Andamos um do lado do outro, mas em silêncio. Depois de uns 10 minutos caminhando, chego em casa.

– É aqui. - digo, apontando para a torre.

– Ah sim. - ele olha e abre um sorriso admirado. - Deve ser imensa.

– E é. - digo, também sorrindo. - Você quer entrar? - pergunto, mas não o deixo responder, já que ele é arrastado por mim para dentro da casa.

– Eu diria que posso ficar um pouco. - ele riu. Subo a escada e ele me acompanha. Meu quarto é a primeira porta na reta da escada. No andar de cima também tem um escritório, uma academia e uma biblioteca.

Entramos no meu quarto e vejo os olhos de Killian apreciarem admirados. Meu quarto era o quarto das meninas do orfanato, então é bem grande. A sala de estar e jantar é o quarto dos meninos, mas fica no andar de baixo, junto com a cozinha e o quarto de hóspedes, que nunca usei.

– É lindo Swan. - ele diz e sorrio, agradecendo.

– Quer tomar algo? - pergunto, indo em direção ao frigobar abastecido.

– Não. - ele diz e pega seu Rum. Tinha me esquecido disso, não tinha acabado? Não acredito que ele fingiu que tinha entornado todo o Rum só para me acompanhar no champagne? Isso seria bonitinho, se não me deixasse com raiva.

Pego uma garrafa de água e bebo assim que abro. A água é tão gelada que parece que congelei meu cérebro, mesmo que por segundos. Remexo a cabeça de um lado para o outro e olho para Killian, que está sorrindo.

– Conte-me Swan, quais são seus sonhos? - Killian perguntou, tomando um gole de Rum e sorrindo.

– Primeiro: explique-se sobre seu Rum supostamente ter acabado. - encaro-o fazendo minha cara de séria e cruzo os braços. Não dura muito, já que tanto ele quanto eu, rimos. Tenho vontade de chamar-lo de Hook, mas prefiro deixar isso na minha imaginação, por enquanto.

– Estava no final. - Killian me entrega a garrafa e remexo-a em minha mão, comprovando que ainda tinha Rum, mas estava no final. - Ainda está, na verdade. É que gosto de beber durante todo o dia. - ele se explica e sorri de lado, mostrando um pouco dos dentes.

– Tudo bem. - digo e vou andando em direção ao meu closet. - Vou me trocar. - falo, pegando uma camisola e tirando minha roupa.

– Ei, - Killian me alcança e segura minha mão. - o que você tá fazendo?

– Trocando de roupa? - não é óbvio? Acabei de dizer! Precisava de um banho, mas posso tomar mais tarde.

– Comigo... Aqui? - ele pergunta.

– Qual o problema? - franzo a testa. - Killian, tanto homem já me viu nua nessa cidade... Eu não ligo pra isso, juro. - respondo, apertando a mão dele e soltando-a em seguida.

– Tudo bem, mas ainda é o seu corpo. - ele diz, indo em direção a cama. - E eu não sou um de seus clientes.

– O que você queria saber de mim? - mudo o assunto.

– Seus sonhos. - ele diz, seco. - Quais são seus sonhos? O que você deseja fazer... essas coisas. - ouço seus passos pelo quarto.

Estou de frente pro closet e de costas para o resto do quarto. Tiro meu vestido e meu salto. A bolsa fora jogada em cima do sofá assim que chegamos. Estou de lingerie e, pela primeira vez, isso é estranho para mim. Ele é homem e não é meu cliente. É um amigo. Um amigo lindo que me derrete só de sorrir, mas isso não vem ao caso.

Tiro a lingerie e ponho a camisola rosa de seda. O quarto está silêncioso e lembro que deixei de responder Killian, viro para ele e vejo que está entretido conhecendo meu quarto.

– Ah, eu sonho em viajar pra muitos lugares. - disso, me aproximando. Ele se vira, com aquele sorriso galante na boca. Continuo. - Sempre tive o sonho de conhecer New York, a cidade da Broadway. - digo, admirada.

– Jura? - ele pergunta e assinto com a cabeça. - Então é pra já. - Killian segura minha mão e me leva para a janela, vejo que ele dá uma olhada bem longa para a minha (maravilhosa) jukebox rosinha no canto do quarto. - Está vendo ali? - ele pergunta, apontando para as docas e o porto de Storybrooke.

– Sim. - digo. Killian tira um monóculo não sei da onde e abre, botando no meu olho. - Você é um pirata? - pergunto.

– Não. - diz, rindo. - Acha um navio com o nome do meu. - ele diz e procuro "Jolly Roger".

Sabe aqueles navios de filme que são quase monstros de tão grandes? Então, o do Capitão é assim. Aliás porque tem um 2 em romano ao lado de Jolly Roger?

– É o seu segundo? - pergunto.

– Sim. O primeiro é meu mesmo. - ele pega o monóculo da minha mão e olha, depois me devolve na mesma posição e encontro um navio bem menor e mais simples. - O segundo eu ganhei junto com o trabalho. - ele diz, orgulhoso de si mesmo.

– Entendi. São lindos. - falo e é verdade. O primeiro é mais acolhedor e o segundo mais chique. Jolly Roger I é todo de madeira e com direito aqueles panos que auxiliam no movimento do barco. Qual o nome daquilo mesmo? Tá, não vem ao caso. Jolly Roger II é aquele navio de cruzeiro. Todo branco e gigante, tem não sei quantos andares e está todo iluminado, será que os tripulantes do Killian dormem ali?

– Obrigado. - ele diz, quase sussurrando e sai da janela, o sigo. Killian para em frente a minha jukebox. - Mais tarde vou te fazer uma proposta. - olho para ele.

*

– Posso? - faço que sim e ele procura uma música, quando começa a tocar, reconheço no mesmo segundo: You & I - One Direction. Sento na minha cama e fecho os olhos, ouvindo a voz dos meninos. Killian senta do meu lado e começa a cantarolar a música baixinho.

"I figured it out
I figured out from black and white
Seconds and hours
Maybe we had to take some time
I know how it goes
I know how it goes from wrong and right
Silence and sound
Did they ever hold each other tight, like us?
Did they ever fight, like us?"

Começo a cantar junto no refrão.

"You and I
We don't want to be like them
We can make it 'till the end
Nothing can come between
You and I
Not even the GODS above
Can separate the two of us
No, nothing can come between
You and I
Oh, you and I"

Minha vez. Levanto e boto outra música. Capitão Gancho - Clarice Falcão. Pulo muitas partes, até chegar próximo do fim. Enquanto ele ouve a música, ligo o ar.

"Se não fosse o Mickey e as terças-feiras
e os ursos pandas e o andar de cima da
primeira casa em que eu morei
e dava pra chegar no morro só pela varanda se
não fosse a fome e essas crianças e esse cachorro
e o Sancho Pança se não fosse o
Koni e o Capitão Gancho
Eu não seria eu."

Killian sorri para mim quando o olho. Ele estava sentado e se aproxima de mim. Recebo um beijo na testa e ele se abaixa, procurando uma música. Can I Have This Dance? - High School Musical. É uma das minhas músicas favoritas de filmes. Solto um suspiro e Killian me olha.

– Não gosto? - ele se levanta e vai ao meu encontro.

– Não, não é isso.. - digo e ele passa o dedo pelos meus lábios, pedindo silêncio. Killian bota no instrumental.

– Você sabe cantar? - digo que sim. - Espero que saiba dançar também.

Então ele aperta o play. E começo a cantar:

"Take my hand, take a breath
Pull me close
And take one step
Keep your eyes locked on mine
And let the music be your guide"

Killian pega minha mão e me puxa para perto. Olha meus olhos e abre um sorriso. Estamos dançando pelo meu quarto. Ele continua:

"Won't you promise me?"

Entramos no embalo a música, sendo levados pelo ritmo. Canto minha parte:

"Now Won't you promise me
That you never forget"

Killian sussurra em meu ouvido:

"We'll keep dancing"

E, mesmo arrepiada, continuo:

"To keep dancing"

Ele me roda, e cantamos juntos o refrão:

"Wherever we go next
It's like catching lighting
The chances of finding
Someone like you
It's one in a million the chances
Of feeling the way we do
And with every step together
We just keep on getting better"

Killian me roda novamente, mas dessa vez no ar e volto para seus braços leves. Ele dança muito bem.

"So can I have this dance?"

Aproximamo-nos da jukebox e limito a música até ali. Killian me puxa mais para perto e agora estamos abraçados.

"Can I have this dance?"

Estou suada, já que o ar condicionado deixou de dar conta faz tempo. Nos afastamos e dizemos a última frase juntos, exatamente igual a música.

"Can I have this dance?"

Me afasto do abraço e o vejo, também suado. Nossas respirações são ofegantes e sorrimos, mesmo estando muito próximos. Ele dá um beijo na minha testa e sussurro:

– Te concedo esta dança. - me afasto e faço uma reverência com a camisola, como se fosse um vestido. Ele ri e bagunça meu cabelo.

– Você dança muito bem. - sinto minhas bochechas corarem. Ele dança muito bem, não eu. Sussurro um "obrigado" quase inaudível e vou ao banheiro, limpar meu rosto.

– Você se incomoda se eu tomar um banho? - pergunto. Killian não responde então começo a ligar a banheira e vou para o closet pegar outra camisola.

Ele está olhando para Storybrooke pela janela do meu quarto e me aproximo devagar, cobrindo seus olhos.

– Hum... - ele passa suas mãos nas minhas. - Vamos lá. Swan? - pergunta e se vira, sorrindo ao me ver.

– Você é tão sem graça. - dou língua e ele ri.

– Acho que vou para casa. - solta. - Te espero tomar banho, para poder propôr o que eu queria e depois vou indo.

Ah, ele tinha dito que iria me propôr algo mais tarde. Tinha esquecido completamente.

– Tudo bem. - digo, fazendo bico. Killian brinca com meu cabelo por um tempo depois continua olhando Storybrooke pela janela. Pego minha roupa e vou tomar banho o mais rápido possível.

A banheira está quase transbordando quando chego, mas desligo a tempo. Prendo os cabelos, tiro minha roupa e entro relaxada. Me esfrego toda e fico processando tudo que ocorreu nessa noite.

1. Fui a Private com Dan.

2. Conheci os meninos - Thiago, James e Killian.

3. Descobri um monte de coisas sobre deles e vice-versa.

4. Thiago e Dan foram caçar mulher e James foi embora, deixando-me sozinha com Killian, que me lembrava muito o Captain Hook.

5. Saímos da Private e andamos por Storybrooke.

6. Reencontrei a vovó e Killian, sua ex, Ruby.

7. Descobri um segredo sobre Killian que me fez confirmar mais uma vez sobre ele ser Captain Hook.

8. Viemos para minha casa e ele me apresentou suas duas maiores posses, enquanto eu apresentei minha torre. Dançamos juntos, inclusive.

Paro de anotar mentalmente as coisas e me preparei para sair da banheira. Killian deveria ter ido embora já. Boto a roupa e vou para o quarto.

Killian dorme na minha cama. Seu casaco está em uma cadeira, onde o botei. Sua blusa tinha sido puxada para cima e a garrafa de Rum estava na cabiceira. Os pés dele estavam pra fora da cama e estava com bota.

Aproximei-me e tirei suas botas. Fechei a janela e o cobri com um edredom meu. Apaguei as luzes, desci as escadas e fui em direção ao quarto de hóspedes. Imaginem dona da casa estreiar o quarto de hóspedes, irônico não?

– Swan. - ouvi Killian dizer, murmurando. - Eu tenho que ir pra casa. - me aproximei dele, mexendo no seu cabelo. - Eu tenho...

– Amanhã conversamos, pode ser? - digo, dando um beijinho em sua bochecha. Ele segura minha mão e beija a mesma. Levanto e tento novamente ir em direção ao quarto de hóspedes. - Boa noite Killian.

– Boa noite, Swan. - ele diz e depois fecha os olhos.

*

Estou no quarto de hóspedes e são quase 5 da manhã. Já perdi a conta de quantas vezes fui para o meu quarto e vi Killian dormindo. De vez em quando ele se remexia na cama, mas continuava com seu sono. Isso é normal? Digo, ficar vigiando sua visita? Nunca fui anfitriã de ninguém, não sei como lidar com hóspedes. Céus, o que eu faço?

*

São 5 para as 5. Levanto mais uma vez. Estou muito cansada, mas não consigo dormir. Vou para o meu quarto e pela primeira vez, não o vejo na cama. Busco pelo quarto e o vejo observando Storybrooke pela janela novamente. Parece que ele gostou da minha vista. Então ele me percebe parada na porta e sorri, com a maior cara de sono. Devo estar parecendo um zumbi, mas não dou muita importância, ele é meu amigo, não será nem a primeira nem a última vez que me verá assim.

– Bom dia, linda. - ele diz e sorrio.

Killian está sem camisa e vejo seu corpo pela primeira vez. Ele não parece envergonhado, na verdade, sorri ao ver que reparo.

– Bom dia. - digo. - Vamos tomar café? - aponto para as escadas.

– Será um prazer. - ele diz e se aproxima de mim.