Quero que você conheça meu mundo escrita por River Herondale


Capítulo 16
Ainda há muito o que viver


Notas iniciais do capítulo

Olá! Wow, faz um bom tempo que não posto, desculpa! Esse mês foi bem complicadinho, mas aos poucos vou colocando tudo nos trilhos, hehe
Esse capítulo é meio meloso, o que me deixou bem irritada porque não gosto de escrever coisas assim. Mas senti que era hora.
Espero que gostem



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– O que ela tem que não te faz parar de pensar nela? – Bento perguntou enquanto olhava para uma loira do outro lado do corredor do shopping. Era começo da noite de quarta-feira, e Bento convidara Frederico para ir ao shopping jantar e conversar. “Como nos velhos tempos”, ele justificara. “Quando não estávamos em ‘Relacionamento sério’ no Facebook”.

– Ah, sei lá. – Frederico disse com sinceridade. Eram tantas coisas. Fazia quinze dias que estavam juntos, e ver ela no fim de semana, saírem para comer, escreverem juntos pedaços do roteiro, os beijos, os sonhos, as filosofadas enquanto estavam no carro. Ela por completo. – Ela tem alguns sonhos como os meus. Ela tem várias tatuagens muito bem feitas e com muita história. Sua melhor amiga é uma câmera fotográfica da Canon. Ela furou sua orelha sozinha durante sua viagem no Qatar. Sei que ela entende mais de política do que a maioria que tem dezenove anos. Tira foto toda hora e sua justificativa é que está “registrando” e odeia falar de sua vida antes dos dezoito, o que torna essa parte um mistério.

– Cara, você é muito gay. – Bento resmungou com uma careta quando ele terminou de falar.

– Trouxa. – Frederico retrucou, e então sorriu. – Não sei qual seu problema com ela.

– E não sei como você me diz que não sabe nada sobre ela!

– E não sei mesmo! Isso não é nem 1% dela. A maioria do que sei foi observando-a.

– “Clarice, a única pessoa que consegue tirar o sossego da vida monótona de Frederico Escobar!” além de mim, é claro. Só que eu não te beijo.

– Sabe, eu tenho dó do seu filho. Vai ter o pai mais idiota do mundo!

– Pelo menos o padrinho dele vai ser responsável, eu espero.

– O quê?

– Surpresa! Eu sei que é cedo demais para essas coisas, mas você vai ser padrinho do moleque ou moleca. Daí alguma amiga da Natália será a madrinha e fim, todos estão felizes! Quando eu quiser sair você cuida do fedidinho, já que será sua obrigação como padrinho.

– Posso simplesmente dar presentes no aniversário, natal e dia das crianças e tudo ficar ok?

– Não. Se você fizer isso é um padrinho horrível.

¨¨¨

– CLARICE! - gritou Tati enquanto entrava no apartamento. Estava com as bochechas avermelhadas.

– O que foi? – Clarice estava editando as fotos da agência no seu computador quando ouviu Tati gritar.

– Eu e o Mateus voltamos! – Tati pulava, e então foi correndo dar um abraço na amiga.

– Que bom! – Clarice ficava realmente feliz pela amiga. Não aguentava mais ouvir Tati reclamar da vida para ela, em como o mundo era injusto e esses dramas.

– Ai, ai, agora mais forte que nunca. Nem Deus separa amiga, nem Deus!

A única coisa que Clarice fez foi rir.

¨¨¨

– Como é? – perguntou Bento depois que comeu sua sobremesa. Estavam ambos sentados em uma mesinha de uma doceria do shopping. – Digo, como é ser Frederico e estar apaixonado?

– É tipo viver naqueles caindo em um clichê constante, mas que não incomoda. – Frederico respondeu depois de um tempo. Ele estranhava essas perguntas.

– Tá mais pra ser um completo idiota. Cara, eu queria que você se visse.

¨¨¨

Ele bateu na porta. Era sexta à noite. Clarice apenas puxou-o para dentro. Seus lábios se encontraram com naturalidade.

Assistiram filme juntos. Netflix é pra isso mesmo, não é? Tati estava com Mateus, então tinham o apartamento só para eles.

Quando o filme acabou eles foram para a cozinha. Cozinhar com quem você ama torna a atividade mais prazerosa do que é possível imaginar.

– O que você sabe fazer? – Frederico perguntou enquanto Clarice procurava algo para cozinhar na geladeira.

– Miojo conta?

– Não mesmo! Por sorte eu sou um guru na cozinha. – ele brincou.

Macarronada, aquela comida tão simples que sua avó faz no domingo pode se tornar a comida mais especial do mundo quando seu coração está aquecido de amor. Se o amor é o fogo que arde sem se ver, isso só os poetas podem responder.

Eles brindaram com água, mas usando taças de vinho.

– Esse é um momento bom para nós gostarmos de álcool. – Clarice comentou.

– Mas então não seria nós. Quantos casais do mundo brindam com água em taça de vinho?

¨¨¨

Há uma varanda pequena no apartamento em que Clarice vive com Tati. A noite quente de São Paulo, o caos dos carros disputando caminho lá embaixo, nada disso tirava sua concentração depois do jantar. Frederico entrou ali, tirando o cabelo curto de Clarice de seu ombro, deixando amostra uma das tatuagens.

– Eu gosto dessa. – ele disse.

Ela encarava o nada. As vezes isso acontecia. Frederico passaria pelos 12 trabalhos de Hércules, a Odisseia inteira apenas para ter a chance de saber o que tanto passava naquela mente.

– Você já sentiu vivo de verdade? – ela perguntou enquanto olhava as raras estrelas do céu. – Como se não vivesse atoa, e sua existência tivesse um propósito no universo? Tem dias que me sinto um sopro no universo, mas tem dias que me sinto única. Nós somos únicos, não somos? E ser importante no mundo não é para todo mundo em si, mas para nós mesmos, e para quem a gente importa. Quando estou em paz, como agora, e a natureza parece entrar em harmonia com tudo, sinto que estou vivendo. Não só que ar nos meus pulmões, mas que existo.

O que ele poderia dizer? Nada seria suficiente. Mas ele nunca tivera tanta certeza na vida antes que vivia. Além disso; que existia.

“Puta, que mulher atraente.” Ele pensou. E antes que raciocinasse, disse:

– Te amo. – Pela primeira vez ele disse. A frase tão curta e simples, mas com tanto significado que os dois ainda não haviam dito um para o outro.

Clarice se virou e olhou no fundo dos olhos dele. Amar exige coragem, e Clarice que sempre se achou uma covarde com seus sentimentos bradou força.

Deita do meu lado. Me abraça. Ah, e foda-se se é clichê ou meloso demais. Já comi muita comida amarga na minha vida.

Amar é uma estrada sem chão nem caminho. Você sabe que tem que continuar, mas não é certo. A complexidade do coração batendo mais rápido, o medo constante do que não é presente, da certeza de que essa pessoa entrou em sua vida por um erro do destino, e que se você ao invés de ser você fosse outro alguém e não conhecesse a pessoa que ama, isso se torna um medo.

Nenhum amor é igual, por mais que os sintomas sejam os mesmos. Todo beijo é especial. Aliás, já reparou na sua boca? Dizem que foi feita para alimentação e comunicação, mas os poetas diriam que foi feita para mais. Que foi feita para alimentar o amor e comunicar o carinho.

Se tem gente morrendo nesse exato momento, você não liga. Se tem um ladrão roubando alguém no meio da rua, isso não importa. É mais interessante observar como os ossos da costa

do seu amor se movimenta quando te beija, ou mesmo quando anda.

Você tem uma cara de idiota, mas não há outra.

Você é um idiota eterno, o que é o mesmo que ser feliz.

¨¨¨

– Vem comigo. – ela sussurrou. Seus olhos eram intensos.

Talvez fosse a arte. Ou então fosse certeza que era. Mas entenda que todas as fotos coladas na parede do corredor que Clarice mesma colocara, as margaridas que Tati ganhara de Mateus, mas havia esquecido em cima da mesa, os livros espalhados na mesa de centro da sala e alguns CD’s e DVD’s ao lado da televisão. Isso tudo contribuía com a intensidade.

¨¨¨

– Tem certeza? – ele quis saber enquanto se jogavam no sofá.

– Por que você não beija minha boca? – ela tratou de mudar logo o assunto.

– Por que você mesma não vem e me beija? – Frederico achou estranho. Clarice não se importava com essas coisas. Se ela queria ela ia e fazia.

– Porque quero que você venha e me beije. Quero me sentiu procurada.

– Você não se sente procurada?

– Parece que os caras têm medo, ou sempre esperam de mim, mas nunca eles vêm e fazem. Sempre sou eu. Sempre o primeiro passo é meu. Quero sentir que estou sendo procurada por você, não que eu esteja te procurando.

– Nós dois estamos nos procurando. Prefere assim?

– Prefiro. Então me ache agora.

¨¨¨

Naquela iluminação ficava difícil contar as tatuagens espalhadas pela pele dela. Mas ele estava vendo mais do que já vira antes, isso era uma certo.

É um frio na barriga insistente que nasce e fica quando se sabe que está se entregando. Eles se encaixam perfeitamente, parece que foram feitos por encomenda.

¨¨¨

– Vem dormir. – Clarice chacoalhou Frederico pelo ombro. Estavam entrelaçados no sofá.

– Já está amanhecendo.

– Quero deitar do seu lado.

Mesmo que o quarto fosse de Tati, que mal tinha? Deitaram e dormiram quase que imediatamente e em paz.

¨¨¨

O rosto de sono dele, o cabelo todo bagunçadinho. Ah, meu caro, se você acha isso lindo, saiba que é amor. Clarice tocou o nariz dele com graça, fazendo com que um Frederico dormente coçasse e fizesse biquinho.

¨¨¨

– Sempre gostei de Filosofia. No Ensino Médio era minha aula favorita. Sempre gostei de procurar mais perguntas para as perguntas, de questionar nossas verdades absolutas e dos “e se”. Sempre gostei do conforto que podemos ao menos tentar responder tudo usando a total lógica e razão. Mas não consigo encontrar algo racional no que estou sentindo agora, Frederico. Há algo de errado aqui.

– Abrace a poesia. O que não se explica com razão vira arte.

¨¨¨

Suas conversas fluíam naturalmente de um modo inexplicável. Parecia que estavam sincronizados, mas talvez isso explicasse outro ponto do amor. Você sabe que está apaixonado quando sabe o que o outro vai falar antes mesmo de começar.

A iluminação de manhã é linda para fotografar. A luz que entrava no quarto, as sombras que formavam no edredom branco todo bagunçado na cama, o Frederico descamisado e com os óculos tortos equilibrados no rosto. Era uma fotografia que gritava para se tornar eternizada em luz.

– Onde você vai?

– Espero um segundo. – ela foi buscar sua câmera fotográfica e colocou para tocar na televisão uma playlist feita em um domingo preguiçoso de música brasileira. Ensaio Sobre Ela, de Cícero começou a tocar timidamente, preenchendo o recinto.

– Vai me fotografar? - Frederico perguntou surpreso quando ela voltou com sua câmera apontada para ele como uma arma. estava séria e com olhar atento.

– Eu já fotografei muitos ensaios, mas não são meus favoritos. Gosto de fotografar sem horário marcado ou poses certas. Não gosto de montar a foto, mandar no modelo. Gosto quando a foto se monta para mim, e só pede para ser fotografada. Você, agora, pede uma foto. É a foto com sentimento e história. Que transporta no tempo.

Cada clique eterniza um momento. Clarice sabia disso. Fotografar parece um ato simples, mas que em troca guarda consigo os momentos que nunca voltarão. Essa é crueldade da fotografia. É uma projeção do que já foi real.

Clarice decidiu aproveitar enquanto era real.


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Notas finais do capítulo

Ficou melosinho, eu sei! Me desculpem por isso!
No próximo capítulo vai ter história, prometo, hahaha. Esse capítulo foi mais para poder ser bonitinho e não para acrescentar. Mas deu para vocês entenderem como está sendo o começo do namoro eu espero :)

Ah, e preciso contar! Comecei a fazer Artes Cênicas