Uma história de amor um pouco diferente escrita por Weslley Fillipe


Capítulo 9
Capitulo Oito - A perda de alguém querido




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/545814/chapter/9

Acompanhei de perto o sofrimento de um garoto (meu vizinho) quando se assumiu gay. Como aquilo era doloroso, não pela agressão de sua mãe, mas sim as palavras que ela usava, de um '' eu odeio você '' até '' eu tenho nojo de ter um filho assim ''. Fiquei pensando se aconteceria o mesmo comigo, algum dia, talvez...

Desde o episódio no hospital minha mãe não falara nada. Ela ainda não sabia o que eu tinha, a doutora tinha dito a ela que ainda era desconhecido mas que ela poderia ficar tranquila, mesmo tendo certeza que ela não ficaria.
Acordei com fortes dores no peito e um enjoo no estômago, mas não alarmei ninguém pra não ficarem preocupadas, não conseguia nem me levantar, toda vez que tentava vinha a vontade de vomitar.

Para minha sorte era sábado, Yuri e Gabriel vieram visitar-me enquanto eu ainda estava na cama. Quando chegaram, Yuri me entregou a matéria da semana de aula que havia perdido quando estava com Gabriel no hospital, mas não conseguia nem segurar o lápis, então ele copiou tudo para mim, era mais de trinta folhas!

Gabriel ficou com minha prima na sala enquanto Yuri copiava, eu fiz o máximo de esforço para me levantar, chegando no banheiro vomitei tudo o que não havia comido. Minha mãe não estava em casa, então minha irmã ligou para doutora Maria Ester, ela me disse que era normal por causa da quimioterapia ( mesmo já fazendo quase um mês que teria feito e eu já não estava careca! ). Me recomendou que não me esforçasse muito e tomasse bastante água, comesse sopa e bebesse bastante leite.

Duas horas depois, Yuri já havia terminado, então fomos todos ( eu, Yuri, Gabriel, Megan e Alice ) para a sala assistir '' Fúria de Titãs '' um dos filmes mais posers que já assisti na vida! Megan e Gabriel ficaram deitados JUNTOS no sofá maior, minha irmã deitada no sofá menor e eu deitado invertido no tapete, Yuri sentou junto comigo, apoiando minha cabeça em seu colo e acariciando meu cabelo. ( nada muito gay, tudo dentro do termo '' amizade hétera '' ) Quando o filme acabou, todos levantaram e foram para cozinha pegar o que comer e começar a assistir Fúria de Titãs dois, mas eu continuei deitado no colo dele. Ele me perguntou se estava com fome, balancei a cabeça positivamente, ele tirou minha cabeça cuidadosamente de seu colo e colocou-a em cima de uma almofada, foi até a cozinha e pegou um copão de leite com alguns biscoitos que estavam lá, entregou-me e colocou minha cabeça de volta em seu colo.

Quase quatro da tarde, minha mãe chega ( o filme já havia acabado ) e todos já haviam levantado. Fui até a cozinha ajudar minha prima, mas havia chegado tarde demais. Ela e Gabriel estavam fazendo '' bolinhos do amor ''; cara aquilo estava me dando um nojo tão profundo que quase me arrependi de tê-los juntado.

Fui até o quarto de Alice pra ajudá-la com o dever de matemática, mas não consegui. Ao segurar o lápis começo a tossir, tossia algumas '' bolas '' de sangue escura, olhei pra ela e perguntou se eu estava bem e se eu iria viver até ela se casar, respondi que faria o máximo para realizar seu desejo caso a Jully deixasse. Minha irmã tinha duas amigas que se chamavam Jully, passou a odiá-las no momento em que ouviu o nome da minha doença.

Ainda não sei o motivo pelo qual escrevo tanto em meu diário. Acho que temo ficar esquecido quando morrer, e tendo essas anotações talvez alguém possa se lembrar de mim pra sempre como '' o garoto idiota que beijou seus dois melhores amigos '' ou '' o garoto que deu nome para a doença que lhe matou '' nenhum dos dois me pareciam bons.

Quando passei na frente do quarto da minha irmã, onde Gabriel e Megan estavam , vi os dois se beijando e ela segurando seu peito para que não doesse, fiquei feliz pelos dois.
Assim como citado pelo nosso querido amigo John Green em '' Cidades de Papel '' Somos todos feitos de papel, vivendo vidas de papel em cidade de papel. Quando a vida se cansar da gente ela simplesmente nos rasga e nos substitui por novos, somos seres tão desprezíveis e descartáveis...

Meus amigos foram embora as vinte e duas horas daquele dia, mal sabia que ia ser a última vez que veria Yuri com aquele sorriso fofo no rosto.
Vinte minutos depois que foram embora, meu celular toca, era Yuri.
– Minha...Mãe... - A ligação cai. Tento retornar mas sem sucesso
Eu não podia ir até a casa dele pois minha mãe havia saído com minha irmã e estava com o carro, então só pude ficar esperando, até que me ligam pelo telefone do hospital...
– Boa noite, você é Harry Augustus certo ?
– Sou sim, algum problema?
– Bem, é que seu amigo Yuri..
– Aconteceu algo com ele?
– Com ele não, mas sua mãe...
O enfermeiro não precisava terminar a frase, eu já sabia o que havia acontecido. Sua mãe estava muito doente e não tinha meios de cuidar da saúde, era só questão de tempo até.... '' Pi......Pi.....Piiiiiiiiiiiii... '' Foi isso que ouvi através do celular onde o enfermeiro estava. Não havia ninguém no hospital, apenas a mãe dele, e esse barulho não significava outra coisa se não a morte.

Fui até o hospital a pé mesmo sendo três quilômetros longe, não podia deixar meu amigo numa hora dessas. Quando cheguei, Yuri estava debruçado sob uma maca e um pano branco sobre um corpo, ele estava chorando. Ao me aproximar ele me abraçou com o resto de força que ele ainda tinha, só consegui dizer '' eu sinto muito ''. Ele estava exausto, não conseguia ficar em pé. Embora soubesse o que iria acontecer, ele estava muito abalado com aquilo e não conseguia dizer outra coisa se não '' eu tentei, eu juro que tentei! Eu fiz tudo que pude mas não foi suficiente, eu perdi minha mãe, eu perdi a única mulher da minha vida! Dizia enquanto me abraçava com tanta força que senti Jully sufocada.

Naquela noite ele foi embora comigo pra minha casa, não podia deixá-lo sozinho na casa onde sua mãe morrera.
A vida do meu amigo havia mudado drasticamente. Ele perdera a mãe, não tinha o amor de seu pai, havia apenas eu e Gabriel com quem contar, isso era triste ...

Dizem que quando você está prestes a perder alguém que ama você sente antes pra não sofrer na hora, e era o que exatamente Yuri estava sentindo. Ele não estava tristes pela morte de sua mãe, ele estava triste pois não teria mais ninguém a quem amar fraternalmente. Não poderia dar esse amor ao seu pai, não poderia jogá-lo ao ar, ele simplesmente estava perdido. Ofereci minha casa pra ele morar até as coisas se acalmarem, ele aceitou pois não tinha outra escolha.
Odeio ver meus amigos sofrerem e eu não poder fazer nada, odeio ver pessoas tão boas morrendo quando eu poderia estar em seu lugar, odeio a morte... Descanse em paz, Elizabeth McCoy Dimattew...

O Velório foi quatro dias depois sua morte. Estava quase vazio, apenas eu, Yuri, Gabriel, Sr e Sra Olliver, minha mãe, minha irmã, minha prima de mãos dadas com Gabriel algumas enfermeiras que cuidaram dela antes de morrer. Não durou muito tempo, apenas quinze minutos até fecharem o caixão, Sr Olliver e dois enfermeiros ajudaram a levar o caixão até o cemitério que era logo a frente. O buraco já estava cavado, sete palmos a baixo da terra, Yuri teve tontura e quase caiu no buraco onde estava sendo abaixado o caixão, por sorte consigo segurá-lo. Coloquei uma flor branca escrito '' para sempre em nossos corações Lizzy '', Sr e Sra Olliver uma azul marinho escrito '' A mulher mais guerreira de todos os tempos '', minha mãe e minha irmã junto com minha prima uma verde clara escrita '' Deus precisava de mais um anjo '', Gabriel uma violeta escrita '' Um anjo nunca morre, renasce em forma de esperança e Yuri com uma preta escrita '' Por que me deixou, mãe ? '' Yuri não se conformara...
Após o padre rezar a missa, fomos embora e minha mãe disse : '' Todos partiremos um dia Yuri, o que importa é que ela foi uma boa pessoa enquanto viva '', Yuri solta um suspiro, ainda estava chorando, olha pra minha mãe e diz : '' Obrigado Sra Augustus ''.
'' Todos partiremos um dia '' Será que eu estava envolvido nesse todos ? será que ela sabia de algo?

Choro...

Choro....

Choro.... Yuri não parava de se lamentar dia após dia, até que se passa dois meses que está morando comigo..

Era uma sexta-feira, já havia passado setenta dias que sua mãe havia morrido. Gabriel e Megan estavam pra se noivar, Megan já estava começando as paqueras, mamãe fora promovida e eu continuo morrendo com a Jully. Nos últimos dois meses fui para o hospital três vezes inconsciente, nada fora do normal. Levo Yuri ao cinema para assistir '' A Culpa é Das Estrelas '' o filme comparado ao livro é uma bosta, já aviso. Paramos pra comprar dois McLanche Feliz, mas ele recusa.
– Cara, faz três dias que você não come.
– Não estou com fome.
– Se não comer você vai .. - Ele me interrompe
– Faz dois meses que minha mãe morreu, a única família que eu tinha e que me amava, eu estou vivendo de favor na sua casa, sou um pedinte sem futuro! - Ele ia falar mais, mas não permito. Quando menos esperava estava nós dois sentado no centro da praça nos beijando, de mãos dadas, sentados lado-a-lado, com as bochechas vermelhas, um beijo tão verdadeiro, um beijo tão sofrido, um beijo tão querido. Todos estavam passando na praça naquele momento, todos viram, mas eu não estava me importando. Eu iria morrer a qualquer hora, a opinião dos outros já não havia efeito.

Ficamos nos beijando por no mínimo cinco minutos, se fosse por mim duraria a noite toda, mas precisá-vamos respirar.
– Estava falando demais? - Ele pergunta
– Como sempre
Ele sorri, aqueles olhos negros encharcados de sofrimento olhando pra mim como se eu fosse a única pessoa com quem ele poderia contar.

Fomos embora, Yuri estava ficando no meu quarto enquanto eu ficava na sala. Nessa noite eu dormi no meu quarto, na mesma cama que ele.
Era três horas da manhã quando ele me cutuca e diz :
– Não consigo dormir
– Medo do escuro ?
– Medo de ser esquecido
– Certeza?
– Medo de... Medo de morrer virgem...

Ele estava usando uma blusa cinza escuro minha, e uma cueca box que era o seu pijama. Ele chega mais perto de mim, me forçando a abraçá-lo, eu chego mais perto, nossos corpos se tocando, o fogo crescendo. Nem o frio daquela noite era capaz de apagar o fogo que estava naquele quarto... Eu estava gostando daquilo, ele também...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma história de amor um pouco diferente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.