Minha cabeça estava explodindo quando acordei na manhã seguinte. Minha escapada com Damon fora mais divertida do que esperava. Havia essa velha boate nos limites da cidade que pertencia a uns dos amigos dele. Pela primeira vez desde que saí daquela delegacia, eu não tive de me preocupar com Jenna e seus problemas ou broncas. Damon tinha feito questão de cuidar pessoalmente para que eu deixasse tudo o que me preocupava de lado e me divertisse. Era algo fácil para ele. Com Damon, diversão era algo a centímetros de alcance. Acho que nunca havia dançado tanto em minha vida. Salvatore não era tão terrível em me acompanhar, e eu me aproveitei disso, fazendo com que ele ficasse ao meu lado o tempo todo na pista de dança. Eu havia conhecido Bree, a bartender que vinha sendo amiga de Damon há alguns bons anos. Eles haviam se conhecido em uma festa e algo sobre o modo como falavam um do outro ou até mesmo se cumprimentavam me fez acreditar que já houve mais do que apenas amizade entre eles, mas eu não disse nada. Enzo estava lá, com uma garota ao seu lado, o que de fato não me surpreendeu. Ele pareceu feliz em me vez e por um momento eu pude jurar que o ouvi dizer algo ao amigo parecido com “tome cuidado, ou vai acabar sendo domado”. Mas se eu de fato ouvi, ignorei e voltei minha atenção para Rose, uma dos amigos de Damon que tinham vindo com a gente. Ela parecia se dar estranhamente bem com ele, e vê-la caçoar de Damon era engraçado. Acho que de alguma forma, vê-lo um pouco mais... vulnerável perto dos amigos, fez toda aquela visão que eu tinha do garoto irritante se dissipar. Trevor, namorado de Rose o conhecia há um bom tempo também, e acabei descobrindo que Damon os havia apresentado.

Em algum momento da noite, Rose e eu acabamos dançando em cima de nossa mesa, o que resultou em algumas boas gargalhadas. Estávamos nos divertindo e tudo parecia perfeito, mas cedo ou tarde, teríamos que ir para casa. Já devia ser por volta de 04:00hrs quando resolvi que seria melhor voltar. Damon pegaria carona com Enzo e nós teríamos aula amanhã. Acabei tendo que deixar meu carro na esquina de baixo para não correr o risco de acordar ninguém. Escalar a árvore de volta para meu quarto parecia mais difícil agora que estava escuro. Eu havia deixado meus sapatos no carro, mas minha bolsa pendia em meu ombro enquanto e me esgueirava por minha janela. Raven e Charlotte haviam passado o dia com Kyle, então certamente deveriam estar passando a noite na mansão Salvatore, o que facilitou muito as coisas.

Acabei acordando atrasada, então só tive tempo de tomar um banho, colocar uma roupa, jogar alguns cadernos dentro de minha mochila e correr até meu carro. Jenna tentou me dizer algo sobre voltar direto para casa depois do colégio enquanto eu descia correndo as escadas, mas eu não fiquei para ouvi-la.

Meus cachos deviam estar um total desastre e eu tentava achar meu celular entre meus cadernos enquanto andava pelo estacionamento quando alguns dos livros caíram no chão. Eu estava me preparando para pegá-los, mas Damon foi mais rápido que eu. Ele me entregou uma pequena bandeja de alguma Starbucks com dois copos de cappuccino e uma embalagem de donuts enquanto organizava os livros para mim.

–Obrigada. – eu agradeci quando ele os entregou a mim e pegou a bandeja de volta, me dando um dos cappuccinos e a embalagem com aquelas gostosuras adocicadas.

–Achei que precisaria de cafeína depois de ontem anoite. – ele riu.

Os corredores já estavam quase vazios e nós certamente chegaríamos atrasado para a nossa primeira aula. Ele me acompanhava com passos rápidos e riu ainda mais quando fechei os olhos ao mastigar um dos donuts. Droga, aquilo estava assustadoramente bom.

–Você salvou minha vida. – eu disse ao terminar de mastigar e tomei meu cappuccino.

Felizmente o professor não estava na sala quando entramos. Mas eu havia me esquecido de um pequeno detalhe. Stefan também estava naquela aula, assim como Raven e Nadia. Sua expressão não foi nada agradável ao me ver entrando com Damon. Ainda mais quando ele viu a embalagem da Starbucks na mão do Salvatore.

Damon apenas sorriu para mim quando se dirigiu ao seu lugar, do lado contrario da sala, e eu resolvi ignorar Stefan quando me sentei na fileira entre Nadia e Raven. Stefan estava a umas boas três fileiras de mim, mas eu ainda podia sentir seu olhar sobre mim. Isso não ia ser nada legal de se explicar depois. Não mesmo.

–Onde foi que você se meteu? – Raven parecia estar prestes a rosnar para mim. Vindo dela, eu não duvidaria.

–Me desculpe. Perdi o horário.

Ela parecia querer dizer mais alguma coisa, mas estão o professor entrou em sala e qualquer coisa que fosse, teria de esperar.

[****]

Eu não tinha tido tempo para conversar com nenhum dos meus amigos antes do almoço. O período de provas estavam chegando e todos nós tentávamos tirar o máximo possível de todas as aulas. Mas assim que o sinal bateu indicando a hora do almoço, Raven e Charlotte se colocaram ao meu lado enquanto eu andava até o refeitório.

–Jeremy está puto com você. – Raven disse antes de qualquer coisa.

Eu revirei os olhos.

–Seria uma surpresa se não estivesse.

–Ele sabe sobre o racha. – Chalotte tinha aquele tom de voz que já me dizia o que estava por vir. – Um racha, Katherine? Como pôde?

–Um convite seria bom. –R murmurou, ofendida.

–Raven!

–O que é? São divertidos.

–Ele também sabe que saiu ontem à noite.

–Seria mais esperto se lembrasse de trancar a porta do banheiro da próxima vez. – Raven sussurrou, mas se calou ao ser repreendida por Char com um olhar.

–Para sua sorte, ele não é dedo duro. Perguntou se tínhamos algo a ver com isso. Tentamos te dar cobertura, mas Jer não é burro.

Eu suspirei. É claro que não. Jeremy podia até ser na dele, mas meu primo sempre fora observador.

–Ficamos sabendo sobre sua briga com Jenna. – Char sorriu, condescendente. – Como se sente?

Não era surpresa que elas soubessem. Nada em casa era segredo. Jenna contaria à tia Miranda, então depois Jer acabaria sabendo e obviamente contaria a elas. Me perguntei há quanto tempo Miranda já sabia de toda a historia. Ela e minha mãe eram irmãs e nunca escondiam nada uma da outra.

Dei de ombros.

–Sabe o que é mais estranho? Ela nem tentou negar. E agora, de repente, ela acha que pode me prender em casa.

–Ela só está tentando lhe proteger. – Raven disse.

Às vezes eu não entendia R. Ela sempre havia sido a primeira e acreditarem mim e me defender, e nos últimos dias tudo o que ela fazia era tentar arrumar desculpas para Jenna. Não havia desculpas para o que ela tinha feito. Não mesmo.

–Mentindo para mim? É isso o que você chama da proteção?

Eu pensei ter visto um pequeno brilho de culpa em seus olhos, mas se estava ali, sumiu. Raven não disse mais nada enquanto abria as portas do refeitório para entrarmos.

No começo eu não entendi muito bem o que estava acontecendo. O refeitório inteiro estava em silêncio, e demorou um tempo para que eu localizasse o foco de seus olhos. No fundo do refeitório, onde Damon, Tyler e Klaus se sentavam, havias um pequeno tumulto. O Salvatore estava em pé de braços cruzados com sua pose presunçosa de sempre. Parecia não haver problemas até que vi Stefan parado em sua frente. Ele parecia irritado e todos os seus músculos estavam tensos. Pode ser que a única coisa que o impedia de se jogar em cima de Damon fosse a mão de Jeremy em seu ombro esquerdo.

–Ah droga. Isso não é nada bom.

Eu corri na direção deles, com as garotas logo atrás. Mal havia chegado perto quando ouvi a voz de Stefan, mais fria e dura do que jamais havia ouvido.

–Vai ficar longe dela. – aquilo não era um pedido, eu sabia. Sua pose era autoritária, e aquilo só fez Damon sorrir com desprezo.

–Ah, eu vou? – sua voz era pura ironia, e aquilo só pareceu irritar Stefan mais ainda.

–Katherine, ainda bem que você chegou. – Klaus, parado ao lado de Damon, parecia aliviado.

Me coloquei entre os garotos, tentando impedir que se jogassem em cima um do outro. Aquilo certamente me colocava na linha de fogo, mas era um risco a se correr.

–O que está acontecendo aqui, Stefan? – Perguntei, mas pelo que parece ele estava ocupado demais, encarando Damon com ódio. Então me virei para o outro.

–Aparentemente – o Salvatore sorriu – a mamãezinha contou a ele sobre a nossa pequena... diversão na segunda, e agora seu namoradinho está com ciúmes já que parece que ele não confia no próprio taco.

Ah, que legal. Era pior do que eu pensava. Eu sabia que Stefan saberia daquilo cedo ou tarde, só esperava ter um pouco mais de tempo para contar a ele.

–Stefan...

–Eu não vou repetir, Salvatore. – ele me ignorou, tentando avançar na direção de Damon. Eu não duvido que conseguiria, se não fossem por Jer e Matt, segurando-o pelos braços. – Fique longe dela, ou eu...

–Ou o que? – Já não havia humor na voz de Damon. Ele ficou ereto, encarando Stefan com raiva. Eu o conhecia bem para saber que ele não obedeceria ordens. Ainda mais vindas do garoto loiro e irritado, sendo segurado pelos amigos. – Vai chamar a mamãe para me prender? Se conhecesse a Katherine como pensa, saberia que essa vidinha comum que está oferecendo para ela não é o suficiente. Não tenho culpa se ela se diverte mais estando comigo.

Foi tudo rápido demais. De repente, os braços de Jer e Matt não foram suficientes para segurar Stefan. Charlotte só teve tempo suficiente para me puxar da frente antes que ele se jogasse contra Damon e lhe desse um soco. Eu pude ouvir o som dos dedos se chocando com a cartilagem, antes que os separassem. Damon já não estava calmo e agora era preciso que Tyler e Klaus o segurassem também. Eram como dois animais selvagens sendo presos enquanto tentavam se matar. De um lado uma puma com pelagem negra, e do outro uma cougar, se debatendo para alcançarem a outra.

–Já chega! – eu gritei alto suficiente para que o som se propagasse pelo refeitório. – Os dois, parem agora! Estão agindo como duas criancinhas mimadas!

Stefan e Damon, agora com sangue escorrendo pelo nariz e caindo na camisa preta, param de lutar. Eu nunca havia gritado dessa forma com nenhum dos dois, mas eles estavam passando dos limites e conseguiram me irritar de vez.

Me virei para Stefan.

–Sim, eu saí com Damon. E, sim, fomos presos! Mesmo que você fosse meu namorado, isso não é da sua conta. Damon é meu amigo, então aceite isso e pare de agir como um idiota! E você – eu tinha visto um sorrisinho satisfeito se abrir no rosto de Damon, mesmo com o nariz ainda sangrando. Eu me virei para ele, mas não consegui pensar em nada para lhe dizer. Salvatore não estava certo em ficar atiçando a raiva de Stefan, mas não fora ele a puxar briga. -, só cale essa maldita boca, ou eu juro que um nariz sangrando vai ser a menor de suas preocupações. E quanto a vocês – eu apontei para Matt, Jeremy, Tyler e Klaus. –, levem esses dois babacas para a diretoria. - eles hesitaram. - Agora!

Eu não era exatamente fã de regras e coisa do tipo. Mas eles estavam brigando como duas garotinhas no meio do refeitório e eu definitivamente não queria ver o rosto de nenhum dos dois pelo resto do dia. Assim que os garotos foram, carregando os outros dois, as pessoas voltaram-se para suas próprias mesas, cochichando quando eu passava com as garotas e me sentava em nossa mesa de sempre.

–Eu não sabia que gostava de algemas, Pierce. – Rebekah disse, passando com sua bandeja de comida. Eu não a tinha visto nos últimos dias já que aparentemente ela estava me evitando. Era incrível como uma discussão no refeitório parecia suficiente para fazê-la sair de sua cova para me atormentar.

Eu não estava com os melhores dos meus humores naquele momento, então apoiei meu queixo em minhas mãos, me curvando na direção dela e sorri.

–Rebekah, é melhor você sair da minha frente, ou eu juro que aquele vestiário vai ser um paraíso comparado ao lugar para onde vou lhe mandar.

Ela ficou pálida. Rebekah era uma vaca, mas não era burra. Sem se deixar abater, ela ergueu o queixo com o orgulho ferido e saiu dali como se nada tivesse acontecido.

–Rebekah não se cansa de ser uma vadia. – Caroline sussurrou ao se sentar ao meu lado, seguida por Nadia e Bonnie.

As meninas começaram a conversar entre si como se tudo estivesse normal, e eu agradeci por isso. Mas enquanto eu dividia com Raven um dos bolinho que Nadia havia nos oferecido, eu podia sentir os olhos de Care sobre mim.

–Vai em frente. – eu disse, lambendo a cobertura de creme dos dedos. – Pode começar a me dizer o quanto sou uma idiota e que não mereço Stefan.

Caroline riu.

–É, eu mereço essa. Fui uma vaca com você, admito. O problema é que você não é uma idiota. – Ela sorriu. – Eu conheço Damon há tempo suficiente para saber que ele pode ser um bom amigo quando quer. Ele é um cara legal, embora aja como um total babaca às vezes.

Eu me lembro disso, pensei. Até alguns dias atrás, Damon e eu estávamos quase nos matando. Mas ele não era tão idiota quanto eu pensava.

–Stefan está apenas com ciúmes. – ela continuou. – Acredite, eu sei como ele consegue irritar quando age assim. Dessa vez o errado foi ele. Esta agindo como um cão marcando território. Você até que lidou bem com isso. Eu provavelmente teria chutado o saco dele com todas as minhas forças.

Eu ri, e sem dizer mais nada ela se virou e começou a conversar com as meninas.