Me ajoelhei no chão da pista de pouso e solucei, deixando as lágrimas correrem pelo meu rosto. Os agentes que estavam no avião desceram e me cercaram. Imaginei que Collin ainda estaria lá dentro e o fiz levantar vôo, levando-o para longe. O vento das turbinas balançou meu cabelo e minhas roupas violentamente antes que eu sentisse algo gelado em minha nuca. O cano de uma pistola.

–Levante-se e venha conosco. - exigiu Rudy. Me levantei e fitei o chão. Não me mexeria, Collin estava seguro e era o que importava. Uma poderosa descarga elétrica correu pelo meu pulso e alcançou cada ponta do meu corpo, me fazendo soltar um grito de agonia, mas eu não entreguei o jogo, me mantive em pé e fitei-o, sentido as descargas elétricas ficarem cada vez mais potentes, meus ouvidos zuniam, minha visão estava cada vez mais turva e eu não controlava mais meus músculos.

Algo atravessou seu pescoço antes que eu caísse de joelhos. Meus braços e pernas não obedeciam, minha respiração era falha e descompassada.

–Hayley? Hayley! - minha visão estava cada vez mais escura, deixando mais árdua minha tentativa de identificar quem me salvara de voltar a ser uma arma. Meu corpo foi levantado do chão e minha cabeça pendeu para trás, balançando conforme avançávamos pela pista. Ele tentava falar comigo, mas eu ouvia apenas zunidos indiscerniveis que se tornavam mais altos até se tornarem insuportáveis. Depois de alguns minutos, eu não ouvi mais nada.

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–Como assim "Ele não chegou"? - gritei, assustando a todos. Havia saído do hospital algumas horas antes, mas acordado naquela manhã, um dia e meio depois de quase ter sido capturada e, de acordo com o Banner, levar 5.000 volts de descargas elétricas incessantes por mais de dez minutos. Para mim, aquilo não passaram de meros segundos, ele ainda me explicou que meus poderes bloquearam parte da energia, fazendo com que eu recebesse o mínimo possível de eletricidade. "Era pra você estar morta." ele ainda completou.

–Hayley, eu recebi uma lista de passageiros que estavam a bordo daquele avião e o nome dele não constava na lista. Ele foi capturado. - depois daquela simples afirmação de Philip, finalmente me permiti chorar. Chorar como chorei no dia em que soube do velório da minha mãe. Eu havia perdido Collin também.

–Não acredito... - os soluços já não podiam ser controlados e eu tremia desesperadamente. Olhei para cada um dos Vingadores ali presentes. Cada um sentia o pesar de um jeito, afinal, eles foram responsáveis por dar a Collin parte de seu treinamento. Ele não era um simples agente ali.

Não esperei qualquer reação, apenas saí correndo daquela sala e fui para a sala de treinamento. Sentei em um canto qualquer e me permiti senti aquela maldita dor de novo. A dor de perder alguém. Então, finalmente, avaliei o que sentia realmente por ele. Não éramos apenas amigos, finalmente percebi. Eu não choraria daquele jeito se fosse Carter ou Amélia. Eu entendi. Eu o amava. Perdê-lo era sentir parte de mim morrer aos poucos.

Não sei se adormeci e alguém me encontrou ou se voltei por vontade própria, mas acordei em meu quarto, coberta e com uma bandeja de comida ao lado da cama no começo da noite.

Me levantei e tomei um banho quente e demorado. Saí, vesti um dos uniformes da agência e me sentei na cama, fitando o prato com purê de batata, salada, bife e o copo de suco de laranja ao lado. Ele venceu. Comi devagar e beberiquei o suco sem qualquer vontade, apenas pondo aquilo para dentro porque precisava, não porque queria.

–Hayley? - a porta rangiu se abrindo, revelando a figura esguia de Will.

–Oi. - minha voz era arrastada e baixa. Deixei a bandeja sobre a escrivaninha e sentei na cama, gesticulando para que ele se juntasse a mim. Ele entrou e sentou ao meu lado, sem tirar os olhos esmeralda de mim.

–Como se sente? - seus olhos eram sinceros. Apesar dele ser filho do deus da trapaça, eu nunca havia o visto aprontar contra ninguém.

–Horrível. Ele sumiu por minha culpa. - cobri o rosto com as mãos e o senti me abraçar. Correspondi e me permiti chorar mais um pouco. Havia sido forte por tempo demais.

–Não foi sua culpa. - era tudo que ele dizia. Em algum momento, adormeci em seu ombro, mas ainda o senti me deitando com cuidado na cama antes de sair.

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As semanas seguintes se tornaram meses e logo estávamos na véspera do Halloween.

Eu não fazia missões, apenas zanzava pela base, procurando um lugar onde me esconder e ficar invisível. Não queria mais sair daquele lugar.

Sempre que acordava de volta ao meu quarto, tinha quase certeza de que alguém havia me encontrado, mas às vezes, eu voltava pela simples vontade de pegar algo para comer ou para irritar o Fury. Mas, um dia enquanto caminhava, ouvi uma conversa dele por trás da porta de sua sala.

–Ela é mentalmente instável! Não posso deixá-la ficar! - ele gritava. De quem ele falava?

–Não vou deixar você tirar ela de perto de mim! Não me importa se ela está sã ou a beira da loucura! Ela precisa de ajuda! - aquela voz. Doce, mas autoritária. Andy.

–Se ela ficar por mais tempo, pode acabar nos expondo! Ela é irresponsável! Uma criança! - senti um aperto no peito e a porta rangiu quando me apoiei nela novamente, abrindo-se com um estrondo.

–Se é isso que pensam, eu fico feliz em lhes livrar da obrigação de cuidar de mim. - ambos me olhavam boquiabertos, não era para eu ter ouvido aquilo, mas era tarde.

–Hayley...

–Calado, Andrey. Eu estou de saída, Philip. Posso arrumar um emprego e tenho dinheiro para alugar um apartamento por hora. Não precisam se preocupar comigo. - aquilo era mentira. Eu era sim mentalmente instável, mas tinha que provar que poderia cuidar de mim mesma. Saí a passos firmes e fui para o quarto. Era hora de recomeçar.