O Meio Termo Não é Possível. escrita por Loh Rosa


Capítulo 3
Eu sempre me fodo nesta merda.


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o penúltimo capitulo.



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O tempo passou, o ensino médio estava no fim e novamente algo acontece para ferir o meu amigo. Parecia que a vida não se cansava disso, ferir as pessoas deve ser o passa tempo favorito de Deus. Só pode!

Era maio e Max estava comigo quando recebeu a bendita ligação do seu pai. Estranhou, ele nunca ligava. Atendeu, trocou algumas poucas palavras e logo em seguida tacou o telefone na parede.

Exatamente, teve uma crise de raiva.

Xingou a tudo e a todos, inclusive a Deus... Principalmente à Deus!

Tentei acalmá-lo e embora não estivesse entendendo nada, não gostava de dê-lo mal.

Ele se enfureceu!

– Quem você pensa que é pra me pedir calma? – Gritou me empurrando, infelizmente ele não mediu a sua força e eu torci meu pé. Então me encarou de repente notando o que tinha feito.

– Me... Me perdoe. Eu não queria...Eu não...

Entre lágrimas e soluços ele me abraçou.

Foi terrível! Eu estava com o pé enfaixado me apoiando fisicamente nele enquanto ele se apoiava completamente em mim no enterro da sua mãe.

Ela sempre teve medo que a matassem, mas no fim quem tirou a sua vida fora ela mesma.

–--

Há, mas não vá pensando que enquanto o meu amigo só se fodia a minha vida era um mar de rosas, porque não era.

Era novembro, a escola estava se preparando para as férias e nós, pobres alunos do 3º ano, para o vestibular. Eu desejava fazer história e Max psicologia. Diferente de mim, que escolhera o curso sem um propósito especifico apenas por ter de escolher alguma coisa, o Max escolhera o dele por que desejava compreender melhor a mente das pessoas, entender o que levara à sua mãe a se matar.

Ele ficara um mês em um total silêncio e eu como conseqüência em desespero, porém ele optou por se reerguer e fazer alguma coisa a respeito. O moleque que estava sempre matando aula e enchendo o saco dos professores, passara a estudar como se a sua sanidade dependesse disso e de certa forma dependia.

O dia tão esperado havia finalmente chegado junto com o desespero de tão ter a certeza de se estar preparado.

Max foi muito bem na prova conseguindo inclusive uma boa colocação, eu nem chegara a fazer a bendita pela qual me preparara o ano todo. Esse dia eu passei na delegacia dando um depoimento que colocara o meu próprio pai atrás das grades.

Vinha acontecendo com freqüência e eu no fundo sabia, só não queria ter a confirmação, mas então ele passara dos limites. Minha mãe estava sendo cuidada das queimaduras no hospital enquanto eu ameaçava o meu próprio pai caso ele aparecesse mais uma vez na minha frente.

Max passou essa noite em minha casa, mas dessa vez quem precisava dele era eu.

No ano seguinte prestei o vestibular para direito, agora eu também tinha um motivo nobre e não prático.

–--

Max tinha 22 anos quando resolveu sair de casa. Já havia se esgotado a sua paciência e com a sua graduação, podia muito bem se virar sozinho. Comprou um apartamento no centro para onde às vezes levava a menina com quem estivesse se relacionando. E foram muitas.

Tentarei listar algumas:

Teve a Melissa do curso de culinária. Exatamente, a menina tinha nome de marca de sandália de dá chulé. Era do curso de culinária e acho inclusive que era exatamente por isso que ele saia com ela. Podia não ter um neurônio funcionando, mas ninguém podia falar mal da sua comida. Esse relacionamento não durou nem 3 meses.

A Angela do refeitório, essa durou menos ainda. E eu tenho a certeza de que ela nem se importava em deixá-lo ver seu sutiã.

As gêmeas do apartamento ao lado, e sim, foram as duas ao mesmo tempo.

Então foram outras e mais outras, nenhuma durou mais que a primeira.

E mesmo durando tão pouco, isso me irritava. Dizia a mim mesmo que era porque ele não levaria isso a sério, mas no fundo eu sabia que era exatamente o oposto. Eu morria de medo que levasse. Não pergunte porque, nessa época eu não sabia a resposta.

Enquanto o meu amigo levava a vida de pegador, eu vinha reparando aos poucos que nenhuma garota me atraía a ponto de eu chegar aos meus 22 anos sem nunca sequer ter beijado ninguém.

É claro que eu menti. Dissera à ele ter ficado com uma menina qualquer no primeiro semestre da faculdade, se ele soubesse a verdade eu não teria paz.

Mas é claro que ele descobriu.

–--

Estávamos sozinhos em seu apartamento bebendo vodca enquanto enumerávamos as coisas mais embaraçosas de nossas vidas. Novamente, não me pergunte o porque.

Eu nunca fora muito forte para bebidas e no geral evitava beber, porque eu sou o tipo de bêbado que fala mais do que deveria.

–Eu sou um homem com 22 anos nas costas e nunca beijei ninguém! –Solucei

Max me encarou aturdido.

–Como assim? E a Trancy naquela festa?

–Era uma farsa! –Gritei e comecei a dançar em um ritmo eufórico.

–Espera até que você esteja sóbrio –Ele deu um sorriso maléfico.

Repentinamente parei de rir e sentei-me em seu colo. Ele tossiu alguma vezes e me encarou confuso. Sei que quando éramos mais novos chegamos a dividir a cama, mas com o tempo isso não aconteceu mais, éramos dois homens afinal.

E eu sentar em seu colo era muito, mas muito vergonhoso mesmo. Minhas pernas estavam em torno da sua cintura e minhas mãos em seu pescoço enquanto eu encarava o seus olhos arregalados.

– Ninguém me atrai, mas eu sinto meu coração se acelerar cada vez que está perto. Eu não quero ninguém, mas é como se os seus lábios estivessem implorando para serem beijados e eu não seu o que fazer. Eu nunca beijei ninguém e não tenho a menor idéia de como se faça, poderia me ensinar?

Então eu desmaiei de bêbado em seu colo.

Na manhã seguinte pedi pra Deus, Alá, Buda e até pro diabo pra que tudo não passasse de um sonho, mas é óbvio que nunca seria ouvido. Max me encarava de uma forma estranha, mas fingi não lembrar de nada. Desculpe se sou um covarde, mas o que mais poderia fazer? Eu ainda tinha que digerir o fato de ser gay e estar apaixonado pelo meu melhor amigo, um coração partido era a ultima coisa que eu precisava neste momento.


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