O Meu Melhor Amigo escrita por MilaScorpions


Capítulo 1
É muito melhor viver sem felicidade do que sem amor.


Notas iniciais do capítulo

A imagem do capítulo não me pertence, achei no Google. Créditos ao artista pelo belíssimo trabalho. (Ainda não sei quem é). A edição é minha.

Capítulo NÃO betado.

A quem resolveu se aventurar, boa leitura. Espero que gostem!



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Ah, o amor... O mais indefinido dos sentimentos... O que pode existir de mais belo no mundo do que o amor? Essa coisa que nos faz perder o rumo, o sossego, que nos faz suspirar e ter a sensação de borboletas no estômago, além de mil pensamentos clichês... A verdade é que penso no amor mais do que gostaria. Fico sempre perturbado com o poder que ele tem de modificar a vida das pessoas.

Constatei que quase tudo que escreveram sobre esse sentimento é verdade. Foi Shakespeare quem disse: É muito melhor viver sem felicidade do que sem amor. Uma ideia romanticamente fabulosa! Provavelmente, Shakespeare nunca sofreu uma desilusão. Porque, veja bem, a maioria das histórias de amor é sobre pessoas que se apaixonam umas pelas outras. Mas, e aqueles que fazem parte de uma relação de mão única? Que se apaixonam sozinhas? Que sofrem do tipo mais cruel de amor? Aquele que quase mata suas vítimas aos poucos? O tal do amor não correspondido?

Chego a pensar que quem é desprezado deveria ter um botão que, ao ser ligado, fizesse com que a pessoa sofrida de amor esquecesse instantaneamente quem a faz sofrer. Mas os sentimentos não podem ser ligados e desligados como interruptores de tomada.

Então, por que somos amaldiçoados a amar alguém que não nos ama?

Talvez essa seja uma pergunta sem respostas, ou talvez, exista uma resposta ao mesmo tempo sensata e bem simples: gostamos porque gostamos, nem o coração sabe o motivo.

Assim, eu não sei a razão de ser tão desesperadamente apaixonado pelo meu melhor amigo. Mesmo sabendo que ele é hetero e namora, há quase dois anos, uma mulher linda, ruiva, alta e de pernas perfeitas. E não consigo pensar em mais nada a não ser nos dois juntos. Além disso, para piorar a minha situação, ele é meu colega de trabalho. E ter que conviver todos os dias com Aioria passando pela minha sala, desabafando sobre sua vida amorosa, seus problemas ou falando amenidades, sem fazer a mínima ideia de que sou deslumbrado por ele, é terrivelmente angustiante.

Aioria e eu trabalhamos numa agência de designer gráfico. Adoro o meu trabalho e sou muito bom no que faço, modesta parte. Mas toda vez que o meu melhor amigo chega perto de mim, eu perco totalmente a concentração. Só de olhar para ele, o meu coração dispara, a minha garganta aperta e é impossível engolir... aqueles sintomas de costume.

Naquele dia, uma sexta-feira de setembro para ser mais exato, eu tentava terminar um projeto muito importante para empresa: a capa de um livro do famoso escritor de vários best-sellers, Shaka Kanya¹. Perdido entre imagens, palavras e ideias, não vi quando Aioria se aproximou.

— Está tão compenetrado — ele comentou, com sua voz grave, sentando-se despojadamente na cadeira ao meu lado, cruzando os braços atléticos e os apoiando na mesa. Estava sorrindo para mim.

Por que ele tem que ser tão lindo?! Todos têm que concordar comigo que um moreno de 1, 85m, com um belo rosto, corpo de quem passa duas horas por dia na academia, e aquela pele bronzeada que é realçada pelo seu cabelo revolto acobreado, além de ter um bom coração e ser inteligente, charmoso, entre outros predicados... é alguém que não tinha como não se apaixonar.

— Saga está no meu pé para terminar logo a capa desse livro, e a minha criatividade parece que virou pó de estrela. — Tentei desviar o foco da minha visão, que, até então, estava nos lindos olhos verdes dele, para a tela do computador.

Saga é um dos nossos chefes. Ele e seu irmão Kanon que, segundo boatos, irá vender a sua parte na empresa para sair viajando pelo mundo. Kanon é meio exótico, um pouco estranho também. Para ser sincero, eu acho Saga tão estranho quanto Kanon. Eles são gêmeos e isso deve ser normal, quero dizer, não serem parecidos somente no aspecto físico.

— Impossível, Mu! As suas ideias são sempre ótimas — ele me elogiou. Aioria era sempre muito gentil comigo. Apesar do seu jeito marrento às vezes.

Milo, nosso colega de trabalho e amigo, se aproximou, jogando três papéis em cima da minha mesa.

— O que é isso? — indaguei, enquanto prendia com um elástico marrom os meus longos cabelos lavanda.

Sim, eu pinto os cabelos de lilás, um lilás claro e bem suave. A primeira vez que o pintei, tinha apenas treze anos. Era um típico adolescente que gostava de rock e se achava esquisito. A parte do esquisito ficava por conta de duas pintas avermelhadas que tenho bem no meio da testa e pela falta de pelos em lugares onde meus colegas tinham aos montes, além de não me sentir atraído por meninas. E, a fim de compensar a falta de pelos, deixei o meu cabelo crescer até a cintura. Para desviar a atenção das minhas pintas, tingi o cabelo com uma cor diferenciada. Quanto às meninas, nada mudou.

Hoje, com meus 24 anos (Milo e Aioria tem a mesma idade que eu), já superei essa parte de me achar esquisito, acostumei-me com minha aparência. Entretanto, acabei adotando essa cor. Às vezes, tenho a sensação de que meu cabelo já nasceu assim.

— Convites — Milo respondeu, dando a entender que aquilo era óbvio.

— Isso nós sabemos, seu besta. Mas convites para quê? — Aioria questionou.

— Uma festa!— Animou-se. — Numa das boates mais badaladas e caras da cidade. E só entra lá quem tiver — colocou o indicador nos papeis em cima da mesa — esses convites. E tenho três. Que significa que vocês vão comigo.

Milo vivia sempre em busca de boa festa e diversão. Ele e Aioria eram muito parecidos nisso. Só que Aioria havia desistido das noites de farras desde que começou a namorar Marin. Já Milo continuava não se apegando a ninguém, sempre aparecia com uma namorada ou namorado diferente. Acho que me esqueci de mencionar que ele era bissexual e dizia adorar sua condição. Assim, sempre tinha alguém interessante. As filosofias de Milo.

— Eu não posso ir, tenho um compromisso...

— Compromisso com seus livros de história — Milo me interrompeu com um de seus sorrisos sarcásticos. — Ah! Qual é, Mu?! Hoje é sexta-feira. Aioria está sozinho e nós três não saímos juntos há um tempão. Vai nos trocar por alguns livros antigos?

— É verdade, Mu — confirmou Aioria, levantando-se da cadeira. — Já faz algum tempo que não vou a uma festa, uma vez que Marin não gosta. É a minha oportunidade de sairmos nós três juntos, como nos velhos tempos. Poxa! Sinto falta de me divertir com os meus melhores amigos.

A namorada de Aioria estava de férias no Japão (sua terra natal), visitando a família. Já fazia uma semana que ela viajara, e, segundo Aioria, ficaria praticamente todo o mês por lá.

— Como nos velhos tempos de vocês dois, você quer dizer. Eu nunca gostei dessas baladas — repliquei. Aioria fez uma carinha de cachorro sem dono... Não resisti! Eu nunca resistia. Respirei fundo e decidi ir com eles. Até porque, se não aceitasse naquele momento, os dois iriam passar todo o dia tentando me persuadir, e sei que acabaria indo de qualquer jeito. — Tudo bem! Eu vou.

— Então, está certo. Encontro vocês na porta da boate, às nove. E, Mu, ai de você se não estiver lá — Milo ameaçou, piscando um olho e dando um de seus sorrisos matadores. Adorava fazer caras e bocas. Saiu puxando Aioria pela gola da camisa, enquanto este protestava. Vamos trabalhar, antes que sejamos obrigados a ficar aqui depois do expediente. Temos uma festa hoje à noite.

Depois disso, tentei me concentrar no trabalho, mas não consegui. Assim, nunca conseguiria terminar a capa daquele livro a tempo. Fiquei pensando se foi uma boa ideia ter aceitado ir àquela festa.

Às nove horas em ponto, o táxi parou em frente à boate. Havia uma multidão, três filas até o final do quarteirão. Se não fosse por Aioria, eu teria pedido ao motorista para continuar dirigindo. A batida do lado de fora era tão alta, e imaginei que entrar lá era o caminho certo para estourar os meus tímpanos. Porém, em vez de desistir, colei um sorriso no rosto e andei até o meu melhor amigo, que se encontrava perto de uma fila enorme nos esperando.

Estava tão lindo! Vestido num jeans escuro e numa blusa social preta que marcava perfeitamente sua musculatura. Os cabelos em um repicado desalinhado e o seu olhar sedutor e penetrante. Mais uma vez, tive a sensação estranha de que poderia ficar extasiado por horas, talvez dias, simplesmente olhando para seu rosto perfeito, admirando aquela paisagem que era uma verdadeira obra de arte. (Isso soou tão clichê, eu sei, mas o que fazer se é as pessoas apaixonadas são assim.) E o sorriso que ele deu, assim que me viu, provocou uma sensação de soco no meu estômago. Ah, Mu, ele nunca será seu...pensei desiludido.

Milo chegou 20 minutos depois. Ele sempre se atrasava. Estava muito arrumado como sempre, vestia um jeans de grife e uma camisa clara com uma jaqueta de couro. Com seus cachos loiros, corpo atlético e bronzeado, era muito bonito. Não como Aioria, claro. Enfim, estava pronto para caçar, como ele sempre dizia.

Chegou a nossa vez na fila, o policiamento do cordão de veludo estava em plena ação. Um cara enorme, usando um ponto de ouvido igual ao do Serviço Secreto, segurando uma prancheta, não hesitou em nos deixar entrar, assim que conferiu com detalhes os nossos convites.

— É uma boate gay?! — Aioria estranhou, logo que entramos. Casais homossexuais se agarravam tranquilamente na frente de todos.

— É claro! Você é o único hetero aqui e está namorando. Você não se importa com esse detalhe... Se importa?

— Não me importo. Os meus dois melhores amigos são gays e eu não tenho nenhum problema com isso.

Senti-me mais aliviado com o seu comentário. Embora eu não escondesse minha opção sexual de Aioria, sempre ficava apreensivo com o que ele pensava sobre a questão. Só faltava eu ser apaixonado por algum homofóbico. Seria uma dor insuportável demais.

— Além disso, o nosso Muzinho aqui está precisando namorar um pouco. — Milo enlaçou um de seus braços em meu ombro. — Quanto tempo não fica com alguém Mu?

Engasguei. Essa pergunta me deixou muito, mas muito constrangido e provavelmente meu rosto estava mais vermelho que um pimentão maduro. Sempre tão indiscreto esse Milo!

Olhei de um para o outro, e eles me observavam esperando uma resposta. Não sabia o que dizer. Se eu dissesse que não ficava com ninguém há séculos, o que era totalmente verdade, uma vez que eu não conseguia me sentir atraído por mais ninguém, além do meu melhor amigo, ele poderia pensar que eu era um virgem encalhado, que não tinha, sequer, capacidade para arrumar um namorado. Mas se dissesse que tinha minhas paqueras, corria o risco dele imaginar que eu era um maníaco sexual igual ao Milo, e, definitivamente, não era essa a ideia que eu queria que ele tivesse de mim. Então, decidi por falar algo que não era bem uma mentira.

— Na verdade, tem um cara aí que me liga às vezes e...

— Quem?! — Foi Aioria quem me interrompeu, parecendo muito curioso.

— Um cara que conheci há um tempo. Ah, vocês não conhecem...

— Uau! O Muzinho tá arrasando corações — Milo brincou.

— Qual é o nome dele? — Aioria continuou curioso e, não sei se era impressão minha, pareceu inexplicavelmente... chateado?

— Ah, eu já disse que vocês não conhecem! — respondi completamente envergonhado, tentando me distrair com uma mecha do meu cabelo. Eles me olhavam interrogativamente. Seus olhos aflitos por uma resposta. Suspirei, vencido. — Está bem. O nome dele é Aldebaran. É um lutador de...

— Você está saindo com um lutador?! — Aioria estava perplexo e Milo deu uma risada. Qual é o problema deles?

— Onde, você, Muzinho, tão sossegado e frágil, conheceu um lutador? — Milo me indagou, cruzando os braços musculosos. — Achei que você só frequentasse bibliotecas.

Eu não sou frágil, que ideia!

— Acaso acha que lutadores não podem ler? Mas se querem realmente saber, ele era vizinho do meu antigo apartamento. Estão satisfeitos?! — Já estava quase perdendo a paciência, algo difícil de acontecer, porque geralmente não me estresso à toa. — Ou só vocês podem conhecer alguém?

— Claro que não, Mu. Até porque te acho lindo, mas sei que você não dá bola pra mim. Bom, na verdade, você não dá bola para ninguém, porque sabe que se desse...

— Você é um pervertido, seu idiota! — Aioria esbravejou com Milo, que não se incomodou e continuou rindo.

Revirei os olhos. Eles eram tão infantis.

— Vamos mudar de assunto? E gostaria de deixar claro que não estou aqui para encontrar namorados, senhor Milo. Mas porque vocês praticamente me obrigaram a vim. Então, se continuarem com esse interrogatório sobre a minha vida amorosa, vou embora agora mesmo — ditei. Estava bastante envergonhado em ver a minha vida amorosa sendo discutida daquele jeito, ainda mais na frente de Aioria.

— Está certo! Não vamos mais falar sobre isso. Vou buscar uns drinques, o.k.? — Milo saiu pela multidão em direção ao bar.

Aioria continuou com a cara amarrada.

— Pelos deuses, Aioria! Vai ficar com essa cara? — Sinceramente, eu não entendia por que ele ficou tão irritado.

— Mu, eu me preocupo com você. Tenho medo de que se envolva com algum idiota que te faça sofrer ou te faça algum mal, alguém pode se aproveitar de você.

— Ei, Aioria, não precisa se preocupar, eu não sou uma mocinha indefesa — protestei.

Será que você não vê que eu sofro, mas é por sua causa? O meu piloto automático entrou em funcionamento rapidamente, lembrando-me de que seria constrangedor, para dizer o mínimo, verbalizar o que eu sentia.

— Sei que você não é uma mocinha, mas... é tão sensível. E com esse rostinho de anjo e esse seu jeito meigo... Ah, Mu, esse lutador não serve pra você.

De novo essa ideia de sensível?!

— Aioria, pode deixar que sei me defender. Até porque, eu disse que ele ME LIGA, não disse que tinha algo com ele. É só um amigo. E assunto encerrado. Além disso, eu tenho capacidade pra discerni se alguém é bom ou ruim pra mim. E você nem conhece ele.

Ele não pareceu satisfeito com minha resposta, no entanto mudou de assunto.

— Quer dançar?

— Melhor não... sou muito tímido para isso... Mas se quiser, vai lá, eu fico aqui.

— Vou ficar aqui com você. Por que não bebe alguma coisa? Assim, você relaxa um pouco e se diverti mais.

— Aioria, você sabe que não bebo. Vai lá, eu já disse, eu fico aqui. Sério!

— Não é por isso. Precisa se distrair um pouco. Ficar mais a vontade, relaxar...

Como se fosse possível relaxar perto dele. Mas talvez a bebida me ajude a anestesiar essas sensações que me atormentam quando ele está tão próximo Pensei. Achei mesmo que um pouquinho de cerveja não iria me fazer tão mal.

— Tudo bem! — concordei.

Encostamos no balcão do bar e Aioria pediu duas latas de cerveja. Quando ele me entregou a bebida, sua mão tocou a minha e senti um arrepio percorrer por toda a espinha dorsal. Por que ele tinha esse poder sobre mim?! Isso era injusto.

Tentei distrair a minha atenção, observando o salão onde vários rapazes muito bonitos dançavam. Seus corpos se movendo sensualmente ao ritmo da música. Um rapaz loiro tentou flertar comigo. Desejei me sentir atraído por ele, entretanto, infelizmente, nem ele, nem ninguém ali me chamavam atenção. Avistei Milo conversando com um homem de longos cabelos ruivos. Ele não perdia tempo. E talvez estivesse certo. Ao menos, não sofria como eu, que estava condenado a ficar sozinho, sonhando com o meu melhor amigo. Tentava esquecê-lo, juro que tentava, amá-lo daquele jeito não era uma escolha minha.

—E então, o que achou? — perguntou sobre o gosto da bebida.

— Não é tão ruim.

Milo voltou com cara de poucos amigos.

— O que foi, bonitão? Suas cantadas não estão mais dando certo? — Aioria debochou, rindo da expressão de desagrado do outro.

— O cara é uma verdadeira pedra de gelo. — Milo estava muito chateado e Aioria gargalhava alto.

— Quem diria! O famoso e irresistível Milo levando um fora.

— A noite ainda não acabou, meu caro. E eu não sou homem de desistir fácil. Quanto maior o desafio, mais gostoso é a conquista. — Milo pegou mais um copo de bebida. E como eu o conhecia bem, sabia que não ficaria sossegado até derreter a tal pedra de gelo.

Pedi outra cerveja também. Até que o gosto não era tão ruim.

— Já?! Está bebendo muito rápido, Mu. Vá com calma ou irá acabar bêbado — Aioria avisou.

Não dei atenção. A cerveja era refrescante e estava me sentindo mais leve. Ele não queria que eu relaxasse?

Uma hora depois, eu estava na fila do banheiro, completamente bêbado e a minha cabeça girava. Uma experiência a não ser repetida. A fila andou, e chegou minha vez. Olhei inexpressivo para o cartaz atrás da porta que exaltava as virtudes do sexo seguro. Como se eu fosse fazer sexo tão cedo, pensei.

Meu estômago deu sinal. Queria vomitar. Ah, não!... Não devia ter bebido aquelas cervejas. Bem que Aioria me avisou pra ir devagar.

Saí do banheiro e voltei completamente tonto. Estava vermelho e ligeiramente fora de foco. Aioria estava na pista de dança. Como se fosse possível, ele ficava ainda mais sexy dançando e eu não conseguia desgrudar os olhos dele. Deveria se proibido alguém ser tão lindo assim.

— Você demorou muito — Aioria me repreendeu. — Onde estava?

— No banheiro. Cadê o Milo?

— Insistindo com o ruivo.

— Aioria, acho melhor eu ir lá fora tomar um pouco de ar puro.

— Você está bem? — perguntou, parecendo realmente preocupado.

— Estou. Só quero um pouco de ar. Está muito calor aqui. Volto em cinco minutos.

Tornei a atravessar a multidão. A cabeça estava rodando, e fiquei um pouco desastrado. Um pouco mais que o normal.

Foi quando senti a mão de alguém nas minhas costas.

— Oi — disse o loiro que estava tentando flertar comigo, assim que cheguei à boate.

Dei um sorrisinho sem graça pra ele e tentei seguir em frente.

— Meu nome é Radamanthys e o seu? — Ele chegou ainda mais perto, passando o braço em volta de mim.

Fiquei perplexo com sua ousadia. Dei-lhe um empurrão, mas ele era um muro de músculos, e não consegui movê-lo.

— Você é tão lindo! — Sua mão deslizava para o meu cabelo, e ele estava segurando minha cabeça.

Ah, não! Ele estava tentando me beijar. Fiquei sem saber o que fazer. Eu não era fracote, mas estava tão tonto...

—Larga ele, agora! — Ouvi a voz grave e imponente de Aioria. — Ou vou te mostrar o peso da minha mão.

Aioria me puxou dos braços do tal Radamanthys, fuzilando-o com os olhos. Parecia um leão enfurecido.

Olhei aflito para ele. Não queria que eles brigassem ali. O rapaz não disse nada, apenas ria debochadamente.

— Vamos! — Aioria disse de modo autoritário e, ainda me puxando pelo braço, me guiou para fora. — Depois diz que sabe se defender! — Passou a mão pelo cabelo revolto. Parecia muito irritado.

Por que ele está agindo dessa forma? Pensei. As atitudes de Aioria me confundiam.

— Eu sei me defender, sim — falei emburrado. Fechei os olhos e respirei fundo contando até 10. Isso me ajudava a acalmar. — Acho melhor voltarmos para dentro.

— Não quer ficar aqui fora? Tem certeza de que está bem?

— Estou bem — respondi. Mas era mentira. Sentia-me fraco, bêbado, envergonhado, um leque confuso de emoções.

Voltamos para o bar. Ele pegou uma cerveja. Tentei pedir uma para mim e ele me impediu.

— Você não vai beber mais. Já passou do limite. — Ele era muito, muito autoritário!

Amava Aioria em alto grau mesmo, mas não gostava quando ele ficava mandando em mim, o que sempre fazia. Contudo, não questionava. No fundo, sabia que ele tinha razão. Realmente passei dos limites. Por que me permitir ficar desse jeito? Queria anestesiar as sensações que surgiam quanto estava perto de Aioira, mas ao contrário, elas foram ampliadas. Tive tanta vontade de beijá-lo, de tocá-lo...

O movimento das luzes seguia o ritmo da música, lançando no bar e na clientela uma iluminação colorida, estranha, alternando sombras. A música estava martelando, barulhenta, retumbando fora e dentro da minha cabeça. Olhei para a pista de dança e vi Milo dançando com o ruivo, que inclusive parecia gostar, ainda que meio travado. Já Milo remexia com maestria, tão bem quanto Aioria. Lembrei-me dele dançando. Senti uma vontade desesperadora de fazer isso com ele. Minha timidez escondeu-se em algum lugar que não consegui mais achá-la. Com certeza, efeito do álcool no meu sangue.

— Quero dançar. E você vem comigo. — Puxei Aioria. Ele aceitou sem hesitar. Sei que gostava disso.

Nossos corpos se moviam ao som da música, que não consigo definir qual era. Mas era alegre e agitada. Dançando comigo, Aioria me observava sorrindo. Não parecia mais chateado. Milo e o seu amigo se aproximaram. Estávamos todos animados. E eu ficava cada vez mais tonto.

Aioria chegou bem perto de mim. Ele era a única pessoa que fazia meu sangue disparar nas minhas veias. Chegava cada vez mais perto, seu perfume estava me enlouquecendo. Percebi que ele parecia novamente irritado. Olhei pra os lados e vi que o tal Radamanthys não parava de nos observar.

Meus pensamentos invadiram meu cérebro, lutando contra a sensação confusa da embriaguez. Senti como se não tivesse mais nenhum osso no meu corpo, meus músculos se moviam deliciosamente ao som da batida, nunca imaginei que eles pudessem se mover tanto.

Milo beijou o ruivo de surpresa que, aparentemente confuso, retribuiu. Como ele consegue? O ruivo parecia não querer nada com ele, e de repente... Impressionante! O beijo era avassalador. Tive vontade de beijar Aioira daquele jeito.

Todos os sentimentos proibidos que tentei afastar vieram a tona e corriam desordenadamente pelo meu corpo esgotado. Queria poder dizer a ele o quanto eu o amava, o quanto sonhava com ele todas as noites. Queria que ele sentisse o mesmo por mim... O que Shakespeare diria sobre felicidade e amor se estivesse tão desesperado quanto eu?

Estava muito quente, muito barulhento. Muito colorido. Minha cabeça começava a rodar...

***


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal,

Essa fic surgiu da necessidade de espairecer minha mente de outra que estou escrevendo. Minha intenção é fazer uma história leve e descontraída, com poucos capítulos (entre seis a oito).

Eu gostava muito de Aioria e Marin juntos, mas li algumas fics de Aioria com Mu e achei o casal tão fofo, tão cheio de química, que acabou se tornando um dos meus preferidos.

Esse capítulo não foi e provavelmente não será betado, assim como os próximos. Por isso, peço que relevem alguns errinhos que porventura me passaram despercebidos. Melhor ainda seria se me falassem, caso os encontre, para que eu possa fazer a correção. Agradeceria muito, muito mesmo. Seja erro de gramática ou de ideias absurdas e inverossímeis que eu tenha escrito.

Então é isso, espero que gostem e que se divirtam lendo, assim como me diverti ao escrever.

Beijos e até o próximo capítulo.

Ah, Kanya¹ é o signo indiano de Shaka.