Amor Contratado escrita por Julia


Capítulo 10
Se dirigir, não soque.


Notas iniciais do capítulo

Ta, pera, pausa. GENTE, O MEU TITULO TÁ BOM! TÁ CRIATIVO! O QUE TACONTESSENO?

Oi? Alô? Ainda tem alguém aí?

Sim, eu voltei! E sim, eu fui abduzida por alienigenas, povo.

Ta, não. Cara, desculpas nem vão adiantar porque... sabe como é né! Demorar tanto assim pra postar só merece a chinelada mesmo.

Eu praticamente entrei em hiatus e nem vi kkk Minha vida ta uma correria que só, gente do céu! Mas falando sério, todas as desculpas do mundo e todos os agradecimentos também aos que não desistiram de mim (e aos comentários passados). Me animei pacas pra postar hoje porque vi que uma fic que eu acompanhava, foi atualizada (a autora não postava a um ano; viu como tem pior que eu? kkk). Como o capitulo tava prontinho, só espantou a preguiça do corpo mesmo. E eu tava com TANTA saudade de vocês!

E é ÓBVIO que eu não ia deixar de agradecer a essas lindas e maravilhosas que mandaram MP's. Cintia Montilla, ~sonhadora imortal e especialmente a Mar (linda, amorzau, diva da porra toda), chegay! Obrigado flores!

Espero que gostem!

"Vou ter que te aceitar na família, afinal"



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Eu olhava concentrado para a estrada a minha frente, tentando ignorar o ódio de Katherine rindo da minha cara pelas últimas duas horas.

Ao que tudo parecia, ela e Matthew tinham se entendido mais do que eu gostaria.

Não fiquei tão surpreso quando acordei com um bigode de canetinha no rosto e uns desenhos ridículos pelo meu abdome - feitos pela rosada, sem dúvida, já que não eram nada decentes-. No entanto, já não podia dizer o mesmo da minha raiva, que ameaçava explodir a qualquer momento se aquela anã dos infernos não parasse de gargalhar.

E eu realmente não ficava irritado com facilidade.

Sabia que deveria ter negado quando ela tinha me pedido para dormir no chão naquela noite. Na verdade, até tentei, mas a garota tomou o meu lugar antes que eu pudesse protestar. E sinceramente, estava cansado demais para negar dormir em uma cama macia por muito tempo.

Bem, pelo menos agora sabia o porquê daquilo; se Matthew me visse dormindo no chão quando fossem fazer aquela pegadinha idiota, tudo o que tínhamos feito até ali não valeria de nada.

Como resultado, acordei com risadas escandalosas de minha querida namorada e do traidor que eu chamava de irmão. Furioso era o mínimo para o meu estado quando me olhei no espelho, mas eles já haviam fugido antes que eu pudesse estrangular aquela coisa rosa.

E nem me pergunte o trabalho que foi tirar aquela droga permanente do meu rosto! O restante que não tinha saído mesmo após todas as tentativas, fazia Katherine ter um acesso de risadas cada vez que olhava para a minha cara.

Bufei alto, estava ficando irritado de novo.

Olhei para o lado ao perceber que durante um tempo, enquanto eu pensava, tudo tinha estado quieto de repente. Surpreso, vi Heed apoiada na janela, seus cabelos na frente do rosto e provavelmente em seu décimo sono.

Sorri vingativo quando notei que sua cabeça batia no vidro toda vez que passávamos por uma estrada mais irregular e fiquei tentado a por alguma música no volume máximo apenas para ver sua expressão assustada, mas desisti logo depois.

Uma hora mais tarde, comecei a bufar de raiva quando percebi que não conseguiria aceitar aquele barulho oco por conta das batidas e contrariado, puxei seu ombro a fim de virar o corpo para o lado oposto. Funcionou por uns dois segundos antes que aquele tufo rosa caísse com um baque forte na janela novamente.

Me encolhi um pouco, esperando que ela acordasse e soltasse fogo pelas ventas ou algum tipo de lazer pelos olhos. Katherine não parecia ser alguém que poderia ser acordada sem que o indivíduo não levasse um soco na cara.

Me permiti relaxar ao ver sua boca aberta e a respiração calma. Soltei uma risadinha, tinha acabado de descobrir que Heed possuía um sono bem pesado.

Olhei para ela novamente e meu incomodo crescia cada vez mais ao escutar aquele som.

Soltei um grunhido, irritado comigo mesmo por fazer aquilo e direcionei o carro até uma parte fora da estrada, em uma loja precária e deserta, parando ali logo em seguida.

__Mas que droga Kyle! Porque você nunca consegue ficar com raiva dessa pirralha? - Baguncei os cabelos e bufei com força.

Ainda contrariado, desengatei meu cinto de segurança e inclinei meu banco até a metade, fazendo o mesmo com o de Katherine, que ainda dormia profundamente. Puxei outra vez seu corpo para o meu lado e com o banco agora inclinado, ela ficou no lugar.

Não pude deixar de rir da expressão relaxada que tinha e tirei com cuidado algumas mechas de cabelo que ainda estavam na frente do seu rosto. Ela mexeu o nariz inconscientemente, se ajeitando melhor no banco e suspirei cansado, me recostando em meu próprio assento e fechando os olhos.

Um segundo depois, senti mãos envolverem minha cintura e algo pesado se acomodar em meu peito. Abri os olhos assustado e vi vários fios rosas espalhados pelo meu tronco, enquanto uma respiração quente soprava levemente em minha nuca.

Todo o meu corpo retesou com o contato e a surpresa. Ia começar a gritar com Kate e perguntar o que diabos ela estava fazendo até perceber que a garota ainda estava dormindo.

No caso, eu era um ursinho de pelúcia bem grande em ela estava abraçada.

Não deveria ligar para aquilo afinal. Já tinha tido algumas namoradas e elas sempre ficavam abraçadas daquele jeito comigo. Nada demais, nada mesmo.

Então porque droga eu estava corando com o fato de seus braços estarem apertando meu corpo? Por que, em sã consciência, eu estava precisando respirar muito fundo ao sentir aquela respiração calma sobre o meu pescoço e tentando o máximo me controlar para não agarra-la?

Encostei minha cabeça sobre o banco com força e olhei para o teto do carro. Eu não era assim. Todos sabiam, todos comentavam.

Kyle Finnigan. Aquele que era idiota por ser inocente. Aquele que nunca tinha atitude sobre as mulheres. Aquele que muitos achavam ser gay, por quase nunca ser visto com uma garota em público. Aquele que era bonito sem fazer esforço; rico, esnobe. Alguns até pensavam que a ingenuidade era fachada e que todos os términos fofocados eram obra de um galinha sem coração.

Muitos boatos, de fato.

Kate mexeu um pouco, murmurando alguma coisa incompreensível e se ajeitando ainda mais sobre o meu tronco. Trinquei a mandíbula e respirei lentamente.

Olhei para sua boca; os lábios meio abertos, ressonando tranquila. Corei novamente ao lembrar da cena na casa dos meus pais. Sinceramente, não sabia o que havia dado em mim naquela hora. Apenas não conseguia pensar em outra coisa que não fosse seus lábios gelados nos meus.

Ela tinha uma fragrância de pasta de hortelã e perfume adocicado que, pelo menos naquele momento, tinha me deixado maluco.

Eu estava maluco.

Não podia me deixar levar pela sensação outra vez. Já bastava tentar convencer a mim mesmo de que aquele beijo só tinha acontecido por motivos necessários para não destruir o plano de ter uma namorada meiga.

Mas a quem eu queria enganar? Minha mãe entenderia caso Heed começasse a xingar e amaldiçoar meu irmão (iria ter um treco e chutaria meu traseiro por mentir para a familia, mas entenderia uma hora ou outra).

No entanto, ver Katherine irritada naquele momento, com a boca molhada e os cabelos pingando em suas costas.... Não pude evitar de ficar atraído de uma maneira que só aquela garota maluca conseguiria me fazer ficar.

Ela era perigosa e sabia disso. Heed era inteligente e usava a autoestima e confiança que tinha ao seu favor. E aquilo impedia meu raciocínio de todas as formas possíveis.

Respirei fundo novamente e tentei acorda-la devagar, com medo de uma possível morte eminente.

__Hm, anã... acorda... - Cutuquei seu ombro e ela resmungou alguma coisa, sem indícios de que se moveria - Kate! Acorda, nós temos que voltar para casa!

Balancei seu corpo com um pouco mais de força e ela soltou um "Hulk idiota" antes de se ajeitar no meu corpo novamente.

Ah, isso iria dar trabalho!

[...]

K.H

Meus olhos se abriram de repente quando senti minha cabeça ser jogada para cima de supetão.

Num primeiro momento, não entendi direito o que estava vendo. Era parcialmente escuro, mas com certeza pareciam pés. Franzi o cenho e me mexi, sentindo meu corpo protestar de dor e minha nuca bater em algo sólido.

Congelei ao ouvir um resmungo de frustração já muito conhecido e lentamente, sem dar pistas de que eu tinha acordado, olhei para cima.

É, eu queria estar errada.

Deitar no colo de Kyle Finnigan enquanto ele dirigia concentrado, com o maxilar trincado e músculos expostos ao segurar o volante era, muito provavelmente, o sonho de toda garota.

E sobre querer estar errada sobre aquela cena... foi a constatação de no que minha nuca havia batido.

Ah, bem, esse também deveria ser o sonho de muitas garotas.

Estava tentando evitar que ele soubesse que eu havia acordado – e aquilo não tinha nenhuma ligação com o fato do seu colo ser aconchegante, entenda - porém quando o carro passou por uma lombada no asfalto, minha cabeça novamente foi para frente e bateu com força no volante dessa vez;

__Ai porra!

O meu grunhido de dor foi o suficiente para assustar Kyle e nos fazer quase parar em outra pista com a virada brusca que ele tinha dado.

__Jesus Kate! Quer nos matar?! – Gritou surpreso enquanto franzia a testa concentrado em arrumar o volante para o caminho original.

__Acha que eu fiz isso de propósito idiota?! Minha cabeça deve estar com um galo enorme agora! - Falei revoltada enquanto me levantava e me ajeitava melhor no banco. Finnigan me olhou de canto e riu divertido.

__É, sua testa está um pouco vermelha mesmo. Desculpe por isso então, eu acho.

Soltei uma risada anasalada e quis esmagar sua cara com toda aquela fofura.

__Sem problemas bocó! - Apertei suas bochechas e ele ficou mexendo o pescoço tentando se libertar das minhas mãos sem causar um quase acidente novamente.

__Katherine! Me solta pirralha!

O soltei, rindo do seu rosto irritado.

E enquanto eu ainda olhava para a sua cara furiosa, com alguns vestígios de caneta preta - foi uma ótima pegadinha, por favor - notei que algo cobria minhas pernas e fiquei surpresa ao constatar que era o casaco de Kyle.

Olhei novamente para o homem ao meu lado. Ele fazia aquilo de propósito para me enlouquecer ou era apenas instinto? Nunca saberia responder.

Não podia dizer quando tinha sido a última vez em que um cara foi gentil daquela maneira comigo e isso me deixava desconfortável. Entenda que, eu não tinha complexo de inferioridade ou nada disso - acredite, não mesmo- mas sabia que não merecia tudo aquilo.

Até Finnigan ligar para aquele anúncio, eu só atraia caras esquisitos ou com históricos policiais que fariam um lutador de vale tudo chorar. Bem, a não ser que meus namorados fossem os lutadores, então não contava.

De qualquer forma, nunca tinha conhecido qualquer cara que usava o próprio casaco para me cobrir sem que houvesse outras intenções por trás daquilo.

Kyle era um cara estranho, mas definitivamente era o melhor tipo disso.

__Achei que me odiasse depois do episódio das canetinhas Finnigan - Comentei enquanto me aconchegava no banco, aproximando minhas pernas do tronco e - era inevitável, já que estavam sob elas, só para deixar claro- aspirando casualmente o perfume impregnado no moletom masculino.

Deus! Como aquilo era bom!

Kyle se mexeu desconfortável no banco.

__Ainda odeio Heed. Isso não quer dizer absolutamente nada.

Sorri de canto com seu jeito defensivo.

__Isso o que?

Seu rosto atingiu o vermelho de costume ao notar que tinha confessado o gesto carinhoso.

__E-Eu... Bem... É que...

Gargalhei e seu rosto ficou irritado.

__Relaxa Finnigan, eu já sabia que você ia me perdoar logo então não se preocupe muito com isso. Sabe como é, você sempre vai me perdoar.

__Katherine, eu juro que se você não calar a boca agora...

Pude sentir ondas de raiva emanando do seu corpo definido, indicando que era melhor ficar quieta antes que alguém morresse acidentalmente jogada para fora do carro. Ao que parecia, nem o mais ingênuo dos homens gostava de ter seu orgulho ferido.

Mostrei a língua para ele e enterrei meu rosto em seu moletom quentinho, me sentindo instantaneamente calma e tranquila.

K.F

Minhas opções variavam entre socar ou abraçar a garota ao meu lado.

Ela me irritava na mesma intensidade em que me fazia ter vontade de beija-la e isso era um fator preocupante. Katherine era uma droga viciante. Nunca havia sentido a necessidade de beijar alguém da mesma forma que quando olhava para aqueles malditos cabelos rosa.

Nada disso podia acontecer ou sequer passar pela minha cabeça. Eu era alguém que não tinha pensamentos maliciosos e provavelmente nunca teria, mas Heed me fazia chegar perto. Sabia que estava mudando e aquilo me assustava de certa forma.

Se o que a garota tinha dito era verdade, o fato das mudanças que aconteceriam serem uma parte minha "adormecida", ficava difícil saber até onde eu não conhecia minha personalidade.

E até onde eu poderia chegar com aquilo.

A noção que eu tinha sobre essas aulas de atitude que Kate estava me ensinando era a de que agora eu possuía mais confiança sobre meus pensamentos. No entanto, ser sedutor e ‘perigoso’ não parecia algo que eu conseguiria fazer.

Interrompendo meu conflito interno, Katherine se mexeu impaciente ao meu lado e suspirei cansado. A rosada apenas dava trabalho com suas loucuras e sempre fazia com que o maldito contrato martelasse em minha mente, junto com uma pontada de arrependimento.

__O que foi agora Heed?

Ela se mexeu inquieta novamente, soltando o ar dos pulmões dramaticamente e me encarando com uma cara realmente mortal.

__Eu, a uma semana, não encosto ou vejo um cigarro Finnigan. Estou tão puta da vida que se você não parar em um maldito posto de gasolina agora mesmo, eu te mato e vendo seu rim em um mercado de órgãos.

Arregalei os olhos e comecei a gargalhar. De uma hora para a outra, a garota havia ficado com uma aura assassina em tono do seu corpo e me perguntei internamente qual tinha sido sua força de vontade para aguentar tanto tempo sem aquela coisa viciosa.

__Não vou parar em posto nenhum Heed. Além do fato de estarmos em um trânsito desgraçado no meio do nada, se você conseguiu aguentar uma semana, acho que consegue parar com essa droga para sempre.

O carro caiu em um silêncio sepulcral e não ousei olhar para o lado, com medo de ver sua cara diabólica de raiva pelo meu conselho motivacional.

__Você gosta de viver não é Finnigan? – Ela não deixou que eu respondesse e antes de mais nada, começou a socar meu braço de modo infantil e meigo... bem, talvez não tão meigo - Você não entende, seu otário, que eu preciso disso?! Ouviu bem? Pre-ci-so! Se não comprar meus cigarros, eu posso ter um enfarte aqui mesmo! E quem vai me socorrer? Isso mesmo, ninguém! Porque aqui é um deserto!

Era engraçado – e bastante incômodo- como aquilo fazia apenas cócegas sob a pele e minha risada aparentemente não ajudou a melhorar seu estado de fúria.

__Por que está rindo idiota?! - Ela começou a me bater com mais força

__Ai! Katherine para com isso sua maluca! Você quer mesmo nos matar? – Balancei um braço, como se estivesse espantando uma mosca irritante.

A garota ameaçou me socar outra vez antes de voltar a sentar no banco com uma expressão de pura raiva. Bem, mais do que ela já tinha.

__Kate, você não precisa de cigarros e sabe disso.

__Não, você está errado Finnigan. Eu preciso.

__Se precisa tanto, como conseguiu ficar uma semana sem aquilo?

Ela se manteve em silêncio por um momento.

__Não sei, 'ta legal?! Eu só consegui! Mas o que você quer fazer, é tirar isso da minha vida para sempre! Não é tão fácil assim Kyle!

Bufei com a sua teimosia.

__Eu não disse nada sobre ser fácil, é por isso que vou te ajudar.

Com aquelas palavras, sua atenção se voltou para mim e senti seu olhar questionador.

__Você vai me ajudar? Por que?

Olhei um instante para a rosada ao meu lado. E ela ainda perguntava?

Se era pelo dinheiro ou não, Katherine estava fazendo mais do que o necessário para que esse esquema desse certo. Além do fato dos cigarros - o que eu sei, deve ter sido uma droga - ela estava suportando muitas coisas que poucas pessoas conseguiriam; sem falar sobre o caso da minha 'falta de atitude'.

Mesmo que a pirralha fosse uma das pessoas mais irônicas e irritantes que eu já tinha conhecido, ajuda-la com aquilo ainda era o mínimo que eu podia fazer.

Em resposta ao meu silêncio, ela me deu um empurrão, me tirando dos pensamentos e abri um sorriso sarcástico em sua direção.

__Você não sabe Heed? Eu sou o cara bonzinho.

K.H

Naquele momento, bonzinho era o último adjetivo que eu encontraria para defini-lo.

Totalmente gostoso e irresistível estava mais aceitável.

Quando de repente me dei conta de que já fazia uma semana que fiquei em abstinência, admito que surtei um pouquinho e ainda estava bastante puta com Finnigan por causa dos cigarros. Mas aquele sorriso de canto fucking sexy que contrariava toda a frase de "sou um cara legal" ajudava -e muito- a amenizar a raiva.

Ter um Kyle cheio de atitude no mesmo minúsculo cubículo que você, tornava as coisas muito mais perigosas para a minha sanidade e isso já estava virando rotina.

Era só ele dar um sorriso de canto malicioso ou falar coisas incomuns para seu estilo 'menino paroquial' e meu cérebro já entrava em curto circuito, fazendo com que eu me tornasse uma garotinha idiota como tantas outras.

E isso era ruim. Bem ruim.

Por isso, decidi que me focaria em trazer à tona o mais rápido possível, aquele Finnigan sexy e badboy, para que outra garota viesse e ocupasse o lugar de namorada -verdadeira, é claro- antes que eu começasse a ter... bem, outros sentimentos.

Me ajeitei no banco, disposta a tornar realidade o que havia prometido para mim mesma. Sem sentimentos, apenas atuação.

__Bem... eu, não preciso disso Kyle. Só estou nesse carro por um motivo, que é te fazer mudar de atitude e mostrar isso para a sua família. Então esqueça todo esse plano de ajuda e pare logo em um maldito posto antes que eu arranque sua cabeça.

Com o meu tom de voz frio, ele olhou para mim surpreso e logo adotou uma expressão mais profissional, fazendo com que o clima descontraído dentro do veículo sumisse.

__Sim, você está certa. Não temos nada a ver um com a vida do outro; se quiser se matar com essa porcaria, por favor, faça isso – Quase me encolhi com o seu tom de voz raivoso e frustrado, mas mantive a cabeça erguida e sorri irônica como o habitual.

__Fico feliz que tenha entendido Finnigan.

Seu maxilar trincou e pude notar que ele estava confuso com o rumo inesperado que a conversa tinha tomado. Com o tempo talvez compreendesse, mas naquele momento, tudo o que via era uma mudança súbita de comportamento da minha parte sem qualquer explicação.

Eu só esperava estar tomando a decisão certa dessa vez.

[...]

Depois de algumas horas, finalmente pudemos parar em um posto – o que eu achei ótimo já que o silencio dentro daquele carro estava me deixando maluca – e Kyle avisou que iria comprar todas as coisas que precisávamos.

Bem, na verdade seu aviso foi mais um resmungo irritado, com direito a porta batendo com força de um jeito bastante infantil.

Revirei os olhos e gritei alguma coisa sobre os cigarros enquanto ele já andava até a lojinha, deixando a chave com o carinha que encheria o tanque.

Devo dizer que fui totalmente ignorada.

Dei a língua para suas costas e relaxei no encosto do banco, enquanto colocava os pés no painel novamente.

Alguns minutos depois, senti algo ser jogado sem delicadeza sobre o meu colo e abri os olhos assustada. Peguei com a mão o saco plástico e analisei o conteúdo que havia dentro.

Enquanto o carro dava partida e voltávamos para a estrada, comecei a revirar aquilo com mais vontade quando percebi que a única coisa que eu realmente queria não estava ali. O detalhe era que eu estava fazendo um barulho desgraçado com aquele plástico e Kyle nem tinha se dignado a virar a cabeça para perguntar o que havia de errado.

Só existiam duas opções para aquela situação; ele era totalmente surdo do ouvido direito ou sabia o que tinha acontecido.

__Finnigan... Onde estão os cigarros?

Ignorando a voz mortal e meus dentes trincados, seu rosto continuou voltado para a frente como se nada estivesse acontecendo.

Meus olhos se encolheram em fendas, mirando minuciosamente o rosto calmo do -aparentemente surdo- homem ao meu lado.

__Não vai me dizer?

Ele continuou em silêncio até que eu começasse a puxar seu cabelo com força o bastante para virar sua cabeça de lado.

__AI! Que merda você está fazendo sua psicótica?!

Kyle tentava se soltar e olhar para a frente ao mesmo tempo. Eu sabia que estava provocando nossa possível morte com aquilo, mas a falta de cigarros não fazia bem para a minha sanidade.

Provavelmente ele nunca mais andaria em um carro comigo novamente.

__Onde estão os meus cigarros Kyle Finnigan?! Você disse que não faria nada e me deixaria morrer se eu quisesse!

Com os olhos ainda na estrada e um rosto muito furioso, Finnigan segurou meu pulso com bastante força, me obrigando a soltar seu cabelo.

__Ai! Que drog...- Soltei uma exclamação involuntária com sua brutalidade sobre a minha pele.

__Sei o que eu disse Katherine - Sua voz tremia pelo esforço que ele fazia para não explodir em um surto raivoso - Mas eu ainda sou eu e você não conseguiu me transformar em babaca sem coração completo. Não me importa se não quer ajuda, você vai ter a minha.

Não consegui emitir nenhuma palavra depois daquilo por um tempo. Quando Finnigan percebeu a força que fazia em meu pulso, soltou-o bruscamente como se estivesse em chamas e murmurou um "desculpe" culpado.

Me encolhi no banco, tentando não demonstrar o quanto aquilo tinha me tocado e lutando para que ele não percebesse o sorriso de canto que aparecia em meu rosto involuntariamente.

Não sabia porque estava feliz; era para estar furiosa e irritada pela falta do cigarro em meus lábios. No entanto, eu sentia exatamente o oposto do que deveria.

__Bem - Murmurei envergonhada, torcendo um fio que se soltava do moletom de Kyle - Fazendo isso comigo, você parece se bastante com um babaca sem coração.

Ele soltou uma risada melodiosa e virei o rosto para a janela, sentindo minhas bochechas esquentarem. Pude o ouvir rindo ainda mais por aquilo.

Ah, sério! Que grande droga era essa viagem.

K.F

Eu era um idiota.

Podia ter deixado aquilo passar, afinal. Não era da minha conta e não costumava me meter nos assuntos pessoais de outras pessoas. No entanto, lá estava eu, tentando ajudar Katherine Heed a se livrar do vício de cigarros.

Que grande piada. Ela poderia me impedir se quisesse sem grandes esforços e mesmo assim, eu insistia em ser o amigo prestativo que sempre estaria lá para apoiar (assim como fiz em todas as outras vezes com minhas namoradas).

Como se não bastasse tudo, a novidade era a de que eu tinha me tornado uma pessoa bruta. Kate havia me tirado do sério mais do que o normal e mesmo assim, eu não tinha o menor direito de machuca-la por descontar a raiva no lugar errado.

Não estava furioso apenas pelos puxões de cabelo e berros malucos da rosada, mas sim de sua teimosia em aceitar ou acreditar na minha ajuda.

Me permiti esboçar um sorriso de canto ao olhar para o seu corpo pequeno encolhido no banco, com as bochechas vermelhas e um bico emburrado nos lábios. Ela parecia adorável daquele jeito - e esse era um dos raros momentos em que a palavra "adorável" se encaixava em Katherine –

No entanto, meu sorriso se esvaiu rapidamente assim que notei a marca vermelha bastante marcada em sua pele clara.

Um idiota, realmente.

[...]

Chegamos em meu apartamento com o sol já se pondo e Heed reclamando feito uma matraca do caos que era o trânsito daquela cidade.

Não que ela tivesse dito com essas palavras é claro; houveram muito mais palavrões e resmungos sem nexo.

__’To falando sério Kyle! Aquele babaca ficou fechando na nossa frente e ainda me mostrou a porra do dedo do meio pra mim!

Revirei os olhos e fechei o porta malas, carregando as bagagens, enquanto ela me seguia inconformada.

__Katherine, você xingou ele de umas dez línguas diferentes depois daquilo, é óbvio que iria mostrar o dedo.

A garota grunhiu atrás de mim e logo depois foi abrir a porta, me dando passagem.

___Você está de que lado seu otário? Eu estava te defendendo caso queira saber!

Soltei todas as malas no chão e me virei para a rosada, que tinha as mãos na cintura e um rosto indignado. Sorri de lado e resolvi provoca-la um pouco.

Eu já estava sendo um babaca mesmo, então... por que não?

Comecei a andar lentamente em sua direção, meu sorriso se alargando de modo sedutor enquanto ela ainda me encarava irritada esperando uma resposta.

Aos poucos, seu rosto furioso se desmanchou ao notar minha proximidade e adquiriu uma expressão desconfiada que - não pude deixar de notar- era realmente fofa.

Cheguei perto o suficiente para Katherine ter que olhar para cima e aproximei nossos rostos, enquanto arrumava uma mecha do seu cabelo. Ela encarava de olhos arregalados a minha atitude e eu estava consciente do sorriso travesso e divertido pregado em meus lábios.

__Obrigada por me defender então, Heed - Sussurrei rouco e senti seu corpo congelar no lugar.

Ela piscou algumas boas vezes antes de se afastar rapidamente, tossindo e abanando o rosto.

__Hm, é, de nada Finnigan.

Sorri brincalhão e tentei me aproximar novamente, o que resultou em uma reação - como a de pular uns dois metros até a porta- de sua parte.

__Então, eu... Acho que já vou indo.

Comecei a rir assim que a porta se fechou com força as suas costas. Olhei para a mala aos meus pés e sorri novamente.

Katherine não era tão corajosa assim afinal.

K.H

Idiota. Descarado. Sem vergonha. Babaca. Gostoso pra caralho.

Eu não pude entender nada do que tinha acontecido e ainda não estava acreditando que aquela cena ocorreu bem diante dos meus olhos. E o pior melhor de tudo era que tinha acontecido comigo!

Nunca me acostumaria, mas sempre adorava ver aquela atitude surgindo dele sem que alguém estivesse por perto. Era como se já fosse espontâneo agir daquela maneira e eu - como professora, é claro- me sentia orgulhosa por isso.

E se, talvez... ele tinha feito aquilo para me provocar...

Não. Kyle não era assim. Ele não tinha a mesma mentalidade que eu para essas coisas e nunca conseguiria provocar alguém sem se sentir mal.

Não é?

Fosse o que fosse, apesar do meu surto de nervosismo, (ah, vamos lá! Eu não estava esperando por aquilo!) tinha sido incrível.

E bem, vamos ignorar o fato de que fiquei tempo demais olhando para a sua boca na esperança de que ele fosse me beijar outra vez. Como eu já tinha dito, para um cara ingênuo, Finnigan sabia realmente como beijar uma garota.

Depois de sair do taxi (e mandar aquele taxista grosso ir à merda por cobrar a corrida tão caro), cheguei distraída até meu prédio, já me preparando para subir aqueles malditos lances de escada, quando meu síndico – totalmente otário – me parou no meio do caminho.

__Ah, que surpresa você por aqui encrenca!

Grunhi ainda de costas, diminuindo meu trajeto e colocando um sorriso claramente falso no rosto. Quando aquele velho rabugento usava ironia comigo e me chamava de “encrenca” (coisa que acontecia frequentemente) era porque algo iria dar errado para o meu lado.

Girei nos calcanhares e abri os braços, com uma – fingida - voz animada.

__Cal! Desculpe, nem te vi aí. Você tá bem? Como vai a família? A esposa e as crianças?

Ele abaixou aquele maldito jornal até a altura dos olhos, me encarando cínico e debochado.

__Esposa e crianças que eu não tenho? Vão muito bem pirralha. Obrigada por perguntar.

__Disponha.

O velho se ajeitou na cadeira e deixou seu tão inseparável companheiro de lado. Estalou os dedos e sorriu cruel para mim, parecendo sentir um prazer enorme ao falar suas próximas palavras.

__Já que está tão engraçadinha, vou aproveitar e ir direto ao ponto. Não é como se eu gostasse de ficar olhando para a sua cara de pichadora por muito tempo.

__Você é tão gentil Cal! Sempre sinto um carinho enorme por esses apelidos; obrigada, de verdade – Pus a mão no peito e ele puxou o ar, se controlando para não me atirar pelo vidro.

__Arrume suas malas Katherine, você tem 24 horas para sair do apartamento.

Meu sorriso falso e irônico se esvaiu e minhas mãos penderam do lado do corpo, sem reação. Eu encarava o rosto despreocupado e até mesmo entediado do homem a minha frente, mas não conseguia emitir nenhum som e meus ouvidos zuniam incessantemente.

Tomei uma grande golfada de ar para meus pulmões antes de formar algo coerente. Minhas mãos se moviam nervosas, sem parar.

__M-Mas... O que... p-por que... Você n-não pode...

Ele respirou fundo e passou as mãos no cabelo grisalho.

__Katherine, não é por questões pessoais e você sabe disso. Já estaria na rua a muito tempo se fosse esse o motivo, mas o problema é o dinheiro.

Balancei a cabeça, transtornada.

__ Estou atrasada eu sei, mas você me deu dois meses Cal. Dois meses porra! Ainda não se passaram nem algumas semanas, que droga você está falando agora?!

__O prédio é antigo e as contas estão ficando mais caras Heed. Se você não paga no tempo combinado, eu não tenho como manter isso aqui funcionando. Não podemos abrigar pessoas que não colaboram.

__Não cola... Caralho Cal, eu estou morando aqui, nesse lugar desgraçado, a cinco anos! Não colaboram?! Você está falando sério comigo?!

Soltei uma risada histérica e senti meus olhos arderem, ao mesmo tempo em que o pânico crescia em meu peito. Ah, não mesmo! Eu não iria chorar por causa disso!

O homem deve ter notado minha expressão de raiva e angustia, pois coçou a sobrancelha incomodado e respirou fundo outra vez.

__Desculpe por isso Katherine, de verdade.

Se fosse em outra ocasião, eu teria ficado até mesmo honrada com aquilo. Jamais alguém que morava ali havia recebido qualquer pedido de desculpas de Cal Herman (e acredite quando eu digo que ele já tinha feito muitas coisas que mereciam um pedido de desculpas). No entanto, a situação era aquela e minha raiva estava além do que eu podia lidar.

__Desculpas não vão resolver nada seu babaca! Onde você acha que eu vou morar?! Debaixo de uma ponte?!

Puxei meus cabelos com força e ele revirou os olhos.

__Não seja dramática garota. Você tem aquele marginalzinho e a garota maluca não tem? Peça para morar com eles, pelo menos por um tempo.

Soltei outra risada irônica e minha voz se tornou mortal.

__Se eu pudesse morar com eles você acha mesmo que eu viria para cá, nesse lugar caindo aos pedaços, ao invés de ficar com meus amigos?

Parecendo cansado, ele alongou os braços e voltou a se sentar. Abriu o jornal novamente e finalizou a conversa entre um bocejo despreocupado.

__Meu recado já está dado. Até 24 horas, viu!

Subi as escadas mais que furiosa, entrando feito um furacão no apartamento, batendo a porta com força e me sentando desolada no minúsculo sofá.

Abaixei minha cabeça entre os braços e me permiti respirar sofregamente, sentindo lagrimas grossas e silenciosas descerem.

Não sei por quanto tempo fiquei ali, apenas pensando no que eu faria dali em diante. Eu havia passado por tudo naquele lugar e sair dali de uma hora para a outra era o mais assustador.

Sem falar é claro, do fato de não haver nenhum lugar onde eu poderia ficar. Meu círculo social de amizade e família era bastante limitado, então ficava complicado para mim saber o que fazer.

Com as 24 horas correndo, decidi que a primeira e mais importante coisa seria arrumar as malas e empacotar as poucas coisas que eu tinha. O resto eu veria mais tarde.

Sequei o resquício de choro e me levantei desajeitadamente, sentindo um peso enorme sobre minhas costas por conta do choque que a notícia tinha me causado.

__Hã... onde diabos minha mala ficou?

Parei de vasculhar o local assim que percebi que não tinha trazido junto a mala com a maior parte das minhas roupas quando sai apressada do apartamento de Kyl...

Ah.

Uma ideia maluca transpassou minha mente e cada vez mais ia ganhando forma, fazendo sentido e parecendo ser a solução ideal para evitar que minha vida se resumisse em mendigar no meio da rua.

Eu havia achado uma casa.

E minha mala até já estava lá.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gente do céu, isso vai ser bom! Aeee!

É CLICHÊ? É! TO LIGANDO? NAU hahahaha Ta, parei.

GOSTARAM? ODIARAM? (estão me odiando? kkk) DEIXEM REVIEWS!

PS: Depois de tanto tempo longe, quero saber como vocês estão. Comentem isso também!