Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 43
E mesmo que me afogue, um sonho ainda é apenas um sonho.


Notas iniciais do capítulo

Gente, minha empolgação com esse capítulo não tem limites! Algo me diz que irão gostar. Se não gostarem, vou lá chorar no cantinho da vergonha por dar falsas esperanças -q
Divirtam-se!



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Era um lugar cheio de névoa prateada, e ele se encontrava ali no meio.

Não havia nada abaixo.

Não havia nada acima.

Simplesmente não havia nada.

Apenas a névoa, uma existência sublime e pulsante, enervante. Cercando-o por todos os lados. Obstruindo sua visão.

O rapaz caminhou através daquilo tudo. Como se houvesse um lugar para onde ir, alguma forma de escapar. Ele não tinha um objetivo em mente, apenas andava. O incômodo começou a apertar o seu coração, e pôs-se a correr. Em direção a lugar nenhum, seus passos ecoavam no nada prateado que se ocupara de sua mente.

Inútil.

Uma alegação clara e límpida que chegava a seus ouvidos, numa voz feminina. Ele correu cada vez mais, até que sentiu o corpo desequilibrar. E caiu. Caiu por muito tempo, atravessando o ar. Cortando aquela imensidão branca. Parecia que a queda durara toda uma eternidade, antes que afundasse em um mar vermelho.

Agora, em sua visão, tudo era rubro. Aquela monocromia o incomodava. Lhe causava eterna repulsa. Dessa vez ele precisou livrar-se dela nadando. O líquido era gosmento e grudava em suas vestes brancas. Quando chegou a um lugar que parecia ser sólido e conseguiu içar-se, reparou que estava tingido de vermelho.

Como aquele dia…

O dia em que perdera sua família… só de lembrar-se dele, sua mente pareceu se afetar. A superfície em que subira era feita de vidro negro. Uma paisagem parecia sumir de vista, com a mesma aparência. Montanhas perfeitamente triangulares, pinheiros e árvores cortantes. Uma floresta de vidro, era o que via. Refletindo-se em cada canto, cenas de seu passado.

Ele viu mais uma vez seus pais caírem enquanto lutavam. E viu a si mesmo chorando com o corpo de uma garotinha nos braços, alguém que nunca pode sequer enterrar. Viu-se tendo que fugir para tentar salvar o que sobrara de seu povo. E precisou engolir a amargura por saber que, se estivesse por perto de sua família quando a invasão ocorreu, poderia tê-los salvo.

Havia mais cenas, envolvendo seu novo lar. Um amigo chegado, que ficara em seu lugar quando partira. Um elfo de longos cabelos loiros, pai de uma estranha garotinha. A mesma garota, agora crescida, ajoelhada com suas vestes sujas de sangue chorando… dizendo coisas desconexas.

— Ichabod… - Ele ouviu alguém chamá-lo, e teve o tronco envolvido por um par de braços finos. Lembrou-se porque odiava tanto esse nome, por lembrá-lo de tudo que queria esquecer. Virou a cabeça um pouco para o lado, tentando focalizar quem lhe abraçava. Era uma garota. Seus cabelos eram negros e compridos, o suficiente para rasparem no chão. Era baixa, com pele pálida e olhos escuros. Dois pares de asas de corvo surgiam dentre suas omoplatas, e eram tão grandes que, se fechasse-as, poderia embalar ambos. Parte de seu corpo era coberto pela mesma plumagem negra. A outra vestia uma armadura simples, prateada, que deixava muita pele a mostra.

Não é sua aparência real, foi o que veio em sua cabeça. Ainda mais quando reparou no que estava preso por sua mão livre. Um livro com capa de couro marrom e antiga. — O que quer de mim, Destiny?

A deusa sorriu, timidamente. Largou-o, afastando-se de seu corpo, mas pondo-se a rondá-lo, como se fosse um espécime muito interessante. Os cabelos raspavam no chão de vidro, assim com a ponta das asas. Por estar descalça, as vezes acabava cortando-se, deixando pegadas de sangue atrás de si. No entanto, isso não parecia incomodá-la.

— Eu só estava interessada. Em ver como o novo líder da JusticeBlade está se saindo.

— Pensei que isso fosse obra sua…

— Não, de forma alguma. Interferiram nos meus planos. Mas isso não mudará nada, veja bem… — ela saltou para frente, parando bem perto dele, e abrindo um sorriso divertido. Sua posição assemelhava-se bastante a uma mesura. — Ah, eu posso ver daqui… o quanto isso está te custando. Não podes nem ao menos passar a liderança adiante, que irmãzinha egoísta você foi arranjar!

Ele mordeu o lábio inferior. Seu olhar, normalmente calmo e gentil, estava frio.

— Não vai responder? Talvez esteja realmente zangado, afinal. — Ela inclinou a cabeça – como se fosse realmente um corvo – e tocou-o com o dedo indicador, na altura do peito. —Ei, Ichabod… sua atitude protetora é realmente muito tocante, mas sabe de uma coisa…?

— Não… eu não sei absolutamente nada… — ele respondeu, sinceramente. Aquela garota o irritava de uma forma intensa. Afinal, se não fosse por ela… se não fosse os destinos que ela traçava, as coisas podiam ter sido completamente diferentes.

— Uh! Deixe-me dizer uma coisa, deverias me agradecer. Se não fosse por mim, não estarias onde está hoje. — ela voltou a contorná-lo, dessa vez parando atrás dele.

— Você fez com que minha família morresse, não sei porque eu deveria agradecer…

— Ora… eu me pergunto como seria… se eles continuassem vivos, mesmo que ainda tivesse ido para o Vale das Estrelas… eu me questiono se, caso estivessem vivos, caso não tivesse perdido sua irmãzinha mais nova, teria sequer olhado para aquela mestiça.

Essa ideia fez com que ele arregalasse os olhos, girando nos calcanhares, em um estado de nervos que beirava o pânico. Ela não estava mais lá. Não estava em lugar nenhum. Mas a voz ainda chegava a seus ouvidos.

— Sua solidão que lhe aproximou de Nyx, e sabe muito bem disso. Foi seu desejo de tentar resolver as coisas que o levou a ficar com ela por tanto tempo. Caso contrário… caso contrário, aquela criança nunca teria tido ninguém além do pai, e quando esse se foi, ela teria caído no mais profundo abismo. — a voz vinha agora de sua direita. Virou-se, mas não encontrou nada naquela direção, novamente. —Eu o lapidei para ser o que é hoje. Eu coloquei aquela elfa das chamas que tanto ama em seu caminho. Eu lhe tirei uma família, mas dei outra no lugar. Lhe ofereci pessoas que pudesse proteger, para manter o seu ego.

— Está errada. Não seria assim! — ele deixou-se cair ajoelhado no chão, tentando tampar os ouvidos, para manter aquela voz longe deles. Mas era inútil. Ela falava, e falava, e parecia profetizar dentro da sua cabeça, causando-lhe uma dor aguda.

— Você sabe que seria, não adianta mentir para si mesmo. Eu vou lhe dar outro aviso, pequeno elfo… e não se esqueça dele, desta vez. — A deusa segurou-o pelos cabelos, puxando sua cabeça para trás, forçando-o a encará-la. Abaixou-se, de maneira que seus lábios cheios tocassem os dele. Isso durou relativamente pouco, até que ela voltasse a falar novamente. — Pode até proteger a todos, “Frosty”. Mas nesse caso… quem protegerá você?

E dizendo isso, ela sorriu, e fez seu próprio braço atravessar o corpo dele, na altura do coração…

Frosty abriu os olhos, com a respiração acelerada e suando frio. Levou a mão ao peito, sentindo uma dor esquisita no local, mas esta felizmente não durou muito. Sua cabeça, no entanto, ainda parecia prestes a explodir. Como se enfiassem milhares de alfinetes entre seus olhos e o nariz. Ele pressionou o local dolorido com os dedos, esperando que a dor passasse. Obviamente, não resolveu nada.

Ele tinha certeza que havia sonhado com algo terrível, mas não se lembrava exatamente como fora. Em sua cabeça, via branco, vermelho e negro… depois alguém o atingia no coração. A única coisa mais concreta era aquela frase, que preferia não ter lembrado.

Pode até proteger a todos, “Frosty”. Mas nesse caso… quem protegerá você?

Quem disse aquilo? Seus pensamentos pararam com a aproximação de Neco, ela parecia visivelmente preocupada. Sentou-se em frente a ele, oferecendo algo que parecia um cantil com água. — Está se sentindo bem? Você parece pálido. E estava… murmurando durante o sono.

— Ha… eu estou bem, não precisa se preocupar. — ele forçou um sorriso, pegando o cantil e virando-o para beber um pouco de água. — Murmurando? É sério?

— Sim. Algo como “está errada” e “a culpa não foi minha”. — ela parecia ainda mais descrente da situação dele depois de ver seu sorriso.

— Ah… foi apenas um pesadelo, nada demais. — descansou a mão sobre os cabelos dela, afagando-os gentilmente. — Pode voltar a dormir…

— Frosty… o sol vai nascer daqui a pouco… já está na hora de levantarmos.

Uma expressão surpresa passou por seu rosto. Ele não notara a claridade… era como se ainda estivesse sonhando. Balançou a cabeça de um lado para o outro, voltando sua atenção para o horizonte. A fina linha luminosa começava a tingir o céu, demonstrando que dia estava prestes a iniciar-se. Ele colocou uma mão sobre o ombro, de maneira que conseguisse massageá-lo, afinal havia dormido em uma péssima posição, e o local estava levemente dormente. Abaixou a cabeça, de maneira que tampasse seu rosto, usando os movimentos relaxantes como desculpa. — Faça-me um favor, Neco, acorde os outros para mim, tudo bem?

Ela uniu as sobrancelhas, mordendo o lábio inferior com cuidado. Estava entre ir e ficar, mas por algum motivo decidiu que obedecer seria melhor, então afastou-se. Contudo, ainda foi capaz de ouvir um outro murmúrio baixo vindo dos lábios de Frosty, em sugestão de dúvida.

— Ninguém irá…?

Ficou tentada a perguntar, mas controlou-se, andando mais um pouco e cutucando mansamente Sean. Esse abriu os olhos tão rápido que acabou assustando-a. — O que…?

— Já é hora de levantar. — Ela respondeu, levando a mão ao peito, tentando fazer sua respiração voltar ao normal. — Estou indo despertar os outros, enquanto isso prepare algo para comermos, sim?

O rapaz assentiu caladamente, sentando-se num movimento só e bocejando. A tatuagem em seu braço era visível, e Neco fixou seus olhos nela por alguns segundos. Não havia reparado na mesma antes. Desde que as duas equipes haviam se juntado, o que lhe oferecia motivos para prestar atenção de fato nele, o rapaz utilizava roupas de manga comprida, que tampavam o símbolo completamente.

— O que foi? Algo errado?

— Não… não, estava apenas olhando sua… marca… bom, eu já volto. — ela deu meia volta e praticamente correu dali, o que fez o shifter estreitar os olhos, absolutamente confuso. Deu de ombros, contudo, pensando no que faria para quebrar o desjejum.

Lidrin e Trixia já haviam acordado, e no exato momento um encarava o outro, fixamente. Sem nem piscar. Neco parou, observando aquilo, sem entender droga nenhuma. Depois de alguns segundos, viu a garota começar a fazer uma careta e logo levar a mão a boca, rindo.

— Haha! Ganhei de novo! — O djinn bateu as mãos uma na outra, claramente contente, enquanto Trixia tentava parar de gargalhar.

— Droga, você está roubando!

— Eu não estou coisa nenhuma. E você que fica tentando fazer caretas para me distrair?

— Ah! Mas você não precisa disso, sua cara já é engraçada normalmente.

— Er… vocês estão fazendo exatamente o quê? — questionou Neco, olhando de um para o outro, parando com isso a pequena discussão que havia iniciado-se.

— Estamos brincando. — respondeu prontamente Lidrin, levantando dois dedos da mão, em forma de “v”.

— Sim… nos encaramos e o primeiro que rir perde. Quer tentar? — Trixia, perguntou, enquanto mantinha uma mão pressionada no estômago.

Neco voltou a observá-los, silenciosamente, e logo abanou a cabeça, acenando para ambos. — Hum, não, obrigada. Apenas se aprontem para comer algo daqui a pouco, acho que já vamos partir.

— Nossa, cedo assim?

— É… o Frosty está meio… estranho. — ela fez uma careta, coçando a bochecha, enquanto voltava a se afastar. Depois de dar alguns passos, uniu as sobrancelhas, questionando-se por que todo mundo parecia estranho naquele dia.

— Ah… — Lidrin suspirou, levantando-se e batendo a poeira de suas vestes. — Eu compreendo o fato dele estar assim, depois do que nos contou ontem…

— Ele é o novo líder dos JusticeBlades, certo? — ela estendeu uma mão para que o djinn segura-se, e assim pudesse ajudá-la a se levantar. Feito isso, também começou a ajeitar-se. — Não entendo todo o drama que estão fazendo em torno disso. É apenas um título, não?

— É um pouco mais complicado que isso. Como posso dizer? O Frosty é… meio complexado com essa história de liderança. Ele é um Príncipe, sabe…

— Não brinca… — Trixia havia catado algumas mexas do cabelo verde do djinn para trançá-las. — Tipo… ele não parece muito com um.

— Nem de longe… de qualquer forma, ele abdicou do trono a alguns anos. Acho que… ele quer evitar responsabilidades, afinal muitas coisas ruins aconteceram a ele enquanto mantinha o título real élfico.

— Entendo… — ela terminou uma das tranças da frente e começou a trançar mexas do outro lado. — Quero dizer… um pouco pelo menos. Parece um pouco… solitário.

— Ninguém consegue suportar a solidão por muito tempo. Alguns enlouquecem, outros definham, e os últimos quebram. Olhando por esse lado, creio que sou o único integrante da JusticeBlade que foge a regra.

— Não sabia que tinha uma regra… — ela fez um biquinho, pensativa.

— Não é bem uma… — ele jogou os cabelos para trás, balançando a cabeça de um lado para o outro, espalhando-os e misturando-os as tranças que ela acabara de lhe fazer. — Como posso dizer? Eles só tem uns aos outros. Suas famílias foram perdidas em algum momento, ou simplesmente não ligam se estão vivos ou mortos, então… arrisco dizer que foi a solidão que os uniu… assim como alguns de vocês, BeastHunters, também não tem outro lugar para onde ir.

Trixia ficou em silêncio por mais alguns segundos, saboreando lentamente aquelas palavras. E se sua família não existisse mais, se sua mãe tivesse morrido durante o Baile de Máscaras, se seu pai e seu irmão tivessem se perdido… o que ela faria? Ela, que sentira a fúria devorá-la por ver o estado em que sua mãe estava na última vez que voltara para casa.

Não saberia se conseguiria sorrir de novo se algo assim acontecesse. No fundo, admirava a força de vontade que tanto Ryan quanto Sean tinham, pois nenhum dos dois possuía família. O próprio Skylar parecia ter um passado nebuloso, que nunca contara para eles. E Gravor… Gravor parecia sentir saudades de casa as vezes… Era com ele que ela se identificava mais, embora não admitisse isso.

— Verdade… você é diferente deles. Afinal ainda tem sua mãe e o Yan…

— E você também! — ele abriu os braços e esmagou-a num abraço de urso, onde ela tinha que se esforçar pra conseguir respirar.

— N… Não respiro…

— Oh, perdão! — afrouxou um pouco o abraço, mas não soltou-a completamente. Deixou que ela aninha-se sua cabeça em seu peito, e passou a brincar com seus cabelos negros, enrolando-os em toda a sua extensão. — Mas… eu compreendo o bastante do desespero deles, por ter perdido alguém…

— Por causa do seu pai? A vozinha dela saiu abafada, por ainda estar com o rosto apoiado em seu peito.

— Não… — ele uniu as sobrancelhas.

— Então quem…?

Lidrin soltou-a do abraço, colocando o dedo indicador em seu nariz. — Se-gre-do! Agora vamos comer, estou com fome. — Girou nos calcanhares, jogando os braços para cima e entrelaçando seus dedos abaixo da própria nuca.

— E.. ei, isso não é resposta! — ela sentiu um certo rubor tomar suas bochechas, e logo saiu atrás dele. — Você só pensa em comer? Francamente!

— Errado! Eu penso em comer e dormir!

— Parece um bichinho de estimação.

— Ora, então me adote de uma vez…

— Quem sabe eu não faça isso mesmo.

Ele parou, olhando para ela, e vice-versa. No minuto seguinte, o ar sério passou com uma certa risada constrangida de ambos.

— Foi uma boa resposta, afinal.

— Sim, eu sou mestra nisso. — Trixia colocou ambas as mãos na cintura, fingindo uma expressão de superioridade. — Um reles djinn como você não pode rebater meus argumentos.

— Ha… certo, certo, você venceu. — Lidrin deixou os braços caírem novamente, deixando o que estava do lado dela numa posição acessível para que ela pudesse dar-lhe o braço…

oOo

Uma figura de aparência sombria espreitava, ansiosa, enquanto observava um espelho. Em vez de ter seu reflexo aparecendo do outro lado, ela podia ver um grupo de cinco viajantes, que se preparavam para adentrar seus domínios. Eles mal sabiam, mal imaginavam que estavam tão abaixo dela. Será que não conseguiam ver? Ou ao menos sentir, o poder da destruição fluindo por seus poros?

Pobres crianças… tolas almas, que acreditavam que a missão seria tão simples, e podiam ficar rindo e se divertindo. Ela estava incomodada com o fato de não terem visto-a ainda… a sua ilha flutuante, normalmente ocultada por magia… mas havia apenas uma forma, uma dica para saberem sua localização. Se perdessem-na, continuariam andando até o fim do mundo, e nunca a encontrariam.

Aquela que os observava saltou do assento em que estava sentada e pisou no chão, rodopiando, fazendo seu corpo franzino girar e girar, por um longo tempo. Ela tinha razão para estar empolgada… gostava de brincar. E há anos, não havia uma alma viva para visitá-la. Os últimos perderam a sanidade com tanta facilidade, não tivera graça nenhuma!

Ao fundo, podia ser ouvido o som de uma flauta ou algo bem parecido, que às vezes criava uma melodia até mesmo agradável, e os giros que aquele ser dava acabaram virando passos de dança. Enquanto ficava nas pontas dos pés e ora saltava, ora girava, ela cantava baixinho para si mesma. Seus braços, absolutamente finos e delicados, estenderam-se para que ela pudesse pegar um bibelô. Trouxe-o para mais perto.

Ela sorriu para aquele crânio que um dia tinha pertencido a um ser vivente, e aproximou-o do seu rosto, de maneira que ficasse virado em direção ao espelho. Parara seus movimentos, então. O sorriso em seu rosto alargou-se, e naquela posição, ela parecia querer que a caveira observa-se a mesma coisa que ela.

— Você consegue ver, não é? Teremos visitas! — ela atirou o crânio para cima, voltando a segurá-lo, dessa vez mantendo-o virado ao contrário. E riu… uma risada límpida e infantil, como uma criança que acaba de ganhar um brinquedo novo. — Ah… finalmente, depois de todos esses anos… eu poderei me divertir um pouco!

oOo

Eles já haviam voltado a caminhar fazia um tempo. O sol não estava tão quente quanto os últimos dias, mas ainda incomodava bastante. O céu estava azul, limpo, sem nuvens. Agora estavam em campo aberto, e só havia grama, nada de árvores ou montanhas. Era só uma extensa planície.

— Ahn… eu queria uma sombra… realmente. — protestou na sua voz rouca Neco, enquanto cambaleava de um lado para o outro. A aura que Frosty tinha ao seu redor geralmente era bem fria, mas por algum motivo ele não estava mantendo-a por muito tempo. Talvez estivesse apenas poupando forças para a batalha que viria.

— Logo acharemos uma, tenham um pouco de paciência. — o elfo disse, calmamente, enquanto evitava de olhar na direção do sol. A claridade não ajudava em nada sua dor de cabeça.

— Frosty… — chamou Trixia. O elfo parou por alguns instantes, levando a mão a testa para cobrir os olhos e observando-a. Aquele habitual sorriso um tanto quanto mais forçado que o normal em sua face.

— Diga…

A shifter franziu o cenho, esquecendo-se temporariamente do que ia perguntar. — É sério… pare de forçar esse sorriso, está parecendo um serial killer.

— Sinto muito.

— Você não precisa sorrir para a gente se não está com vontade. Não precisa fingir. Apenas fique no seu canto, se quiser. Nós vamos apoiá-lo, afinal está conosco. — As palavras dela soaram perfeitamente compreensíveis, e dessa vez ele abriu um sorriso simples, mas verdadeiro.

— Certo… a senhorita tem razão, afinal.

— Você chamou-o só para passar um sermão? Tsc, tsc, tsc… — Lidrin balançou a cabeça brevemente, ajeitando uma boina sobre os cabelos, para que os raios solares não o atrapalhassem.

— Na verdade… o que eu ia dizer… — ela apontou para frente. Bem mais para frente. Ali havia uma sombra.

Não é preciso dizer que houve uma certa correria e atropelamento para chegar naquele local. Frosty foi o último a se aproximar, olhando fixamente para a cima. Algo havia chamado sua atenção, porque parara de andar e seus olhos pareciam fixos. Depois fez o caminho da sombra para cima algumas vezes com eles. — Bem… como dizer isso? Ou estamos vendo uma miragem, o que não faz sentido nenhum… ou estamos sofrendo de alucinação coletiva…

— Ou… — continuou Sean, olhando para cima também. — Encontramos o local.

De fato não havia nada acima deles para fazer aquela sombra. Absolutamente nada. Trixia levantou-se, procurando por seu arco e flechas e mirando na direção que deveria estar o objeto responsável por conter a luz solar. Ela atirou, mas a flecha subiu pouco, fez uma curva no ar e acabou descendo novamente. — Está muito alto.

— Neco, consegue nos levantar um pouco? — Perguntou Frosty. A pequena acenou com a cabeça, e quando ia fazer um movimento, ele parou-a com um gesto. — Gentilmente. Certo?

— Certo… segurem-se. — ela voltou a mover-se, abrindo a mão completamente e levantando-a muito lentamente. A terra abaixo deles tremeu um pouco, antes de começar a se erguer também, cada vez mais alto. A elfa mal tirava seus olhos da mão, respirando profundamente, tentando manter o controle. Depois de atingida uma certa altura, Lidrin tateou o ar, ficando na ponta dos pés até que conseguisse tocar algo sólido. Ele apalpou por um tempo, e espalmou a mão completamente naquela superfície.

— Revele-se!

Foi como se algo corroesse aquela perfeição límpida do céu. A partir do ponto em que Lidrin tocara, foi se descortinando uma base metálica, e subindo cada vez mais. Uma ilha inteira foi se mostrando diante dos olhos deles. Árvores, flores, terra, e muitas outras coisas que não podiam observar da posição em que estavam. Para ter uma ideia mais precisa do que enfrentariam, deveriam subir nela. Mas isso era tarefa fácil. Era uma sorte o céu estar desprovido de nuvens naquele dia, ou a sombra passaria despercebida.

Eles não podiam ficar totalmente felizes, contudo… muito menos relaxados. Afinal, o pior ainda estava por vir…


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Notas finais do capítulo

Yeiiiii! Sim, estou empolgada, mil vezes empolgada, CdP está sendo minha inspiração eterna de vida nos últimos dias, tanto que mal consigo escrever as outras fics... Enma e Koke que sabem.
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Enfim... chibi do Sean! Marrentinho pra caramba, mas continua sendo um amor. Falta apenas mais uma chibi - a Anne - para minhas imagens acabarem e... haha, surpresa modafucka. Não vou dizer. Espero que gostem, no entanto.
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A frase que o Frosty murmura no final da conversa com a Neco é referente a frase do sonho. Sei lá, vai que alguém não entendeu, é sempre bom avisar q
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Não vou nem perguntar se descobriram quem é a moça doida que apareceu. Sim, é a guardiã da Chave, e sim, preparem-se porque tanto esse grupo quanto os SdP vão sofrer na mão dela.
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Eu acho que é só isso de aviso, não me lembro mais de nenhum, pra variar -q
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Kisses para vocês e até mais