Crooked escrita por blue devil


Capítulo 3
Would I be able to accept what I can’t control?


Notas iniciais do capítulo

Então… Oi. Vocês - sim, vocês -q - não sabem a surpresa que eu tive quando vi que tinha quatro acompanhamentos nessa fanfic, que são todos fantasminhas (cof cof), mas é bom saber que tem tanta gente lendo - alguns eu até conheço, viu, TENHAM CUIDADO.
Caso quiserem deixar um comentário nesse capítulo, aviso que não respondo coisas do tipo: “Foda”; “Continua”; “Tá incriveeeeel bjooo” :’D
"rowttens" é um termo do inglês britânico, um pouco adaptado, que é como se fosse um trocadilho para denominar alguém que está "degenerando, morrendo, caindo aos pedaços".



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"We had a plan to build a wall
A great divide that would never fall
To separate us
From all the pain
And keep our skeletons locked away”
– Fly on The Wall - Thousand Foot Krutch


Se Nico fosse se atrever a afirmar algo, seria que a loja era uma daquelas baratas cheias de bugigangas. A mulher que saiu dela, gorda e na meia idade, não o deu tempo para olhar muito enquanto o expulsava com a vassoura super "assustadora" que tinha em mãos. Seria uma cena engraçada se não o fizesse sentir como um rato, com todo o trabalho em levar alguém mais pesado em crise para fora dali também.

Normalmente ele evitava centro comerciais como se eles fossem a nova praga. Sabia do que vinha deles, especialmente para alguém que não tinha maquiagem. Porém, situações desesperadas necessitam medidas desesperadas.

Por mais "mórbido" que fosse, Nico não estava no nível de deixar Percy. Então entrou no café mais próximo e sentou-se do lado dele. Não estava mais chovendo, mas lugares como o que havia entrado ainda estavam vazios e parar no meio da calçada nunca era seguro.

Percy estava tentando voltar para a realidade enquanto Nico evitava encará-lo, quando a garçonete apareceu para atendê-los. Ela tinha cabelo loiro como palha, muita maquiagem no rosto e um colete laranja ácido com as seguintes letras: "Eu tenho SFPP e estou devolvendo."

Nico não quis olhar muito. Deu o melhor de si para se cobrir, sentindo muita falta de seu casaco.

– Boa tarde, eu sou uma portadora da Síndrome do Falecimento Parcial completamente medicada e vim servir vocês. - repetiu o procedimento com desânimo, obviamente envergonhada. - O que querem...?

Nico cutucou Percy. Ótimo. Por que diabos aquilo estava acontecendo consigo? Ele nunca devia ter dado uma de herói e salvado Percy na ponte. Se ele queria continuar fora do sistema, tinha que fazer melhor que isso.

– Um... Um café, por favor. - Percy murmurou. Ele demorou um pouco para entender que os dois não poderiam ficar se não pedissem nada. A garçonete simplesmente assentiu e se retirou. - Como a gente...?

– Você dormiu? - Nico arqueou as sobrancelhas. Percy abaixou a cabeça, como uma foca entristecida. Nico sentiu uma pontada de culpa. - Bem, acho que a dona daquela lona não gosta muito de alguém surtando com um SFP do lado. Esse foi o lugar mais próximo que eu achei. - continuou quase murmurando, o tom mais leve.

Percy assentiu e cobriu a boca, apoiando o cotovelo na mesa. Ele parecia confuso e não era para menos. Nico não estava melhor. Sem mencionar que aquele lugar era muito... Vivo. Ele ouvia uma conversa não muito agradável de uma mesa mais afastada, os barulhos da cozinha, sentia (e não sentia) o estofado do seu assento.

Nico não sabia explicar o quê, mas ele começou a odiar lugares onde tinha muito a se captar. Talvez por que ele odiasse se conectar.

Observou Percy, ambos perdidos. O que se fazia depois de salvar alguém? E como ter certeza que essa pessoa não iria tentar de novo?

Em meio a pensamentos que não o levavam a lugar nenhum, Nico notou que Percy parecia mais novo no seu casaco. Mesmo que não ficasse largo como ficava no corpo de Nico. Ele tinha bolsas de baixo dos olhos que só realçavam o cansaço refletido nas iris.

Por que a juventude - tão alegre e boa quebra. Quebra da pior forma. Nico apertou os lábios. Sentia o mesmo sentimento de antes, quando ele disse que o garoto poderia ir com ele. Ah, aquilo foi o desespero tomando o seu cérebro.

Mas sinceramente... Nico não perdia nada. Salvando-o, ajudando-o... Ele só tinha medo de fazer isso e pisar no chão falso, despencar de novo. Comparando o seu medo com a vida de alguém com potencial, tão cheio de tudo, era mais que idiota, era coisa de hidrófobo - vulgo zumbi.

Talvez Nico fosse tão infantil quanto Percy. Talvez ele menosprezasse tudo na primeira impressão e talvez ele estivesse fazendo errado desde o começo. Mas ele não iria se condenar por isso. Não tinha memórias, não tinha uma base de como deveria agir. Não existia ética entre os mortos. Ele só podia reagir ou deixar sentir.

Nico só queria as suas respostas. Não para se encaixar - por que vivia muito bem longe do sistema - e sim para ter paz de espírito. Para que a cabeça parasse de formular uma reação na hora, depois uma possível reação do que seria antes e outra reação de sensações/sentimentos que ele não sentia.

Não evitava vivos só por ser antissocial, era difícil conviver com eles quando suas linhas mentais se cruzam e dobram. Eles não entendem e não pretendem. Nico precisava ser do jeito deles, por que era o normal. Só que ele nunca seria igual ao Nico que tinha um coração batendo dentro do peito.

Nico percebeu que Percy não era assim. O que ele "cobrava" era muito diferente. Se havia um vivo que Nico se daria bem, seria ele.

A garçonete trouxe o café, fazendo-o virar o rosto de novo. Não tinha percebido o quanto encarara Percy sem dizer nada por tanto tempo. Era como olhar e não vê-lo.

– Espero que tenha dinheiro para pagar isso. - comentou semicerrando os olhos.

– Puxa, achei que quem convidava é que pagava. - Percy murmurou sem humor após já ter tomado alguns goles. O rosto dele voltava a ganhar cor graças à bebida quente e ele tremia menos. - Posso... Posso perguntar o que vai fazer depois de sair daqui?

– Pode, mas não deve.

– Disse para eu ir com você.

– Percy, qualquer um teria dito isso. - Nico mordeu o lábio. - Você pode achar que as coisas são fáceis, mas não são. De verdade. Não posso levar um... - "vivo" – Alguém comigo para qualquer lugar que seja no mesmo dia que o conheci.

– Esse é o seu problema? Confiança?

– Acha que eu tenho medo? - essa foi uma das frases que puxava seu sotaque, que Nico não sabia qual era. - Estou me preocupando com você, feliz em saber?

– Falando alto, não? Era melhor quando só conseguiam grunhir.

O pescoço de Nico quase estralou com a velocidade que o virou para a mesa afastada, onde aquela conversa "não agradável" só piorava - e ficava mais alta. Eram dois homens carrancudos, bebendo copos cheios de qualquer coisa que ele não queria saber.

– Ah sim, os tempos do Renascimento. Matei tantos. Quando o Governo não queria forçar monstros pelas nossas gargantas. Como se já não bastassem as outras escórias.

– É, não pagamos impostos para vivermos inseguros, com esses rowttens usufruindo dos nossos direitos. E depois eles reclamam do Serviço Comunitário, mas alguém precisa pagar pelas pessoas que comeram e não vamos ser nós. - discursou cheio de orgulho, como se fosse o homem mais inteligente do mundo.

– Percy, 'me dá o dinheiro.

– Mas...

– Dá logo!

Percy deu as duas notas na palma estendida de Nico no ar. Nico bateu o dinheiro na mesa, alto o suficiente para fazer os homens - que os encaravam cheios de desprezo - assustarem-se. Ele levantou da cadeira como se fosse matar alguém, direcionando-se para o balcão. A garçonete o observava indecisa entre ficar com medo ou surpresa por Nico estar desfilando por ai sem maquiagem.

– Da próxima vez que for enfiar a cara num desses potes vagabundos, faça por alguém melhor que eles. - Nico grunhiu antes de sair.

O peso que caiu dos seus ombros foi enorme.

Nico segurou a cabeça com as mãos, esticando os braços no ar. O vento do final da tarde soprou por ele, mostrando a diferença de como ele "sentia" com o casaco e sem ele. Não era frio, disso tinha certeza.

Não demorou quase nada para Percy ir atrás dele.

– Hey--

O garoto interrompeu-se quando Nico parou de andar e virou o corpo na sua direção.

– Para onde você vai? - Percy perguntou novamente.

– Não sei ainda, mas tenho preferência por algum espaço onde eu não seja julgado por comer os parentes das pessoas. - Nico deu de ombros. Percy começou a mexer no seu casaco.

Nico apertou os dedos ao redor da alça da mochila, que estava firmemente com ele o tempo todo. Mesmo que Percy parecesse precisar mais daquele casaco do que Nico, não queria dá-lo. Estava com ele desde que acordara sem memórias e os dois quase tinham um laço agora.

Nico aprendeu rápido que era fácil amar coisas inanimadas.

– E você? - Nico perguntou. Percy não esperava pela a pergunta. Ele procurou palavras por três segundos, até desistir:

– Eu não sei, não dá para chamar um carro de "lugar para ficar", né?

Percy não conseguiu manter a troca de olhares. Obviamente estava envergonhado pelas suas condições, o que afetou Nico. Não soube dizer se estava preocupado ou comovido. A situação era tão errada. Extremamente errada.

– Um carro? - repentinamente ele notou. - Que conveniência filha da puta. - pensou alto. Percy arqueou as sobrancelhas, antes de se aproximar com mais alguns passos. Agora eles não precisavam elevar a voz para conversar. - Eu ainda não posso levar você comigo.

– Okay, não veja isso como se estivesse me adotando ou coisa parecida. - Percy tentou de novo. - É um favor em troca de favor. Acha que eu tenho algo para fazer aqui? Depois... Daquilo?

Nico balançou a cabeça negativamente, cruzando os braços.

– Então, 'te ajudo a ir para qualquer lugar que queira agora, e depois eu... Eu volto ou sei lá, mas eu prometo 'me resolver. Sem fugir. Só aliviar um pouco.

– Não comece um relacionamento fazendo promessas que não vai cumprir. - Nico balançou a cabeça, incrédulo. Percy deu o sorriso mais bobo que Nico iria conhecer. Ele se viu sorrindo de volta, após dar uma risada nasal.

O que Nico podia fazer? Ele estava cansado de andar. Não sabia quando e como iria chegar. Não sabia nem onde era! A oportunidade estava dando-lhe socos na cara e ele não podia ser leigo o suficiente para ignorá-la. Percy era agradável o suficiente. Ele estava machucado, não iria conseguir machucar outra pessoa.

De qualquer forma...

– Se você fizer algo estúpido, - Nico aproximou-se dele e abaixou o tom de voz. - eu vou comer o seu cérebro.

Quando ele voltou a andar e Percy não o seguiu, Nico o chamou:

– Vai me levar para esse carro ou não?


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Notas finais do capítulo

shdksadhjksa Esse capítulo ficou mais curto do que eu queria. Prometo que o próximo vai ser melhor. Also, se as informações estiverem confusas ainda, eu vou explicar as coisas com mais calma e clareza mais pra frente :'D
Obrigada por lerem e acompanharem



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