Acordei de manhã com a voz do Philip nos alto-falantes do corredor.

–Cristina Schmidt Hidra, compareça imediatamente à sala de reuniões dos Vingadores. – respirei fundo e me levantei da cama de solteiro cinza. Estava começando a sentir os efeitos de dias sem comer nada. Parei em frente a um espelho antes de sair: estava mais magra, olheiras de cansaço embaixo dos olhos, o cabelo perdia o brilho e eu parecia, e me sentia, tão vulnerável quanto um agente nível 5 depois de horas de treino incessante.

–Eu estou acabada. – reconheci e penteei os cabelos com as mãos, deixando-os cair pelas costas e sobre o tecido amarrotado do vestido.

Andei por toda a base, sempre pedindo ajuda para algum agente, até chegar à sala dos Vingadores. Abri a porta ao mesmo tempo que um rapaz saía e acabamos batendo de frente e, se não fosse por sua velocidade, provavelmente, eu teria caído de costas no chão.

–Mais cuidado, senhorita. – ele era alto, o cabelo escuro contrastava com a pele clara, quase branca, mas, o que mais chamava a atenção eram os olhos verdes esmeralda.

–Obrigada. – dei-lhe um sorriso terno e entrei na sala, seguida por ele.

–Que bom que chegou, Cris... – começou Fury.

–Hayley. – cortei – Me chame de Hayley, por favor.

–Tudo bem. Sente-se. – todos os vingadores estavam ali, mas, ao lado de cada um deles, havia um garoto ou garota mais ou menos da minha idade. Tony estava acompanhado de Amy e um rapaz parecido com ele: alto, pele pouco bronzeada, cabelo escuro e sorriso de galã. Thor tinha ao seu lado um garoto e uma garota loiros, pele clara, a garota tinha sardas, ao passo que o garoto tinha músculos parecidos com os do pai, os olhos eram uma das poucas diferenças que eles tinham: ela tinha olhos de um lindo azul safira, já ele, tinha olhos escuros, não soube distinguir se eram castanhos ou cor de mel. Ao lado do Dr. Banner, estava uma garota baixa, esguia, cabelos escuros e óculos de grau escutando atentamente tudo o que o pai cochichava. Steve estava sozinho, assim como os meus pais, mas havia um outro deus ali. O deus da trapaça. Sentei ao lado dos meus pais e observei o garoto que quase me derrubou na porta ficar ao lado de Loki.

–Muito bem – começou Philip – Chamei todos vocês aqui para tratarmos não de um, mas de dois problemas de alto risco. Primeiro: preciso de três de vocês para ficarem de olho na Hayley.

–Ei! Eu já não provei que não sou uma ameaça? – reclamei, indignada.

–Não é por isso que queremos alguém de olho em você – defendeu-se Fury.

–A H.Y.D.R.A. está atrás de você – Collin entrou de súbito na sala e assustou a todos.

–Exato – concluiu Philip – Você terá uma equipe com três guarda-costas e...

–Espera aí! Acha que eu não posso me proteger dos lacaios do Schmidt? – reclamei novamente e me levantei.

–No estado em que está seria dopada em poucos minutos. – zombou o rapaz ao lado de Loki.

–Will! – repreendeu o deus.

–Antes de começarmos a escolher meus guarda-costas – suspirei, frustrada – Podem pelo menos se apresentas?

Uma hora depois eu já havia memorizado todos os nomes. Os filhos do Stark eram a Amélia e o Tanner; do Thor eram o Cody e a Jordan; do Bruce era a Isabella; do Loki era o William; do Steve era o Carter. Alguns não estavam presentes como: John, o filho da Maria Hill.

–Foi decidido que vocês todos vão para a casa de praia em Malibu – falou Tony. Parei um pedaço de pizza que meu pai havia trazido a meio caminho da boca.

–É brincadeira – resmunguei.

–O que foi, Hayley? – perguntou Philip.

–Eu não quero ir. Não quero ir para qualquer lugar em que o JARVIS esteja presente. – soltei e voltei a comer a pizza.

–Como assim? JARVIS é 100% seguro.

–Não, não é. Faz muitos anos que a H.Y.D.R.A. hackeou seu mordomo e sabe tudo o que você faz. – todos me olharam boquiabertos, inclusive o próprio Tony.

–Que foi? – questionei. Philip agarrou meu braço e me levantou abruptamente da cadeira.

–Você sabia que eles iam atacar nossa base. – ele me acusou e apertou com cada vez mais força meu braço.

–Sim, eu sabia. – ele colocou uma faca em meu pescoço. Pude perceber que todos prenderam a respiração antes de ouvir uma arma ser engatilhada.

–Fique longe da minha filha, Philip J. Fury. A menos que queira perder esses miolos ou um olho, como o seu pai. – alertou minha mãe, com a Glock centrada na cabeça do diretor. Collin e Cody me afastaram do moreno e Steve tomou a palavra.

–Philip perdeu a namorada durante o ataque. Madame Hidra fez questão de dar um fim nela na frente dele.

–E isso foi culpa sua! – gritou Philip. Senti meu sangue ferver com a acusação.

–Foi? Foi?! – aumentei o tom de voz e as luzes começaram a oscilar, assim como o aero-porta-aviões começou a levantar voo –Arrisquei minha vida para tirar a Amy da base da HYDRA em Malibu! Fui presa! Quase esmagada naquela maldita cela! Fui usada como refém por um mercenário louco! Levei um tiro no ombro para salvar meus pais! Andei horas a fio sem parar para descansar ou procurar algo para comer para não deixar o cara que tentou me salvar morrer! E você me diz que a morte da sua namorada foi culpa minha?! – todos os equipamentos da sala desligaram. Ele levantou uma arma em minha direção, mas ninguém mais fez qualquer movimento.

–Se você tivesse avisado antes... - ele começou, mas eu o cortei, andando em sua direção.

–Se eu tivesse avisado?! E eu tive chance?! Para você, eu sempre fui uma ameaça, não é? Você nunca deixou de me tratar como uma bomba, até eu salvar o pequeno super-soldado! – eu já estava começando a chorar. Abri os braços e balancei a cabeça, falando com a voz baixa – Atire.

–Hayley! – minha mãe gritou, mas meu pai segurou-a no canto da sala – Não!

–Atire, Philip! – gritei. Sentia as lágrimas correrem pelo meu rosto e baterem na barra do vestido – Vou ser um empecilho a menos no seu caminho. Não é isso que você quer? Se livrar de mim? Eis a sua chance. – alfinetei. Vi sua mão estremecer antes dele apertar o gatilho e Collin se jogar sobre ele, desviando a bala do meu coração para o meu abdômen.

–Hayley! – meu pai me amparou antes de eu cair de joelhos e tirou minha mão de cima do lugar em que a bala acertara, manchando a frente do vestido de sangue. Ele me segurou no colo, sem se importar se ia ou não manchar seu uniforme e correu comigo para fora dali até a ala hospitalar, enquanto eu cantava uma música sobre assassinos em russo e passava os dedos vermelhos pelo meu rosto, como lágrimas de sangue.

–Clint! – as vozes se tornavam cada vez mais distantes.

–Agora não, Andy. – senti-me sendo colocada sobre uma superfície dura, gelada.

–O que houve? – algo espetou meu braço e eu abri um sorriso involuntário.

–Lágrimas de sangue Um assassino derruba Esse é o fim da assassina A mais bela Mais perigosa... – eu cantarolava em russo, sem ouvir o que acontecia ao redor. Me identifiquei com a música e fechei os olhos. Cansada do mundo. Cansada de mim.