Já estava escuro lá fora quando acordei. Eu notei isso já que as cortinas haviam ficado abertas e a pouca luz do poste na rua invadia meu quarto, chegando até o lado da cama onde eu estava. Ao meu lado, com o braço direto ao redor de minha cintura e a respiração profunda enquanto dormia tranquilamente, estava Stefan. Eu me deitei de lado para que pudesse avaliar seu rosto sereno. Ele tinha algo parecido com um pequeno sorriso na boca, naquele jeito doce que tinha. Estiquei minha mão esquerda, acariciando seus lábios, e então, lentamente, seus olhos se abriram.

–Olá. – sussurrou com a voz rouca e sorriu. Era um sorriso tão...intimo que me fez revirar os olhos.

–Oi.

Eu me aconcheguei um pouco mais perto dele, consciente de que estávamos cobertos apenas pelo lençol da cama. Stefan acariciou minhas costas e eu me arrepiei.

–Como se sente?

Aliviada, talvez? Eu havia dormido com alguém depois de longos quatro meses, afinal. Era errado se sentir daquela forma?

–Faminta. – eu sorri.

–Bem, eu espero que Jeremy ainda não tenha atacado a comida, caso contrário estamos ferrados.

Oh.Oh! A comida! Eu me coloquei de pé em um pulo e agarrei o cobertor que havia caído no chão e me enrolei nele. Stefan se sentou, sem entender nada.

–O forno! Droga, eu deixei o forno ligado!

Como se finalmente se tocasse, Stefan também se enrolou no lençol da cama e veio atrás de mim enquanto eu descia correndo as escadas. Havia cheiro de queimado, mas felizmente nada na cozinha parecia estar em chamas. Eu estava correndo para abrir o forno quando Stef passou na minha frente e me pediu para que eu me afastasse. Ele abriu o forno e tudo que havia ali era...nada. Não havia absolutamente nada lá dentro.

–Não se preocupe. Já cuidei disso.

Como todo o meu sangue congelado, eu me virei e dei de cara com Jenna, parada no hall da cozinha de braços cruzados. Eu tinha consciência de Stefan atrás de mim, nu sob o pano, assim como eu. Aquela cena definitivamente não iria dar em boa coisa, e tudo que eu conseguia pensar era ‘merda, merda, merda!’

–Stefan...Acho melhor você subir.

Ele assentiu para mim e se foi, praticamente se encolhendo ao passar perto de minha mãe que nem sequer olhou em sua direção já que estava ocupada demais me encarando.

–Você tem noção do que poderia ter feito?! – ela gritou quando os passos de Stefan sumiram escada acima. – A casa poderia estar em chamas e você e esse garoto poderiam estar mortos uma hora dessas.

Eu revirei meus olhos e me sentei, segurando minha roupa improvisada. Algo me dizia que aquela discussão demoraria algum tempo.

–E quando é que me contaria sobre Stefan? Ou sobre o garoto no bar? O que está acontecendo aqui, Katherine?

Eu iria responder, mas antes que eu pudesse falar algo, Jenna já estava gritando novamente. Eu só esperava que Stefan não tivesse ouvido minha mãe dizer sobre Damon, mesmo que não houvesse como Stefan saber se era realmente ele.

–Eu chego em casa, decidida a pegar mais leve com você e encontro isso? –ela apontou para o lençol. – Será que pode me explicar o que diabos você tem na cabeça? Você anda bebendo de novo? O que você...

–Ah, dá um tempo! – Eu a interrompi, ficando de pé. –Eu lhe contei sobre Stefan, ou você não se lembra? Naquele dia no bar, o mesmo dia em que você conheceu meu professor de história.- ela fez uma careta e eu decidi não tocar naquele assunto por enquanto. – Eu lhe disse que tinha alguém, Jenna, mas como sempre você se esqueceu.

–Você poderia ter falado comigo. Poderia me contar...

–Eu tenho tentando conversar com você há dias, tá legal? Mas toda vez que eu tento, você esta ocupada demais com a sua loja.

–Eu só estou trabalhando para lhe dar o dinheiro que você...

–Não! Pare com isso! Pare de tentar achar desculpas!– Eu passei uma de minhas mãos pelo rosto, tentando me acalmar. – É sempre assim. Antes de papai morrer você vivia pela porcaria do seu trabalho. Então ele se foi e eu achei que as coisas poderiam ser melhores, mas parece que só estão piorando. Estou cansada disso! Estou cansada dos seus segredos e estou cansada e viver na mesma casa que um fantasma. Nós nunca conversamos e toda vez que abrimos a boca é para discutir.

–Eu não tenho segredos com você, Katherine. –ela estendeu o braço como que para me alcançar. – Eu sempre lhe conto tudo.

–Ah, é? Então me diga, quem é a mulher que tanto anda se encontrando com você? E não adianta negar. Anna me contou sobre o tempo que você passa trancada no escritório com ela e uma garota.

–São só assuntos da loja. Não há nada para se preocupar.

Ela tinha um tom tão indiferente e calmo que eu até poderia dizer que era verdade. Mas então ela começou a rodar em seu dedo a aliança que ainda carregava consigo. Papai sempre havia dito que tínhamos aquilo em comum sempre que mentíamos. Eu balancei a cabeça e foquei meus olhos em qualquer lugar que não fosse o rosto de Jenna. Fechei os olhos e contei ate dez, tentando me acalmar. Quem era ela afinal para me dar sermões? Se papai estivesse ali, ele saberia o que fazer. Eu olhei para minha mãe, fazendo questão de olhar fundo em seus olhos para que ela percebesse o quão serio eu estava falando.

–Eu vou descobrir o que você anda escondendo. Mas até lá, por favor, não me venha com seus discursos hipócritas sobre honestidade ou comportamento. Eu sei muito bem o que estou fazendo.

Eu agarrei meu lençol com força, fazendo esforço para não chorar na frente dela e sai da cozinha. Stefan estava em pé na frente da cama, já vestido e me esperando assim que entrei. Eu não precisei dizer nada. Ele apenas me envolveu nos seus braços e me deixou chorar em seu peito.