Sabe aqueles dias em que tudo o que você quer é ficar no quarto, escutando músicas depressivas?

Hoje é um desses dias para mim, infelizmente eu conheço Clara.

– Ei – Ela me adverte – Pare de boiar enquanto eu conto sobre o que ouvi.

– E o que você ouviu?

– Pela centésima vez, uma nova família vai chegar aqui.

– Ah , era só isso?

– COMO ASSIM SÓ ISSO? – Ela berra – ISSO É UMA CATÁSTROFRE, MAIS UM CRIME , MAIS UM RISCO DE MORTE.

– Clara,você é exagerada

– Lisa, você é uma drogada que não enxerga a vida como ela é.

– Eu Não sou drogada – protesto

– E eu Não sou exagerada.

– Quem não é o que? – Pergunta Ian, que está na porta de meu quarto.

– Essa garota – digo, apontando para a irmã – é maluca

– Pensou que eu não sabia? – Ele zomba

– Traidores! – Clara exclama, saindo do quarto a passos pesados.

Ele entra no recinto, carregando junto de si uma sacola de plástico.

– O que tem ai?

– Batata chips, quer uma? – Ele indaga, retirando um pacote azul da sacola e o lançando para mim.

Abro o pacote e mordo uma crocante e deliciosa batata.

– Posso? – Ian pergunta, se referindo a sentar na cama ao meu lado.

Abro espaço para que ele se acomode.

– Onde está minha mãe? – Pergunto

– Foi visitar Diana, ensina-la a fazer bolos.

– O mundo agradece – falo

Ele ri. Percebendo que estamos sozinhos, aproveito a oportunidade.

– Essa coisa de só amigos, você tá legal com isso?

– Sim – ele fala –Acho que eu fui um pouco precipitado no início. Meio que confundi as coisas.

Abro um sorriso. Estava prestes a continuar o assunto quando escuto um grito.

Desço da cama e saio correndo, quando chego na cozinha, vejo Clara jogada no chão, tremendo.

– O que aconteceu? Você tá bem? – Indago, ofegante.

Ian chega atrás de mim e se abaixa para ver a irmã. A garota indica para o armário da cozinha, o que fica embaixo da pia.

O abro e, de lá, sai uma figura conhecida.

– Diego, o que você fez? – Pergunto

Ele coloca em minhas mãos uma máscara de borracha, a figura ali retratada é horrenda.

– Ele te deu um susto? – Suponho

Ela concorda com a cabeça.

– Diego – O repreendo

– Eu estava com tédio. – Ele diz.

Era sempre isso que ele dizia, como na vez em que pendurou um balde de tinta na porta de meu quarto, para que quando eu abrisse-a, fosse inundada de tinta. Infelizmente, foi minha mãe quem abriu a porta.

Ian se levanta e vai em direção de Diego, já estou esperando a briga quando ele estica a mão para um High- five.

– Cara – o rapaz diz – Isso foi genial.

– Eu sei. – Diego fala, animado.

Os dois saem da cozinha, rindo.

– Ai meu Deus , Clara. Você está mesmo legal?

– Estou – ela fala, se levantando – Ele é sempre assim?

– Desde que o conheço.

Ela solta um som que pode ser tanto um grunhido quanto uma risada. Olho para fora de casa, através da janela de vidro da cozinha. No momento, um carro da polícia está parado do lado contrário de minha casa. De dentro do carro, três pessoas descem: Uma menina, um menino e um homem.

– Vejam só – falo – Os boatos estavam certos Clara.

Ela vai até a janela, soltando um gritinho eufórico.

– Novos vizinhos. E veja só, aquele cara é um gato!

Rio , só Clara para dizer isso.