Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 41
Recordações de um Condenado 02


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu fiquei tão empolgada com isso aqui que deixei pra postar hoje mesmo. Quem precisa de esperar mais um dia? Eu que não :v
Okay, algo me diz que vão gostar muito desse capítulo (se não gostarem, eu vou lá chorar debaixo da ponte)
.
Boa leitura!



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E de que me serve a paz, se em meu sangue corre o mal?

Atentem-se, eu contarei uma história… ela diz respeito a um dos Heróis que foram responsáveis por aprisionar Pesadelo. Um amaldiçoado, servo de Hildin, a Traição.

Seu nome era Loke…

Seu pai era um dos inúmeros servos do Pesadelo, alguém que tinha admiração sem tamanho por seu poder de destruição. Naquela época, Meroé estava mergulhada em caos, desesperadamente lutando para sobreviver. Haviam pessoas, contudo, que tentavam fazer a paz voltar àquelas terras. Escolhidos pelos deuses, tanto amaldiçoados quanto abençoados deixaram suas diferenças de lado, e uniram-se para acabar com a tirania daquele que julgava-se, também, um deus.

O grupo principal era composto das mais diferentes personalidades:

Havia Shakrat, um abençoado por Seamus, com um raro poder de ressurreição, o que, sem dúvida, foi fundamental para o desfecho da batalha; Samira, a personificação viva do Amor, que podia mudar sua forma para o ser amado da pessoa que a observava; Sophia, a amaldiçoada por Zereff, cujo poder envolvia trazer à tona o pior medo de qualquer um, entrando em sua mente e fazendo a vítima acreditar que estava presa em um pesadelo sem fim; Nicolaus, um servo da Esperança, que podia dar vida a objetos inanimados; Nyele, filha da Razão, que tinha a capacidade de guardar cada uma de suas memórias e prever o futuro…

E por fim Loke, com o poder das sombras e da manipulação.

Dizem que foi sua manipulação que enganou Pesadelo por tempo suficiente para jogá-lo em seu cárcere. Contudo, essa foi a última atitude benevolente que fez em sua vida. Com o maior vilão de todos os tempos aprisionado, foi necessário que os seis heróis se sacrificassem uma vez mais, e só nesse instante os deuses desceram mais uma vez ao mundo material para darem suas futuras funções.

A Shakrat foi dada a guarda da Chave Principado do Fogo: ele viu o mundo que conhecia mudar diante de seus olhos, enquanto ficava preso dentro de um vulcão. E sua fé por Meroé perdeu-se. Sua relíquia agora está com os Relicários.

Samira ficou responsável pela Chave da Água: apenas quem fosse merecedor poderia pegá-la. Infelizmente, o objeto sagrado foi recolhido por um dos Seguidores do Pesadelo, o que acarretou várias catástrofes.

Sophia aceitou seu papel como portadora do Vento: agora ela espera, ansiosa, pelo próximo idiota que vai tentar tirar a Chave dela.

Nicolaus ficara com a Chave do Metal: não teve-se mais notícias dele desde então, só quem conhece seu paradeiro é Nyele.

Nyele tornou-se a guardiã da verdade, aquela que Sabia de Tudo. No entanto, foi fadada a nunca sair de sua mansão. Nos primeiros anos, quando tentava tal coisa, via-se presa num labirinto, que sempre a levava para dentro. Com o tempo, ela parou de se importar. Sua única companhia frequente é um rapaz de cabelos negros e olhos vermelhos que, pelo menos uma vez na semana, vai visitá-la, normalmente para jogar xadrez.

Loke ficara com a Chave da Terra: por não ter aguentado a solidão ou simplesmente por ter o instinto traidor de Hildin correndo em suas veias, ele meramente abandonou seu posto depois dos primeiros anos. Ele teve um filho, que herdou seus poderes, o que era algo raro. Os amaldiçoados não costumavam se afiliar a ninguém, não formavam laços e muito dificilmente optavam por terem crianças, pois sua personalidade tendia a ser ruim. Os poucos que nasciam com bondade no coração eram forçados a controlarem seus sentimentos, pois seus poderes tinham tendência caótica, destrutiva. Como formar uma família nessas condições? Era muito difícil.

O homem, por incrível que possa parecer, era um desses últimos. Quando seus poderes ameaçaram tirar seu controle, ele abandonou tudo e simplesmente sumiu. Já havia deixado para trás um dos artefatos mais importantes do mundo, e agora sua família. Ele, no fim, era apenas um covarde. Um covarde envolvido em uma situação muito maior que ele. E sua renúncia também teria consequências desastrosas.

Sua prole era o completo oposto dele. Loke Jason Colins IV (como fora chamado, em homenagem à distinta família que fazia parte, e ao pai, e avô, e mais um ancestral que vivera muitos anos antes), nascera para ser mal. Ele simplesmente nunca lutara contra aquilo, contra a maldição que crescia dentro de si. Nunca negou Hildin, seu patrono, e se vangloriava disso. Desenvolveu uma inteligência brilhante, capaz de juntar fatos como se fossem peças de um enorme quebra-cabeça, cujo qual montava por mera diversão.

Aquilo era seu lazer. Com 16 anos, ele já sabia a localização da Chave Principado da Terra, com base no que seu pai lhe contava quando era mais novo. Por mais vazio que Loke fosse por dentro, incapaz de amar alguém, fosse sua mãe ou qualquer outra pessoa, ele parecia ter um ódio mortífero pelo progenitor. Sua covardia o irritava mais do que o fato de tê-los abandonado. O pai era um amaldiçoado, alguém poderoso, poderia fazer tantas coisas! E no fim tivera medo de usar esse poder e se escondera em algum canto remoto e escuro.

Patético.

Ele não seria assim. Ele veria aquele mundo ridículo sangrar novamente. Afinal, por ser um amaldiçoado padrão, não havia nada mais reconfortante que ver as almas sofrendo e desesperadas, o sangue tingindo a terra, os corpos apodrecendo e sendo devorados por corvos. Loke era assim. Sádico e vazio, apesar de suas maneiras simpáticas e calorosas. Ele sabia enganar, ludibriar, seduzir. Um enganador nato.

Nessa época ele já havia decidido sair de casa, deixando a mãe para trás. Desde então se envolvera em inúmeras missões para aqueles que estavam do mesmo lado que ele. Matando, enganando e traindo, construiu lentamente um trono de vítimas para repousar. Quando trabalhava para alguém benigno geralmente apunhalava-o pelas costas no fim. A única missão que realizara a contento para um ser “do bem” fora aquela que lhe garantira a parceria com o Durehan.

Pouco depois, Liam foi procurá-lo. Ele aceitou a proposta de imediato. Quem melhor para levar a loucura ao mundo do que o próprio Pesadelo? Aquilo seria perfeito. Enquanto o grupo atual de Seguidores do Pesadelo era reunido, Loke esperou. E esperou, pacientemente.

— Eu recebi informações sobre a localização da Chave da Água. — Alegara Liam, certo dia, no esconderijo que ficava em Hathea. A manipulação mental dele tinha sido essencial para que conseguissem tal moradia, assim como extorsão do antigo proprietário, das lojas responsáveis pela mobília e do mago que fizera o selo em sua entrada para torná-la inacessível aos civis.

Aquele comentário fizera Loke sorrir. Eram ouvidos os xingamentos e barulhos do cômodo adjacente, onde – para variar – Kenai e Lyla estavam brigando, tentando se matar. O rapaz não lhes dava a menor atenção, aquilo já havia virado rotina. — É melhor separamos esses dois por enquanto, não acha?

— Sim. Do jeito que as coisas estão, eles podem estragar tudo.

— Eu ficarei… tenho algumas informações sobre o paradeiro da Chave da Terra, e é por essas bandas. — Uma grande mentira. Ele já sabia do lugar exato a bastante tempo. — Quem gostaria de levar com você?

— Nenhum dos dois. — o outro resmungou, tirando os óculos para limpá-los, e logo os recolocando. — Mas como não há outra forma e vou precisar de ajuda… acho que fico com o Mokolé.

— Que seja… eu manterei aquela garota comigo. — Loke estalou a língua. Se ela fosse uma mulher comum, possivelmente ficaria mais animado, mas Lyla deixara claro desde o primeiro instante que gostava de garotas. Isso havia sido uma enorme frustração num primeiro instante. Por que Liam não podia ter recrutado uma garota que fosse bonita e hétero? — Boa sorte com o brutamonte.

— Não acho que você esteja numa situação melhor que a minha.

— Não estou, mas no plano que imaginei não precisarei da ajuda dela, então ganho mais alguns dias de sanidade. — Loke estalou o pescoço, jogando a cabeça para um dos lados. — Vou começar aproximando-me da Lady Saint Ignis, creio que seja um ótimo disfarce.

— Você quer apenas alguém pra levar pra cama. — Liam revirou seus olhos, estalando a língua em desaprovação. — Tsc, tsc, tsc.

— Isso também, obviamente… — Ele abriu um sorriso maroto, enquanto batia levemente seu copo contra o que o parceiro segurava. — Um brinde ao caos.

— Um brinde a Pesadelo.

oOo

Hathea, mansão dos Saint Ignis.

— Lady Meredith… há um homem lá em baixo querendo falar com a senhora.

A voz da empregada fez com que Meredith de Saint Ignis ergue-se os olhos escuros como abismos do documento que redigia. Pregou-os na moça, uma criatura mirrada e de cabeça baixa, com as típicas roupas serviçais, um vestido comum e cinza. Ela parecia tremer de leve, e quem olhasse diretamente para as suas mãos – juntas e entrelaçadas naquele momento – poderia notar a falta de um dedo.

— Quem é?

— Na… não sei, milady. Ele não quis se identificar.

Meredith endireitou-se em sua escrivaninha, com um olhar que sugeria uma raiva contida. Seu dedo indicador bateu algumas vezes na mesa, como se ela estivesse em dúvida do que fazer. E então, finalmente ordenou:

— Deixe-o subir. E Griselda… — A moça parou exatamente onde estava, preparava-se para virar as costas nesse exato instante. — … Se acontecer de ser alguém inútil ou irritante, vais perder outro dedo…

A criada engoliu em seco, abaixando ainda mais a cabeça e murmurando um “sim senhora” quase desesperado, deixando a sala logo após. Meredith pareceu abrir um sorriso sádico depois disso. Ela começava a se questionar quem era o homem estranho querendo falar-lhe. Não precisou esperar muito, e ouviu batidas na porta.

— Entre.

A porta abriu-se novamente, e atrás da mesma estava um rapaz de alta estatura e cabelos curtos, quase brancos. Havia um cigarro em seus lábios, e seus olhos eram de um castanho extremamente claro. Algo naquele rosto pareceu-lhe claramente familiar, mas a mulher apenas simulou um sorriso e fez sinal para que o homem entrasse. Este fez o que lhe foi pedido, fechando a porta atrás de si e puxando uma poltrona para sentar-se em frente a ela, apenas deixando o móvel entre ambos.

— Então… em que posso ajudá-lo?

— Na realidade, milady, eu vim para ajudá-la.

— Deveras? — Ela ergueu uma sobrancelha, empurrando com um movimento delicado o cinzeiro em direção a ele.

— Sim. Soube que está a procura da JusticeBlade… a gangue de sua filha.

Essa frase fez com que Meredith fecha-se sua expressão de maneira tão desagradável que o visitante afastou-se por precaução. — Senhor, eu prefiro não ser lembrada do que aquela pirralha pródiga fez.

— Oh… deve ser tão difícil para a senhorita, ver a criança que criou com tanto amor e carinho se tornando um monstro na frente de todos, cometendo aquela brutal atrocidade, em plena Noite das Máscaras! — Ele levou uma mão ao peito, parecia genuinamente inconformado, quase penalizado pela situação daquela mulher.

A resposta dela foi uma risada. Uma risada estridente, parecia que aquela afirmação tinha divertido-a bastante. Ela focou seus olhos escuros no rosto dele e sorriu, como um predador. — Aquela criança ficou até os dez anos trancafiada numa masmorra, sem que o sol, a lua ou as estrelas pudessem vê-la. O máximo que fiz questão de dar àquela aberração foi uma educação decente e livros. Mesmo assim porque a existência dela que me fez chegar aonde estou hoje. Mas sabes muito bem disso, não é mesmo, Edgar… ou melhor, Loke.

Dessa vez foi ele que riu. Levou uma das mãos ao rosto, percorrendo-o e puxando seus cabelos para trás. — A milady é extremamente perceptiva! E eu só sei disso porque me contas-te, é claro. Embora eu me pergunte bem lá no fundo, se… — ele largou os cotovelos em cima da mesa, tirando o cigarro e enfiando-o no cinzeiro, enquanto abaixava o tronco, de maneira que ficasse ainda mais perto dela. — … você não trancou ela lá embaixo por pura raiva, dela ter recebido um dom muito melhor que o seu.

Os lábios da mulher se franziram, uma expressão irritada – ainda mais que a anterior – tomou seu rosto pela segunda vez. — Está imaginando coisas, Loke. De qualquer forma, a vida de um amaldiçoado não é nada fácil… nós dois sabemos muito bem disso.

— Claro que não… nós dois somos amantes do caos. Ela se intitula servidora da Justiça. Coisas como ela sofrem muito mais.

— Imagino que não foi pra debater isso que ousas-te voltar aqui, depois do escândalo que causou.

— De fato, não. Eu sei para onde a sua filha está se dirigindo agora.

Dessa vez, ele não estava blefando. Era óbvio que Destiny estava interferindo à favor dos Relicários, num primeiro momento, o que explicava o fato deles estarem juntos. Havia acontecido alguma coisa entre o Baile de Máscaras e o encontro com Shakrat, algo que revelara a verdadeira identidade dos shifters e dos elementais. Ele não tinha ideia do que era, mas isso não importava. Agora seu lado estava com uma visível desvantagem numérica, para não falar do fato deles estarem procurando as Chaves também, o que lhe tirava tempo.

Havia descoberto que o grupo se separara novamente, pois Nyx e Selene foram vistas com três dos shifters - os quais ele identificou como Skylar, o líder, Gravor e Ryan - indo na direção do Principado de Path. E ele já tinha uma ideia pré-definida do que havia lá, depois de debater bastante com Liam. Havia Etherea, e sabendo que os JusticeBlades ainda deveriam sentir a falta da quinta integrante, aquilo fazia todo sentido.

O outro grupo não fora visto, mas a corrida contra o tempo era uma realidade tanto dos Seguidores quanto dos Relicários. A nova pista deixada pelo Pesadelo na mente de Liam apontava para Porto Pedras, e era naquela direção que os remanescentes deveriam ter partido. Loke decidira dar um fim naquela palhaçada naquele mesmo instante. Os outros três pegariam a Chave, como o combinado. A ele caberia a missão de arranjar algo – qualquer coisa – que pudesse atrasar ou até mesmo matar o segundo grupo, fazendo as forças se equilibrarem novamente.

Era por isso que estava ali. Quem melhor para ajudá-lo do que Meredith, serva da Ganância, cujo ódio pela filha ultrapassava os limites? Ela tinha contatos, tinha meios, tinha tudo! Uma perfeita alpinista social dissimulada e sádica. Óbvio, corria o risco de ser exposto por ela quando descobrisse sua identidade – e ela sem dúvida descobriria, sendo quem era – mas ele sabia como convencê-la.

Os olhos dela, realmente, pareciam cravados nele, poderia jurar que ela estava ansiosa naquele instante. O silêncio foi quebrado por sua voz melodiosa. — Onde?

— Agora está em Sidnary. Seguindo em direção ao Principado de Path.

— O que aquela idiota está fazendo lá?

Ele deu de ombros, fingindo que não sabia a verdadeira razão. Aliás, Loke só tinha hipóteses a seu favor naquele momento, então não poderia responder de qualquer forma. — Quem sabe… o que sei é que milady não perderia absolutamente nada mandando alguém até lá para caçá-la. Afinal, ainda queres tirar a vida dela com suas próprias mãos, certo?

— Fu… — Ela assoprou uma mecha dos cabelos negros para tirá-la do rosto e encarou-o novamente, estreitando os olhos. Estava claramente imaginando o que faria a partir daquele momento. Descobriu que não tinha nada a perder. Absolutamente nada. — A elfa… aquela que chamam de Rainha de Copas, está com ela?

— Eu diria que sim.

Um sorriso largo surgiu no rosto dela. Imediatamente, pegou outro pergaminho e começou a escrever no mesmo, ignorando Loke por um tempo. Quando finalmente terminou, selou o documento e entregou-o, finalmente voltando a falar. — Entregue isso à Fiore, Rainha Élfica de Zaphiria. Ela com toda certeza irá ajudá-lo.

— De Zaphiria? Não é aquele povo que escraviza seus próprios irmãos?

— Sim. Exatamente. Eu tenho certeza absoluta que Fiore vai amar descobrir que encontramos a irmã bastarda dela.

— Ah…! Parece que tens muitas cartas na manga. Sabias disso a muito tempo?

— Meu caro Loke… pessoas como nós tem de manter-se informadas se quiserem sobreviver. — Ela segurou-o pelo queixo. Suas unhas cortaram a pele daquele rosto, mas o rapaz não parecia ligar. — O que posso dizer? Esse mundo já apodreceu. Nós já vencemos, eles que ainda não perceberam. — Soltou-o, voltando a recostar-se em seu confortável assento. — Não digo que apoio nem rejeito sua ideia de trazer Pesadelo de volta, só afirmo que é um esforço vão. Os habitantes de Meroé já chegaram ao ponto de matarem a si mesmos por futilidade.

— As coisas ficarão muito mais interessantes quando ele estiver desperto. Tu verás. — Ele levantou-se, fazendo uma mesura e guardando a carta dentro do sobretudo que estava usando. — Agradeço a ajuda, milady.

— Não é nada de mais. Não é algo que possas jogar contra mim depois, não é mesmo? — E Meredith voltou a abrir aquele sorriso maníaco. Ela sabia com que estava lidando, afinal. Nunca deveria se confiar completamente no Mestre da Mentira.

— Muito sábio de sua parte. — Fez uma mesura e girou nos calcanhares, acenando para a mesma e saindo do aposento. Seus passos ecoaram pelo corredor extenso. Os olhos de Loke as vezes cruzavam com as empregadas, que rapidamente abaixavam a cabeça. Elas nunca o reconheceriam, depois que havia descolorido seu cabelo pela segunda vez. Aliás, não saberiam que era ele mesmo que mantivesse sua aparência normal.

Naquela residência o terror que a criadagem tinha de sua mestra era palpável. Notava-se pelas marcas de ferro, dedos faltando e cicatrizes expostas. Desde que os Saint Ignis originais faleceram de velhice, um pouco depois de Meredith dar a luz à filha, aquele lugar nunca mais fora o mesmo.

Isso não causava pena alguma a ele, como era de praxe, e Loke apenas fingia preocupação ou sorria calorosamente como sempre. Ele deixou a mansão com passos apressados, entrando na carruagem que havia alugado ao chegar à Hathea. Precisaria usar o Dorehan novamente, mas nunca o faria dentro daquele território, aquilo podia causar suspeitas. A distância da civilização era um fator necessário para invocá-lo. Enquanto fazia um sinal para o condutor partir, lançava seus olhos claros para o lado de fora.

Quase sentia pena de sacrificar Nyx daquele jeito. Quase… ele parecia ter desenvolvido algo por ela, nada relacionado a amor ou paixão – afinal ele não podia sentir tais coisas – mas algo como uma obsessão: a ideia de convertê-la para o seu lado era-lhe atraente. Apenas isso. Obviamente ele sempre haveria de tentar tal coisa, mas não iria encontrar-se diretamente com ela dessa vez. Simplesmente lavaria suas mãos, tal coisa não era suficiente para tirar seu sono.

Ele era um amaldiçoado, um servidor de Hildin. De que lhe servia algo como a paz, se em seu sangue corria o mais puro mal? De nada. Absolutamente nada.


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Notas finais do capítulo

Para quem não se lembra dos respectivos deuses:
Hildin=Traição
Lars=Ganância
Zereff=Desespero
Seamus=Criação
Sawyer=Razão
Irina=Amor
Naomi=Esperança.
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Yeiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
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Gente, estou empolgada com esse capítulo, sei lá porque... enfim, vamos aos avisos, explicações e etc:
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A imagem foi da Selene mesmo, pois os chibs dos Seguidores acabaram. Tristeza eterna! Mas ela não é uma coisinha muito fofa?
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O subtítulo do capítulo é um verso retirado da música Guerra Fria, do RPM - e eu pessoalmente acho essa frase muito a cara do Loke, por isso usei.
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Eu sei que disse que era o capítulo do Loke, mas bem... por ele ter uma história meio parca, resolvi colocar a do ancestral dele, fazendo uma ligação. Essa primeira parte seria como um Compêndio dos Anciões. Na realidade, se reparem bem tem muita referência nesse capítulo, MUITA REFERÊNCIA mesmo. Eu precisei abrir uns seis capítulos antigos para escrevê-lo. Algo interessante é que, voltando a ambientação para Hathea, as coisas ficaram quase nostálgicas.
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Sobre os amaldiçoados: os poderes deles, assim como dos abençoados, não sofrem um padrão. Isso depende da pessoa que recebeu-os e do deus patrono. Por exemplo, Shakrat tem um poder forte de telecinesia e criação, mas nem todo abençoado por Seamus necessariamente precisa ter esse poder. Na realidade alguns ganham poderes muito fortes, enquanto outros podem até mesmo não herdar poder algum, só o sentimento base do deus.
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Sobre Sophia: ela está num meio termo, é uma amaldiçoada que faz as coisas que lhe convém. Então já imaginem como vai ser a batalha pela quarta Chave... muito tensa.
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Eu me lembro de alguém ter reclamado (ou alertado) que a cena da biblioteca de acharem o livro foi muuuita coincidência, assim como a do teleporte do Lidrin ter falhado. Entenderam aonde foi que a Destiny mexeu os pauzinhos?
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Well, eu acho que é só isso por enquanto. Qualquer dúvida é só me falarem que eu tento explicar - a menos que tenha algo a ver com os próximos capítulos, ou seja... nada de spoiller. Isso é pra você, Enma! :p
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Kisses para vocês e até a próxima!