A Lira da Verdade escrita por Anns Krasy


Capítulo 14
Capítulo 14 - Karina


Notas iniciais do capítulo

Demorei? *se esconde atrás de uma parede*
Ah... Hm. O capítulo é meio dramático, bem eu achei quando estava escrevendo e revisando... E a chapa vai esquentar nesse capítulo. Literalmente, tipo bem quente msm e tals. Mas não do jeito que estão pensando, bando de maliciosos! Rsrs, Boa letura. ;)



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K

A

R

I

N

A

O.K, talvez eu merecesse isso. Pensou a garota.

O chalé 11 não tinha nada de mais, mas o simples fato de parecer que mais da metade do acampamento estava lá era sufocante. Karina sempre havia se virado sozinha, seja na sua casa ou na rua. Nunca confiou muito nas pessoas, com exceção de Piper, e havia se acostumado com isso. Agora se via novamente em sua cama, com Lany tagarelando algo sobre chocolates da meia-noite. A garota abraçou seus joelhos junto ao queixo, tentando amenizar e diferenciar todas aquelas pessoas falando ao mesmo tempo.

– Muito barulhento... – Murmurou ela, em tom normal. Mas suspeitava que alguém tivesse ouvindo.

Uma garota apostava três barras de caramelo em um jogo de cartas, onde dois garotos tentavam adivinhar qual era o Ás. Mais ao longe, dois garotos apostavam quem conseguia colocar mais biscoitos na boca sem morrer engasgado. Eram malucos, em um resumo geral. Karina não conseguiria sobreviver nem uma semana assim.

– Bem que algo poderia acontecer. – Ela suspirou, colocando seus fones no ouvido e olhando as musicas de sua play-lista. Foi interrompida quando Lany arrancou um dos fones de sua orelha.

– Hey! – Ela fez questão de gritar. – Está ouvindo?!

– Criatura! Explique-me, primeiro, como eu poderia ouvir algo nesse barulho e, segundo e mais importante fato: como consegue se pendurar desse jeito, e de cabeça para baixo?! – Questionou a rebelde. Lany sorriu.

Ela estava no beliche de cima, de cabeça pra baixo se segurando com os joelhos e sorrindo de orelha a orelha para Karina. Lany era uma trapezista psicótica.

– Ah, é fácil. – Ronronou ela, levando a segunda pergunta de modo sério. – Você prende seus pés em algo fixo e se deixa levar. O truque é fazer força para cair, no entanto seus pés não deixaram que você...

– O.K! Eu entendi, chega! – Interrompeu Karina, fazendo Lany rir mais ainda. A ruiva sempre teve pavio curto.

– Bem, o que eu queria dizer é que se prepare, pois amanhã você já começará com os treinos. – Ela parecia estar pronta para voltar à cama de cima, quando se lembrou de algo. – Está com sua adaga ai?

– Estou. – Respondeu cautelosa. – Por quê?

– A mantenha de baixo do travesseiro. Você é novata, então alguns tentarão rouba-la ou pregar alguma peça em você. Mesmo agora você sendo oficialmente nossa nova irmã. – Sorriu a menina. – Só cuidado pra não se matar com ela, tipo, você vai por a cabeça no travesseiro também...

E com esse recado, Karina tentou pela décima segunda vez dormir. E conseguiu.

.

– Socorro!

Karina acordou com um susto. Olhou ao redor, com o coração pela boca, e percebeu que tudo pegava fogo. Literalmente. As paredes estavam vermelhas, e parecia não ter ninguém no chalé. Ela passou a mão em baixo do travesseiro, mas sua adaga havia sumido. Parecia uma replica do inferno. Ela olhou para cima, e viu que a beliche de cima estava totalmente em chamas. Com um grito esganiçado, a menina pulou para longe. Havia algo, ou alguém, debaixo das cobertas. Mas tudo estava vermelho, e o que Karina pode ver foi simplesmente um vulto.

– Lany... Lany! LANY! – Karina nunca havia se desesperado antes, não daquele modo. A menina não suportou. Suas pernas ficaram bambas, ela engolia o choro e os soluços e suas mãos estavam por cima de sua boca, impedindo-a de chorar abertamente.

Um pedaço do teto caiu a seu lado, e isso a fez recuar mais. Seu corpo ardia, sua pele queimava somente com a temperatura. Ela havia tido de pular uma parede de chamas para seguir até a porta, e a camisa e a calça fina que havia usado para dormir haviam tido suas bordas queimadas. A maçaneta estava tão quente que ela engoliu um grito ao abri-la. Sua mão se encheria de bolhas, logo depois. Seus pés descalços davam a impressão que estava andando em cima de brasas. E realmente estava.

Quando abriu a porta hesitou. Não dava para fora do chalé. Dava para um corredor. O papel de parede da casa, de um verde opaco e florido, estava descascando e queimando como folha de papel em uma fogueira. Para todos os lados se via tudo iluminado com luz vermelha. Um vermelho mal e que não lembrava nada a cor do amor. Um vermelho que queimaria qualquer coisa que estivesse em seu caminho. A risada que se seguiu só fez o corpo de Karina se arrepiar. Era antiga, rouca e maléfica. A menina se sentia desmoronando por dentro.

Virou-se de volta para a porta, e quase tropeçou quando viu que não dava mais para o chalé 11. Era um quarto diferente e de um tamanho normal. Uma cama de casal estava de um lado, em chamas. Perto havia um criado-mudo com um abajur, refletindo em vermelho. Havia uma porta que parecia levar a um banheiro, e uma cômoda branca era visto mais para dentro. Livros estavam espalhados pelo chão e a maioria parecia ser sobre mitologia. Livros grossos com capas bem feitas, mas que agora substituíam o carvão naquela fogueira enorme.

A menina não pode dar mais um passo à frente.

Ela via uma mulher usando uma capa marrom. Seus cabelos eram também marrons como a terra, seus olhos estavam fechados e sua boca era um pequeno sorriso sonolento. A capa era ligada a um manto que a cobria por inteiro, e ela não parecia incomodada com todas as chamas e o fogo. Karina não pode explicar o que presenciou depois. Os olhos da mulher se abriam lentamente, mas ela não pode ver a cor deles. Quando se abriram por completo, o rosto dela se transformou em uma expressão de horror. E não era mais aquela mulher no lugar. Era outra. Cabelos castanhos e claros. Olhos também castanhos e escuros como carvão, mas arregalados de surpresa, medo e pavor. Usava um vestido bege e estava descalça. Ela gritava até sua voz se extinguir.

Pouco a pouco as chamas consumiam-na. Karina fechou os olhos para não ter que ver aquilo. Quando voltou a abri-los, as chamas haviam deixado tudo queimado. Não tinha mais nenhum fogo no quarto, e a mulher havia desaparecido. Somente havia um pedaço da roupa queimada que estava usando, e nada mais.

Sua respiração estava mais calma agora. Estava assustada? Bastante. Karina olhou para o corredor. De um lado, o fogo estava totalmente apagado. Do outro, ainda havia chamas. Queimavam, mas estava um pouco mais fraco e o calor era tolerável. Sabia que não podia ir para o lado apagado - sentia que algo estava errado aonde tinha chamas -, então caminhou para o lado do inferno. Não tocou as chamas, mas agora elas não pareciam mais incomoda-la. Ela caminhou até outro corredor e parou na porta de um quarto.

Quando olhou, reconheceu um papel de parede azul. Um quarto de menino? Talvez. Havia uma cama e o quarto estava totalmente em chamas. Karina ouvia soluços e vez ou outra um grito rouco e infantil cheio de medo. Seu coração se apertou. Brinquedos estavam espalhados pelo quarto, queimando como qualquer outra coisa ali.

Ao lado da cama, entre ela e o criado-mudo, estava uma criança que não deveria ter mais de dez anos. Karina não podia ver seu rosto, mas ele estava sujo de fuligem e sua respiração estava fraca e sufocada. A fumaça deveria estar matando-o lentamente. Uma tosse dele foi desaparecendo e o menino se engasgou com a fumaça. Karina queria aninha-lo no braço e quase fez isso, mas não conseguia mais se mexer. Mesmo se quisesse.

– O que...? E- eu... – Sua voz falhou. A porta interrompeu a passagem para o corredor assim que desmoronou pegando fogo. Ao mesmo tempo em que o menino parecia não ouvir nada que ela dizia. Um pedaço do teto caiu em chamas e o fez se encolher mais. Karina queria fechar os seus olhos marejados, mas não conseguia. Via seu peito diminuindo o ritmo, ele tossia novamente. E então seu rosto a fitou, mas parecia olhar algo mais distante. Parecia que Karina era invisível.

Seus olhos castanhos e escuros estavam sem brilho, como se a fumaça tivesse apagado toda a vida daquele menino. Sua roupa tinha marcas de queimado, e ele estava descaço. Abraçando seus joelhos e olhando para qualquer lugar do quarto. Era como se o garotinho soubesse que não conseguiria fugir do incêndio, que ninguém viria a tempo de resgata-lo. Quando Karina sentiu seu rosto, estava chorando sem perceber.

Ela não escutou nenhum rangido. O teto desabou sem ela ter prestado atenção. Fora a ultima coisa que o menino vira, quando a madeira em chamas do teto o havia atingido.

NÃO! NÃO, NÃO, NÃO! – Karina parecia desesperada, estava gritando de modo histérico. Ela caiu de joelhos, e tentava tirar a todo custo à madeira em chamas de cima do garotinho. Estava ofegante e as chamas estavam acabando com suas mãos, mas não conseguia evitar. Tinha que tentar tirar o menino daquele lugar. Ela parou, desesperada e com as mãos tremendo.

– Mãe... – A voz do menino sussurrou, depois de algumas tentativas, por baixo da madeira. A única coisa que Karina via dele era sua pequena mão estirada. Seus dedos faziam movimentos flácidos, como se ainda estivesse dando um lembrete que ainda estava resistindo. Ele estava esperando sua mãe, naquele quarto. E ainda a esperaria. – No... A... Aniversario...

Aniversário. Era um aniversário. O Aniversário não havia acontecido por causa do incêndio. Karina cobriu seus olhos com as mãos. Alguém, ou algo, havia feito aquilo. Havia causado o incêndio e havia matado aquela mulher, que deveria ser a mãe do garotinho. Por culpa de alguém, uma criança inocente não estava mais viva. Não tivera a chance de nem mesmo começar uma vida de verdade. Era...

– Ele era somente uma criança! – Gritou Karina, entre soluços. A imagem da mulher dormindo lhe veio à mente. – Maldita!

.

Gelada!

Karina se ergueu quando água a havia molhado. Estava em sua cama e nada de chamas, nem fogo, nem vermelho. Seu coração estava acelerado e a garota olhou para quem teria realizado a ousadia de lhe dar um banho com água fria.

– Lany...? – A voz de Karina estava rouca, ela olhou para os lados e para a porta. A porta estava aberta, e dava para o acamamento. Claro. Ela estava no acampamento. Era filha de uma mortal e um deus, especificadamente, era filha de Hermes. A garota estava com um balde nas mãos e tinha um sorriso pequeno no rosto.

– Garota, eu estava preocupada! Você começou a choramingar, a repetir não enquanto dormia e até mesmo chorou! O que aconteceu?! E, por Zeus, quem é maldita? Se for eu, eu juro que atiro uma flecha na sua cabeça e... – Karina interrompeu Lânia com um gesto para que ela esperasse.

Karina ainda estava tentando recuperar a respiração padrão, inspirando e expirando o ar de seus pulmões e controlar as suas emoções dentro de si. Um sonho. Tinha sido somente um sonho. Nada daquilo havia acontecido.

– Aconteceu... – Discordou ela mesma, em um tom baixo. Um sussurro que ela somente pode ouvir.

– O que? – Lany se voltou para ela, depois de jogar o balde vazio para outro garoto. – O que houve? Garota, você está pálida!

Aquilo havia acontecido. Não naquela noite. Em uma época distante. Havia acontecido mesmo aquele incêndio. Aquela mulher, e aquele menino tinham estado lá. Tinham falecido lá. Algo não estava muito bem e a respiração da garota parecia que estava prestes a falhar. Sua barriga estava embrulhada. A sensação de estar inquieta, novamente a estava deixando louca. Precisava saber sobre aquilo, e logo. Era importante. Ela deveria saber sobre aquilo, e sabia que era a resposta para algo. Algo que terminaria em uma catástrofe se ela não se envolvesse. Precisava saber sobre o menino.

Karina negou com a cabeça, tremula, para Lany.

– Nada. Estou bem. Está tudo muito bem.

*.*.*

– Deixe-me ver se eu entendi. – Falou Lany. – Precisa de minha ajuda para escapar do acampamento. Por algumas horas, certo?

Karina assentiu.

– Para fazer o que, exatamente?

– Escuta, eu não posso falar. Só sei que é importante. – Insistiu ela. – Algo... Algo está errado. Algo que aconteceu... Havia sido algo que não deveria ter acontecido, mas aconteceu e eu...

A garota sabia que não estava falando coisa com coisa. Mas estava confusa. A imagem do menininho voltou a sua mente. Seus olhos lacrimejados de tanto chorar e o esforço que ele fazia para respirar... Kyle. Seu nome era Kyle. – Ela não sabia como, mas esse era realmente o nome daquela criança. Algo mais... Somente mais um nome. Um sobrenome já seria de grande ajuda. Kyle... Parker. Esse era o nome do menino. De algum modo ela sabia. Como se uma resposta aleatória tivesse vindo na sua mente, e ela tivesse acertado-a.

Lany tinha uma expressão de que não havia acreditado. Tinha seus braços cruzados sobre o peito e o olhar na arena. Entediada. E então suspirou, negando com a cabeça.

– Sabe que irei querer um pote sorvete depois, né?

– De chocolate? – Perguntou Karina. A ruiva soube naquele momento que o mundo poderia estar acabando em uma guerra, mas se dessem sorvete para Lany ela se juntaria ao aliado que fosse.

– Claro. – Sorriu a garota.

E então Karina seguiu até o pinheiro de Thalia, rumando para fora do acampamento e indo atrás de algo que desse uma pista sobre aquele menininho. O que faria? Talvez falasse com todas as pessoas de Nova York? Pouco provável.

Claro, posso pendurar folhetos perguntando quem já ouviu falar nele e entrevistar as pessoas. Karina revirou os olhos.

– Hei, aonde pensa que vai? – Disse uma voz atrás de Karina.

A menina se virou e fitou o rapaz loiro caminhando até ela. Pelo visto havia tido a mesma ideia, já que levava em suas costas uma mochila como a garota. Karina por um tempo só fitou Neal, até que pigarreou e ela desviou o olhar, observando a entrada do acampamento mais atrás do filho de Apolo.

– Vou fazer algo, O.K? – Disse ela.

– Algo importante. Algo que influenciará o que está por vir. E vai precisar de minha ajuda. – O loiro falou.

– Como você...?

– Eu tive um sonho. E sei o que fazer. – Disse ele.

.

Por um momento, Karina pensou que ele havia blefado. A razão por ela pensar isso? Porque eles simplesmente estavam perdidos em Nova York. A menina se sentia envergonhada sobre isso. Neal também, e isso o faz franzir os lábios.

– Uma coisa sobre mim, loiro: Eu não sou natural de Nova York. Morava com minha avó em outro país. Só vim para cá porque ela pediu para eu dar mais uma chance a minha mãe. – Karina resmungou, de braços cruzados.

Neal sorriu torto.

– E uma coisa sobre mim, ruiva: Também não sou de Nova York. Fiz um acordo com minha mãe para passar um ano com meu avô. Não me culpe. – Ele respondeu. – E você deveria resmungar menos.

– Eu não sou ruiva. E para onde estamos indo, então? – Disse a garota.

– Uma delegacia, eu acho. – Respondeu ele.

Karina parou de andar.

– Delegacia? – Ela repetiu, franzindo a testa.

– O que tem? – Ele quis saber.

– Não me dou bem com delegacias. – Ela murmurou, distraída.

Havia tido o incidente de alguns meses atrás, quando o dono do mercadinho havia dado uma queixa contra ela. Mas havia retirado se ela o ajudasse com o mercado por algumas semanas. Além de também outros problemas do mesmo nível ou maior que isso. Neal não parecia também feliz, e sim nervoso.

– Te entendo. – Ele falou.

Karina não entendeu muito bem o que ele quis dizer. Neal era lindo, na verdade. Seus cabelos eram rebeldes e para cima, desalinhados, ele tinha pele morena como se tivesse vivido o dia todo de baixo do sol. As garotas na rua não paravam de olha-lo. Pelo que Karina tinha ficado sabendo, deveria ser porque o pai dele era o deus da “masculinidade”. Os olhos dele eram cor de mel escurecidos, lembrando bastante dois pequenos sois queimados. Quando sorria, parecia iluminar qualquer lugar.

Mas Karina não estava interessada nele.

– Bem, chegamos. – Ele falou, olhando para o prédio da Delegacia Central de Nova York.


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Notas finais do capítulo

E ai? Eu sei, demorei. Minha gente, é triste quando falta energia na casa da pessoa né? Affe, que triste. Fiquei o dia todo de ontem sem fazer nada... Namoral, essa nota aqui deveria ser chamada de "Desabafo do autor", porque sinceramente nós só usamos essa pra desabafar msm ^^'
Espero que tenham curtido... Teve muito drama?