Crônicas do Pesadelo {Interativa} escrita por Dama dos Mundos, Kaline Bogard


Capítulo 27
Rumo à Grand Line... wait...


Notas iniciais do capítulo

Gente, um milhão de desculpas pelo atraso. O que aconteceu? Nada, só meu emprego de 8h diárias. Dai não fiz o capítulo e sobrou para a Ame chan salvar a situação.

Obrigada, Ame chan. Todos os leitores agradecem.

Capítulo dedicado especialmente a Enma chan, porque hoje é aniversário dela! Hohohohoho parabéns! Tudo de bom, gata! Muita paz, saúde e yaoi na sua vida!

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/548522/chapter/27

A sorte está do lado dos inteligentes, e daqueles que creem. Os Seguidores do Pesadelo não tinham o hábito de crer em coisa alguma, além de si mesmos ou do seu objetivo. E a inteligência de Liam e Loke não conseguiu prever que haveria obstáculos ilógicos pelo caminho.


Quer dizer, o trajeto até as Ilhas Rochosas não era tão grande assim... era?

No segundo dia de viagem Lyla avistou as nuvens de tempestade, e sentiu quando o navio começou a balançar ainda mais do que deveria. Ela correu para a amurada, despejando o resto de seu café-da-manhã no oceano.

– É sério mesmo isso? - protestou Loke, deixando sua cabine e levando as mãos aos cabelos, que iam se esvoaçando com a passagem do vento. - Estamos em uma zona tempestuosa?

– Não é como se houvessem zonas certas assim... mas essa tempestade se formando do nada... não estou gostando. - Liam vinha do lado oposto, e se apoiou na amurada também, ignorando Lyla que ainda tentava cuspir fora o próprio estomago. - Pode ter algo a ver com os guardiões.

– Não existem guardiões de fato, é apenas magia... uma magia amaldiçoada.

– Sem duvida que é, vai acabar nos naufragando.

– Olha bem o que você está falando, quem está no comando aqui sou eu, e se eu digo que ninguém vai naufragar, é porque ninguém vai naufragar! - cortou Kenai, do timão, fazendo-o girar violentamente para a esquerda. - Além do mais, não passa de uma tempestadezinha de nada...

Cabrum! Um raio pareceu ficar ofendido com o mokolé, porque atravessou os céus e caiu exatamente por cima dele. Os outros três giraram automaticamente para observar a cabine de comando, fumegante.

– Kenai!?

– Eu estou ótimo! Tempestade mais estúpida... - ambos viram o vulto dele com vapor subindo da pele, enquanto abanava o ar pra se livrar do mesmo. - Vamos bombardeá-la!

– Ficou maluco? Cara, são nuvens... nuvens! Como você espera que vamos bombardear as nuvens!? - Loke retrucou do seu lado, sentindo uma chuva fria e espessa começar a cair sobre seu corpo, deixando-o gelado. O convés inclinou perigosamente para a esquerda, fazendo-os escorregarem naquela direção. Lyla, parecendo ter recuperado-se momentaneamente do enjoo, conseguiu agarrar-se a amurada, enquanto uma onda enorme varria o navio. Liam foi jogado contra o mastro principal, mas conseguiu de alguma forma segurar-se a uma corda e não foi levado para o mar. Loke também foi arrastado, mas criou adagas com as sombras, ficando preso a madeira recém-molhada.

– Uhu! É isso que eu chamo de ataque frontal. - podiam ouvir a voz de Kenai, enquanto este ainda tentava nivelar o barco.

– Acho que o raio fritou o cérebro dele! - gritou Lyla para ninguém em especial, mesmo que os outros dois tivessem assentindo com a cabeça. Liam conseguiu tocar o convés novamente e amarrar seu corpo a corda, deixando-a bem firme, no caso de uma segunda onda os atingir. Seu óculos havia sido levado para qualquer lugar, e ele não tinha lá muito tempo para procurá-lo, se é que podia encontrá-lo novamente.

– Que inferno, eu tinha acabado de trocar...

– Hei! Deixe isso para depois, vamos manter essa barcaça funcionando. - Loke ficou de pé novamente, mas ao invés de passar uma corda pelo corpo como o colega, apenas ligou uma sombra ao mastro principal, e mais duas, uma de cada lado dele. Nenhuma onda ia carregá-lo daquele jeito. No entanto, o convés ainda estava escorregadio, o que fazia tanto ele quanto Liam, e até a própria Lyla, que acabava de largar a amurada, ficarem completamente desequilibrados.

– Olha pelo lado bom, é apenas uma tempestade. Podemos sobreviver a isso.

Uma segunda onda se ergueu, encharcando-os. Lyla foi rolando até a amurada oposta a qual estava, segurando-se nela para não cair fora da embarcação.

– Mas que puta que pariu! Se os raios não nos torrarem, a água vai acabar nos levando!

A chuva descia com mais insistência. Kenai tentava a custo fazer o barco atravessar as ondas e marolas, conseguir sair do meio daquela zona, mas era difícil. Felizmente nenhum mastro fora levado, apenas as velas foram rasgadas, pela força do vento. Em meio a tormenta, era difícil se localizar, e bom... quando ela finalmente amansou um pouco, não foi para deixá-los em um mar calmo. Nem de longe.

Lyla havia sido jogada tantas vezes de um lado para o outro que achou ter superado o enjoo pelo resto da viagem. Mas seus pensamentos foram nublados por um instante, quando ela viu... algo surgindo do lado do navio. Ela estreitou os olhos para ver melhor. Era uma barbatana, aquilo ali?

– Er... pessoal?

Liam, que havia perdido irremediavelmente seu óculos e tinha que estreitar os olhos para enxergar, ainda mais através da fina chuva que agora caia, voltou sua atenção para a moça. - O que foi agora?

– Venha ver isso aqui... agora! É sério.

Em meio a algumas pragas dirigidas a maneira petulante que ela o chamara, Liam voltou a se debruçar na amurada do navio, lançando seus olhos para baixo.

– Não vejo nada...

– É porque você é míope feito uma porta, maldição!
Ele a ignorou mais uma vez, fixando ainda mais o seu olhar. - Aquilo é uma barbatana?

– Foi pra isso que te chamei... não... 'pera, tem mais... - ela apontou uma verdadeira linha de barbatanas que assomava daquele mesmo lado, e logo foram abaixando, primeiro as da frente, depois as de trás, de forma que já não havia nada ali. - Er... qual a possibilidade de serem simples tubarões?

Ele não respondeu. Seu corpo veio para trás imediatamente, ouvindo um grito assustado de Loke, do outro lado, junto a uma série de ruídos e barulhos altos, como se algo estivesse se quebrando. E então viu... aquela coisa.

Loke estava sendo comprimido contra o convés, por o que parecia ser uma calda, ou corpo, de uma serpente gigantesca. As escamas brilhavam, azuis, enquanto aquele pedaço continuava a se enrolar em volta do barco. Havia uma fileira de dentes ósseos saindo do que parecia ser o dorso da criatura, de uma cor mais profunda, beirando o negro. A largura era suficiente para em três voltas completas esmagar o navio inteiro. Não havia sinal algum da cabeça.

– Que legal, uma serpente marinha.

– Só pode estar brincando, o que uma coisa dessas faz longe do território das sereias? - protestou Loke, forçando-se para conseguir sair de baixo da criatura. Aquela praga era pesada, embora não fosse o suficiente para esmagá-lo – o que era bem estranho, levando em consideração seu tamanho absurdo – de forma que ele não saiu tão arrebentado quanto esperara num primeiro momento. Possivelmente havia quebrado uma costela ou duas.

– Vamos fazer uma lista de coisas que não fazem sentido... - debochou Lyla, saltando para o lado. Um dos mastros desabou, quase acertando-a.

– Meu navio...

– Você consegue outro, Loke... com muita facilidade, até. - Liam argumentou, voltando sua atenção para o corpo da serpente. Ele se movia, erguendo-se e logo uma carranca assustadora surgiu das águas, a estibordo. De fato parecia uma serpente, com dentes colossais, olhos avermelhados e extremidades ósseas descendo da testa para baixo. Um par de guelras transparentes e externas saiam de ambos os lados da cabeça. O monstro escancarou a boca, mostrando uma língua bifurcada como as de suas parentes (um milhão de vezes menores). Um som reverberou a partir de sua garganta, fazendo o barco inteiro estremecer, e então ela voltou a esmagá-lo com o próprio corpo.

– Sai logo do nosso barco, bicho feio! - Lyla armou o corpo, correu e jogou os pés em direção ao pescoço da serpente, acertando-a na garganta e dando continuidade ao ataque com mais alguns socos, antes que a gravidade fizesse seu trabalho e a puxasse para baixo. A mulher caiu agachada, e precisou desviar para que a calda não a acertasse.

A serpente remexeu-se, seu corpo começou a largar do barco, apenas para poder usar a calda como um chicote, perseguindo seus diminutos inimigos. O convés começou a rachar. Mais alguns pedaços de vela e madeira despencaram, inclusive a gavia, que quase esmagou Loke. - Nossa, acho que você arranhou ela ali, bem no focinho.

– Serpentes tem focinho?

– Não é uma boa hora pra discutir isso, sabe... - Loke saltou, começando a subir pelas barbatanas da coisa, escalando-a. Ela não parecia perceber, ou sequer ligar. Agora seus olhos avermelhados estavam focados em Liam. Ele manteve o contato visual por algum tempo, em duvida se conseguiria mexer na mente de um monstro marinho secular. Ele já vira cobras serem controladas por música, mas ele não sabia tocar absolutamente nada. Loke, mesmo sendo mil-e-uma utilidades precisaria de um instrumento musical qualquer se fosse tentar, e além do mais ele já estava escalando a besta.

O rapaz manteve os olhos fixados, enquanto a gigantesca serpente o encarava. Se ele pendia o corpo para um dos lados, ela fazia o mesmo movimento com a cabeça. Bom... aquilo era ótimo.

Deixe-nos passar, ele disse, diretamente na cabeça da cobra. O rosto dela chegou mais perto, se quisesse poderia devorá-lo numa só bocada. Deixe-nos ir... ele continuou, e então falou mais alto, como se isso fosse dar intensidade. - Deixe-nos ir agora! Vá embora.

A serpente entreabriu sua boca, como se estivesse rindo, de fato, da situação. Sua mente retrucou em resposta, de forma que todos os presentes pudessem ouvir as palavras chiadas em suas respectivas cabeças.

Vocêssss me fazem rir. Ssssão realmente ridiculosss

– Espera, ela pode falar? - questionou Lyla, de boca aberta.

– Falar não, mas acho que ela pensa muito bem. - Liam tomou distância novamente. Precisaria de muito mais poder para dobrar aquela coisa a sua vontade. Ergueu seus olhos, e então viu Loke preparar uma adaga negra... o ser pareceu finalmente dar-se conta dele, porque sacudiu vigorosamente a cabeça, de maneira que Loke foi jogado para cima. Na descida, ele preparou o golpe.


Ninguém era imune ao Traidor, nem mesmo uma serpente marinha gigante com capacidade de raciocínio. Ele pressionou as pernas contra o focinho do animal, e a adaga vazou um de seus olhos. A serpente se sacudiu novamente, e Loke foi atirado, seu corpo escorregando pelo convés repleto de destroços. Definitivamente ele quebrara mais alguma coisa ali...


Ssssss... malditossss. Eu vou comê-lossss, um a um.


Como em resposta, a boca desceu exatamente onde Liam estava. Lyla interceptou-a, entrando na frente e mantendo-a aberta com ambas as mãos, usando toda a sua força. Ela podia sentir a língua bifurcada rondando-a, enquanto mantinha a serpente sob controle segurando suas presas. Olhos nos olhos, ambas se encararam.


Você oussssa medir forças comigo, garota?


– Eu ouso sim, e se reclamar, vou fazê-la engolir um sanduíche de porrada, tá ouvindo?
Ssss... morra...


A língua fechou-se ao redor dela, enrolando-se, e tinha uma consistência pegajosa, no mínimo. Lyla ainda mantinha a bocarra segura, mas estava sendo puxada lá para dentro. Logo ela teria de soltar.


Você prefere ser essssmagada, masssstigada ou engolida inteira, hummm?


– Ela não gostaria de nenhuma dessas coisas, réptil de quinta categoria! - a garota viu quando garras enormes simplesmente cortaram a língua que a prendia fora, fazendo a cabeça da cobra ricochetear para trás, praticamente levando-a junto se Kenai não houvesse agarrado-a pela gola da camisa, com força o suficiente para que Lyla ficasse onde estava, junto com as presas da serpente, arrancadas sem dó de sua boca, no processo.


– Essa foi boa, revoltadinho.


– Só eu bato em você, garota-macho.


– Olha que eu arranco essas suas garras também... - ela atirou as presas do monstro metodicamente para o lado, voltando a entrar em posição de combate, embora não estivesse mirando Kenai dessa vez.


– Vamos ver, garota burra... - Kenai rosnou, sua pele sofrendo mutações desagradáveis, começando a ficar escamosa e verde. Os dentes em sua boca, assim como a própria, cresceram tanto que era impossível ele começar a falar sem grunhir, ou alguém entender o que estava dizendo.


A serpente agora estava em uma grande desvantagem. Cega de um olho, sem sua língua e boa parte de suas presas venenosas, teria que se conformar em apelar para seu tamanho descomunal. Agora, ela já ameaçava a enrolar o barco de novo, com sua calda, e não apenas chicoteá-lo.


– Precisamos tirá-la do navio ou ele não vai suportar mais. - Liam ofereceu uma mão para que Loke levantasse.


– Você não pode convencê-la?


– Já tentei. Sua força de vontade é muito forte, para um monstro.


– Esses monstros andam mais uteis que os humanos ultimamente, fala sério... - o loiro jogou seus cabelos para trás, tirando a água do rosto. A chuva já parara, e eles mal notaram isso, com toda aquela movimentação.


– Levando em consideração que essa coisa está pensando, se arrancarmos a cabeça, ela morre, não? - Liam sugeriu.


– Acho que se arrancamos a cabeça da maioria das coisas, elas morrem. A não ser nossos amigos em Ragadash.


– Já entendi, Loke. Eu vou chamar a atenção dela. Você e os outros, degolam.


– Ah... já entendi, senhor sabe-tudo... - Loke pôs-se de pé e voltou a correr em direção a serpente. Liam suspirou, apenas, estando ele também semi-cego. Só esperava que conseguisse fazer tudo o que imaginara. Ele assoviou, chamando a atenção do monstro para si.


– Hei! Ofídio gigante com péssimo senso de humor! Não quer devorar o humano prepotente que tentou te controlar? Hei!


O ser voltou seu único olho vermelho na direção do rapaz, e sibilou.


Você é fraco, incapaz de me controlar. Pessssoassss como você não sssservem nem de comida...


– Oh, eu me sinto francamente ofendido com você falando assim. Mas, sabe, pra quem não tem uma língua, acho que está falando demais... - Liam desfez sua faceta séria para abrir um sorriso de zombaria. Aquilo pareceu convencer a cobra, que deu um bote contra ele, errando-o por pouco. A falta de um dos olhos atrapalhava sua noção de profundidade.


Ssss... maldito, fique parado para que eu possssa essssmagá-lo.


Liam abaixou uma segunda vez, e conseguiu fazer contato visual com aquela orbe rubra, tão perto de si. Sua mente se expandiu, até a criatura, causando um efeito de choque por causa da invasão. A serpente parou os movimentos com a boca entreaberta, e então foi laçada. Sombras surgiram do chão, agora um sol fraco já brilhava novamente pelas cabeças deles. As faixas negras e instáveis subiram, enlaçando sua cabeça até o pescoço. Kenai saltou por cima, arrancando nacos de escamas e carne com as garras. Loke criou o que parecia ser um cutelo de tamanho fantástico, matendo-o exatamente sobre o pescoço da serpente. O mokolé ganhou distância novamente, abandonando o local onde antes estava e saltando, ao mesmo tempo que Lyla usava o próprio corpo do monstro para alçá-la para o alto. Os dois atingiram o cutelo ao mesmo tempo, fazendo-o descer com velocidade.


E a cabeça desprendeu-se finalmente do corpo, deixando uma gosma de cor esverdeada escorrer pela imensa ferida aberta. Era quente, de forma que vapor subia dali, e logo o vapor se transformou em fumaça, e a fumaça em fogo. O fogo espectral corroeu a carcaça da criatura, da cabeça a ponta da calda, e então não sobrou nada no convés, além dos quatro Seguidores e de restos de madeira, tecido e cordas.


O navio balançava de maneira lenta, sob o sol, os vestígios do temporal se dissolvendo aos poucos. Kenai não se importou em ficar mais tempo por lá. Seus olhos claros estavam cravados em outra coisa, a alguns metros de distância. Ele correu para o que sobrara da cabine de comando, quase atropelando os outros no processo, e voltou com uma luneta, a qual virou para uma certa direção.


– O que é? Me diz que não é mais uma serpente, nunca mais quero ver um troço desses de novo. - praguejou Loke, colocando a mão sobre as costelas fraturadas. Lyla cambaleou até a amurada, olhando na mesma direção e abrindo a boca em um “o”. Liam, depois de quase ser pisoteado por Kenai, e ainda xingando-o mentalmente por isso, também conseguiu levantar-se. Todos os quatro olharam na mesma direção, e o que viram foi uma costa rochosa, de tonalidade avermelhada...


Muito satisfeito de si mesmo, o mokolé fechou a luneta e voltou, com o peito estufado, para o timão. - Terra à vista!


– E ninguém morreu... - completou Loke, claramente aliviado.


Uma etapa para pegar a Chave Principado do Fogo havia sido cumprida. O que os esperava para além daquelas rochas desgastadas pelo tempo e pela ação incontestável do mar? Depois do ataque da serpente marinha, talvez eles estivessem preparados para tudo...


Ou quase tudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Um obrigado especial à galera do Nyah!Design que deu uma arredondada nessa imagem dos Pesadeletes. No próximo a gente volta com os chibis! :3

Abraços!