CAPITULO DOZE

As horas demoravam a passar durante a madrugada, enquanto Bella finalizava o relatório para Aro. Esforçou-se para se concentrar. Quando acabou, foi direto para o ateliê pintar, geralmente a "zona" que amava tanto, que era quando criava. No entanto, aquela noite era diferente.

A imagem de Edward aparecia automaticamente, repetidas vezes. [i]Droga, Edward![/i] Amaldiçoou-o por haver feito com que ela se abrisse e refletisse. E sentisse.

Conseguiu adormecer às 6h30 da manhã.

Tirou uma soneca de uma hora, antes de se arrastar para fora da cama para debaixo do chuveiro, onde ficou mais tempo do que de costume. Desejosa de que a água lavasse o cansaço e a dor. Não funcionou.

Foi ao ateliê e analisou os últimos desenhos que havia terminado durante a madrugada. Sabia que estavam bastante bons. Havia dado tudo de si, apesar do cansaço. Cuidadosamente, guardou as ilustrações em um port-fólio, junto à cópia dos textos de Margaret.

Embalou tudo com esmero e ligou para a companhia de transporte antes que mudasse de idéia.

Praticamente saiu correndo para o trabalho. Já havia enviado o relatório a Aro, por e-mail, mas queria estar lá para responder a qualquer dúvida ou a perguntas que pudessem ter.

O telefone tocou quase que no momento exato em que sentou à mesa. O coração parou. Atendeu, sem ar, e fez uma careta de desgosto pela falta de autocontrole.

- Bella, é Margaret. Acabei de receber a sua encomenda. Estão perfeitos, absolutamente perfeitos. Sabia que era a pessoa ideal para essa missão. Estou tão otimista de que vão gostar do projeto. Muita obrigada. As pinturas que você incluiu no pacote são fabulosas.

Bella demorou alguns segundos para trocar a marcha. Havia desejado que aquele telefonema tivesse sido de Edward.

Margaret tinha os desenhos e estava feliz, Aro tinha seu relatório e estava feliz. Havia tido êxito em concluir os compromissos assumidos. [i]Mas e daí? Ela estava feliz?[/i]

Edward tentou chegar no hotel com um ar descontraído, mas os punhos estavam tensamente fechados dentro dos bolsos.

Foi obrigado a se deter na recepção com Jessica para alguns minutos de conversa fiada. Enquanto tentava se livrar da recepcionista, a visão foi subitamente atraída pela imagem de Bella conversando com um dos funcionários do hotel. Estava lindamente tranqüila e sorria.

Com certeza não parecia nem um pouco preocupada com o desentendimento da noite passada. Ele não fazia idéia se ela se importava ou não e aquilo o corroía por dentro. Ele queria que ela estivesse tão envolvida quanto ele. Pensou em como era assustador o prazer que tinha em proporcionar prazer a ela.

Finalmente conseguiu se livrar de Jessica e foi até Bella. Ao interromper a conversa dela com o carregador de malas, viu que os olhos se arregalaram e o sorriso esmoreceu.

- Conseguiu terminar tudo? Ela respondeu que sim com a cabeça.

- Vai jantar comigo hoje à noite. Ela desviou o olhar.

-Não, eu... Ela não estava nem aí para ele, pensou desapontado.

O véu se ergueu, revelando o incêndio nos olhos de Bella. Chamas de raiva. Entretanto, E teve a impressão de também ter visto desejo naquelas íris.

- Todos temos segredos, Edward.

- Não como estes.

- Pelo visto, você não vai.

Ele deu uma risada debochada. Com satisfação, retrucou:

- Claro que não.

- Óbvio que não. Não vai querer ver meu pai e eu nos divertindo. Isso arruinaria a imagem de monstro que faz dele.

- Imagem? É você quem está escondendo coisas. Tem medo de quê se não é do seu pai?

O fogo nos olhos de Bella cintilava, mas não era mais de desejo, e sim, de raiva.

- Quero apenas manter um pouco da minha privacidade. Talvez não queira nem meu pai nem ninguém se metendo na minha vida.

- Acha que estou me metendo? Só estava querendo ajudar...

- Não preciso da sua ajuda, Edward. Não preciso que tenha pena de mim. Por isso, pode parar de bancar o bom samaritano e me deixe em paz.

O queixo de Edward despencou. Nunca na vida havia visto Bella tão zangada e magoada.

Ela se virou de costas para ele e tomou o elevador. Não o fitou sequer uma única vez até as portas se fecharem. [i]Ela estava se escondendo e vivendo pela metade, quando deveria estar comemorando o talento e tirando proveito dele[/i]. Mas se Bella não conseguia enxergar isso, pensou Edward, era problema dela.

Voltaria para Auckland, de onde não devia ter saído. Onde a vida era só diversão. Aquela história era pesada demais para uma pessoa só.

Relaxe. Mas não conseguia, pois doía muito. Conseguir soltar o maxilar era uma missão impossível. Ao passar pela recepção, Jéssica o chamou.

- Ela conseguiu, não foi?

Ele a olhou, sem entender do que ela falava.

- Bella. - Jessica apontou com a cabeça para o elevador por onde Bella havia desaparecido segundos antes. - Conseguiu partir seu coração.

Ele não disse nada. O maxilar estava a ponto de partir ao meio.

- Se precisar de um ombro amigo para chorar, sabe onde me encontrar. - O sorriso de Jessica era convidativo e vivaz.

Pela primeira vez, não conseguiu rir. Ignorou o fato de que tinha uma reunião marcada com seus funcionários, ignorou a mulher oferecida à frente e se dirigiu para a saída do hotel, desejando estar o mais longe possível daquela confusão.

O dia demorava a passar. O sangue de Bella ainda fervia amargurado. Arrastou-se para a reunião na sala de Aro. Tinha de fazer um resumo financeiro para a equipe. Tinham concluído os pontos mais relevantes quando Jéssica perguntou.

- Edward não ficou de nos passar um apanhado das obras?

Bella tentou manter a pose e torceu para que o rubor no rosto não estivesse muito evidente. Olhou para Aro, em busca de apoio, e ele então respondeu por ela.

- Acho que ele teve que voltar para Auckland a trabalho.

Esperou até que os outros saíssem da sala.

- O que foi, Bella? - Perguntou o chefe, olhando-a por um segundo e voltando a atenção para a tela do computador.

- Desculpe pedir em cima da hora, mas se incomodaria se tirasse uns dias para descansar?

Ele digitou algo no computador antes de perguntar descontraidamente:

- De quanto tempo precisa?

- Até domingo. Segunda-feira, estarei de volta.

- Contanto que deixe tudo em ordem, com anotações detalhadas, não vejo problema.

Alcançou a maçaneta da porta e ouviu o chefe chamá-la. Ele sorriu para ela.

- Bom descanso.

Ficou até tarde no hotel, deixando tudo pronto para quando estivesse ausente. Focou-se em uma tarefa de cada vez, calmamente, metodicamente, até que a mesa estivesse vazia e o computador desligado. Estava prestes a sair quando avistou a tulipa e a pequenina "não-te-esqueças-de-mim". Ambas estavam bastante murchas e as pétalas despencavam. Lindas enquanto duravam, porém, condenadas a desvanecer. Apanhou o vaso e jogou o conteúdo na lata de lixo. Pendurou a alça da bolsa no ombro e saiu da sala sem olhar para trás.