Quero que você conheça meu mundo escrita por River Herondale


Capítulo 4
Outro lugar para eu morar


Notas iniciais do capítulo

Fiquei muito feliz em saber que tenho leitoras, eeeeeee
Obrigada, meninas



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– Com licença. – uma moça bateu na porta da sala de aula e entrou. O coração de Frederico pulou.

– Ótimo, só para nos atrapalhar. – Frederico escutou Luana reclamar, mas ele não ligou. Ele definitivamente conhecia a tal fotógrafa.

Não podia ser.

Fazia um tempo que ele havia visto aquela garota pela última vez, eles estavam em março e deveria ter sido em janeiro. Aquela garota tinha uma tatuagem idêntica à da garota do show.

Não.

Frederico sempre quando está nervoso as palmas de suas mãos ficam geladas, e seus pés escorregadios no sapato. A reação era estranha, afinal, era só aquela garota. Quando ele andava na rua com Bento e eles davam de cara com uma das três ex de Bento, Bento não mostrava nenhuma reação nervosa ou incomum. Era algo normal. Mas aquela garota nem ex-namorada dele era. Era só uma garota que ele beijou. Mesmo assim ele sentia a necessidade de ir lá, conversar, saber sobre ela, seus sonhos...

Mas ele nem sabia o nome dela! Onde ele poderia estar com a cabeça?

– Vou ficar ali no cantinho fotografando, pode continuar a aula. – a garota disse ao professor e imediatamente começou a fotografar. Frederico tentou prestar atenção na aula, mas como? Ele odiava direito, odiava aquele professor caduco com métodos ultrapassados, e enquanto Frederico olhava para a garota, não pôde deixar de notar a tatuagem nas costas dela, uma claquete.

Ele reconhecia o modelo da câmera dela. Era uma Canon EOS 5D, um modelo que ele gostaria de ter se não fosse tão caro. Mas afinal, ele nem fotógrafo era. Sua câmera profissional de entrada era o suficiente para fotos dos fins de semanas.

– Se importa de ser fotografado? – a garota estava do lado dele, a câmera apontada para seu rosto como uma espada.

– Sem problemas. – ele tentou não se mostrar nervoso enquanto a lenta era ajustada. O “click” sinalizou o disparo.

– Perfeito. Obrigada.

– Ei, meu nome é Frederico.

Ela olhou para ele meio confusa.

– Tudo bem então, Frederico.

Como ele podia ser tão idiota? Ela acabara de mostrar não se recordar dele, e ele fez esse papel idiota. Um grande idiota, Frederico. Daqueles bem grande.

¨¨¨

Clarice estava passando todas as fotos tiradas na USP para seu computador, assim podendo editá-las e depois enviá-las para a agência. Seu pai estava no bar e sua mãe saíra comprar produtos de limpeza. Quando a casa estava completamente vazia era o melhor. Sem brigas, ou desprezo, ou tolerância. Era só ela e sua playlist infinita de músicas que ela conhecera durante suas viagens. Nada mais importava.

Ela se deparou com uma foto de um garoto aluno de direito. Ele tinha cabelo castanho, um topetinho, óculos grossos e pretos, pele clara como se não conhecesse sol e bem magro. Não do tipo magro saudável, mas do tipo que não se alimenta corretamente e um sorriso tímido emoldurado por covinhas. Os olhos dele que deixaram ela inquieta: eram escuros como o céu da madrugada.

Ela conhecia aquele rosto, definitivamente.

Como conhecia muita gente de muitos lugares ela ficava confusa. Frederico o nome dele, não era? Se ao menos ela tivesse Facebook para pesquisar e achar o perfil dele...

Mas afinal, por que ela estava tão interessada em saber? Era só um carinha de sorriso inocente.

¨¨¨

“Oi”

“Oi”

Bento havia enviado uma mensagem para Frederico enquanto ele trabalhava no escritório de seu pai.

“Tá trabalhando agora?”

“Óbvio. Onde mais eu estaria?”

“Ah, é. Desculpa. Quer saber como foi dar a notícia para a mamãe?”

“Ela vai vir te estapear de Salvador?”

“Provavelmente viria se tivesse dinheiro. A verdade é que ela ficou meio decepcionada, perguntando se eu conhecia um negócio chamado camisinha e como seria de hoje em diante. Eu deixei claro que trabalharia duro.”

“E seu pai?”

“Ele ficou bem puto no começo, mas você sabe que meu pai só esquenta na hora e depois sofre quieto. Ele só me disse para contar com ele que devagar se ajeita.”

“Uau. Que bom, eu acho”

“É, bem bom. O problema é a Natália. Ela ainda não contou para seus pais e nem pretende contar ainda. Sei lá o que ela anda pensando, mas isso é estranho. Perguntei se ela queria que eu contasse junto, mas ela disse para esperar.”

“Melhor esperar mesmo. Desculpa, posso falar depois? Meu pai chegou.”

Dr. Leonardo conversava com Luana enquanto entravam no escritório juntos, Luana com seu cabelo loiro amarrado forte em um coque e sua roupa séria. Quando ela viu Frederico, cumprimentou ele com um sorriso.

– Frederico, estão aí os papéis que mandei entregarem? – Dr. Leonardo perguntou sem nem mesmo olhar para o filho.

– Na sua mesa, pai.

Luana que estava distraída bebendo café, esperou Dr. Leonardo sair de perto para puxar assunto com Frederico.

– Ainda gosta de cinema, imagino?

Que pergunta mais ridícula é essa, Luana? Frederico queria dizer, mas foi educado.

– Sim, gosto. Por quê?

– Vai ter um festival de filmes brasileiros no fim de semana, o dia todo no sábado e domingo com palestras e apresentações dos filmes. Pensei que você iria gostar de conhecer.

– Seria legal. Tem que pagar alguma entrada?

– Na verdade eu ganhei entradas, mas não poderei ir já que estarei no interior para aniversário de 82 anos da minha vó. – Ela puxou as entradas de sua maleta. – Divirta-se lá. – e entregou para ele.

Frederico pesquisou na internet e viu sobre o evento. Parecia bem interessante, por que não? Ele pegou o celular e discou o número mais digitado em toda sua vida.

– Alô, Bento? Tá livre no fim de semana?

¨¨¨

– A agência ganhou convites para o Evento Brasileiro de Cinema. Você tem que ir! É incrível e como eu sei que você ama esse lance de filmes independentes, produção e tal, será bem interessante. – Tati comentou animada para Clarice.

– Eu vou, claro. A galera toda foi convidada?

– Sim, mas poucos vão. Sabe como é esses feriados prolongados, né? A galera aproveita para visitar parentes em outras cidades ou ir à praia.

– Mas você vai pelo menos?

– Não... Meu namorado vai me levar para Minas conhecer seus pais, e estou bem nervosa, mas ansiosa. Me deseje sorte!

Tati era bem fofa. Seu cabelo era pintado de azul e tinha uma franjinha, seu corpo arredondado, as bochechas gordinhas e seu estilo moderno a fazia ser adorável. Ela começara a namorar fazia pouquíssimo tempo e estava apaixonada daquele modo irritante que os apaixonados ficam.

Chegando em casa, sua mãe estava no telefone, as contas espalhadas na mesa, toda descabelada, o avental sujo.

– A garota que ferrou a família chegou, Florinda. Depois a gente conversa, tá? Não esquente a cabeça não, dinheiro sempre tá em falta, mas a gente se vira como pode, né? Até mais, beijo!

– Ferrou a família? – Clarice não poderia tolerar isso.

– E você fez o que pegando aquele dinheiro? Sabia que a gente precisava.

– Para quê? Para manter o vício em bebida do pai? Para você botar um botox nessa sua cara caída? A herança estava em meu nome, não me venha com essa história de novo!

– E gastar tudo vadiando pelo mundo adiantou muito mesmo. Podia ter ajudado a quitar o apartamento, a trocar o carro velho do seu pai ou no mínimo guardar para pagar uma faculdade. Todo o dinheiro do seu querido vô foi gastado em rabiscos ridículos pelo corpo, viagens idiotas e uma câmera mais cara do que qualquer coisa que a gente já pode te dar. Acorda para a vida, Clarice, essa não é sua realidade!

– Vai se foder.

Clarice correu para seu quarto, fechando a mala e pegando seu notebook da mesinha. Por sorte não havia tirado nada da sua mala, pois esperava que um dia isso acontecesse. Uma fuga urgente, algo apressado, e esse dia havia chegado. Ela não aguentava mais.

– Onde pensa que vai?

– Bem longe dessa casa desestruturada. Acha que me atacando você vai melhorar? Seu fracasso me enoja, sua falta de coragem, sua acomodação. Não sou a filha que você queria, não é? Você nunca quis me ter, sempre me tratou com desprezo desde que sou bebê, meu avô foi o único que me deu suporte em todos esses anos! Desculpa se não quero virar médica, engenheira ou qualquer outra profissão superestimada, mas dona Cristina, me desculpa, mas a vida é minha e você não tem o direito de mandar em mim!

Clarice fechou a porta com tudo atrás dela, sem olhar para a mãe. No fim do corredor ela jogou longe sua mala de mão, gritando frustrada. Falar de seu avô era um assunto delicado, sua mãe sabia disso. A tatuagem em sua costela, uma pena, era em homenagem ao seu avô. Ele adorava escrever, e tinha cadernos e cadernos desde sua juventude com incríveis poemas, crônicas e seu dia-a-dia. Clarice tocou em sua costela por cima da regata branca que usava, como se tocasse em seu avô. Era perto do coração, onde ele morava agora.

Dentro do elevador decidiu subir um andar. Heitor morava ali no fim do corredor.

– Clarice?

– Posso usar um pouco sua internet? É bem rapidinho.

Ela entrou, a casa dele era típica de um jovem solteiro. Bagunça e mais bagunça, louça suja e poucos móveis. Ele deu a senha do wi-fi para ela, que pôde mandar uma mensagem para Tati.

“Tô sem onde morar. Minha mãe é louca.”

“Não brinca! Ai meu Deus, vou te ligar.”

– Você pode ficar comigo, você sabe disso, né?

– Mas vou incomodar.

– Eu quero que você fique. Quanto tempo desejar.

– Não posso fazer isso, Tati. É pedir demais.

– Não é não, você é minha amiga, lembra?

– Não vai ser por muito tempo, prometo.

– Cala a boca, Clarice. Ai, que droga eu não estar em Sampa! Onde você vai ficar durante esses dias?

– Não faço ideia. Provavelmente vou ter que arrumar algum hotel bem barato e acabar com todas minhas economias de novo ou dormir no corredor do prédio.

– Que droga eu não poder te ajudar! Ai, o que eu posso fazer por agora?

– Nada. Aproveita a viagem, e não estraga tudo com sua sogra! Eu me viro bem, não é? Sempre me viro.

– Tá bom, Clarice, só me promete que ficará bem.

– Ficarei.

– Promete?

– Prometo.

– Então está prometido.

Clarice desligou o telefone, jogando ele longe e atolando seu rosto nas palmas das mãos, cansada. Ela estava ferrada.

– Pode ficar aqui se quiser.

– Sério? Não, Heitor, fala sério. Nós nos falamos o quê? Duas vezes?

– Mas você veio até aqui me pedir ajuda. Ora, vamos, considere isso como uma troca de favores.

– Bem, esse fim de semana tenho compromisso com a agência, só preciso de lugar para dormir mesmo. Quero não incomodar nada!

– Serão só quatro dias então contando com hoje e com o feriado de segunda. Não vai incomodar, só espero que não repare na bagunça.

– Eu te ajudo a limpar, assim me sinto mais leve.

– Então está feito.

– Obrigada, Heitor.

Heitor sorriu para ela de um modo bonito, e ela ficou envergonhada. Ela não acostumava ligar para esse tipo de coisa, mas ele estava sendo gentil demais. Se ele gostasse dela? Seria complicado pensar que ele estava fazendo isso por causa de algum sentimento secreto, porque ela não correspondia. Ela não sentia nada assim por ele. Não queria machuca-lo sem querer.

Mas tinha coisas mais importantes para se preocupar.


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Notas finais do capítulo

Um pouquinho do passado da Clarice. No próximo capítulo vamos mexer nos pauzinhos e botar os dois juntos de novo pra animar o/