Apesar das proibições, Edward e Jacob não eram capazes de suportar a rotina de ficarem trancados em casa durante absolutamente todo o tempo. Jake sentia falta do barulho do mar, da sensação da areia molhada debaixo dos pés, das fogueiras em meio às grandes pedras da costa. O outro faria qualquer coisa por um pouco de ar puro.

Assim, todas as noites, quando Billy dormia, ambos fugiam para a praia. Obviamente, a transgressão das regras não era completa – Edward era razoavelmente responsável e não deixava seu protegido sozinho por um único momento sequer. Dessa forma, caminhavam entre as ruazinhas estreitas da reserva e à beira da praia, geralmente calados, limitando-se a saborear os delicados sons que enchiam as noites de La Push.

Numa noite particularmente estrelada, em que o céu parecia um manto negro cravejado de milhões de diamantes, Jacob perguntou, quase retoricamente:

- Por que eu tenho que ser protegido? Por que eu não pude morrer naquela noite?

Sua voz era carregada de um melancolia profunda, daquelas que só uma tristeza muito intensa consegue arrancar da alma. Ele era o culpado de tudo. Essa certeza pesava em seus ombros e ele não sabia se conseguiria carregá-la por muito mais tempo.

A conversa de Billy repetia-se em sua mente:

- Foi o seu tataravô quem matou o líder deles. É por isso que eles querem você mais do que qualquer outra pessoa, Jacob.

- Mas por que eles não me mataram daquela vez? Quer dizer, eu não sei como eu sobrevivi! Queria ter morrido e poupado Emily, Quill...

- Você não poderia tê-los poupado, meu filho. Eles querem, acima de tudo, expulsar os quileutes daqui. Você é apenas uma diversão a mais para eles, uma espécie de prêmio.

- Mas por que eles não me mataram? Por quê? – a voz, muito alterada, arranhava-lhe a garganta ao sair. O pai mantinha a calma e a impassividade até mesmo ao proferir as palavras mais duras daquela conversa.

- Sam o salvou. Sam se transformou, e talvez isso aconteça com você também.

Os olhos de Jacob, naquele momento, tinham todos os sentimentos do mundo, confundidos em uma expressão de choque. Seu coração pesava como se tivesse repentinamente se transformado em um bloco de pedra, e ele tinha certeza de que jamais veria a vida da mesma forma outra vez. Então, tudo passou a fazer sentido. Era por isso. Queriam que ele se transformasse e, assim, tivesse forças o bastante para lutar.

- E é por isso que eu estou sendo protegido? – sua voz soou calma, ele estava tão destruído por dentro que não conseguiria suportar uma emoção mais poderosa do que a resignação.

O olhar silencioso do pai carregava uma resposta mais completa do que qualquer frase que pudesse ter saído de sua boca.