A Última Harrison escrita por Caderno Azul


Capítulo 8
Cilada


Notas iniciais do capítulo

Gente, sinto que devo explicar essa demora para vocês, porque essa história chegou num ponto que não imaginava. Por ser minha primeira original, não esperava que AUH tivesse uma recepção tão boa como recebi de vocês. Não falo apenas dos números , mas da qualidade de todos os comentários maravilhosos e das pessoas que me procuram pelo facebook ou MP para conversar da fic. Muito obrigada a todos vocês, de verdade.
Bom, para quem não sabe: eu estou fazendo autoescola. Eu postei "Manipulável" uma semana antes de fazer a prova teórica. Eu estudei só na véspera, fiquei super nervosa e não passei por uma. Óbvio que fiquei revoltada comigo mesma e foi só até eu fazer de novo e passar - o que aconteceu há uma semana - que consegui encontrar concentração para escrever o capítulo. Eu não demorei muito tempo escrevendo-o, mas ele custou um tempinho para ser formado na minha cabeça... Agora vocês vão ter respostas.
Ah, e agradecendo à Jornalista de boteco, que fez essa capa linda em dois segundos e salvou minha pele! Lu, eu amei!
Sem mais delongas, o suspense acabou :) Boa leitura!



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Ao ouvir seu verdadeiro nome, Kate sentiu-se afundar cada vez mais para as profundezas de si, um mar escuro do qual nunca deveria ter saído. Não conseguiu evitar a reação que a classificaria como culpada. Fitou o garoto a sua frente de olhos arregalados, mas conseguiu reprimir o engolir em seco. Ele ainda estava à espera de uma resposta.


Aquele sorriso fez com que ela se voltasse à superfície e recuperasse a autonomia de seus pensamentos.


Tentou sorrir despreocupada, mas falhara miseravelmente. Olhou para a janela, cuja gloriosa luz iluminava parte da sala de reuniões. Não havia mais nada que pudesse fazer a não ser o que já estava fazendo há semanas.


Mentir.


–Do que me chamou? – ela perguntou, ainda tentando manter o sorriso frágil colado em sua face. Podia praticamente ouvir os neurônios de Paul trabalhando e não acreditando nem por um segundo em sua atuação.


Ele voltou a falar, com ares de deboche dançando por seus olhos.


–Kate, Kate Harrison. Não é o seu nome? – disse, arqueando as sobrancelhas. Parou para se consertar, ironizando. – O verdadeiro, eu quero dizer.


A garota balançou a cabeça, tentando passar nada mais que inocente confusão. Podia sentir o coração acelerado, a adrenalina correndo por suas veias. Notava que as pernas imploravam pelo comando para se movimentarem. Todo seu corpo estava em alerta e implorava para que ela saísse da toca do inimigo.


Paul estreitou os olhos, analisando criticamente a reação da menina. Ele achou que sentiria algum tipo de euforia, ou qualquer sentimento semelhante quando a desmascarasse, todavia se enganou. Ele estava decepcionado. Aquela emoção não surgiu. Ao invés disso, uma onda de irritação o acertou quando a garota insistiu com a voz calma:


–Meu nome é Melissa Smith.


Paul poderia ter rido daquilo, mas ele não era um sujeito muito espirituoso. Além disso, não estava com bom humor. Não gostava de ser enganado, especialmente por garotas misteriosas que apareciam para fazer com que seu ingênuo irmão se apaixonasse por elas.


Se Kate ainda fosse uma desconhecida, mas a situação era bem mais crítica que isso.


–Claro que é – ele concordou em tom cético. – Agora, sem ataques e sem teatro. – sua voz prática preencheu a sala de reuniões e ele tomou a liberdade de tirar a taça das mãos da garota para deixar o objeto repousado na mesa ao lado, juntamente com a sua. Diante a situação estranha, Kate recuou vacilante. Paul imediatamente percebeu sua movimentação. – Não torne isso pior do que já é.


Ela não estava mais preocupada em convencê-lo. Os cabelos de suas nucas se eriçaram de puro medo. Desde o fatídico dia, Kate não experimentara aquela sensação de medo. Por isso não parou de se afastar, nem por um segundo. Palavras deslizaram pelos seus lábios trêmulos:


–O que você quer?


Paul mais uma vez se viu frustrado. Era para estar, no mínimo, se divertindo com a reação desesperada da garota, não tinha dúvidas de que ela merecia aquilo. Porém, para sua exasperação, não conseguia se entreter como previsto.


–Não parece mais tão segura, Melissa – Ele lançou outra ironia, não soube se por tédio ou raiva. Começou a caminhar preguiçosamente em sua direção.– O que aconteceu com as suas falas decoradas? Esqueceu o texto?


Pelo canto do olho, Kate observou uma das cadeiras perto dela e em desespero, agarrou sua borda, empunhando-a em direção a Paul, usando o objeto como escudo. Seus olhos percorriam todo o perímetro da sala a procura de uma saída. Sua mente buscava uma rota de fuga. Contudo, ambas as ações se provaram infrutíferas, à medida que seu desespero crescia.


– Não se aproxime – ela ordenou com a voz falhando. – Você não ousaria me expor ou ... Ou algo pior. Não debaixo do nariz de seus convidados – ela falou ainda se afastando, consciente que em breve encontraria a parede.


Paul soltou uma risada. A garota não tinha ideia de que aquela havia sido uma armadilha meticulosamente planejada.


– Mas essa é a beleza de ser o anfitrião. Não há convidados. A festa foi cancelada. – franziu a testa e completou em tom de deboche. – Achei que soubesse.


–Não! – Kate gritou frustrada, se negando a acreditar. – Porque Mary e Joshua, e a música... – ela não conseguia mais formular as frases, seu nervosismo nublava seus pensamentos, nada mais fazia sentido
Respirou fundo, tentando manter o controle. Ele estava tentando assustá-la.
Estava sendo bem sucedido. Aquela áurea de segurança começava a perturbá-la.


–Você está mentindo! – gritou com mais certeza que sentia. Paul a cercava fazendo com que ela se sentisse um animal em cárcere. Não sabia mais o que pensar, queria que o mundo a engolisse e a arrancasse dali. Como desejava ter sua taça em mãos! Todavia, sua única arma eram suas palavras, que até então se provaram tão inúteis quanto a cadeira que segurava com tanta convicção.


–Ora, eu não tenho motivos para inventar histórias por aí. Ao contrário de você que parece ter um talento natural para isso.


Ela ignorou a acusação. A preocupação atingiu um nível demasiado elevado.


–Joshua não saiu do colégio...


–Nem ninguém – Paul confirmou seu raciocínio.


Detalhes que passaram despercebidos surgiram imediatamente. A mudança de planos, o motorista sinistro, Mary achando que Joshua estava mentindo. Todas as peças do quebra-cabeça pareciam se encaixar agora.


–O que fez com a Mary? – ela exigiu saber, empunhando a cadeira com veemência.


–Tenha calma, Sherlock. Eu não teria motivos para ferir Mary.– ele então completou com uma frieza glacial. – Não posso dizer o mesmo de você.


Kate olhou de esguelha para a janela, que surgia como uma passagem de liberdade. Não era tão alta, embora precisasse subir em alguma cadeira se desejasse chegar àquela altura.


Todavia ainda não era o momento. Faltava um último detalhe.


–Paul, você não precisa fazer isso. – ela disse tentando recuperar a calma. - Se você me deixar sair daqui, prometo que nunca mais falo com Adam.


Ele franziu a testa, impressionado com a tentativa de barganha.


–Interessante como meu irmão significa tanto para você - comentou com desdém, seus olhos faiscavam quando ele completou. - Ah, você acha que nosso problema é esse? Que bonitinho. Receio dizer que as coisas não são tão simples assim.


Kate voltou a olhar para a janela e antes que Paul pudesse impedi-la, juntou toda a força que tinha e a concentrou na cadeira que segurava.


– Mas podem ser.


E com ímpeto, lançou o objeto em direção à janela de vidro. Paul instintivamente se abaixou e cobriu o rosto para proteger os olhos. A superfície transparente se estilhaçou em diversos pedaços provocando uma chuva de cacos de vidro tanto para fora da casa quanto para dentro da sala, acertando-os. O barulho da janela sendo quebrada superou o da música do outro cômodo. A cadeira, que não havia sido jogada com força suficiente, havia ficado pendurada, metade do lado de dentro e metade do lado de fora.


Se Paul havia se preocupado em se proteger da explosão, Kate não se importou com os cacos que produziram cortes em seu rosto e corpo. Na verdade, ela contava justamente com o momento de distração para fugir dele e atravessar a sala, rumo à única porta. Podia ter tentando pular a janela, mas a cadeira presa ao batente se tornou um obstáculo não planejado. Infelizmente, ela não fora rápida para chegar à maçaneta.


Paul havia se recuperado mais rápido que ela previu e a puxou pelo calcanhar. A garota gritou ao perder o equilíbrio e cair. Sua sorte foi do chão de carpete ter amortecido grande parte de sua queda.


Mas não havia tempo para calcular os danos.


Ela fincou as unhas na superfície fofa ao perceber que Paul estava logo atrás. Infelizmente, a força superior do garoto a obrigou que permanecesse atada ao chão, contra o corpo do inimigo que tentava controlá-la. Com o rosto espremido entre o carpete e a mão que a mantinha imóvel, não havia como enxergar o semblante de seu oponente, embora soubesse que sua respiração também estava ofegante.


Kate não estava disposta a perder sem demonstrar resistência. Ela se debateu com energia, porém Paul a imobilizou e mais uma vez, o fato de ser maior o beneficiou.


–Eu disse “sem ataques” – sibilou ele, segurando-a com mais força.


Kate lutou mais uma vez e se esforçou para que palavras saíssem por meio de seu ar cortado pela respiração acelerada.


–Achou que eu me entregaria tão facilmente?


Paul franziu a testa, sem entender. Do lado de fora, alguém mexia num molho de chaves, pelo som metálico do movimento. Kate suspirou em alívio. Aparentemente, qualquer pessoa que entrasse seria melhor que aquele que estava lhe prendendo.


–Quem está aí? – Paul perguntou sem esconder a irritação na voz.


Em resposta, a porta se abriu. A pessoa com as chaves na mão era Adam que exibia um semblante confuso e Mary espiava por trás do amigo e parecia assustada. Com o rosto oculto no chão, Kate não pôde vê-los.


Contudo, ela ainda podia escutar muito bem.

Ao longe, Kate a ouviu. A voz que acompanhava chá e biscoitos amanteigados nas manhãs de chuva. A melodia sempre tão harmoniosa no meio de uma partida de cartas demorada. O leve ressoar agudo em que era ninada quando criança. A música falada que acariciava seu rosto antes de acordar nas tardes de domingo.


Aquela voz não parecia mais tão pacífica, ainda que preservasse o mesmo calor, característica essa que Kate se acostumara. Só que dessa vez o calor estava acompanhado de uma ferocidade nunca antes emitida por aquela voz.


A voz de sua madrinha.


– O que está fazendo com ela? – ultraje e preocupação atravessaram a sala até onde a garota permanecia sem se mover, graças a Paul que continuava a contê-la.


Outra voz preencheu toda a sala. Era potente e cheia de autoridade. Havia tanta força contida nela que seria impensável alguém ignorar seu chamado.


Quanto menos uma ordem.


–Paul, solte-a!


Uma força de alívio pousou sobre Kate quando se viu livre dos braços do rapaz. Ela olhou para o alto, completamente agradecida, procurando o rosto familiar de Anabelle. Encontrou-o retorcido em raiva.


– O que estava fazendo com ela?


Kate não esperou para que o garoto mudasse de ideia e voltasse a prendê-la contra o chão. Jogou-se de encontro à madrinha, que em resposta prontamente a envolveu com os braços. O cheiro do perfume de Anabelle a acalmou, a palavra família nunca significou tanto depois daquele dia fatal.


–Ela é Kate Harrison! - Paul voltou a falar, arrancando-a do seu pequeno momento de nostalgia.


Ergueu a cabeça e reparou no homem que se mantinha no centro do cômodo com a expressão enfurecida. O homem cuja voz impregnada de autoridade havia sido suficiente para que Paul a soltasse. Ele era alto e possuía ombros largos, o rosto intimidador não era atenuado pelos cabelos de areia. No corpo, um terno branco idêntico ao que o aniversariante trajava.


Não havia dúvidas. Estavam diante do Sr. Burton.


–Não, o nome dela é Meli... - começou Adam, inocente em sua ignorância. Concordando com suas palavras, estava Mary atrás dele, sentindo-se uma intrusa em plena discussão familiar. Kate já havia esquecido até mesmo que eles estavam na sala de reuniões também.


–Haverá tempo para explicações depois - O homem de terno branco o cortou abruptamente.


–Perdoe-me, Scott, mas eu gostaria de explicações agora! - Anabelle retrucou, ainda acolhendo Kate de forma protetora. O fato de a tia saber o nome do Sr. Burton e aparentemente ter tanta intimidade com ele não passou despercebido . - Quero saber porque minha afilhada estava sendo mantida presa aqui. Ademais, que raios houve com a janela?


– Eu causei aquilo. - respondeu se sentindo segura com a presença da madrinha ao seu lado - Joguei a cadeira contra a janela para sair daqui, porque ele me impediu. - acrescentou, lançando um olhar mortífero a seu algoz.


Scott tentou recuperar o controle da situação.


–Paul cometeu um engano - ele tentou explicar lançando um olhar de aviso ao filho, o qual o rapaz fez questão de ignorar.


–Eu não me enganei. É ela, a filha do médico - insistiu, estreitando os olhos. - Melissa Smith não é seu verdadeiro nome.


Adam, em meio ao caos, finalmente percebeu porque aquele sobrenome lhe soava tão familiar. O último médico que sua mãe visitara se chamava Edgar Harrison.


–O que sabe sobre meu pai? - a garota voltou-se enfurecida.


Todavia, Paul era o mais enraivecido da sala ao replicar:


–Ele deu a medicação errada para minha mãe, com a única substância que ela não poderia ingerir, pois era alérgica e por causa disso, ela...


–Scott, o que significa isso? - Anabelle gritou, interrompendo Paul.


Kate perde as palavras e se mantém boquiaberta. Seu pai realmente era médico, mas nunca em todos os seus anos ela nunca pudera conceber a ideia de que agiria com negligência com seus pacientes. Pelo que o garoto falara, provocara a morte de um deles.


A ideia lhe soava absurda demais para que pudesse ser levada a sério.


–Eu não acredito em nada que você fala! - ela retrucou, com o dedo em riste para Paul - Essa é uma acusação muito grave, espero que tenha provas do que está afirmando!


Scott deu um passo a frente, elevando o tom de voz. Se a autoridade antes se fazia implícita em sua voz, agora estava clara e imponente em suas palavras:


–Ana, por favor, leve sua afilhada para o quarto de hóspedes antes que os ânimos se alterem ainda mais. Eu cuido dos meus. - falou colocando uma mão no ombro do Paul, fazendo com que o garoto se silenciasse.


Adam e Mary permaneciam calados, observando a cena absurda que se desenvolvia diante de seus olhos. Buscavam os olhos da garota que atendia pelo nome de Melissa, mas ela os ignorou ao passar por seu caminho.


Kate, diante do estado catatônico que se encontrava, não lutou contra o abraço da tia que a guiava para longe da sala. Tudo que queria era que alguém a prometesse que ela jamais os veria novamente e que tudo foi um pesadelo. Desejava não ter escutado a estúpida teoria de Paul, pois agora uma enorme dúvida pairava em sua mente.


Depois do lance de escadas, o quarto de hóspedes era o primeiro à direita. Era um ambiente com decoração minimalista em tons neutros e uma cama de casal. Ainda havia um armário embutido e uma janela com vista para o terreno dos Burton. A insígnia da família estava presente em todo lugar, na mesa de mogno com blocos de papéis e canetas dispostos para o convidado, na cama, gravada em madeira e no batente da janela. Todo lugar que Kate olhava era um lembrete vívido da onde estava e o perigo que ela corria.


–Temos que sair daqui. - anunciou à tia assim que ela fechou a porta com cuidado.


Anabelle a encarou. Nesse momento, Kate soube que detestaria do que viria a seguir. Temeu por seu autocontrole, pois não sabia o mais poderia suportar.


–Querida, se acalme. Vamos sentar aqui - a madrinha a convidou a sentar no que parecia ser a cama mais confortável que já experimentara.


Muito a contragosto, a afilhada obedeceu ao seu comando, sentindo o corpo se afundar na superfície macia, como se flutuasse por entre nuvens.


–O que está fazendo aqui? É isso que vai começar a explicar? - ela cobrou, cruzando os braços defensivamente.


–Eu não sou a única que deve explicações, mocinha. O que estava fazendo trancada naquela sala com Paul? Por que Adam está convencido que se chama Melissa? E por que não ficou no colégio Wilshire como eu te pedi?


Kate deu uma risada seca.


–Uma das coisas que não entendo é isso. Como você sabia que eu estava lá em primeiro lugar? - lançou um olhar penetrante à tia. Havia passado da hora de conseguir respostas.


–Eu descobri recentemente, Scott me contou - Anabelle disse tentando segurar a mão de Kate, mas a garota tirou a mão do caminho a recolhendo em seu colo.


–O que nos leva a outra questão. Como você conhece o pai do Adam e do Paul? Quero dizer, como os conhece? - Kate continuou com o interrogatório.


–Scott é o pai dos meninos, ele é um amigo de longa data - a tia explicou. Kate quis contradizê-la, pois sentia que havia mais na relação dos dois, contudo, se manteve calada. - Eu pedi que permanecesse no colégio para poupá-la de uma situação como essas. Queria leva-la para o hotel onde estou hospedada e explicar tudo. Ocorre que eu não consegui achar o seu registro de saída, aparentemente porque você trocou de nome. Quando Scott me contou já era tarde demais, você já estava a caminho daqui.


Kate balançou a cabeça, nada daquilo fazia sentido. Ela levantou de supetão.


– Vamos sair daqui, tia. Eu não confio nessa gente. Minha família foi morta e agora eu sei que eles têm um motivo!


O rosto de Anabelle tomou um semblante surpreso.


–Do que está falando?


–Você ouviu o que Paul disse sobre meu pai. Eu jamais acreditaria que meu pai seria capaz disso, mas eles sim. Ao que parece já se vingaram da maior parte da família. Vamos embora Antes que eles resolvam prosseguir com a queima de arquivo! - anunciou Kate tentando puxar a madrinha de lá.


Porém Anabelle se deteve.


–Kate, não! Sua família morreu por causa do incêndio, você não viu? A notícia circulou por todos os jornais! Por acaso você está tentando insinuar que foram os Burton que causaram o início do fogo? De todo modo, não devia escutar as coisas que Paul fala, ele é um menino problemático, já teve problemas com drogas...


Kate balançou a cabeça, completamente exacerbada. Sentia que as lágrimas estavam chegando, mas controlou-se. Sabia que lágrimas jamais convenceriam Anabelle, só mostrariam que ela não passava de uma garotinha fraca.


–Estou dizendo que não foi isso que aconteceu...


– Além disso, ele vai demorar muito tempo para se recuperar da morte da mãe. Mas acredite quando eu digo quando Scott é um bom homem...- Anabelle parou antes que dissesse mais que Kate poderia processar por ora. - Naturalmente, você terá tempos para se acostumar com ele.


A garota não gostou daquela promessa a longo prazo.


– Eu não quero me acostumar com nada! - Kate voltou a gritar, não conseguia mais controlar o volume da voz e o nervosismo. - Eu quero sair dessa casa, dessa cidade. Você precisa vir comigo, não está segura nessa lugar. Eu não acho que eles causaram um início de incêndio, porque essa não foi a causa da morte da nossa família. Eles o mataram! Eu estava lá e vi tudo! Precisa acreditar em mim. Scott está muito longe de ser um bom homem...


Anabelle se desvencilhou da sobrinha.


–Kate, o que está havendo com você? A perícia me avisou a causa das mortes, foi um incêndio que matou sua família. Não havia possibilidade de estar lá, porque se estivesse também estaria morta.


–Mas eu estava lá! Eu escapei pelo porão. - Kate insistiu, tentando pensar em como poderia convencer a madrinha. - E quanto a Charlie?


–Charlie Robinson, o amigo do seu pai? - perguntou Anabelle sem entender onde aquilo ia levar.


–O que a perícia falou a respeito da morte dele, hã? - Kate quis saber, em tom de desafio.


A tia franziu a testa.


–E por que a perícia teria algo a dizer? Ele tinha uma doença cardíaca, morreu uma semana depois do incêndio.


Kate se viu frustrada, era a primeira vez que ela e a tia não conseguiam se entender. Era como se falassem línguas diferentes, bem como estivessem presas em uma realidade paralela.

–Não, não foi isso que aconteceu – Kate protestou, passando a mão no rosto. Parecia que tudo estava conspirando contra ela. – Ele morreu no mesmo dia! Ouvi os tiros! Eu estava lá!


Anabelle finalmente se cansou da discussão.


– Kate, pare com essa história! Você está me assustando, não sei o que está havendo com você! Foi por isso que inventou essa persona Melissa? Por que não se sentia insegura e achava que estava sendo perseguida?


–Eu não achava. Eu fui perseguida. - Kate a corrigiu veemente. - Tive que mudar meu nome, minha aparência para escapar. Quando cheguei ao orfanato... bom, ninguém presta atenção àquele lugar ou às crianças que ficam lá. Era minha chance de ter outra identidade e deixar tudo para trás.


–Mas o que havia para deixar para trás? Foi um incêndio, está tentando dizer que os peritos, pessoas altamente capacitadas e que estudaram a vida inteira para exercer a profissão, se enganaram em relação à morte da nossa família? - Anabelle finalizou dando ênfase ao pronome, deixando claro que elas estavam do mesmo lado.


Kate parou, pensando um pouco no assunto.


–Não, mas pessoas podem ser compradas. Ao que parece, os Burton podem pagar caro pelo silêncio dos outros. - ela explicou, ilustrando com as mãos o luxuoso quarto que comprovava seu argumento.


Anabelle fez que não com cabeça, em descrença.


–Acho que você está em estado de choque. Eu conheço Scott há muito tempo. Sinto muito, mas vai ter que confiar no meu julgamento quando digo que ele é um bom homem. Você está enganada em relação a tudo. Eu imagino que deseja encontrar um culpado, mas ninguém teve culpa daquele incêndio.


Kate insistiu mais uma vez.


–Não, eu...


–Pare, Kate. - Anabelle a repreendeu, assumindo um tom mais grave. - A partir de agora, eu sou sua tutora legal. Adianto que não vamos sair da cidade. Você precisa se habituar a...


A frase jamais foi terminada, pois num impulso a jovem bateu a mão na mesa com força, tentando lhe chamar atenção.


Surpreendida, Anabelle a encarou.


–Eu não vou me habituar a nada. Eu estou avisando que não fico mais nessa casa um segundo sequer. – falou andando de um lado para o outro como um animal enjaulado - Você acha que sou maluca e estou inventando tudo isso?


Anabelle se aproxima cautelosamente.


–Não, querida. Eu só acho que você é uma menina forte que passou por muito. Você está em estado de choque.


Kate não sabia mais o que falar. De repente, sua palavra não valia absolutamente nada.


–Aqui, beba um pouco de água. Vai te ajudar a acalmar e podemos conversar melhor sobre isso - disse Anabelle buscando uma jarra d’água sobre a mesa de cabeceira.


Kate olhava para o chão, sem esperanças de convencê-la. Contudo, havia decidido que daria um jeito de escapar dali, nem que tivesse que pular pela janela, ela sairia.


–Sabe tia, eu só queria que acreditasse em mim. Eu guardei isso por semanas e estou cansada de fazer tudo sozinha - Kate disse aceitando a água a contragosto da tia. Ela só estava cansada de discutir.


Pensou que se mantivesse a calma, talvez Ana lhe desse ouvidos e elas poderiam sair dali, mas algo roubou a sua atenção. O líquido deslizou por sua garganta com um gosto estranho. Kate estranhou e olhou para o copo já quase vazio.


–Você... você colocou algo nessa água? - questionou num misto de pânico e raiva.


– Kate, só o fato de você me fazer essa pergunta já mostra como está paranoica. Sente-se aqui, coloque a cabeça no meu colo - Anabelle ofereceu. Kate, cautelosamente, se aproximou dela.


–Eu não deveria...


–Só aceite o carinho. Você não está mais sozinha, eu vou cuidar de você.


A garota pensou em aceitar por uns segundos o afeto, até falar que precisava usar o banheiro e escapar pela janela. Esse era o seu plano.


Contudo, havia algo de suave nos olhos de Anabelle que a amoleceu. A promessa de que tudo ficaria bem era tentadora demais para ela não aceitar alguns minutos dessa mentira.


Assim que encostou a cabeça no colo da tia, suas pálpebras pesaram e a cabeça tombou de lado. Ela sentiu uma dormência superficial e teve certeza.


Anabelle a havia drogado


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Notas finais do capítulo

N/A: Olá de novo!
Mais uma vez, agradeço a todos que chegaram até aqui e quero pedir para quem leu, deixar um comentário com o que achou desse capítulo. Ele vai definir muitos caminhos na história e gostaria muito de saber como vocês se sentem a respeito de tudo isso. :)
Agora, aos avisos...Tenho algumas novidades para vocês!
1. Finalmente criei um grupo no facebook para a fic. Lá vou postar o trailer - que estou vendo como farei - , as capas adicionais e um conteúdo exclusivo que estou preparando para vocês :) Quem qualquer dúvida na fic, podem falar comigo por lá também :) www.fb.com/acompanhekate
2. Tenho que agradecer uma música que não só me ajudou a escrever todo o capítulo, como marcou o ritmo dele. É a música da Ellie Goulding - já adoro a cantora desde Lights - chamada "Love me like you do". Eu não sei o motivo, mas a melodia dela tem muito a ver com a ideia desse capítulo - a letra, nem tanto.
3. Ah, percebi que as capas estavam sumindo, mas a Unwordly me indicou um site para hospedar e tirei um tempinho para colocar tudo de novo. Todos os capítulos possuem capa, se vocês não viram e estou curiosos é só voltar. De todo modo, as capas estarão disponíveis na página da história.
4. O próximo capítulo vai se chamar Alianças, o capítulo acabou crescendo demais e virou um monstrinho de mais de oito mil palavras! Então dividi em dois capítulos. A capa de Cilada vai chegar depois. E como "Alianças" já está escrito nessa semana mesmo eu posto ele! :3 Ou seja, o item 2 também vale para o capítulo que está por vir. :)

Até já!