquanto ele reinava no Vale das Estrelas! Que Surm a carregue por isso… diga alguma coisa!

— Não tenho nada a dizer… está completamente certa. Eu sou um monstro, e devo pagar pelos meus pecados, não é verdade? — Nyx alegou, baixinho, voltando a focar seu olhar em sua agressora. — Já pagaste também pelos seus?

Essa frase fez com que a mais alta soltasse-a instantaneamente. Ela levou a mão ao pescoço machucado, agora arroxeado por causa do aperto. Seus lábios se contraíram, vendo Selene dar passos para trás.

— Eu não fiz aquilo porque quis, e sabe muito bem disso. — deu as costas para eles, andando mais alguns passos em direção ao acampamento e puxando a mochila que sempre carregava consigo, seu arco e aljava. Endireitou-se, observando-a de esguelha. — Você pode até se dizer insensível, mas duvido que possa tirar esse peso da consciência. E eu sei, porque não posso limpar a minha.

— Onde vai?

— Não é da sua conta, eu não devo mais satisfação ou sequer obediência a você.

Gravor, que havia abaixado para observar o hematoma anelado que a elfa deixara no pescoço de Nyx, ergueu a cabeça novamente ao ouvir essa última frase. Ficou meio em dúvida se deveria ir atrás dela, Selene já estava longe o suficiente para não ouvi-los mais. Mas a mestiça ergueu uma mão, fazendo-o tomar distância e parar. — Deixe-a.

— Mas…

— Deixe-a. Ela vai voltar, só precisa esfriar a cabeça. — pôs-se a inspirar a expirar calmamente para tentar normalizar sua respiração. Um bastão desceu com força em sua cabeça, contudo, o que a fez quase morder a língua. — O…

— Calada. Pouco me importa o que você faz com sua equipe ou deixa de fazer, e não ligo pro fato de você não ser mais a líder. — Skylar colocou o bastão de baixo do queixo de Nyx para forçá-la a olhá-lo. — Mas saiba de uma coisa, eu levo muito a sério essa história de família. Sendo de sangue ou não, são as pessoas mais importantes que temos, aquelas que devemos proteger e podemos contar sempre. Eu não sei o que está acontecendo de fato, mas parece que tem a ver com Frosty. E se ele é seu irmão, como a esquentadinha afirmou tão categoricamente, você deveria parar de fazer essa pose de durona e aceitar que isso está te machucando tanto quanto ele.

Ele voltou a retirar o bastão, fincando-o no chão. A cabeça dela automaticamente desceu, o suficiente para que os cabelos tampassem seus olhos. Agora, a noite começava a descer, ocasionais estrelas pontilhando o firmamento. Já era possível ver a lua, uma pequena linha prateada no azul-escuro, quase negro.

— Se quer chorar, chore. Se quer sorrir, sorria. Pare de complicar as coisas, e só olhar pra essa sua cara que tudo fica lógico. Você está sangrando por dentro, e guardar isso apenas para si machucará os outros ao redor, não que eu me importe. Você fez uma escolha? Assuma-a de frente, erga a cabeça e vá até o fim. E nunca use a desculpa de que é um monstro pelos atos que comete, pois o que faz um monstro são as atitudes, não o nascimento.

Skylar arrancou novamente o bastão do chão e voltou para perto da fogueira, deixando-se cair sentado no chão e ficando em posição de meditação, mordiscando a ponta dos dedos. — Francamente, estou cercado de gente complicada. Que a Deusa Mãe me ilumine para ter paciência com esse pessoal idiota e infantil…

Gravor suspirou pesadamente, vendo que as coisas haviam amansado por enquanto. Sentou-se ao lado de Nyx, que mantinha-se ajoelhada, a mão ainda segurando o próprio pescoço. Era difícil ver seu rosto naquela posição, por causa do escuro e da franja que tampava a parte superior do mesmo. — Não leve para o lado pessoal. Não sei bem o porquê, mas ele fica realmente sensível com esse tipo de assunto, sabe? Acho que foi por isso que quando encontramos Trixia ele quis mandá-la de volta para casa.

— Eu estou bem.

— Está mesmo? Mesmo que Frosty tenha tomado o seu lugar? — ele parecia ter entendido bem uma parte da situação, afinal. Com a ponta dos dedos, colocou algumas mechas do cabelo dela atrás de sua orelha.

Ela engoliu em seco. Um sorriso amargo surgiu em sua face, enquanto trazia a mão livre para perto do rosto, deixando-a sobre a boca. — Ele me odeia. E tem toda a razão do mundo para isso. Está sendo muito… muito mais difícil do que eu pensei.

— Não creio que ele te odeie. Irmãos brigam o tempo todo. — voltou a ficar de pé, descansando a mão sobre a cabeça dela e afagando o local por um tempo. Ela silenciara-se. Se ele havia notado as ocasionais gotas que caiam sobre o tecido da calça que Nyx utilizava, fingiu não ver. — Irei pegar as bandagens para cuidar do seu pescoço, tudo bem?

— Não é tão sério assim. Não é necessário que cuide disso. — a voz dela saiu baixa e evasiva.

— Apenas fique quieta, que garota mais teimosa… — ele resmungou, girando nos calcanhares e aproximando-se da bagagem. Ryan observava de longe, ao lado de Skylar. Seus olhos corriam de um para o outro com extrema rapidez.

— Esse pessoal não sabe o quanto tem sorte. — Skylar fez uma careta, retirando seu tapa-olho por um tempo. Dormir com aquela coisa era extremamente incômodo, e ele já estava farto das situações para um dia só. O engraçadinho que ousasse acordá-lo ouviria poucas e boas.

— Por que diz isso?

— Porque existe quem não tenha família alguma.

— Oh… se pensar bem eu era meio assim, antes de encontrar vocês. — O mais novo inclinou a cabeça, olhando para o céu, pensativo. — Mas eu não ligo. Afinal vocês todos são minha família, agora.

Skylar já havia jogado o corpo para trás, deitando-se para dormir sobre a relva mesmo, afinal a noite estava quente. Seu cabelo ruivo tampava o buraco que tinha no lugar onde deveria estar seu segundo olho. Estreitou o outro ao ouvir o garoto, e suspirou, erguendo o braço para bagunçar o cabelo de Ryan com os dedos. — É assim que se fala, Mini.

— Não me chame assim!

oOo

Ela fez um movimento calculado, e comeu um dos bispos de seu adversário. O rapaz que estava a sua frente inclinou a cabeça, pensativamente. Seus cabelos eram negros, curtos e rebeldes, e os olhos tinham um tom avermelhado característico. Não parecia muito forte nem muito fraco, sua tez era um pouco pálida. Vestia-se com calça e blusa pretas, simples, com um casaco pesado por cima. Pelo seu olhar, gestos, expressões parecia ser uma pessoa realmente divertida. O que contrastava muito com sua anfitriã, Nyele.

— Você interferiu diretamente na jornada deles.

— Eu apenas movi um pouco a situação a meu favor.

— A seu favor? — ele ergueu uma sobrancelha, com seu habitual divertimento. — Claro, claro… eu fico me perguntando o que você viu no futuro para ter tomado essa decisão.

— Sua irmã causando desastres. É o que sempre vejo. — Nyele tamborilou os dedos sobre a mesa, vendo seu convidado colocar o Rei dela em xeque. Contornou a situação rapidamente, esperando pela vez dele.

— Ah… ela é realmente muito instável, aquela garota… não vai ficar muito feliz sabendo que está tentando mudar o que ela escreveu.

— Não cabe a mim mudar nada, sabes muito bem disso. Eu apenas posso observar, dentro dessa caixa que vocês me colocaram. O futuro não pode ser mudado a menos que os envolvidos queiram isso.

— Ei, ei, me tire desse “vocês”, eu não tenho nada a ver com isso. — ele alegou, abrindo as palmas das mãos. Em mais algumas jogadas, a situação no tabuleiro havia se invertido e Nyele havia deixado-o em xeque-mate. — Ora… estás roubando.

— É lógico que não estou, não uso meus poderes para ganhar jogos. E se está tão incomodado, vá disputar xadrez com sua querida irmã.

— Ela não gosta de jogos, vive com a cara enfiada nos livros.

Nyele apenas bufou, recomeçando a arrumar o tabuleiro. — Vocês dois são impossíveis.

— Que injusto da sua parte, estou me despencando até aqui, como sempre, para lhe fazer companhia!

A mulher colocou os cabelos para trás com um movimento fluído e suspirou brevemente. — Não por muito tempo. Então aproveite.

— Ha… hahaha! — Ele riu divertidamente, sacudindo-se na poltrona em que estava sentado. — Será que eles conseguirão acabar com tudo dessa vez?

— Não sei dizer se a ideia me é agradável ou não, no fim das contas. — Ela observou atentamente o tabuleiro e fez seu primeiro movimento, colocando um peão a frente. — No futuro que eu vislumbro, os Seguidores do Pesadelo vencem.

— Ainda assim há chance do futuro mudar, e imagino que foi por isso que interveio.

— Sim e não. Eu conheço todas as possibilidades. E em todas, aquelas crianças irão sofrer. Talvez seja por isso…

— Ah… você anda extremamente sentimentalista, Nyele. Infelizmente, sabe muito bem que suas ações não farão diferença alguma. Porque está nas mãos deles. Precisa manter isso na cabeça, para não ficar frustrada.

Nyele ergueu seus olhos do tabuleiro por um instante para observá-lo. Logo, abriu um sorriso um tanto quanto sarcástico. — Eu já sou completamente frustrada… — Recostou-se na poltrona, fazendo um gesto em direção ao jogo. — É sua vez.

oOo

Eles recomeçaram a caminhada no dia seguinte. Selene não havia retornado, e esperavam que esta alcançasse-os em algum ponto do caminho. Nyx parecia ter voltado ao seu autocontrole original, andando friamente e sem disposição para falar muito. Skylar guiava o grupo, ainda parecendo ligeiramente enfezado, o que acabou sumindo quando ele parou de andar e apontou adiante. Cortando a planície que agora cruzavam, haviam montanhas, e o caminho descia até atingir um vale, onde havia um templo de proporções gigantescas encravado na rocha. As pedras que o montavam eram brancas e chegavam a brilhar quando o sol incidia diretamente sobre elas. Estavam cobertas de hera, contudo, e sua aparência geral era desleixada. Parecia que ninguém passava ali a séculos.

A grande porta que ali havia estava fechada e possivelmente trancada. Daquela distância já era óbvio que era feita de pedra também, o que tornava o arrombamento uma tarefa complicada. Gravor, que andava como sempre com o machado apoiado no ombro, franziu o cenho, olhando da lâmina para a porta e vice-versa. — Algo me diz que não vai dar pra entrar usando isso aqui.

— Eles não tinham um lugar melhor para erguer um santuário em nome da Deusa Irmã? — questionou Ryan, com visível descrença. — E olha que absurdo, está quase desfazendo. Parece que ninguém cuida desse lugar. Eles deveriam ter um pouco mais de carinho com essas coisas sagradas.

— Não acho que esteja abandonado. Caso contrário, outros já deveriam ter chegado a Etherea para contar a história. Vamos olhar mais de perto, talvez haja outra entrada.

— Hum… — a garota ajeitou a boina em sua cabeça, parecendo pensativa. Seus olhos correram em direção ao local desprotegido que iam ter de passar e teve um péssimo pressentimento. — Está fácil demais…

— Só precisamos tomar cuidado. — Gravor alegou, parecendo muito calmo. — Além do mais, somos três shifters e uma elemental.

— Teríamos mais uma se uma certa pessoa não tivesse causado problemas. — Sky revirou seu único olho e pôs-se a descer na direção do templo abandonado. — Mesmo assim, acho que somos o suficiente pra dar uma surra em qualquer um que aparecer.

— Ah… — ela apenas fez um grunhido com a boca e desceu atrás, retirando a tesoura enferrujada de dentro das vestes e girando-a entre os dedos. Seus movimentos só pararam quando um zumbido irritante chegou a seus ouvidos. Os quatro estacaram automaticamente, erguendo os olhos para a chuva de flechas negras que vinham em sua direção...


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Notas finais do capítulo

Yei! Vamos aos avisos. Acho que não tem muita coisa, mas enfim.
.
Chibi do Ryan... escolhi uma moldura terrível do chibi-maker nesse, mds, nada que eu jogava nele parecia dar certo . Mas parece que ficou fofinho no fim das contas. :3 Faltam mais uns dois para eu terminar, acho, e ai poderei postar as imagens novas. Muahhahaha Aguardem :v
.
Como devem ter imaginado, vou separar os capítulos novamente entre os grupos. Ou seja, o próximo vai pegar Lidrin, Trix, Frosty, Sean e Neco. Assim como o que vier depois será do Seguidores.
.
Alguém ai imaginou quem é o convidado de Nyele? Está muito fácil, nem preciso citar o nome dele para descobrirem. :p
.
Por hoje é só, pessoal. Se eu conseguir dar um jeito na minha vida volto a postar dois caps por semana, já que tem bastante coisa planejada por enquanto. Mas não prometo nada.
.
Kisses para vocês e até a próxima



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