Devo dizer que comida de hospital, realmente é horrível. Assim que terminei a sopa que minha mãe fez, resolvi me deitar e dormir um pouco, além do mais, eu precisava de um tempo para pensar. Fui para um quarto, me acomodei em meio às almofadas da cama e dormi profundamente por várias horas.

Acordei com o barulho da chuva.

– Ué- Murmuro para mim mesma.

Me levanto calmamente e olho pela janela, chove muito lá fora, e o familiar cheiro de terra molhada inunda minhas narinas. Cogito ir lá fora e tomar um banho de chuva, mas isso seria muito infantil e imprudente de minha parte, ao invés disso, pego minha toalha e uma muda de roupas e me encaminho até o banheiro. Ligo o chuveiro, regulo a temperatura e mergulho no deliciosa e quente água , deixo que ela flua por meu corpo todo, assim que ela incide em meu ombro ainda não cicatrizado eu sinto uma dorzinha chata, mas logo passa. Depois disso, começo a me limpar com a bucha e o sabonete, seguido do xampu e do condicionador. Quando acabo tudo isso , me seco, penteio os cabelos e visto as roupas.

Saio do banheiro, deixando-o inundado com o vapor da água.

Desço para a cozinha para ajudar minha mãe na janta (como eu disse anteriormente, dormi por horas), porém quando alcanço a cozinha, vejo que Clara está lavando a louça.

– Até que enfim, estou aqui já faz duas horas! – Ela fala

– Oi pra você também.

Olho ao redor, procurando Ian.

– Ele não veio, não virá hoje. Falou que você precisava descansar – Clara diz, como se lesse minha mente.

Olho para minha mãe, que está cortando cenouras na pia.

– Querem ajuda? – Indago

– Não – Minha mãe responde – Vá conversar com Clara, ela está te esperando há horas.

Sei que ela quis ser gentil, mas os olhos de minha Mãe parecem dizer “Pelo amor de Deus, tire essa maluca daqui de casa”.

– OK. – Respondo- Clara, por que não me acompanha?

A garota fecha a torneira e seca as mãos em um pano, depois começa a andar atrás de mim.

Entro na sala de estra, onde me jogo no sofá, Clara faz o mesmo.

– Vai, desembucha – Ela fala

Começo a contar a história para ela, não deixando nada de lado, acrescentando os mínimos detalhes.

– Uau – ela fala – O médico era bonito?

– Ei, acabo de contar uma coisa muito comovente e você se preocupa com isso? – indago

Ela dá de ombros e abre um sorriso malicioso.

– Era ou não?

– O enfermeiro era, já o médico não. –Respondo

– Eu sabia! – Ela grita

– Vá com calma – Falo

Ela coloca as mãos nos lábios, como se estivesse arrependida.

– Sabe, uma coisa muito estranha aconteceu. – Falo- Diego, ele...

– Saiu do armário? – Ela indaga

Rio.

– Não, ele se preocupou comigo.

– Ele é seu irmão, claro que se preocuparia.

– Eu sei, mas sei lá, quase nunca vejo esse lado dele, o lado bondoso.

– O lado que ajudam velhinhas a atravessar a rua?

– Clara , você deveria ser comediante. – Falo, de forma irônica.

– Um dia eu serei, e você, Lisa , será a tia que servirá meu café.

Rio . Depois disso, ficamos um tempão conversando,quando a chuva cessa, a garota decide ir para sua casa.

Como não tenho mais o que fazer, subo para eu quarto e resolvo escrever uma carta para Marisa.

“ Querida Marisa.

Primeiramente, queria dizer que levei um tiro, e que estou escrevendo essa carta direto daqui do além.

Ok, a parte do além foi brincadeira.

Eu estou bem, caso você se pergunte como estou.

Puxa, ando passando por tanta coisa. Ontem mesmo pensei nos meus planos do começo do ano, você se lembra?

Se lembra que minha maior preocupação era se João iria me convidar para o baile de formatura?

Ou, se eu iria conseguir entrar para a faculdade de gastronomia?

Ou ainda, se o professor Pedro iria continuar falando cuspindo?

Sinto saudades desse tempo, do tempo em que podia conversar com você todos os dias, em que eu podia sair de casa e ser só mais uma, sem o perigo de ser encontrada por criminosos. Fiz amigos aqui, mas nenhum é como você, ninguém me conhece tão bem quanto você me conhecia.

Ok, já estou chorando aqui.

Só quero que tudo isso acabe, quero acordar no meu antigo quarto, atrasada para ir até a escola, porém sã e salva.

Acima de tudo, quero ter uma vida.

É bem provável que não deixem que você responda a essa carta, mas quero te fazer um pedido: Poderia , depois que se formar me mandar as fotos da formatura?

Preciso me sentir presente, estar conectada com vocês , saber o que está acontecendo. Preciso me sentir Viva!

Com amor,

Você sabe quem.