Quero que você conheça meu mundo escrita por River Herondale


Capítulo 7
Te encontrar foi um milagre


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :D



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Frederico andava nas nuvens. A última hora de sua vida tinha sido tão estranha que ele ainda não sabia se tudo era verdadeiro ou apenas um sonho e que daqui a pouco ele acordaria. Mas não. Clarice e ele trocaram contatos e marcaram para se encontrarem no feriado de segunda no parque do Ibirapuera. Segundo ela, eles teriam um dia de “inspiração”. Frederico não fazia ideia do que significava isso, mas ele estava bem ansioso, em parte porque sempre foi apaixonado em cinema, mas seria mentira dizer que ele não estava fazendo aquilo em parte por causa de Clarice.

Ela era diferente. Isso soa extremamente corriqueiro e clichê, mas para Frederico ela era verdadeiramente diferente de todas que ele já conhecera. Ela era decidida, determinada, excêntrica, intensa e única. Ele ainda não entendia porque Clarice o escolhera para esse projeto.

Infelizmente eles tiveram que se separar já que Clarice alegou que acontecera um imprevisto após trocar algumas mensagens em seu celular. Não haveria saída senão ir embora também.

Frederico estacionou o carro preto que ele ganhara de seu pai quando passou na faculdade e subiu pelas escadas até seu apartamento. O carro era lindo, mas ele sempre sentia que apenas ganhara de presente por ter feito a faculdade e seguido o sonho de seu pai. Então nem era tão animador assim.

Frederico costumava subir até seu apartamento pelas escadas quando estava triste apenas para poder pensar. A solidão e a infinidade dos degraus davam a paz que Frederico raramente tinha dentro de sua casa.

Quando ele abriu a porta, ouviu a voz ardida de sua vó exclamar:

– Fred, meu netinho futuro advogado!

Frederico não suportava que o chamassem de Fred, mas sua vó não aprenderia nunca. Quando ela sorria seu rosto ficava em um formato assustador por causa do Botox exagerado. A mulher tinha quase oitenta anos, qual era o problema de envelhecer naturalmente?

– Olá, vovó. – Frederico a beijou na mão. Desde que ele era pequenino sua vó exigia que ele fizesse isso, pois ele era um cavalheiro e ela uma dama. Ele não gostava de beijar as mãos ossudas dela porque sua boca sempre ficava com gosto de creme de mãos.

– Seu pai me disse que você foi em um lugar sobre cinema, algo assim. Oras, Fred, que perda de tempo! Quando eu cheguei aqui seu pai estava atolado em uma pilha de papéis do escritório no qual eu tenho certeza que você poderia ajudar.

– Foi bem interessante lá no evento na realidade. Sabe, vovó, estou com saudades de ir no Casarão da família! – Frederico sempre se transformava perto de sua avó. Ele passava uma calmaria, uma satisfação inexistente perto de seus familiares. Ele não se sentia à vontade de ser ele mesmo perto de sua família.

– Cassiana me disse o mesmo dia desses. – disse a vovó Olga referindo-se a sua outra neta. – Mas eu falei que ela só pisa naquele casarão de novo se passar no vestibular de Direito! Sempre tão fofa essa menina, só poderia ser minha neta.

Frederico estranhava. Cassiana estudava música desde os oito anos quando pediu para sua mãe para aprender a tocar violoncelo. Era talentosíssima, e sua vó se orgulhava do talento da menina, porém não deveria se passar de hobby. Frederico achava que Cassi deveria trabalhar com música pelo seu talento.

– Estou com saudades do tio Lúcio também. Quando ele volta das férias?

– Semana que vem. As fotos que ele anda me mandando da Europa são tão lindas! Ah, Fred querido, você viu que fotos maravilhosas do Lúcio?

– Acho que sim. – Frederico suspirou, cansado. – Pai, vou para meu quarto estudar. Licença, vovó.

– Toda, meu amor. Vá e estude bastante para ser um grande advogado! – Olga era uma velha exagerada. Ela podia ser a vó de Frederico, mas ele não aturava ficar muito tempo perto dela e suas manias. A velha tinha uma personalidade chata de lidar, era geniosa e inflexível.

Frederico se trancou em seu quarto bem cansado e indisposto e então ligou o computador para pesquisar sobre cinema, técnicas novas, tutorias interessantes de fotografias e por fim jogar no Google o nome Clarice Vianna. Ele se espantou tanto com os resultados que parecia que nada mais poderia surpreende-lo.

¨¨¨¨

Depois de ter recebido aquela mensagem urgente de Heitor, Clarice teve que sair correndo do Evento até a casa dele. Ele dissera que seus pais haviam batido em seu apartamento procurando por ela, e quando ele disse que não sabia de nada eles acreditaram até que a mãe dela enxergou a mala de Clarice no fundo da sala e invadiram a casa dele. Ele precisava de Clarice imediatamente, pois os pais dela disseram que só sairiam de lá quando pudessem falar com Clarice. Ela estava ferrada.

Ela entrou no apartamento como um furacão e já foi gritando.

– Saiam daqui agora!

– Clarice, pare de ser ridícula. – Dona Cristina tentava ser dura.

– Ridícula, eu? Pare você de ser ridícula! Já sou maior de idade, e você nunca se importou comigo, porque agora se importa?

– Eu não quero te perder de novo!

– Você já me perdeu a muito tempo, mãe, e não vai me recuperar. Parem vocês dois de incomodarem o Heitor e me deixem em paz.

– Onde você conhece o Heitor? – seu pai dessa vez perguntou.

– De uma vida passada, do nada, do destino, quem sabe? – seu pai raramente se pronunciava em momentos sérios. Ele provavelmente só abria a boca para dizer “Vai Curintia!” o que não exige nem um pouco de inteligência. – Se sua preocupação é que estou dividindo um apartamento com um homem, pai, saiba que sua preocupação é inútil já que eu já fiz várias coisinhas sujas com homens de várias nacionalidades ano passado. Eu sei me cuidar.

Seus pais nunca foram liberais, e sexo ainda era tabu perto dela, principalmente porque ela nasceu mulher. Ela não aguentava.

– Agora saiam daqui. Saiam porque eu não aguento mais olhar para vocês, e se vocês não saírem eu saio!

Dona Cristina aproximou-se de Clarice e falou com a voz trêmula.

– Não pense que pode falar o que quiser só porque é maior de idade. Não pense que poderá se livrar de sua família. Clarice, quando você precisar da gente nós estaremos aqui. Só não esqueça disso, e tudo que precisará dizer é desculpa e por favor.

– Nunca precisei de vocês. Agora saiam que não são bem-vindos.

Heitor fechou a porta atrás dos pais de Clarice, ela paralisada no mesmo lugar no meio da sala em pé. Ela queria gritar, queria chorar, queria ser consolada. Mas ela havia se acostumado a mascarar seus sentimentos tão bem que a necessidade de chorar e gritar e sentir-se consolada já não era relevante. Nesse momento ela só precisava de um caderninho e uma caneta, e escrever.

¨¨¨

Frederico clicou no primeiro link relacionado a Clarice. Era uma reportagem de um portal de notícias sobre uma campanha de uma rede de saúde e as fotos estavam creditadas a Clarice. Em outra página falava sobre a vida de um fotógrafo freelancer, e depoimentos. Clarice dava seu depoimento sobre viajar pelo mundo fotografando e ganhando dinheiro com isso. Até que então Frederico achou um blog chamado Devaneios de Clarice e clicou.

Era dela. Não era atualizado desde o fim do ano passado, e as fotos na maioria das vezes eram de viagem. Também tinham textos, crônicas. Um deles chamou atenção de Frederico.

“A graça de ter um blog secreto é que se você encontrá-lo pode interpretar como um milagre. Procure por mim, isso deve ser um sinal. As pessoas me interpretam como alguém distante, alguém indiferente, que só quer beijar um pouco de noite e de manhã esqueceu que isso aconteceu. Mas a verdade que eu sinto demais, sinto muito por isso. Estou escrevendo esse post no aeroporto de Amsterdã, me preparando para voltar para São Paulo. Parece que estou regredindo, mas também parece que algo me espera lá. O voo está atrasado, então deu tempo de editar as últimas fotos tiradas e só posso dizer o quão agradecida sou de viver. Respirar parece algo incrível quando você para e percebe. A capacidade de pensar é sensacional, e agora só posso pensar em como essas viagens sozinha me deixaram sensível e conectada ao mundo.

Não é perda de tempo fazer o que gosta. Perda de tempo é ficar presa em algo que odeio apenas para agradar alguém.”

No final do post uma foto muito bonita de Clarice em uma ponte de Amsterdã ao pôr do sol. Ele escreveu um comentário nesse post:

“Te encontrar foi um milagre.”

Foi em anônimo. Frederico esperava que Clarice não visse.

¨¨¨¨¨¨

– Clarice, precisa de alguma coisa? – Heitor perguntou delicadamente, sua pele escura fazendo um lindo contraste com a camiseta amarela.

Clarice levantou a cabeça e olhou para Heitor. Ela estava sentada no sofá e escrevendo, então nem notou a presença dele.

– Poxa, Heitor, eu estou muito envergonhada. Prometo que amanhã vou embora!

– Não. Olha, eu entendo que você está passando por um momento complicado.

– Sim, mas não preciso descontar em você, na sua vida. Somos tão estranhos que nem sei qual é seu emprego!

– Eu trabalho na Santa Casa, agora você já sabe. E não quero que quando você for embora você pare de falar comigo.

Clarice se levantou e então o abraçou.

– Eu tenho uma dívida longa para pagar para você. É só você me ligar quando quiser que nós nos falaremos.

– Não esqueça de mim.

– Não vou.

Heitor já se tornara especial para Clarice, mas na sinceridade ele não passava disso. Ela tinha medo de por ele no escanteio enquanto ele estava sendo tão bom com ela.

– O que você estava fazendo quando eles chegaram?

– Estudando.

– Sério? Sacanagem!

Heitor deu risada.

– O que você acha de ir comer alguma coisa fora? Eu estou com vontade de te fotografar.

– Para pagar sua dívida comigo?

– Pode ser. – Clarice sorriu mesmo com dor no coração. – Eu não costumo cobrar barato meus cliques.

– E depois?

– E depois a gente pode assistir algum filme. – Clarice estava tentando ficar confortável com a situação. – Já assistiu Laranja Mecânica?

– Não... – Heitor parecia sem graça.

– Sério? Bom, hoje você vai assistir. Prepare o coração que esse filme é bem impactante.

E eles saíram para comer. E depois assistiram Laranja Mecânica. Só na hora de dormir que Clarice viu uma mensagem no celular. Era Frederico.

“Amanhã eu te vejo então?”

“Positivo” ela respondeu. Depois de dois minutos outra mensagem chegou.

“Eba! Estou bem ansioso.”

Ela sorriu com a animação de Frederico. Então respondeu:

“Eu também.”


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Notas finais do capítulo

Gente, agora a fic tem tumblr, yaaaaaay. Acessa pls: http://clariceefrederico.tumblr.com/ ah, e eu fiz um trailer para a fic, veja por favor! https://www.youtube.com/watch?v=zy3oubFIl40&list=UUtwIIDRftA_Dt5N9gLc57qA obrigada, gente!



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