O Meu Melhor Amigo escrita por MilaScorpions


Capítulo 2
Qualquer felicidade é melhor do que sofrer por alguém que não pode ter.


Notas iniciais do capítulo

Como já sabem, a imagem do capítulo não me pertence. E a frase do título também não (retirada do filme Amanhecer - Parte II).

Capítulo NÃO betado.

Espero não decepcionar quem gostou do primeiro. Recadinhos aos leitores nas notas finais.

Boa Leitura.



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Qualquer felicidade é melhor do que sofrer por alguém que não pode ter.

Acordei com uma terrível dor de cabeça. Inda de olhos fechados, desfrutei, por um momento, dos lençóis macios e do colchão aconchegante. Espreguicei-me, abri os olhos e notei o ambiente estranho e desconhecido. Não tinha ideia de onde estava. Atentei para a mesinha do computador ao lado da cama, uma bagunça de papéis e um notebook de última geração que me era inexplicavelmente familiar. Meu cérebro atordoado se esforçava para examinar a memória visual recente... Sentei-me na cama, assustado.

Estou no quarto de Aioria?!

Como fui parar lá? Não me recordava. Lembranças fragmentadas da noite anterior voltavam lentamente para me assombrar. Ergui o lençol para confirmar de que, realmente, vestia apenas minha cueca e uma camiseta branca que não era a minha — supostamente de Aioria. Levantei-me sobressaltado, procurando freneticamente minha calça jeans. De repente, outro espanto.

Aioria saiu do banheiro tão-somente com uma toalha enrolada na cintura. Seu corpo ainda molhado da chuveirada.

Sua visão? Eu de pernas de fora, boquiaberto e todo sem graça.

Meu coração quase saía pela boca que, inclusive, estava bem seca. Eu parecia um adolescente com os hormônios enlouquecidos, contorcendo-me em desconforto. Senti uma fisgada no baixo ventre. Completamente envergonhado, voltei rapidamente para debaixo das cobertas.

— Já está acordado?! Achei que demoraria a se levantar — ele falou, rindo da minha atitude.

— Você me despiu? — sussurrei, já deduzindo a resposta. Tinha certeza de que eu estava corado.

— Acabei molhando as suas roupas quando te joguei no chuveiro — disse simplesmente. Como se tivesse dito que tomaria um café.

Respirei fundo, fechando os olhos, na tentativa de compreender aquela informação. Aioria me jogou no chuveiro e tirou as minhas roupas. Só de imaginar essa cena, ficava completamente zonzo.

— Você não se lembra de nada da noite passada? — Ele ergueu as sobrancelhas para mim.

— Tenho algumas lembranças bem definidas e outras muito confusas. — Ainda me sentia encabulado. Enrolei uma mecha do meu cabelo entre os dedos.

— Você não está acostumado a beber, foi por isso que passou mal ontem.

— Como vim parar aqui? — minha voz estava baixa e cheia de acanhamento.

— O Camus nos trouxe...

— Camus... Camus? — Esse nome não me era estranho.

— O amigo de Milo. O ruivo.

— Hum... — Eu me lembrei de Camus e do beijo.

— Foi o único que estava de carro. Ele não bebe. — Aioria se sentou na cama, quase nu, perto de mim o suficiente para fazer com que a minha pulsação se acelerasse e o meu cérebro se esquecesse de ativar quaisquer sinapes de me fazer respirar. — Eu não quis deixar que você fosse para sua casa daquele jeito, passando mal. Estava quase desmaiando na pista de dança. Então, eu o trouxe pra cá e te dei um banho de água gelada. — Ele deu uma risadinha e meu coração (como se fosse possível) martelou ainda mais dentro do peito. — Aí, você simplesmente apagou. Você dorme tão quetinho, Mu. Eu, ao contrário, me espalho todo. Tive medo de te derrubar da cama.

Peraí!... Eu dormi na cama com Aioria? E nem me lembrava? Também não me lembrava dele me jogando no chuveiro? Queria arrancar o meu cabelo, cada fio lilás dele. Comecei a achar que estava arfando porque Aioria me olhou de um jeito estranho, com certeza, percebendo o meu embaraço.

— Não precisa ficar sem graça. Fiquei preocupado em deixá-lo dormir sozinho no quarto de hóspedes. Você podia passar mal. Vomitar outra vez, sei lá... Não estava nada bem.

Eu vomitei na frente de Aioria. Queria ter poder telecinéticos e desaparecer dali naquele momento. Estava muito envergonhado, muito mesmo... Mas fiquei feliz por ele se preocupar comigo.

— Vou tomar um banho — murmurei. Ao menos eu saía de perto dele e poderia voltar a respirar normalmente.

— Claro. Enquanto isso, eu me troco. Vou deixar uma roupa em cima da cama para você se vestir. As suas estão molhadas, eu mandei para lavadeira. Tem uma escova de dente nova no armário do banheiro. Tem toalhas limpas também.

— Obrigado. E... desculpe-me por todo esse trabalho.

— Que isso, Mu! Tenho certeza de que faria a mesma coisa por mim. É para isso que servem os amigos. Não é?

— É para isso que servem os amigos... — concordei com um sorriso sem graça.

Claro, cuidado de amigos. Aioria todo preocupado com “o amigo” e eu sonhando e imaginando um monte de coisas com ele. Acho que me odiaria se soubesse as indecências que se passavam em minha cabeça. Quer saber? Ainda bem que não lembrava dele dormindo ao meu lado, tão vulnerável, tão lindo... Eu não sei se aguentaria tanta tentação. Devia ser mesmo uma pessoa horrível por ter tanto desejo pelo meu melhor amigo. Levantei-me e fui para o banheiro, afastando-me da proximidade de Aioria nu.

Enquanto a água quente e relaxante caia sobre o meu corpo, eu refletia sobre meus sentimentos. Peguei o gel de banho e tinha o cheiro dele. Aioria era sempre tão cheiroso! De olhos fechados, esfreguei o produto em mim fantasiando que era ele.

Patético! Eu era um patético!

Isso não podia continuar assim. Não podia passar toda a minha vida sonhando com alguém que só me via como um grande amigo. E isso não iria mudar.

Fora do chuveiro, sequei-me com uma toalha felpuda enquanto pensava, desesperadamente envergonhado, em como sairia do banheiro envolvido somente naquele pedaço de pano. Será que Aioria ainda está no quarto? Estremeci só de pensar.

Não estava, constatei aliviado. Graças aos Deuses!

Olhei para a cama, ainda desarrumada. Suspirei. Eu dormi com Aioria. Sorri. Eu vomitei na frente dele. Amargurei.

Peguei a roupa que ele separara para mim e as levei ao nariz, afogando-me no perfume delas, tinha cheiro de amaciante. Abracei-me, já agasalhado com sua blusa. Eu era mesmo tão ridículo... Mas quem não fica ridículo quando se gosta tanto de alguém?

Aioria, entrando no quarto, vestido uma bermuda marrom de algodão grosso e uma camisa regata justa branca marcando seu corpo primoroso.

— Precisa comer. Preparei o café para a gente — disse. Respirei fundo. Restava-me o consolo de sua amizade. Avaliou suas roupas em meu corpo. — Não é que te serviu direitinho! Você anda malhando, não é, Mu? Eu notei. Tava escondendo o jogo.

— Ah... Vamos logo comer que estou com fome — tentei desconversar e ele saiu rindo.

Eu malhava sim, não era como Aioria e Milo que passavam umas duas horas, ou mais, por dia, enfiados numa academia, e tinham verdadeira obsessão pelas suas formas perfeitas. Meu relacionamento com as atividades físicas era meramente uma questão de saúde.

Já na cozinha, ele se sentou ao lado do seu irmão mais velho, Aioros. Tão parecidos! Assentei-me com eles timidamente.

— Bom dia — foi a única coisa que consegui dizer com a voz extremamente baixa.

— Bom dia, Mu — Aioros respondeu educadamente como sempre.

Aioira começou a comer um sanduíche enorme. Ele tinha um apetite de leão. Mas também, tinha que ser muita comida para sustentar o corpão dele.

— Aioria estava me contando do seu primeiro porre, de ontem à noite — Aioros puxou conversa.

— Algo que espero não repetir — falei e Aioros riu.

— Bobagem, todo mundo toma um porre de vez em quando. Eu já tomei vários. Aioria também — Aioros tentava suavizar.

— É, mas eu não fico igual ao Mu. Espero que você também não — Aioria verbalizou. Estava enfezado? Outra vez? Mas o que foi que eu fiz?!

Peraí, será que eu falei alguma coisa e não me lembro? Pensei aflito. Mas achei que não, porque ele estava agindo normalmente comigo. Acabei tossindo, completamente acuado ao examinar o que tinha ocorrido.

Com toda certeza, estava falando do fato de ter me trazido para dormir com ele em sua cama, e pior, de ter sido obrigado a tirar as minhas roupas, me jogar no chuveiro e, ainda, ter me visto vomitar. Deve ter sido bem constrangedor para Aioria.

— Como assim, igual ao Mu? O que ele fez de tão horrível ontem? — Aioros perguntou curiosamente.

— Ficou rebolando para chamar atenção. Um monte de cara olhando — expôs cerrando o cenho.

Hã...?! É disso que ele tá falando? Abri a boca, espantadíssimo.

O que o irmão dele iria pensar de mim? Provavelmente que era um grande pervertido. Ou pior, um daqueles tipos que ficava se oferecendo para todo mundo. E, definitivamente, eu não era assim. Senti-me pequeno. Fui incapaz de esboçar qualquer palavra.

— Parece que está com ciúmes, Aioria... — seu irmão insinuou aos risos.

— Eu não gosto de ver esses caras folgados dando em cima dos meus amigos. Quase fui no braço com um babaca. — Virou para mim aparentemente abespinhado (Mas quem devia estar assim era eu) — Será que você se lembra disso, Mu?

— Aioria! — o recriminei, enrubescido e perplexo. Aioros continuava aos risos. — E você também dançou — consegui dizer depois de um tempo.

— Não igual a você, saracoteando daquele jeito, todo se achando... É óbvio que queria atrair a atenção de um monte de folgados. Igual abelha no mel. A culpa é sua, Mu.

— Minha?! E... Eu não estava saracoteando... Ah... deixa pra lá.

— Estava sim. E muito! Bom, ao menos, sei que foi efeito da bebida. Você definitivamente não pode beber.

— Acho que preciso ir embora — ainda consegui falar depois de toda aquela situação, que estava pra lá de embaraçosa.

— Eu te levo. Mas termina de tomar o café primeiro.

— Não precisa, eu pego um táxi. — Sequer olhei para ele. Estava muito, mas muito irritado com Aioria. E olha, que se chatear é algo muito difícil de acontecer comigo. Normalmente sou uma pessoa com uma paciência admirável, palavras do próprio Aioria. Mas acho que eu já disse isso.

— Eu já falei que te levo, e fim de papo. Come aí, e toma esse suco, vai ajudar na ressaca.

Sempre autoritário!

Assim que cheguei em casa, deixei-me cair como um pacote sobre o meu sofá macio. Pen veio correndo para perto de mim com aquela típica felicidade canina de quando se encontram com seu dono.

Levantei-me e a peguei no colo, fazendo-lhe carícia por algum tempo. Era tão fofinha, branquinha e peluda. A maltês mais linda e amada do mundo. Precisava alimentá-la. Fui até a cozinha e preparei sua ração. Faminta, comeu tudo.

Procurei pelo meu celular, que havia esquecido, propositalmente, em casa. Não gostava de carregá-lo para festas. Não que eu as frequentasse sempre. Eram raras às vezes em que ia a algum lugar como aquela boate. O aparelho estava no meu quarto, em cima do criado mudo e tinha três chamadas não atendidas. Uma ligação de Aldebaran e duas do meu tio Shion. Tinha também uma mensagem de propaganda dos serviços da operadora.

Liguei para o meu tio, que além de ser uma das pessoas mais inteligentes do mundo, era meu fã incondicional. Atendeu com uma voz ligeiramente arrastada.

Os tópicos das nossas conversas eram sempre os mesmos, falar sobre a minha vida amorosa inexistente e sobre os sentimentos que nutro por Aioria. Era com Shion que eu sempre desabafava. Dei-lhe a versão resumida e menos constrangedora dos últimos acontecimentos.

— Mu, você está precisando de um namorado. Tem um ditado que diz: um coração partido só se cura com outro amor.

— As coisas não são assim. Você fala isso, porque sempre gostou somente de uma pessoa. E ainda é correspondido.

— Onde você quer chegar?

— Nunca sofreu por amor, Shion. Você mora com Dohko desde antes de eu ter nascido.

— Negativo. Eu já gostei de outras pessoas. E Dohko e eu também somos livres para ir embora a qualquer momento, sem nenhuma confusão emocional. É por isso que dá certo. — Eu suspirei — Tem que parar de ficar sonhando com esse rapaz e viver a sua vida — ditou de modo enfático. — Mu, você é simplesmente jovem demais e bonito demais para que o trabalho seja seu único amante. Aposto que está cheio de caras querendo namorar você. Estou mentindo?

— Na verdade, tem sim, alguém que me paquera mas...

— É uma pessoa bacana? — interrompeu-me.

— É — respondi. — Fomos vizinhos por algum tempo. Muito sossegado e...

— Então, porque você não tenta? Se não der certo, não terá nada a perder.

— A maneira como você fala, faz parecer tão fácil. Mas a realidade é bem diferente.

— Não estou dizendo que é fácil, Mu. Mas você tem que tentar. Tem que tomar uma decisão: ou fala dos seus sentimentos para esse rapaz, ou dá um jeito de esquecê-lo. Ficar curtindo esse amor platônico, não dá. — Escutei alguém o chamando — Já vou... Kiki, já disse para descer desse sofá... Querido, tenho que desligar agora. As visitas de Dohko acabaram de chegar. Ligo para você mais tarde, e pense no que te falei. Ah, e não se esqueça do jantar aqui em casa amanhã. Por que você não convida esse seu amigo que te liga para vim com você? Como é mesmo o nome dele?

— Aldebaran.

— Convide Aldebaran para o nosso jantar de domingo.

— Isso não faz sentindo, Shion.

— Ora, Mu... Deixe de bobagens... Conversamos depois sobre isso. Dessa vez, você não vai fugir dos meus conselhos. Ok?

Respirei fundo pelo nariz novamente e respondi:

— Ok!

— Ótimo! Fica bem e pense no que te falei. Tchau.

— Tchau.

Shion estava programando um jantar para comemorar o aniversário de namoro dele e Dohko. (Mas a verdade é que, quase todo domingo, ele programava um jantar e uma comemoração diferente.) E sim, meu tio também era gay, deve ser genético. E não, não fazia o menor sentido convidar Aldebaran para ir comigo. Shion devia estar louco quando sugeriu isso. Cada ideia!

Revi a ligação perdida de Aldebaran no celular. Tomei ar e liguei de volta.

— Mu! — ele atendeu surpreso.

— Oi, Aldebaran, como você está?

— Melhor agora que você me ligou — respondeu parecendo mesmo empolgado. — E você?

— Bem. Vi sua ligação só hoje, saí ontem com uns amigos e não levei o celular.

— Hum... Pois é... Te liguei porque abriu um restaurante novo aqui perto do meu bairro, seu antigo bairro, né... — Percebi um riso tímido. — E está muito bem frequentado e... De repente, você poderia ir comigo, sei lá... conhecer o lugar... Dizem que é muito bom.

Quem sabe Shion tenha razão?! Pensei comigo. Eu precisava esquecer Aioria. O episódio em sua casa pela manhã, só veio a confirmar que eu estava mesmo enlouquecendo. Esse sentimento estava me matando, me consumindo e acabando com todas as minhas forças. Ele nunca iria me olhar com outros olhos. Nunca seria o meu namorado. Era muito apaixonado por Marin, que era uma garota totalmente incrível. E mesmo que não fosse, Aioria nunca se apaixonaria por um homem. Enquanto eu... Bom, meu passatempo era ficar suspirando por ele. Sentia uma pontada desconfortável no coração só de pensar nisso.

— Eu vou — respondi rapidamente, antes que eu mudasse de ideia.

— Sério?! — ele exclamou aparentemente surpreso — Q...Quer dizer, é que você nunca aceita. Mesmo que eu não me canse de tentar. Mas estou muito feliz que tenha aceitado, Mu. Você quer que eu o pegue em sua casa?

— Não precisa. — Meu carro estava na oficina, e só estaria pronto na quinta-feira. Ainda era sábado. Só que eu não gostava de ficar dependendo de ninguém, preferia ir de táxi. Desde criança sempre fui muito independente. — Só me passa o endereço direitinho.

— O restaurante fica em Plaka, ao lado do Museu da Acrópole.

Plaka é um bairro turístico de Atenas. O mais animado e bonitinho. Ele se espalha com ruelinhas super charmosas e predinhos restaurados do século 19 aos pés da Acrópole e quase de todo canto dá para ver o Parthenon.

— Então, está certo. Encontramos-nos às sete horas. Pode ser? — falei.

— Às sete horas em ponto, estarei lá. Fico tão contente, Mu.

— Eu também. Até mais tarde — disse eu.

— Até mais tarde — concordou ele.

Despedimos e desliguei o telefone.

Estava decidido a dar uma chance para Aldebaran. Ele era um cara legal. Quem sabe não dava certo. E Shion tinha razão, eu não saberia se não tentasse.

Peguei um dos meus livros na estante. Normalmente é assim que passava os meus finais de semana: lendo. Contudo, aquele começou bem diferente. Balada com Milo e Aioria na sexta, jantar com Aldebaran no sábado. E nenhum tempo para colocar minha leitura em dia.

Adoro literatura. Meus livros preferidos são romances de cavalaria, principalmente as do círculo arturiano. Sou fascinado pelas histórias do rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Gostaria de ter sido um cavaleiro um dia. Quem sabe em alguma encarnação anterior. No momento, estava lendo a Demanda do Santo Graal.

O restante do dia passou rápido enquanto eu me entretinha com o livro. Lá pelas dezessete horas, aproveitei para dar um passeio pela orla com Pen, que estava aflita para sair um pouco de casa. Às oito, encontrava-me adentrando no restaurante.

O ambiente era uma graça, bem diferente dos restaurantes dos arredores. Tinha uma gostosa varanda com mesas ao ar livre e um salão super moderninho, com móveis em preto e branco e alguns detalhes em vermelho.

Aldebaran me esperava, muito elegante com uma calça preta e uma camisa social cinza. Era um moreno muito bonito. Bastante forte — mais do que Aioria e mais alto também —, devia ter uns dois metros de altura. Com certeza, não tinha menos do que isso. Levantou-se quando me viu e nos cumprimentados sem formalidades.

— Fiquei muito feliz que aceitou o meu convite, Mu. — Sorriu amplamente.

Esbocei um sorriso tímido e sentei-me na cadeira em frente a dele. Fiquei muito embaraçado. Há tempos, não tinha um encontro.

O Staff se aproximou. Era jovem e solícito (embora um pouquinho atrapalhado). Todo o menu mesclava especialidades gregas e receitas francesas. Ele nos disse que a cozinha estava sendo liderada por um francês famoso em seu país natal: o chef Camus Chevalier, que já comandou as panelas do L' Aurore, um estrelado Michelin na Côte d’Azur. E acrescentou que foi uma aposta certeira. Fiquei pensando se era o mesmo Camus que havia conhecido na boate. Não era um nome muito comum.

Escolhemos começar com uma entrada bem típica: charutinho de folha de uva recheado com carne de cordeiro, arroz e pinhole. Antes, nos serviu petiscos tipicamente gregos: azeitonas gordas e macias e pãezinhos quentes com o famoso azeite nacional; uma oferta da casa. Para prato principal, pedimos lula recheada com pimentões e risoto de arroz carnaroli com açafrão. Pedimos também um vinho para acompanhar.

Quando o rapaz saiu, Aldebaran, travesso, comentou que, mesmo sendo tudo muito bom e requintado, ainda preferia sua feijoada, e gargalhou alto.

— Feijoada?! — estranhei. Não fazia ideia do que era.

— É uma comida típica da minha terra.

— Ah, é... Você me disse uma vez que é brasileiro. E como é no Brasil?

— É um país maravilhoso, Mu. Você precisa conhecer. Tenho muita saudade de lá.

— E pensa em voltar algum dia?

— Eu fiz carreira na luta livre aqui na Grécia. Bom, na verdade, comecei meu treinamento no Brasil, mas foi aqui que minha carreira deslanchou, sabe. E no momento, não tenho projetos para retornar. Mas, às vezes, faço uma visita a minha família. Tenho uma irmã que mora no Rio de Janeiro.

— Foi lá que você nasceu?

— Não... Não... Eu sou mineiro. Nasci no interior de Minas Gerais. Mas já morei em São Paulo também, foi lá que iniciei minha profissão. — Seus olhos brilhavam enquanto falava do Brasil.

— Nossa! Rodou quase todo o país e veio parar na Grécia.

— Que nada! O Brasil é muito grande, Um. — Ele riu. — Você também não é grego, certo?

— Certo. Sou Tibetano.

— E você? Já pensou em voltar para o Tibete?

— Não. Já moro aqui há muito tempo. Estou quase me considerando grego.

— Temos muitas coisas em comum. — Abriu um sorriso enorme e lhe retribui o gesto. — Você tem um sorriso lindo! — Olhou-me com certa devoção.

Fiquei sem palavras, entretendo-me com uma mecha do meu cabelo, o enrolando entre os dedos. Era tão bom se sentir assim: desejado. Como eu queria que Aioria me olhasse desse jeito. Eu precisava parar de ficar, toda hora, falando e pensando em Aioira.

Para meu alívio, o garçon trouxe os nossos pedidos. Isso cortou aquele momento tenso. Bem, ao menos, tenso para mim.

A comida estava deliciosa. Aldebaran tinha razão, era um restaurante muito bom. Shion iria gostar daquele lugar. Ele vivia reclamando dos restaurantes de Atenas. Dizia que pagava para comer mal. Era muito exigente.

Aldebaran comia menos do que eu esperava para um homem do seu porte. Tive a impressão de que ele estava fazendo isso porque eu estava comendo muito pouco.

De sobremesa, fomos de tortinha de morangos com baunilha, famosa torta francesa, delicada e não muito doce. Junto com o café chegaram mais presentinhos da casa: suaves marshmallows e um docinho de pistache.

Mas o melhor de tudo foi a conta, uma bela surpresa para um restaurante daquele nível numa zona super turística: € 30 por pessoa. Não muito diferente do que se paga por uma refeição mediana e sem charme nos muitos restaurantes dos arredores. Aldebaran pagou tudo sozinho, embora eu tivesse insistido para dividirmos.

Ele me fez companhia até meu apartamento. Na porta, enquanto nos despedíamos, rodeou-me com seus braços fortes, e senti suas mãos fazendo um leve carinho no meio de minhas costas. Em seguida, roubou-me um beijo.

Foi uma sensação estranha no início, mas fui retribuindo aos poucos. Era um beijo tímido, discreto, sorrateiro que foi finalizado com uma mordida que ele deu nos meus lábios. Não posso dizer que foi avassalante, mas foi bom! Foi um beijo açucarado. Fez-me sentir vivo.

O fato é que estava experimentando algo novo e que me proporcionava um certo bem-estar. Estava gostando de sua companhia, ele era gentil e fazia com que eu me sentisse especial. O carinho com que me olhava, a atenção que me dispersava. A sua vontade de me agradar. Sim, eu queria tentar. Queria gostar dele. De verdade. E senti-me feliz com a perspectiva.

Não é que Shion tinha mesmo razão! Shakespeare estava errado. Qualquer felicidade é melhor do que sofrer por alguém que não pode ter.

***


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Notas finais do capítulo

Olá, gente!

Espero que vocês tenham gostado desse capítulo. E, já sabem, qualquer erro ou sugestão, por favor, me falem.

E perdoem-me se não teve tanta emoção no encontro de Mu e Aldebaran. Mas é Mu quem narra o capítulo, e ele não está apaixonado por Aldebaran.
Mas serei sincera em dizer que este não é meu casal preferido. Só consigo ver o Muzinho com Aioria.

AGRADECIMENTOS:
Agradecimentos mais que especiais a Jabu Best Saint, pelo comentário; a Myrho por comentar e favoritar a fic; a Nane Yagami linda, marcando presença aqui no Nyah tbm.
Espero não ter decepcionado vcs neste capítulo

Agradeço tbm a quem está acompanhando a fic: Akira Yaoi, Jenferr e os demais...

Então é isso, até o próximo capítulo com mais conselhos de tio Shion e com a presença especial de um certo indiano loiro.

Bjs.