Crooked escrita por blue devil


Capítulo 4
Breathing you in when I want you out.


Notas iniciais do capítulo

Oooooi gente bonita! Como prometi, aqui está o novo capítulo. Eu tinha feito uma nota gigante mas o Nyah apagou, então fica assim mesmo -q
Ouçam a versão acústica da musica no final velho hsadjsahdkjask



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"Finding our truth in a hope of doubt
Lying inside our quite drama-a-a-a
Wearing your heart like a stolen dream
Opening skies with your broken keys
No one can blind us any longer"
– Spectrum - Zedd & Mathew Koma


– Você ainda não me disse o nome. - Percy insistiu, fazendo Nico bufar. Ele não queria olhar para aquele garoto estupidamente bonito usando seu casaco e estupidamente falando mais do que deveria. Quase o fazia se arrepender, quase. - Qual é, por acaso sabe dirigir?

Esqueci de tirar a carteira depois que morri. Grunhiu em sua mente. Não o verbalizou por que isso daria a oportunidade de continuar o assunto. O estacionamento que estavam parecia enorme, pois nunca chegavam ao maldito carro que Percy falara sobre. Ajudava também a exaltar os nervos de Nico o fato que eles caminhavam descaradamente pela parte nobre de qualquer vizinhança, e a cada carro de primeira linha que vinham, Nico sentia-se cada vez mais tentado a sair correndo.

Suicida era uma coisa, agora ladrão? Não conseguia ver Percy como alguém que entraria num carro esporte para dormir. Não fazia sentido. Agora que a história revelava suas verdadeiras cores, Nico não tinha certeza se podia voltar atrás. Então ele estava preso entre falar ou não falar, correr ou ficar.

Ele parou quando Percy fez o mesmo. Percy estava zangado, isso era óbvio. Quem não ficaria sendo repentinamente ignorado pela pessoa que concordara em te ajudar? Nico gostaria - de verdade - de não pensar por tanto tempo.

Mas ele não queria confiar em ninguém e isso era entendível.

Não era?

– Olímpia. - Nico resmungou. Era mais forte que ele. Tentou fingir que era prático, para que seus pensamentos não o perturbassem mais: Percy queria devolver um favor e isso era justo. Nico não queria andar. Ele não podia perder muita coisa caso tudo desse errado.

Percy arqueou as sobrancelhas, os cantos do lábio dele curvando-se ligeiramente. Nico esperava qualquer outra reação do que essa, deixando-o bobo. Tocou o rosto com estranhamento, certificando-se se continuava frio e morto como sempre.

Yep, as merdas continuavam em seus devidos lugares.

– Você está em Olímpia. - comentou de forma engraçada. Nico abriu a boca, mostrando a surpresa. Percy tentou encobrir a risada, mas não conseguiu. Para a sorte dele, ela durou pouco. - Tudo bem, esse erro é normal. Estamos na nova, a metrópole. A antiga fica há quatro horas daqui, é praticamente uma vila.

– Ótimo, estou mais confuso que antes. - Nico massageou a têmpora, passando por Percy e se apoiando num carro azul bonito e pouco chamativo. - Pra quê duas cidades?

– Por que virou um símbolo. - Percy começou a brincar com a barra do casaco de Nico de novo. - Por que quer ir para lá?

Percy estava desconfortável; ficou óbvio quando o corpo dele tremeu de leve com a menção do nome. A voz dele só realçava. Nico se lembrou de que o conheceu numa ponte, tentando se matar. E que Percy queria sair da cidade por que tudo estava uma merda ali.


Ah. Desse jeito, Nico seria compreensível e iria confiar no garoto, não iria?

– Digamos que você acorde sem memória numa rua com um nome. O que você faria?

– Iria atrás dele?

– Agora você já conhece bastante de mim, não acha?

– Espera, então estava sozinho por todo esse tempo?

– Do jeito que fala parece pior do que realmente é. - Nico se encolheu sem perceber.

– Mas por que diabos não... Quer dizer, podia ter ido num médico! É assustador de mais ficar na rua sozinho procurando algo que nem sabe que existe, cara! Há quanto tempo você está nessa?

– Isso, um médico! - Nico exclamou com a ironia subindo à cabeça. - Como eu não pensei nisso antes?! Ah, não, espere um instante. Se eu for num médico, ele vai querer meus documentos e todo SFP não precisa ter um do Serviço Comunitário? Aquele do... "Devolver"? - Nico deu uma pausa, perdendo o tom falso. - Prefiro voltar para debaixo da terra do que participar desse sistema. Eles fazem pessoas inocentes de mão de obra forçada pensando em si mesmos, não na "restauração da sociedade". 'Ai eu passo um ano trabalhando, penso que vou ser liberado, quando eles adiam para mais um pouco e mais um pouco. Isso se não me mandarem para um campo de reabilitação e fizerem testes em mim.

Percy abaixou o rosto, não disse nada e só suspirou. Aproximou de Nico, na verdade aproximou-se de mais. Então destravou o carro e abriu a porta.

Não, espera, quê? Aquele era o carro dele? Por que não tinha dito nada em primeiro lugar? Ou ele estava esperando Nico se abrir para fazer aquilo?

Afinal, ambos eram desconfiados?

– Tá, acho que eu não sou a melhor pessoa para se discutir o que você deve ou deixa de fazer. - Nico assentiu, ainda estupefato. - Então... É melhor a gente ir antes que anoiteça de verdade.

– Quer mesmo que eu entre nisso? - Nico soltou uma respiração que nem sabia que tinha. - Não acha, nem um pouquinho, que me deve explicações também?

– Dá pra falar disso no carro? - Percy tentou com olhinhos de foca. Nico o fuzilou. Se ele fizesse isso mais uma vez, não teria o cérebro como primeira parte devorada. - Por favor?

Nico fez questão de esbarrar nele com certa força, entrando no carro e sentando no banco de carona como se tivessem feito algo para ele. Percy entrou logo depois, apertando bem os lábios para controlar os sorrisos. Nico tinha que admitir que naquele pouco tempo de convivência, ele já odiava os sorriso irônicos. Já odiava muita coisa, principalmente a falta de capacidade de fugir e não se deixar levar.

O silêncio foi preenchido pelo barulho do carro voltando à vida. Nico soltou um suspiro. Instantemente soube que gostava da sensação de estar seguro num veículo, viajando para qualquer lugar. E aquele deveria ser o melhor que iria experimentar na vida: Banco macio, ar condicionado, espaço bonito com cheiro agradável. O seu corpo derreteu contra o encosto, afundando-se e sentindo o cérebro gritar em alívio.

Ele só voltou à realidade por que ouviu o som da risada de Percy.

– Desculpa, é que é engraçado ver alguém tão mau humorado sorrindo e gemendo de alívio desse jeito.

Se Nico ainda tivesse uma circulação normal, sabia que o sangue estaria fervendo no rosto.

– Eu não...! - odiou a maldita voz alterada. Ele balançou a cabeça e virou o rosto. - Presta atenção na droga da rua, obrigado.

Percy riu mais um pouco. Nico jurou que podia abrir a porta e pular daquele carro à qualquer momento. Odiava estar tão despreparado para a interação humana - nada mais que justo, ele só soube evitar desde o começo, não podia ter sucesso logo de cara.

Olhar para janela funcionou surpreendentemente. A cidade parecia menos perigosa e mais apática. Quando a luz fraca de um Sol que se despedia tocava os arranha céus e iluminava poças de água, o lugar parecia uma cidade de brinquedo dentro de uma engloba de vidro. Era quase mágico.

Em algum canto perdido da mente, Nico podia ver-se com esse mesmo vidro em mãos, balançando-o freneticamente para que ele continuasse em movimento. Seja com neve caindo ou com uma luz artificial refletindo de dentro para fora.

Não soube dizer se essa cena fez parte do seu sonho.

Nico só lembrava das partes mais claras. Era como se ele fosse levado de volta no túnel de tempo, por conta do sonho ser dolorosamente real. Agora ele tinha menos do seu tamanho, sentado no banco de trás num carro menor e mais econômico, mas sabia que gostava dele. Apoiada no seu ombro, estava a garota que Nico reconhecia fracamente como sua irmã, Bianca.

A mulher mais bonita que poderia conhecer virou o rosto na sua direção, sorrindo com os lábios perfeitamente vermelhos. Ela tinha as duas mãos delicadas e longas no volante, dirigindo numa fim de tarde que parecia muito com a que estava no mundo real.

– Não consegue dormir, soldatino? - seu sotaque era como o dele. Italiano, então era isso. Ele e a mãe eram italianos.

– Estou farto de dormir, mama. - respondeu automaticamente. - Bianca, por outro lado, não acorda por nada.

Sua mama riu.

– Deixe-a, Nico. Sabe que ela tem estudado dobrado nesse bimestre, não? - Nico assentiu. - Ela e o seu pai. - apontou com o queixo para o homem adormecido no banco de acompanhante. - É por isso que a sua brilhante mama inventou essa viagem. Todos precisam descansar às vezes.

– Espero nunca precisar "descansar". - Nico torceu o nariz. - Isso é coisa para gente velha. Quero continuar com energia para sempre, sem stress!

– Nico, mio amore, todos temos que descansar. É por isso que morremos.

– Morrer é para gente franca. - Nico insistiu. - Tem gente que morre, mas continua viva. 'Quê adianta, então? Eu espero nunca morrer.

Então a memória finalizou.

No lugar dela, a escuridão tomou posse do sonho e Nico ouviu gritos femininos desesperados:

"NICO, NÃO--"
"Não me machuca, n-não... Você está ai... Por favor... NICO!"

Nico acordou gritando mais alto que a voz, talvez para apagá-la da mente. O mundo ainda era um borrão e os sentidos decadentes que tinha não voltaram até o carro sacolejar fortemente e Nico entender que o barulho agredindo as suas orelhas era a voz de Percy.

– Mas que porra foi essa?! - Percy exclamou sem ar após ter desviado do carro que vinha na sua direção. Nada disso teria acontecido se Nico continuasse dormindo tranquilamente.

– Eu... Eu... Me desculpa, eu... - Nico estava em choque.

Tinha uma certeza macabra que a voz era uma lembrança do dia que havia levantado do túmulo, o que deixou o ruim, pior. Ele havia machucado alguém? Alguém que conhecia? Pois a voz era familiar. Argh. Nico sentiu pontadas na têmpora, fazendo-o se encolher e querer virar uma bolinha como os tatus fazem para se proteger.

– Tá bom, calma... Calma. Pareceu estar tendo um bom sonho, não achei que devesse te acordar.

Nico olhou de relance pela a janela, deparando-se com a escuridão da noite. Sua cabeça doía por conta do sonho, e o corpo por conta da posição em que dormira.

– Percy... Vamos parar. - murmurou.

– Mas...

– Por favor, precisamos descansar. Não vou te forçar dirigir pela noite.

– Por acaso tem dinheiro para pagar um motel? - Percy arqueou a sobrancelha, fazendo Nico sentir-se estúpido de novo. - 'Taaa bom... - ele suspirou. - Acho que tem um daqueles estacionamentos para passar a noite por ali. - ele comentou, já virando o carro na direção que suspeitava.

Nico não podia deixar aquele cara no volante. Ele era do tipo que seguia instintos e pensava depois. Obviamente, as chances de as deduções dele estarem certas eram quase nulas - esse "quase" só aparece por que a sorte é um fator predominante.

Dessa vez, pelo menos, ele acertara. Nico pulou para o banco de trás, escondendo-se junto com a mochila. Se o sistema dali pedisse uma licença de SFP para viajar, Nico estaria ferrado.

Não demorou muito após Percy estacionar que o funcionário o atendeu.

– Vai ficar pela noite?

– É, essa é a ideia. - Percy respondeu sem jeito, mesmo que o funcionário não pudesse ligar menos escrevendo numa caderneta. Ele pediu os documentos de Percy e, depois de arrumar o registro, avisou:

– A noite para um são dez dólares.

– Vocês cobram por pessoa? - Percy praticamente verbalizou a pergunta de Nico. O funcionário deu de ombros.

Depois de ter pagado, o funcionário finalmente sorriu.

– Hoje vai ter uma sessão de filmes no telão atrás da recepção. Acho que o senhor vai querer aproveitar. - piscou com falsa hospitalidade e saiu. Nico bufou, saindo de onde estava com dificuldade, contorcendo-se como uma lombriga.

– O que está fazendo? - exclamou ao perceber que Percy tirava o carro da sua vaga, dando a volta na pequena casa que deveria ser a "recepção". Quando a luz de um filme extremamente violento e antigo bateu no seu rosto, Nico grunhiu. - Percy, isso é perigoso, alguém pode me ver.

– O que eu exigi nesse carro quando podia exigir alguma coisa, era que o vidro fosse o mais escuro possível. - Percy brincou com um sorriso de orelha à orelha. Não era irônico. Estava mais para um brincalhão como o de uma criança problemática. Ele soltou o cinto e pulou para trás, sentando-se ao lado de Nico. - Ahh, finalmente posso esticar a perna, pelo menos um pouco.

Nico o observou, desacreditado com tudo. Estava mesmo preso num carro com o garoto da ponte de mais cedo, vendo o filme mais trash da sua vida? O pior é que ele só podia olhar para Percy; no telão os atores estavam cobertos de maquiagem barata, comendo qualquer coisa pela frente - viva ou não.

– Você é inacreditável. - resmungou.

– Inacreditável é passarem Evil Dead original depois de sei lá quantos anos. - Percy riu. - Não é muito agradável assistir esses demônios, hem?

– Pare de achar o meu desconforto uma piada. - Nico o fuzilou. Pensando melhor, era uma piada que a "má representação de zumbis" o afetasse. Mas ele não queria rir. - Mais trash que essa merda, só "Bolha Assassina".

– Achei que não tivesse memórias?

– E... Eu não tenho...? - Nico arregalou os olhos para ele. - Foi automático. Simplesmente sei que já assisti isso, e odiei. Junto com a "Bolha Assassina".

– Então seu caso não é tão sério.

– É, pelo menos. - Nico desviou o olhar, colocando uma mão na nuca. - Desculpa por... 'Te assustar mais cedo.

– Pode 'me contar com o que estava sonhando? - Percy perguntou. Ele olhava o filme por um instante e depois para Nico. Seu braços estavam esticados pelo banco, um deles atrás das costas de Nico.

– Com a minha infância. Acontece o tempo todo, por isso sei algumas coisas sobre mim. Mas... De repente o sonho mudou e ouvi algo horrível. Prefiro evitar pensar que isso aconteceu de verdade.

– Ah, eu entendo. - Percy deixou a cabeça cair para trás, fechando os olhos por um momento. - Você tem a oportunidade de ignorar todo o seu passado, não importa se ele é bom ou não. Queria poder fazer isso.

– Percy, sabe como é estranho para mim ver alguém tão jovem dizendo esse tipo de coisa? Tentando o que... O que fez?

– Sei, é basicamente como todos se sentem perto de mim. - Percy soltou uma respiração tranquila, no seu próprio ritmo. O mundo não conseguiu afetá-la. - É por isso que eu tinha que sair de lá. Realmente, não me importo de estar na estrada com alguém que eu mal conheço. Só quero saber se isso é algo novo, que faça com que eu siga em frente.

– Queria seguir em frente naquela ponte?

– Acho que não tem como pular andando para trás, por que mesmo de costas, você está indo em frente, não é? - Percy riu. - Papo de maluco. É a minha vida ultimamente. Sendo sincero, Nico... Eu só queria mudar. Eu queria algo que renovasse tudo. - os olhos de Percy prenderam-se no filme, mas estavam vazios. Ele não assistia. - Então pular era o caminho mais fácil. O único, na verdade.

– O que te fez mudar de ideia, afinal? - Nico perguntou cauteloso. Não queria que ele surtasse novamente. Não queria machucá-lo. Era como se Percy fosse um animal mostrando a verdadeira pele para ele, confiando que Nico não iria caçá-lo. Nico queria tocá-lo direito, não podia machucá-lo.

Percy sorriu. Sorriso que tirou o fôlego não existente de Nico, atordoando-o. Não sabia descrevê-lo. Parecia um pouco de tudo (ironia, divertimento, cinismo, sinceridade) e ao mesmo tempo não tinha nada.

– Por que não dorme mais um pouco? - Percy aproveitou o braço que estava atrás dele para abraçá-lo, trazendo-o para perto. Não o bastante para assustar. - Ver se essas bolsas somem.

– Você também tem. - Nico resmungou.

Por algum motivo, ele não quis saber o que fez Percy ajudá-lo. Sentiu medo do motivo. Sentiu medo daquilo tudo. A única coisa que quis fazer foi deitar a cabeça no peito dele, como se tivesse a intimidade para isso, e dormir sem ter sonhos.


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Notas finais do capítulo

Okay, capítulo não revisado. Chances de estar uma bosta? ALTISSIMAS.
Filmes trash são filmes que começaram nos anos oitenta - eu acho - e são considerados assim por serem lixos xD. "Evil Dead" no Brasil ficou conhecido como "A Morte do Demônio" por conta do remake que lançaram. O original ficou traduzido como: "Uma noite alucinante: Alguma coisa aqui" < não sabe nem dar informação -q
Espero que tenham gostado, isso me deu trabalho. E ouçam mesmo a versão acústica da musica, principalmente nesse finalzinho



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