A testemunha- HIATUS escrita por Zia Jackson
Notas iniciais do capítulo
DUDA, A ÚNICA A COMENTAR NO CAP PASSADO.
Estou triste, só digo isso, a gente escreve com amor e carinho e recebe somente um review em troca.
Então,obrigada Duda, por não desistir da fic, dedico este cap para você *-*.
Eu sabia que algo havia acontecido. Algo relacionado com o crime que testemunhei o crime quem e prendeu aqui, nesse condomínio.
– Senhorita Lisa, creio que já tenha decorado o que são adjuntos adnominais e adverbiais, já que parece estar viajando em outro planeta. – O professor disse.
– Eu já decorei, aliás, isso é matéria do ensino fundamental dois. - Rebati.
– Creio que esteja tentando ouvir a conversa de seus pais, mas considerando a distância entre a sala de estar e a cozinha, não ouvirá mais do que sussurros.
Afundei-me na cadeira. Eu só queria que meus pais me contassem o que estava acontecendo, estavam tão tensos nesses últimos dias.
– Agora vamos, faça o exercício do livro.
* * *
Assim que a aula acabou, subi para meu quarto. Havia recebido alguns livros, resultado das economias que meus pais faziam com o dinheiro que recebiam do governo. Abri um deles, minha leitura atual, e comecei a ler.
“Uma grande tristeza traz liberdade”, dizia a frase que mais gostei no capítulo inteiro, anotei-a no meu bloco de notas de frases bonitas. Queria que fosse verdade, que de alguma forma tudo o que passei me trouxesse liberdade.
Infelizmente, nada disso estava acontecendo. Após ser testemunha, fui jogada em um lugar estranho, após ser vítima, perdi a liberdade da mente, a paz de dormir uma noite inteira sem acordar berrando.
– Lisa? – Chamou Ian. Ele havia sumido por um longo tempo, sempre inventando desculpas para ficar pouco tempo comigo e com sua irmã. Tinha a sensação de que ele não queria ficar perto de mim, como se o que eu passei pudesse ser transmitido para mim. Mal sabia ele que tudo o que eu precisava era de apoio, pessoas amigas para me mostrarem que tudo está bem, que estou salva. – Posso entrar?
Fechei meu livro, colocando-o sobre a cama. Ele entrou no quarto, deixando a porta aberta. Carregava um livro em suas mãos, parecia ser de matemática.
– O que faz aqui? – Indaguei – Lembrou que eu existo?
– Desculpa, Liz. Eu estava muito ocupado por esses dias, você sabe.
– Sei, fazendo amizades com pessoas normais e saudáveis mentalmente. – Rebati.
– Liz, por favor... Não foi isso. Mas você não ficou sozinha, tinha seus pais, Clara.
– Igor. – Falei. E era verdade, o garoto vinha me ajudando bastante, embora quase sempre estivesse tomando conta de Dafne.
– Claro, não posso esquecer-me dele.
– Como vai a Bárbara? – Perguntei.
– Bem, realmente bem. Ela queria te ver, conversar com você. Até hoje sequer falarem oi uma para a outra.
– Deve ser porque eu nem saio de casa, e ela não sai da sua casa. Fica difícil conversar desse jeito.
– Então por que perguntou dela?
– Por nada, Clara pediu que eu perguntasse, disse que faria com que eu parecesse educada e benevolente.
– Minha irmã estava certa.
– É. Mas ela sequer demonstra respeito pela outra garota, portanto não acho que seja uma fonte de bom exemplo.
– Não entendo porque, Bárbara é tão boa e legal com ela.
Revirei os olhos.
– Ela me parece ser uma santinha do pau oco, se quer saber. – Falei.
Ele pareceu se zangar, mas apenas colocou o livro sobre a escrivaninha, ao lado de diversas pomadas e remédios que eu usava para me recuperar da época em cativeiro.
– Bom, quem te enviou esse livro foi Bárbara, então ela não é uma santa do pau oco.
– Continua parecendo se uma.
Ele bufou, como a mãe que discute com seu filho criança e acaba desistindo para não se estressar.
– Espero que faça bom uso do livro, o professor disse que seria bem útil.
– Que seja. – Falei.
Ele puxou a cadeira da escrivaninha e se sentou.
– Como você está, Liz?
– Um pouco melhor, eu acho. – Falei. – Mas acho que nunca serei como era antes, sabe, como eu era quando vivia do lado de fora desse lugar. Estou tão nostálgica, sabe? O tempo todo lembrando do passado, chorando e me irritando.
– Vai passar, é uma fase.
– Não é uma fase. Fase é a adolescência, a infância. Isso foi um evento histórico, algo que mudou-me e deixou marcas inapagáveis.
Ele pegou uma pomada na escrivaninha, rodando-a nas mãos.
– A vida é como uma embalagem de pomada, ás vezes é preciso carregar cicatrizes por fora e ter a cura por dentro.
– Isso foi uma tentativa de metáfora?
– Foi.
– Bom, deu errado.
Ele sorriu.
– Metáforas nunca foram meu ponto forte. Na verdade, acho que não tenho um ponto forte.
– Você tem muitos pontos fortes, só não os enxerga. É como um macarrão.
– Depois você reclama das minhas metáforas... – Sorriu. - Ambos devemos fazer um curso de metáforas com o Diego. Ele sabe filosofar.
– Não sabe não – Falei. - Ele é pior que eu.
– Nesse caso, estamos ferrados.
– Sem dúvidas.
Ele guardou a pomada.
– Mas leve a sério a coisa da pomada, um dia vai ser útil.
– Quem sabe em um stand-up de comédia...
Ele olhou no relógio, se assustou.
– Ai meu Deus, estou atrasado...
– Atrasado para o que? – Perguntei.
– Para uma coisa que prometi fazer.
– Nossa, esclareceu muito.
Ele se levantou da cadeira em um pulo, foi até a cama e me deu um abraço de leve.
– Se cuide. – Falou.
E então, partiu, deixando-me sozinha no quarto.
Ian.
– Caramba, você não tem relógio. – Reclamou Bárbara. Estava vestindo uma saia rodada e sapatilhas beges. – Atrasou meia hora.
– Desculpe, estava na casa da Lisa.
– E como ela está? – Perguntou, preocupada.
– Do mesmo jeito, parece normal, mas não está.
– Coitada. – Lamentou ela.
– Ela vai superar, peço isso todos os dias. “Derrota após derrota até a vitória final”
– Shakespeare? – Ela perguntou, referindo-se a quem tinha dito a frase que eu citei.
– Não. Che Guevara. Shakespeare diria isso com mais sentimentos, palavras belas.
Ela murchou o sorriso que carregava.
– Odeio quando erro.
– Errar é humano. – Disse eu.
– Errar na frente de um garoto é muito chato. Faz com que ele perca o interesse.
– Talvez sim,talvez não. Dependo do garoto.
– Você perdeu o interesse?
– Eu nunca estive interessado, Bárbara. Não sei aonde você quer chegar com esse assunto.
Ela me encarou, brava. Mas eu somente disse a verdade.
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As duas frases em itálico esse cap foram tiradas de Livros ou personalidades famosas.