Andy se aproximou de mim, mesmo eu recuando cada vez mais. Seus olhos eram cautelosos, assim como seus movimentos. Entrei em posição de defesa no momento em que minhas costas bateram na parede gelada. Ele não iria me levar. Nesse instante, vários agentes uniformizados da S.H.I.E.L.D. entraram na sala e nos cercaram. Uns mais cautelosos que outros.

–Recuem. - ordenou Andy, um deles deu um passo a frente e tirou a máscara. Era uma garota.

–Temos ordens externas para levar a garota, nem que seja à força de volta para a S.H.I.E.L.D. - sua voz me lembrava alguém, mas eu não tinha certeza.

–Aqui apenas eu e meu pai damos ordens, agente. Recuem. Agora. - o rosto de Andy transmitia seu nervosismo. Havia algo errado. Os agentes saíram da sala e nos deixaram a sós novamente. Andy deu alguns passos para trás e levantou as mãos em sinal de rendição.

–O que está acontecendo? E nem pense em tentar me passar a perna. - avisei sem me mover. Eu estava nervosa, cansada, mas sentia que havia algo muito, muito errado naquela situação.

–Eu não vim te forçar a nada. Entendi muito bem a mensagem holográfica. - ele passou a mão no pescoço e deu outro passo para trás - Mas precisamos da sua ajuda. Collin se recusa a falar com qualquer um que não seja você. E há outra coisa, mas essa você deve descobrir sozinha. Se resolver nos ajudar, você sabe meu número e aonde eu moro. - ele completou e saiu. Esperei alguns segundos e também saí dali, deixando para trás, a cabeça decepada de Madame Hidra no chão ao lado do corpo caído em uma poça de sangue negro. Segui um caminho diferente do Andy e fui direto até o hangar, pegando um dos helicópteros e saindo daquele maldito lugar com uma coisa martelando em minha cabeça.

Collin queria me ver.

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Um semana depois, o que Andy dissera naquela base ainda me fazia passar noites sem dormir. Por que Collin queria falar comigo? Ele poderia simplesmente entregar tudo o que sabe sobre a H.I.D.R.A. e fim de jogo, mas não. Havia algo diferente naquilo. Eu já havia admitido para mim mesma que amava Collin. Tanto que entreguei minha vida para que não levassem-no no aeroporto, mas não adiantou. O pegaram e destruíram aquele garoto doce que eu conhecia. Transformaram-no em uma arma. A mesma arma que eu já fora.

Cansada de tanto brigar com meu próprio consciente, desliguei a televisão, onde passava uma reportagem sobre a falta d'água no Brasil, e fui trocar de roupa. Coloquei uma calça jeans, uma regata azul marinho, uma jaqueta de couro e calcei minhas botinhas cano curto sem salto. Peguei meu celular, minha bolsa e escondi uma Glock no cós da calça.

–Lá vamos nós. - tranquei a porta do apartamento e chamei o elevador, já nervosa - Tomara que isso não termine em merda. - suspirei. Cumprimentei o recepcionista do prédio e saí para as ruas de New York. Estava nublado, mas eu não me importaria se chovesse. Precisava tirar essa história a limpo.

Caminhei observando qualquer coisa que parecesse diferente. Era um passatempo, basicamente. Eu via tudo e anotava tudo mentalmente pelo caminho.

A casa não mudara em nada. Janelas escuras, paredes pichadas, mas bem cuidadas, o jardim era limpo, apenas com grama e algumas ervas daninhas. Toquei a campainha e esperei. Puxei o telefone do bolso e fiquei revisando as notícias. Nada de muito interessante ou que fosse de interesse mundial, apenas as mesmas bobagens de sempre. Quando ele abriu a porta, fiz sinal para que esperasse alguns segundos enquanto eu fechava os sites de notícias e olhei para seus olhos azul cobalto antes de soltar rudemente.

–Eu volto com você para a S.H.I.E.L.D. - Andy arqueou as sobrancelhas, e cruzou os braços, se encostando no batente da porta.

–Está fazendo isso por ele. - dei de ombros e me virei para ir embora.

–Eu sei o caminho e posso invadir, mas vou jogar nas suas costas. - dei um sorriso cínico.

–Espere eu tirar a moto da garagem. - ele entrou novamente e trancou a porta. Sentei nos degraus da frente e voltei a mexer nos sites de notícias. Logo ele apareceu na minha frente, montado em uma Suzuki Ninja preta.

–Exibido. - murmurei enquanto levantava e montava, segurando em sua cintura - Não tente nenhuma gracinha.

–Sem problemas, senhorita. - ele acelerou e disparou pelas ruas, fazendo com que o vento balançasse meu cabelo ruivo e o mesmo ricocheteasse no ar. A chegada ao prédio da S.H.I.L.E.D. não fora surpreendente e nem difícil. Provavelmente Fury deletou meus dados como agente honorária, o que impediria que eu entrasse desacompanhada e tentasse qualquer coisa.

–Não gosto desse lugar, que fique bem claro. - resmunguei, seguindo Andy pelos diversos corredores que faziam daquele lugar um labirinto. Apenas por diversão, usei meus poderes para desativar as câmeras de segurança e transferi um vírus do meu celular para os computadores.

–Hayley? - eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. Guardei o celular e olhei para o homem parado à minha frente, fitando seus olhos azuis antes de me jogar em seus braços. Como eu senti falta de seu abraço.

–Papai! - ele me apertou de leve, como se estivesse com medo de que eu quebrasse feito porcelana. Inspirei fundo seu perfume da Ferrari misturado com o aroma da loção para barbear. Ele nos separou e me segurou pelos ombros, mostrando preocupação.

–Onde você passou essas semanas? Não ligou, não mandou mensagens. Eu fiquei muito preocupado. - ele me fitou por alguns segundos antes de me abraçar novamente. Ele estava agindo como o pai que eu sempre quis. Ele se preocupava.

–Tudo bem, pai. Eu estou bem. - sorri ao dizer essa última parte e me afastei - Mas eu vim aqui com um objetivo. Eu preciso ver o Collin. Por favor. - ele apenas assentiu e pegou meu pulso, me guiando por vários outros corredores até uma porta que pedia impressão digital.

–Fury vai gostar de saber que está de volta. Espero que se entenda com seu amigo. - beijei sua bochecha e ele abriu a porta, me permitindo entrar. Quando a porta de metal se fechou às minhas costas, vi as câmeras daquele lugar se virarem em minha direção. Eles estavam me observando.

Vi Collin sentado em uma cama branca, no canto da cela. Sua cela era de vidro, vigas de ferro sustentavam grossas placas de vidro que faziam papel de paredes e me separavam do moreno. Um painel que pedia digital mantinha a porta de ferro trançado trancada. Bati no vidro e logo ele se virou, os olhos castanhos fitando os meus.

–Hayley?