A testemunha- HIATUS escrita por Zia Jackson


Capítulo 36
O bilhete


Notas iniciais do capítulo

Agradecimentos:
Sra O Leary
Mags
Renata
Izzy Herondale
Di Ângelo
DudaDudix
BeatricePorter



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Igor.

Observava Daphne dormir, com os olhos fechados e uma expressão serena ela parecia ser mais jovem, sem todo o fardo que carrega. Em compensação, eu parecia um zumbi. Estava mais magro, com olheiras e minha cabeça doía muito. Só queria ter um adulto presente, alguém que tomasse conta dela melhor do que eu tomo. Afinal, sou só um garoto de dezoito anos que recebeu uma responsabilidade cedo demais.

A paz da casa se acabou, cortada por um grito de Daphne.

– O que foi? – Indaguei, sentado na poltrona ao lado de sua cama.

– Pesadelos. – Ela disse, choramingando como uma criança. – Faça eles pararem, por favor.

Sentei-me na cama, ao seu lado. Encostei sua cabeça no meu colo e acariciei sua cabeça, coberta por fios tingidos de vermelho, agora desbotados devido à falta de cuidado por parte dela. As marcas nos pulsos de Daphne eram recentes, indicando que ela ainda tentava tirar a própria vida. Minhas calças agora estavam molhadas pelas lágrimas dela.

– Pode me contar uma história? – Indagou ela, com o olhar de uma criança de cinco anos de idade. Ultimamente estava assim.

– Por que não? – Disse eu. – Era uma vez, do lado de fora dos muros do programa de testemunhas...

* * *

Lisa.

– Mas Lisa, você tem que voltar a correr comigo! – Protestava Clara. – Você só come e dorme, isso faz mal à saúde.

– Eu leio. – Me defendi. – Como, durmo e leio. E de vez em quando corro às quatro da manhã.

– Ler não te faz gastar calorias.E correr tem que ser mais tarde, comigo.

– Na verdade, faz sim. Pouquíssimas calorias, mas eu perco. E eu posso correr antes de amanhecer sim, Diego me faz companhia.

– Qual é, Liz. Ian não corre mais, preciso de uma companheira de corrida.

– Peça para Diego, ele adorava correr pelos corredores da escola para atazanar os alunos.

– Não, você não entende. – Ela disse, se jogando dramaticamente no sofá. – Se não correr comigo, morrerei sem me casar, com sete gatos e dez cachorros me fazendo companhia.

– O que correr tem a ver com se casar?

– Vai descobrir se não correr. Vamos, Lisa, vai ser divertido.

– Tudo bem. – Eu disse, jogando as mãos para o alto. – Você me venceu, está feliz? Ela respondeu sorrindo.

– Agora dê licença, está tomando o sofá todo.

Ela riu, depois dobrou as pernas para que eu pudesse me sentar.

Ficamos conversando por um longo tempo, mas a inevitável hora de Clara ir embora chegou. Com um abraço, ela se despediu de mim.

Tomei meu banho, analisei mais uma vez o azul nas pontas de meu cabelo (que agora, devido à falta de cuidados, estava esverdeado). Sentia que tinha de pintar novamente meu cabelo, voltar à cor normal. A Lisa “smurf” não existia mais. Comecei a chorar sem motivo, estava assim ultimamente: Medrosa, assustada e emotiva.

Pensei na mulher ruiva que morreu em minha frente, a vítima do crime que me colocou aqui. Pensei na dor dos dias de cativeiro, de ser torturada. Como minha vida podia ter mudado bruscamente tão rápido? Escondi o rosto na toalha e permiti-me chorar, abafando ao máximo os soluços. Tudo o que eu queria era voltar no tempo, ter enfrentado aquele grupo de jovens ao invés de cortar caminho pelo beco, na pior das hipóteses eu teria apenas sido assaltada, e a essa altura já teria recuperado o dinheiro e o celular que teriam tirado de mim. Pelo menos, eu estaria estudando normalmente, tendo liberdade para ir e vir, estaria perto de Marisa, lendo os lançamentos da livraria local, estaria flertando com algum garoto e, quem sabe, até namorando. Mas, de jeito algum, estaria chorando no banheiro.

Passei a mão no espelho do banheiro, limpando o vapor. Mirei-me, avistando uma menina abatida e nem um pouco bem cuidada. O chuveiro pingou, a gota de água colidindo com o chão molhado. Estremeci, minha mente fértil imaginando mil coisas ruins relacionadas àquele pinguinho de água inofensivo. Sai em disparada até meu quarto antes de ficar totalmente apavorada.

Essa não era eu.

* * *

– Lisa? – Diego chamou-me, empurrando a porta de meu quarto levemente.

– Entre. – Murmurei, escondida em meio às cobertas.

Ele entrou em meu quarto, um borrão louro e alto. Sentou-se na ponta de minha cama e percebi que seus olhos estavam levemente avermelhados. Resolvi não questionar.

– Como está? – Perguntou ele, pacificamente. Aquele ato me causou espanto, quero dizer, quando eu estava muito machucada ele havia sido benevolente e carinhoso, mas agora eu estava teoricamente “curada”, apenas alguns arranhões pelo corpo. Pensei que ele fosse parar de se importar comigo. Talvez fosse a maturidade chegando, meu irmão estaria deixando de ser um crianção? Estaria entrando na vida adulta? Eu Não sabia dizer, só queria que isso continuasse.

– Do mesmo jeito de sempre. – Falei.

– Seja sincera.

– Achei que estivesse melhor, mas acabo de me assustar com um pingo de água no banheiro, então não creio que esteja melhorando.

Ele fez uma cara triste, depois bocejou.

– Que pena, mas você vai superar. Mamãe quer falar com você.

– Pode pedir à ela para falar comigo amanhã? Eu estou com sono. – Falei.

– Ela estava agitada, então sugiro que vá ao quarto dela agora mesmo.

Levantei-me com certa dificuldade e calcei os chinelos, indo para o quarto de mamãe. Meu pijama estava largo, durante o tempo em cativeiro eu perdera grande peso. Aos poucos, eu sabia que iria recuperar.

A porta do quarto de mamãe e papai estava aberta, então entrei sem bater. Ela estava sentada na cama, mordendo o lábio inferior ( o que era um péssimo sinal, já que isso indicava que estava nervosa), já meu pai estava sentado na ponta da cama de casal, olhando para a porta.

– Me chamaram? – Indaguei, desanimada.

– Sim, filha. – Meu pai disse, sem sorrir. – Poderia se sentar?

Caminhei até a cama, sentando- me no espaço entre papai e mamãe.

– O que foi? Vocês parecem nervosos. – Disse eu.

Minha mãe se aproximou de mim, colocando a mão em meu ombro esquerdo. Papai se levantou, começando a andar lentamente em círculos. O quarto de meus pais era simples, nada mais do que uma cama, um guara roupas, um criado mudo e um tapete. Sob o criado mudo, várias fotos minhas e de meu irmão lotavam a superfície. Pensei em quanta coisa eles deixaram para trás por minha causa, não fossem meus malditos olhos naquela noite, ainda estaríamos vivendo normalmente.

Eu era uma grandessíssima filha da mãe.

– Então,Lisa. – Meu pai disse, gesticulando as mãos. – Odiamos esconder as coisas de você, e é só por esse motivo que iremos te contar o fato que vem nos assombrando há noites. Os policiais disseram que não deveríamos contar, que você ainda está muito traumatizada, mas sua mãe e eu não achamos certo esconder uma coisa dessa magnitude de você.

– Não queremos que você fique com medo. – Mamãe disse, tentando transmitir paz em sua voz. Infelizmente, a tentativa falhou. - Isso é um problema maior do que você pode lidar.

– Falem logo. – Pedi. – Por favor.

Papai respirou fundo, e mamãe apertou meus ombros.

– O assassino da mulher do beco fugiu da prisão, mas deixou um bilhete para a polícia. – Ele disse, esticando um papel que estava em seu bolso para mim.

Tratava-se de um xerox de um bilhete. O que estava escrito ali me fez gelar de cima a baixo.

Olá, babacas.

Se acham que poderiam mexer com um dos capangas do Chefe, saibam que estavam errados. Essas paredes de concreto não podem deter o poder do dele, assim como não podem proteger aquela menina dentro do condomínio de testemunhas.

Armas, guardas, cães e cassetetes não podem detê-lo. Ele tem aliados por todos os lugares. Aquele homem que torturou a garota era um de nossos aliados (e olhem que era um dos mais inofensivos).

Existem vários infiltrados, podem leva-la para uma montanha isolada de tudo e mesmo assim o Chefe arrumará um aliado, alguém que o ajude. Ela mexeu com nosso sistema, precisa ser eliminada.

E será, pois tudo que o Chefe promete ele faz.

Vida longa ao Chefe, tortura e morte aos seus inimigos.

É assim que a gente faz.

As palavras rodavam em minha cabeça. Aliados, tortura, morte, Chefe, tudo em uma salada mista rodopiante em meu cérebro.

O caso da tortura não fora coincidência, fora algo premeditado e planejado pelo Chefe.

E existiam aliados, gente que o apoiava, que iria longe para me matar ou capturar.

Não existia fuga, não existia lugar seguro.


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Notas finais do capítulo

Eu tinha algo para falar, mas esqueci :(.
Estou alegre, finalmente mais pessoas deram as caras nos reviews :3, quando os leitores são fantasmas eu não sei se estão gostando ou não da história, Não sei se estão vivos, nem se continuam a ler.
Então, se tu leu até aqui, mande um oi, um "Essa história tá uma droga", ou um "Estou curtindo a fic".
Expresse sua opinião, o review é o bate bapo entre o autor e o leitor.
Bjus *-*



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