Quero que você conheça meu mundo escrita por River Herondale


Capítulo 5
A vida não tem roteiro


Notas iniciais do capítulo

Agora temos um espião na fic, ai meu Deus!
Brincadeiras a parte, é que um amigo meu descobriu a fic e está lendo! Ai que vergonha, minha gente, hahaha
Vergonha porque a gente põe muito de nós enquanto escreve, né? Parece que meus segredos foram descobertos!
Fora esse detalhe, obrigada pelos reviews



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– Gosta de pizza, né? – Heitor perguntou para Clarice enquanto ela se ajeitava na sua “nova casa”.

– Gosto, mas não como carne. – Clarice estava tentando ao máximo ser simpática. Mas era estranho. Ela mal conhecia o cara! Mas que saída ela tinha? Além de que, ela sabe se virar muito bem. Viajar com pouca grana em vários países fez com que seu instinto de sobrevivência ficasse apuradíssimo.

– Temos uma natureba aqui! Bom, vou pedir uma pizza de brócolis então.

– Minha pizza favorita! E não é que eu seja natureba ou coisa do tipo. Meu pai sempre amou fazer churrasco para seus amigos bêbados, aquela carne ensanguentada e aqueles homens nojentos e bêbados, minha mãe servindo de garçonete. Eu sempre odiei isso que criei uma repulsa por carne.

Heitor sentou-se na frente dela, encarando-a.

– Vejo que todos seus problemas são relacionados aos seus pais.

– Você é o quê? Um estudante de enfermagem ou um estudante de psicologia? – Clarice sorriu e ele também.

– Um amigo.

Naquela noite ela dormiu no sofá desconfortável, o cabelo cacheado todo imbramado e um sentimento de vazio. Heitor insistira que ela dormisse em sua cama, mas ela não podia aceitar. Era a casa dele, afinal. Amanhã seria melhor. Era a esperança de um futuro melhor que a movia.

Então adormeceu.

¨¨¨

Mesmo que Bento tivesse recusado a oferta de Frederico de irem juntos no tal Evento Brasileiro de Cinema, Frederico decidiu ir mesmo assim. Quem o conhecia sabia: ele sempre teve essa paixão.

Seu quarto era uma prova disso. Na parede um pôster do Star Wars e outro uma ilustração dos filmes do Tarantino. Na sua estante uma claquete de enfeite e algumas actions figures. Seu pai reclamava, dizendo que era um quarto imaturo demais para Frederico, um futuro advogado.

Ali mesmo na estante estava sua preciosa câmera fotográfica. Quando ele viu aquela garota fotografando na faculdade sua vontade foi chegar até ela e gritar: “Ei, eu sei mexer numa dessas! Amo fotografar, quer ver minhas fotos?”, mas seria ridículo. Ele era inseguro com isso, e ela definitivamente era melhor que ele. Um amador mostrando fotos para uma profissional? Piada! Ela riria da cara dele e de sua falta de técnica.

Ele pegou sua amada câmera e colocou na bolsa, preparado para o dia cheio que teria. Como ficaria sozinho no evento, pelo menos poderia se distrair fotografando.

¨¨¨

Clarice ainda dormia quando seu celular tocou.

A luz do visor queimou seus olhos quando ela viu que quem ligava era Tati. Ela atendeu.

E Tati chorava.

– Tati, o que aconteceu?

– A mãe do Mateus. Ela me odeia.

– Como assim?

– Eu estou me sentindo tão mal. Quero tanto ir embora! Quando chegamos na casa dos pais do Mat, a mãe dele me avaliou com o olhar de um modo tão desconfortável. Ficou me provocando enquanto mostrava fotos do Mateus quanto pequeno, dizendo que ele sempre foi “magro e saudável”. Ela tocava em meu cabelo e perguntava por que eu pintara ele de azul e qual era a cor natural dele. Perguntou sobre minhas tatuagens e seus significados, mas o pior foi na hora de almoçar que ela me viu colocando a comida no prato e disse: “não exagera muito não, você já está um tanto acima do peso, né? Meu filho não pode ter uma namorada maior que ele.”. Eu fiquei tão frustrada! Me tranquei no quarto depois do almoço e Mateus depois de um tempo me consolou. Mesmo assim, é tão horrível que só quero voltar para casa.

– Ah, Tati, não fica assim não... – Clarice era a pior pessoa para se pedir conselhos ou consolo. Ela não costumava ser paciente. Mas era sua amiga, né? Precisava dizer algo. – Seja forte e mostre ser melhor que ela, ok? Aguenta firme.

– Mateus está do meu lado pelo menos. Eu ouvi ele brigando com a mãe dele quanto achou que eu tinha adormecido. Não quero causar discórdia na família.

– Mateus te ama. Relaxa, tá? Vai dar certo.

Depois de escutar mais uns minutos de lamentação, Clarice pode finalmente se levantar do sofá de Heitor. No corredor estava ele sem camisa e com uma toalha no ombro. Ele sorriu para ela.

– Bom dia!

– Bom dia, Heitor.

– Dormiu bem?

– Dormi sim. – ela mentiu, mas estava com uma dor chata no pescoço e costa.

– Que bom. Tem pão na cozinha e pode pegar leite da geladeira. Já vou comer com você, só preciso terminar de arrumar minha cama.

– Tudo bem.

Ele estava se virando, e ela estava tão desconfortável. Ele estava sendo muito gentil com ela, e nada parecia ser o suficiente para agradecê-lo.

– Ei, Heitor. – Ele se virou. – Obrigada. De verdade. – Então ele sorriu. Ele tinha sorrisos fáceis.

– Relaxa.

Enquanto tomavam café da manhã, Clarice sentiu que deveria saber mais de seu novo amigo. Ela puxou assunto.

– Você é de São Paulo mesmo?

– Guarulhos na verdade. Morava com minha vó, dona Benedita.

– Ah, entendi.

– Onde esteve tanto no ano passado? Sei que viajou, mas nada demais.

– Nova York, Délhi, Sydney, Hong Kong, Qatar e Amsterdã. Melhores lembranças. Ai que saudade que bateu agora! Mas sim, foram esses os lugares. Pretendo juntar dinheiro esse ano para viajar ano que vem de novo.

– E qual foi seu lugar favorito?

– Vish, difícil. Cada lugar com sua singularidade, sabe? Nova York é grande e com tanta gente e principalmente tantas oportunidades. Tenho um carinho especial. Délhi é diferente de tudo que já vi, a cultura e tudo mais. Ótimo para fotografar. Sydney tem um clima maravilhoso, tanto japonês que parece que estava no Japão e não Austrália! É um lugar acolhedor. Hong Kong é exótico também, mas como era uma colônia da Inglaterra nós vemos as heranças deixadas no lugar. Culturalmente falando é fascinante. Qatar tem uma arquitetura e praias incríveis, ah que saudade de Qatar. E Amsterdã é um lugar tão encantador, amável e nos dá a sensação de liberdade em sermos nós. É, não consigo escolher um só lugar.

A saudade martelava em Clarice. Ela precisava voltar a viajar, estar livre e construir sua vida longe de São Paulo, longe de seus pais.

– Mas e você? No que quer trabalhar como enfermeiro?

– Eu quero ser enfermeiro de algum hospital psiquiátrico. Sabe, poder dar esperança para essas pessoas tão rejeitadas pela sociedade. – seus olhos brilhavam.

– Então se prepare para cuidar de mim futuramente. – ela falou séria demais.

Heitor olhou estranho para Clarice. Ela apenas continuou bebendo seu chá.

– Sabe como é, não demorará muito para meu fim ser morrer em um lugar desses.

A convicção dela foi tanta que Heitor nem retrucou. Talvez ele concordasse que ela era meio louca.

¨¨¨

– Onde você vai? – Dr. Leonardo perguntou enquanto Bento saía pela porta da frente do apartamento. Ele usava uma camiseta com estampa nerd e levava a bolsinha da câmera.

– Em um evento de cinema.

– Essa bobeira, Frederico, sério? Estava contando com sua ajuda nas papeladas do escritório.

– É domingo, pai!

– Advogado é um emprego até fora do escritório, você sempre soube disse.

– Desculpe, pai, mas não faço hora extra.

– Frederico! – o pai odiava quando Frederico falava algo que ele considerava “ofensivo”. Mas Frederico já estava saindo. Depois ele se ajeitava com o pai.

O evento era exclusivo para quem tinha os convites, e foram poucos distribuídos. Frederico queria entender como Luana conseguira aqueles tais convites. A garota nem gostava de cinema! Ele teria que perguntar ainda. Com o cronograma em uma mão e a câmera na outra ele estava pronto.

A parte da exposição de objetos emblemáticos de cinema foi uma das suas partes favoritas para fotografar. Tinha um De Lorean em miniatura incrível que se não fosse tão caro ele gostaria de comprar um. Seu celular despertou avisando que chegara o horário da palestra que ele gostaria de ver.

“O Cinema no Brasil”

Ele se sentou no meio da plateia, e o cara que daria a palestra era um produtor bem sucedido. Era conhecido por ser mau humorado, mas para Frederico era uma oportunidade tão grande estar naquela sala que ele relevou.

¨¨¨

Clarice chegara um pouco atrasada no Evento de Cinema. Estava tão ansiosa para ver a palestra de um dos produtores mais famosos do Brasil que procurou um bom lugar na plateia. Infelizmente encontrou um apenas no meio, mas era o suficiente.

Seu sonho era lançar um filme com seu roteiro, sua direção, seu dedo em tudo. Era um sonho distante? Sim. Mas ela se agarrava a uma pontinha de esperança que tudo daria certo. Não que ela se gabasse, mas ela tinha um talento natural.

O cara apareceu no palco e todos bateram palmas. Na primeira fila era uma galera cheia de câmeras e microfones. Jornalistas obviamente. A coisa ia ficar boa.

O produtor tinha uma cara de bêbado arrogante, mas antes fosse só a cara. Quando abriu a boca, Clarice esperava ouvir algum egocentrismo, mas ele foi pior. Falou mal do modo que o cinema brasileiro era feito, mal do mercado escasso no país e a competição e desvalorização no cenário de cinema brasileiro. Disse algo que deu para entender que “quem se forma em cinema é um sonhador ingênuo e idiota” e que “poucos fazem sucesso, por isso trate de arrumar algum psiquiatra para tratar o trauma do fracasso”.

Clarice era uma baita de uma cabeça dura e não aceitaria ouvir essas bobagens do produtor. Era hora das perguntas da plateia, e ela foi a primeira a se levantar.

¨¨¨

– Esse é o discurso mais derrotista que já ouvi em toda minha vida. Com todo respeito, mas se diz tão apaixonado pelo cinema, como pode cuspir tanto e diminuir nosso modo brasileiro de criar cinema?

Frederico se virou como todos para encarar a pessoa que perguntava. Sua maior surpresa foi ver quem era.

Era muita coincidência.

– Você é estudante de cinema?

– Não.

O produtor riu de deboche, e então a encarou.

– Sabe, queridinha, a realidade dói, e filmes duram uma hora e meia, mas a produção leva anos e dinheiro. O Brasil não tem patrocínio o suficiente para todos, então é melhor um choque de realidade antes do que depois de formado, não é?

– E já não está na hora de uma mudança no cenário cinematográfico? – Frederico havia se levantado também. O que ele estava fazendo exatamente? Mas sua coragem redobrara.

– Você é quem para interromper?

– O cinema brasileiro é desvalorizado pelos próprios profissionais, como quer que o cenário aumente? Eu vejo uma pessoa frustrada no palco, decepcionado porque a bilheteria de seu último filme foi baixa, enquanto novos estúdios andam produzindo filmes melhores e com bilheteria e críticas boas.

A garota tatuada olhou para ele, sorrindo. Frederico nunca se sentiu tão corajoso.

– Desencorajar os novos cineastas não nos fará desistir. Marque meu nome, senhor. Clarice Vianna, e vamos ver se daqui alguns anos você não está trabalhando para mim?

Então o nome dela era Clarice.

Clarice se levantou e saiu da sala, todos observando seus passos. Frederico estava perplexo, e por fim decidiu sair da sala também, correndo atrás dela.

Ele chegou ao lado dela arfando, e então a cumprimentou com toda a coragem que ele nunca teve em toda sua vida.

– Essa é a terceira vez que nos vemos e só agora descubro o seu nome? Mesmo assim, é um prazer te conhecer, Clarice Vianna.


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Notas finais do capítulo

Agora que Frederico sabe o nome da Clarice o negócio vai esquentar, ebaaaa
Eu fiz uma playlist com músicas que me lembram a Clarice e o Frederico. Aqui ó: https://www.rdio.com/people/marcelasayurinl/playlists/11558423/Quero_que_voc%C3%AA_conhe%C3%A7a_meu_mundo/

E também fiz um vídeo mostrando a aparência física de alguns personagens no The Sims. Vejam! https://www.youtube.com/watch?v=1_3Byo1zkMs&feature=youtu.be

Obrigada pessoal! Espero vocês nos reviews