Todos me olham surpresos, Mayra dá uma risada cética, então diz:
–Isso é ridículo-
Olho para os empresários que estão em uma espécie de quarto de vidro, no andar superior, e digo:
–Ridículo foi vocês terem aceitado isso. Quantos de vocês tiveram que ver seus filhos ou amigos sendo sorteados na colheita, e mortos na arena? Será que não percebem que nós não temos culpa?- Faço um gesto que engloba todos os tributos. -Nós não tínhamos nem nascido quando tudo aconteceu. Vocês tinham tanta raiva da capital, mas se tornaram como eles. A diferença é que dá para saber quem é quem pelas roupas. A capital continua com mais dinheiro e conforto do que vocês. Por que não culpam quem realmente tem culpa?-
Eles olham um para o outro, posso ver arrependimento no olhar de alguns, mas a grande maioria- da capital - continua com seus olhares gélidos, incompassíveis.
–Qual seu nome?- Pergunta Mayra
–Katherine-
–Seu nome todo-
–Katherine Everdeen-
Ela ri, mas não há humor na sua voz.
–Bem que eu achei algumas semelhanças entre vocês, mas nunca dei importância. E você acha mesmo que EU vou para a arena? Você é burra ou o que?-
–Tem medo de uma menina burra, Mayra?-
–Boa tentativa, mas não tem a menor possibilidade de isso acontecer. Você deveria ter pedido comida extra- Ela se vira, mas quando está indo embora, a voz de um homem que eu não conheço ecoa pela sala: -Desafio aceito-
–O que?- Diz Mayra, olhando para cima, acho que a voz vem de lá.
–Eu disse que o desafio está aceito. Mayra, você vai para a arena-
–E quem você pensa que é?-
–Eu sou o Gamemaker Chefe. As apostas subiram desde que a senhorita Everdeen fez o desafio. Não precisa se preocupar Mayra, afinal, é só um jogo- Ele diz sorrindo e a chama para a sala de vidro. Posso ver Mayra gesticulando irritada, fazendo movimentos repetitivos com a cabeça. Passam uns 20 minutos até que ela volte, não satisfeita, mas conformada. O sorriso malicioso dela é que me incomoda, é pior do que qualquer resposta agressiva que ela poderia me dar. Ela se aproxima de mim.
–Tudo bem, mas tem uma condição. Todos os tributos ainda vão para a arena, mas eu só vou estar lá para competir com você, não com eles-
Ela se vira, dessa vez se dirigindo a todos os tributos.
–Que isso fique bem claro, Katherine ainda é o alvo. Eu não. A não ser que ela me pegue-
–Eu aceito-
***
Eu sei que não teria a menor possibilidade de propor que os jogos acabassem, mas eu tenho meus próprios métodos para conseguir que isso aconteça. Eu só preciso de Mayra.
queria conversar com James, mas estamos em quartos isolados agora, e não conseguiria sair nem se minha vida dependesse disso. Então o melhor que posso fazer é tentar dormir.
***
No dia seguinte, coloco as roupas que deixaram para mim. Camiseta e calça preta. Pego o broche da minha mãe que eu tinha escondido na mala, e o coloco na camiseta, a cor dourada do broche destacou na camiseta preta. Perfeito.
Sou conduzida há uma sala, onde me colocam em uma espécie de tubo transparente. Quando o guarda fecha o tubo, outros dois entram na porta carregando um homem, não consigo ver quem é, pois está de cabeça baixa, curvado. Só consigo ver seu rosto quando os guardas jogam o homem no chão, e ele permanece imóvel, cheio de sangue. É meu irmão Jake.
–Jake..-
Começo a gritar e bater no vidro, mas ele não responde,
Será que ele ainda está vivo? O que fizeram para conseguir trazê-lo até aqui? E meus pais?
O tubo começa a subir e eu fico cada vez mais desesperada, vendo meu irmão ficar para trás. O tubo atinge a plataforma e estamos em um círculo. Reconheço o lugar, é a floresta do antigo distrito 12, eu brincava aqui quando era criança, com Jake.
Jake.. agora eu entendo o sorriso de Mayra, ela já sabia o que iria fazer, mas se a intenção dela era me deixar vulnerável, falhou. Ela me deixou com ódio, e a única coisa que eu consigo pensar, é na maneira mais dolorosa de matá-la.