Naquele mesmo dia, na lanchonete em que ela e Sara trabalham…

–O quê? Ele jogou refri no garoto, sem mais nem menos?

–Não sei direito, falaram de uma tal de carta preta… Sei lá o que é isso - respondeu Michele, enquanto limpava a mesa.

–E você não fez nada?

–Não. Decidi viver meu colegial tranquilo, longe de confusões. Sendo lembrada apenas pelas minhas boas notas e pelo meu empenho na natação.

–Poxa, logo você que era conhecida como a justiceira na nossa escola! Lembro de todas as vezes que você bateu nos meninos para me defender…

–Pois é, mas decidi aposentar aposentar esse meu lado, hoje para não me estressar achei um canto na escola que ninguém vai lá: uma escada de incêndio, vazia! Vou lá, grito, e volto pra sala.

–Isso é bom… Ei, que carrão é esse ali na porta?

–Só espero que não seja ninguém do Elite.

A pessoa entrou. Era o Miguel, colega de classe das duas no primário. Ele era apaixonado pela Michele, mas nunca se declarou, e Sara era a única que sabia. Ele era da mesma classe social que as duas, por isso estranharam o carro.

–Michele! Sara! Quanto tempo! Tudo bem com vocês?

–Tudo sim… E você está ótimo né… Qual é a do carrão?

–Lembram daquele negócio do meu pai? Pois é, ele recebeu um bom investimento, e ficamos ricos! Então eu vi nos jornais a notícia de a Michele ter entrado no Elite, e então decidi voltar pra São Paulo e vou estudar com você! Que tal?

–Só voltou por causa dela, é? - Sara perguntou, cutucando ele com o cotovelo.

–Na verdade não… - e ele ficou vermelho. - Eu estou namorando, e ela mora em São Paulo, então vim pra ficar com ela.

–Ah, agora está explicado… - Sara suspirou. - Queria ter alguém também…

–E você Michele? Já fisgou alguém?

–Eu? Não… Estou focada nos estudos e na natação.

–Entendo… Enfim, amanhã é meu primeiro dia, e eu cai logo na sua sala! Que sorte, não?

–Sim! Aquela sala me odeia, só por eu não usar roupa de marca…

–Combinado então, amanhã nos vemos.

–Até amanhã.

No dia seguinte, Michele se sentiu como na antiga escola. Como o Miguel era considerado pela sala, como eles falam, “novo rico”, ele acabou sendo deixado de lado também, e assim eles passaram os dias tranquilos… Até que iniciou o inferno.

Um dia, eles estavam indo para o intervalo, quando ele esbarrou no Fernando.

–Desculpa…

–O que eu tenho que desculpar mesmo?

Michele olhou e viu o Fernando.

–Miguel… Corra.

–E por que eu deveria correr? - e ele se virou, pisando no pé dele.

–Limpe agora. - disse Fernando.

–Limpar o que?

Michele estava segurando a raiva. Estava a ponto de dar um soco nele.

–Você é aquele novo rico é? E fica andando com essa pobretona… Tinha que andar com gente da nossa classe! Irei contar para seu pai… Mas se limpar, eu perdoo…

–Calado!

Michele chegou no seu limite.

–O que você disse? - Fernando se virou para ela.

–Ele te pediu desculpas, essa palavra não existe no seu vocabulário? E ele é meu amigo de infância, o pai dele me conhece!

–Se são tão amigos, limpa você meu sapato, e está tudo certo…

Michele chegou no limite. Ela fechou os punhos.

–Você é só um garoto mimado. Por acaso se considera um homem? Só faz o que quer porque seus pais lhe pagam tudo. Cresça e apareça!

E enfiou um soco na cara dele. Foi aí que Michele percebeu que estava encrencada.