A 100 Heartbreaks escrita por Juliiet


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Ai, gente, desculpa a demora mesmo. Eu não tive férias, tô estudando direto desde o ano passado, e ainda precisei me mudar. Faz uma semana agora e o apê novo ainda tá de pernas pro ar D: sem falar que eu fiquei meio desmotivada esses meses, mas não foi por nenhum motivo em particular. Mas obrigada pra todo mundo que sempre me apoia e não me mata por essas demoras horríveis :(
Ainda não respondi todo mundo, mas já comecei a responder algumas pessoas. Eu tô meio sem tempo agora, porque vou precisar sair, mas adoro vocês e fico muito agradecida, vou dar um jeito de responder hoje a noite. Vocês são demais!



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   Eu sonhava que estava caindo. Não era preciso ser psiquiatra para saber o que meu subconsciente tentava me dizer.

   Meus esforços eram inúteis.

   E se até a pedra cede sob a pressão da água, quem era eu para me manter firme diante de algo infinitamente mais poderoso?

   Eu não queria. E se minha própria vontade era algo contra o qual eu precisava lutar, o que seria da minha resolução?

   Dai não me convenceu com argumentos. Não precisou nem de palavras, na verdade. O que me fez cair foi o fato de ele voltar todos os dias. Sua consistência derrubou minhas barreiras e me levou, de olhos bem abertos, até seus braços.

   Porque, pela primeira vez, o amor não nublava minha razão. Pela primeira vez, não era ilusão. Era só amor.

   Meus pés descalços tocaram a grama morna quando saí de casa. A porta bateu atrás de mim e foi então que Dai se virou para me ver. Meus pés eram leves, quase não os sentia tocar o chão. Meu cabelo flutuava atrás de mim com uma brisa que não existia. O sol era forte, o tempo, parado. O cabelo de Dai se grudava em sua testa com o suor, assim como a camisa branca em seu peito.

   Sua pele estava quente quando a toquei, quase febril, mesmo através do tecido. Suas mãos sujas de terra quando se fecharam em meus braços. Seus olhos firmes e calmos, seguros, mas nunca presunçosos.

   Seu cheiro de sol, suor e terra me envolveu junto com seu corpo quente.

   E, naquele abraço, eu finalmente lhe dei meu coração.

...

   Estar apaixonada nunca foi muito diferente para mim, não importava quem fosse meu objeto de afeto, apesar de terem sido pessoas muito diferentes. O sentimento sempre tinha a mesma essência. Mas estar apaixonada por alguém que me amava em retorno era como nada que eu já tivesse experimentado. Eu não tinha – ainda não tenho – palavras exatas para explicar, vendo que foi uma experiência única em toda a minha vida. O mais próximo que minhas palavras conseguem chegar é que eu me sentia perdendo partes de mim mesma ao mesmo tempo em que roubava partes dele e as costurava em mim, como uma colcha de retalhos. Não era de todo agradável – e nem de perto indolor.

   Mas era transcendente. E, em pouco tempo, tornou-se meu maior vício.

   – O que você está fazendo aí, tão introspectiva? – Dai perguntou ao entrar na cozinha e me encontrar com o olhar distante, uma manhã qualquer.

   – Eu sou introspectiva – era o efeito colateral de ter sido minha única companhia por tantos anos.

   Dai sorriu, mas eu podia ver que isso o deixava nervoso. Ele não gostava quando eu passava muito tempo pensando. Acho que tinha medo. Medo de que eu percebesse o quanto aquilo era um erro. Que voltasse aos meus sentidos e o mandasse embora. Que o deixasse.

   Mas ele não precisava se preocupar. Mesmo depois de anos, eu nunca considerei amá-lo um erro. Também não estava fora dos meus sentidos, pelo contrário. E eu nunca o deixaria, não enquanto...

   Eu não gostava de pensar sobre isso.

   Ele fez café para si e chá para mim, me fez levantar e me levou para a sala, onde se sentou numa poltrona e me fez sentar com as costas apoiadas em seu peito, sua respiração fazendo alguns fios de cabelo perto da minha orelha tremularem.

   Passávamos o dia no meu – nosso – mundo limitado. Era o suficiente para mim como eu esperava que fosse o suficiente para ele. Parecia ser naquele momento. E aquele momento era tudo o que eu tinha.

...

   Hoje, lembrar do passado é, de certa forma, revivê-lo. Mas não de todo. Os detalhes se perdem e o tempo joga sobre minhas memórias uma fina camada de sonho, tornando tudo irrealmente perfeito.

   Dai não era perfeito. Mas em minhas lembranças, é.

   A felicidade que vivi ao seu lado parece distante – depois de tantos anos –, mas eu ainda posso tocá-la. Ainda posso tocá-lo, seu rosto, seus lábios, suas mãos calosas, com as unhas sempre sujas de terra. Se apenas fechar os olhos e me concentrar. O que eu faço todos os dias, porque é o que preciso para fazer meu trabalho. É como meu “poder” funciona.

   Ficamos juntos por muito tempo, o que, é claro, nem de longe foi o suficiente.

   Eu ainda posso enxergar mais do que as outras pessoas. Ainda posso ver dentro dos seus corações e almas, ainda posso conhecê-las mais profundamente que qualquer um. Mas hoje, para vê-las, não preciso me aproximar. Não preciso me perder. Não preciso amar.

   Fecho os olhos e vejo atrás deles a imagem do meu Dai, perfeito em minhas lembranças, perfeito em sua imperfeição. Vejo-o e sinto seu amor, que agora não mais me pertence, mas que, por muito tempo, foi meu. E isso me permite fazer o que nasci para fazer.

...

   Por algum motivo, não consigo lembrar seu nome. Não é por despeito, de verdade. Ela era uma coisinha linda, pequena e delicada em aparência, mas uma verdadeira força da natureza. Ao contrário da minha natureza tímida, ela era extravagante e rebelde em suas maneiras. A primeira vez que a vi foi quando fui à cidade uma vez, procurar um maçarico novo, já que o que eu tinha havia quebrado. Eu tão raramente saía da minha propriedade que vê-la naquele dia não podia ser coincidência. E não era. A moça não era da cidade, apenas tinha vindo por uns dias visitar uma tia doente, ou pelo menos era o que diziam.

   A verdade era que ela estava tentando se recuperar do fim de um relacionamento ruim. Aliás, de uma longa lista de relacionamentos ruins.

   Eu estava passando na frente da padaria do vilarejo e a ouvi mandando um grupo de senhoras idosas e fofoqueiras irem cuidar das suas vidas. Aparentemente, ela era o assunto do lugar e sua personalidade – para não falar em suas roupas chamativas – não pareciam ser muito admirados.

   Eu sorri quando a vi se defender sem medo ou vergonha. Ela devia ser realmente especial.

   Precisava ser.

   Já que era a alma gêmea do meu Dai.


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Notas finais do capítulo

Ah, e só uma coisa. Esse é provavelmente o penúltimo capítulo :)
Beijos!