Destinazione escrita por Nancy


Capítulo 18
Anos perdidos


Notas iniciais do capítulo

I'm back!
Esse foi o capítulo que eu consegui escrever mais rápido, até porque eu planejei ele por muito tempo. Seria o último, mas ia ter cerca de 6 mil palavras, então eu escrevi esse e depois escreverei o outro.
Boa leitura.



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A viagem de Maya foi conturbada não somente por seus pensamentos e sentimentos. Ela acabou presa por alguns dias em uma estalagem por conta da forte nevasca que a pegou no caminho. Ela sentia raiva, tristeza, seus ombros pesavam e sua consciência também. Odiava o que o destino lhe reservara, sentia raiva de suas obrigações e deveres. Sentia que a qualquer momento podia simplesmente largar tudo e voltar para a Itália.

Apesar seu coração lhe dizer para abandonar tudo, Maya tentava ao máximo ser uma pessoa racional e continuava seguindo o tortuoso caminho que a afastava cada vez mais do que ela sempre quis.

A viagem que ela conseguiria fazer em alguns dias, durou semanas e durante esse tempo sua preocupação apenas aumentava. Eri, sua fiel águia, já estava velho e havia vivido mais anos do que o normal. Com a chegada daquele inverno rigoroso e a demora em encontrar abrigo, o pássaro faleceu ainda na estrada, o que deixou Maya ainda mais desolada, afinal seu amigo a acompanhara em boa parte de sua vida e nas mais perigosas missões. Agora ela estava sozinha.

A chegada à capital escocesa não foi nada tranquila. As ruas estavam tomadas por soldados, não só dos Bórgia, mas templários de todos os cantos do mundo. Tudo o que lhe interessava era a segurança dos artefatos que guardava dentro do castelo.

Maya correu as ruas de Edimburgo silenciosamente. Ela conhecia aquela cidade como a palma de sua mão, ali era seu território e ela tirava vantagem disso para assassinar os soldados mais distraídos que estavam em seu caminho, escondendo seus corpos em montes de neve ou celeiros desertos. Perguntava-se onde estariam todas as pessoas. Talvez a salvo dentro do castelo, ela esperava.

Pela primeira vez em décadas, ela sentiu enjoo ao se deparar com o cheiro de sangre e corpos em decomposição nas ruas após uma longa batalha. O fato de aquele ser o seu adorado povo contribuía para o que ela sentia.              
Ao se aproximar mais do castelo que não ficava muito longe da praia, Anne ouviu o som de espadas, gritos e um som familiar, mas que ela não soube dizer exatamente o que era.  Correu para a praia com certa urgência, pronta para ajudar no que fosse necessário. Por sorte, ou destino, ela sempre andava armada até os dentes, pronta para o que qualquer combate existisse. De longe ela pôde ver a batalha que se estendia por toda a costa e não hesitou em armar o arco, atirando nos sete primeiros soldados em que pôs os olhos. Flechadas certeiras, assim como a que atingiu Césare.

A notícia já havia se espalhado? Sabiam eles que seu contratante estava morto?

Anne se livrou do arco, inútil sem flechas e desembainhou a espada, girando-a na vertical para em seguida rasgar três soldados com um movimento circular rápido.             
Alguns dos soldados a reconheciam, descobrindo sua identidade através das vestes pretas características, ou seus cabelos ruivos. Anne era conhecida por sua eficácia em defender as fronteiras escocesas com maestria durante anos, era raro que a reconhecessem por seu título da realeza, mas ao ser mencionada como general, hordas inteiras deserdavam.

A luta na praia foi decidida após a chegada de Anne e o acompanhamento de seus aprendizes. Os Assassinos, sempre habilidosos e treinados rigorosamente por ela, logo se organizaram como ela informava e a batalha foi facilmente vencida, poupando incontáveis perdas que ocorreriam caso a batalha prosseguisse por mais tempo.

Ao cair da noite o perímetro ao redor do castelo fora novamente conquistado pelos escoceses que finalmente teriam algumas horas de descanso. Desde que a invasão tivera início, os soldados dormiam não mais que uma ou duas horas durante a noite, até serem acordados por tiros de canhão ou bombas.

O som que Anne ouvira na praia, ela descobriu mais tarde, era o característico som da arma de fogo que Ezio carregava consigo ás vezes. Tendo sido inventada e aprimorada por Leonardo Da Vinci, agora era amplamente distribuída para os soldados inimigos.   

Ao adentrar o castelo, Anne foi informada de que deveria se preparar psicologicamente para ver seu irmão, o rei Jaime. Ela tentou encarar a situação de forma menos sentimental possível, mas ao entrar em seus aposentos, sentou-se na cama ao lado do rei e sentiu as lágrimas escorrerem por seu rosto imediatamente.

Jaime não sobreviveria nem mais uma noite. Seus ferimentos eram gravíssimos e ele mal conseguia ficar acordado. Os médicos haviam feito de tudo, mas não havia mais como salvá-lo. Por todo seu corpo via-se marcas de flechadas, cortes profundos de espadas e até mesmo buracos de bala, era um milagre que ele ainda estivesse vivo, embora Anne desejasse que ele tivesse simplesmente perecido em combate, sem ter tido a chance de sofrer daquela maneira, pois mesmo medicado fortemente, ele gemia de dor o tempo inteiro.

Tanta coisa acontecia ao mesmo tempo que era difícil para Anne assimilar tudo. A rainha Margarida estava até então desaparecida e o pequeno Jaime V – príncipe e sucessor ao trono – estava em estado de choque, mantido em seus aposentos o tempo inteiro, sendo cuidado por suas damas de criação. Anne sequer sabia por onde começar. Naquela mesma noite teve uma reunião com o conselho real, mas nada do que foi falado naquela mesa foi absorvido por seus ouvidos, ela apenas concordava e acenava com a cabeça. Durante a madrugada reuniu um grupo com três de seus mais notórios aprendizes e os despachou para seguir a trilha da rainha Margarida.

Jaime faleceu naquela noite de 9 de setembro. O mundo parecia cada vez mais cinzento para Anne e as palavras de Césare ecoavam em sua cabeça “Eu vou tirar tudo de você”, mesmo morto ele ainda estava em seu caminho e destruída tudo o que via pela frente.

As batalhas nas ruas da capital eram sangrentas e a maioria delas foi perdida, senão abandonada. Os exércitos estrangeiros eram muito mais numerosos que o escocês. O conselho estava prestes a pedir que Anne assinasse a rendição, mas qualquer tentativa de tocar nesse assunto era respondida com uma explosão temperamental da regente.

Semanas após ter enviado o grupo de assassinos atrás da esposa de seu irmão, Anne recebeu a notícia do único sobrevivente da empreitada: estavam todos mortos, tanto seus colegas assassinos quanto a rainha. Torturados pelos soldados até que dissessem tudo o que sabiam. Aquilo deixou Anne com o humor ainda pior, pois Margarida não tinha nada a ver com seus segredos, ela sequer sabia o motivo de ter sido separada de sua família, de ter seu país invadido e seu filho arrancado de seus braços.

Na madrugada do dia 15 de outubro, Anne convocou três de seus aprendizes à sala secreta no subsolo do castelo, lugar onde mantinha todas as relíquias que havia acumulado ao longo dos doze anos na Escócia. Ela havia recebido uma carta selada pela marca dos Assassinos italianos e assinada por Ezio Auditore e Nicolau Maquiavel. Havia sido condecorada com o título de mestra por suas ações já realizadas e por sua lealdade à ordem. Aquela era uma medida desesperada que estava prestes a tomar, mas ela não via outra solução.

— Eu os chamei aqui com o propósito de acabar com essa guerra que já dura meses. Espero que entendam que o que farão a seguir não é um ato de covardia de forma alguma. Quero que em qualquer momento de suas vidas, se pensarem terem sido covardes, culpem a mim. – A iluminação era precária ali embaixo, as paredes de rocha crua não refletiam bem a luz, o que dava um ar sombrio ao local, especialmente a Anne, que havia dias não dormia e comia, parecia-se com um autômato. – Eu jamais os condecorei com o título de Assassinos formalmente, pois como sabem eu não detinha o poder para tal, mas estou fazendo isso agora e embora eu desejasse poder celebrar a ocasião e dar-lhes a devida atenção, temo que terão de se contentar com o título e minha eterna gratidão por tudo o que realizaram durante todos esses anos de árduo treinamento.

Os Assassinos ouviam sua mestra com atenção. Todos devidamente vestidos com o manto da Ordem e armados, como ela havia instruído que viessem para o encontro.

— Durante todo o tempo eu fui sincera com vocês, especialmente sobre as missões em que os enviei para recuperar artefatos importantes e que detém o poder para aniquilar a humanidade caso acabe em mãos erradas. Foi por causa desses artefatos que fomos invadidos e eu não vejo outra maneira de acabar com essa guerra a não ser jogar a isca para longe para dispersar os invasores, especialmente seus líderes.

— Anne, não há como evitarmos pensar em covardia. Podemos lutar e expulsar os exércitos ou morrer lutando. Não iremos correr e nos esconder. – Falou Edgar Scott, um dos primeiros Assassinos recrutados por Anne em seus primeiros anos na Escócia.

Anne já preparava uma bolsa para cada um dos aprendizes, onde levariam os artefatos.

— Não estou pedindo educadamente, Edgar. É uma ordem, uma missão que deve ser cumprida. – Entregou-o a bolsa com o Bracelete de Safira. – Parta para a Ásia e se esconda por alguns anos, tome uma nova identidade, minta sobre seu passado e não empregue suas habilidades a menos que seja estritamente necessário.

Não havia o que fazer, Anne era uma mestra e eles não podiam desrespeitá-la. Apesar de os Assassinos pensarem que aquilo era um ato de covardia, Anne os estava presenteando com sua total confiança, algo difícil de acontecer, especialmente após ter descoberto que um de seus aprendizes havia sido a fonte de informação de Césare sobre as relíquias.

Pegou outra das bolsas, a que continha O Diadema e a entregou para Alice Davenport, ordenando que partisse para a América.

— O que pretende fazer após partirmos com as relíquias? Partiremos em segredo, nossos inimigos jamais saberão que o que procuram não está mais aqui. – Disse Alice, ajeitando a bolsa em seus ombros.

— Boatos voam como o vento e os soldados inimigos anseiam pelo fim dessa guerra tanto quanto nós. Evacuarei o castelo e qualquer um que ainda esteja na cidade para as montanhas e abrirei as portas do castelo. Que saqueiem e procurem o que quiserem, não encontrarão nada. Logo tudo terá fim e não haverá mais sangue.

Pegou a última bolsa, a que continha o mais importante dos artefatos, o mais mortal, o Diamante de Kalista. Entregou-a para seu aprendiz mais confiável e habilidoso: Hugo Pierce.

— Hugo partirá para a Inglaterra. Não é longe, mas estará a salvo. Preciso ter o Diamante sempre à vista, afinal caso ele caia em mãos erradas, estamos todos condenados. – Hugo juntou as palmas das mãos e curvou-se, acatando as ordens de sua mestra sem questionar. Ele sabia que precisava ser feito e uma vez que a missão fosse executada por pessoas de confiança, Anne estaria livre de ao menos um peso. Afinal agora ela precisava se preocupar não somente com sua guilda, mas com o reinado da Escócia que estava em suas mãos até que o príncipe Jaime completasse a idade ideal para assumir o trono.

x

Após três dias da partida de seus aprendizes, Anne fez exatamente como havia planejado. A evacuação total das pessoas remanescentes e do exército escocês demorou cerca de cinco dias, mas foi executada com perfeição, pois os soldados inimigos não desconfiaram do que estava acontecendo. Aos poucos o castelo foi cercado e durante a noite aconteceu a invasão. Tudo o que se pode imaginar foi saqueado, desde itens preciosos que Anne havia deixado para trás, até os fios de ouro que decoravam as cortinas, mas o mais importante estava seguro em seu pescoço: “o cristal”, como ela se referia à pedra amarrada em um cordão e que ela mantinha o tempo inteiro escondido sob as vestes, era o último dos artefatos que havia encontrado, semanas antes de partir para a Italia.

Não demorou muito para que os invasores fossem enviados para outras partes do mundo, perseguindo os rastros falsos deixados pelos Assassinos, sem jamais encontra-los. Os soldados remanescentes no território escocês foram rapidamente expurgados.

Quando finalmente a Escócia se viu livre dos espanhóis e italianos, foi hora de contabilizar os estragos da guerra. Anne foi coroada rainha, mas seu objetivo de abdicar do trono assim que seu sobrinho completasse a maioridade, estava claro em sua mente, embora não fosse compartilhado com ninguém.

Durante aproximadamente cinco anos, Anne manteve-se reclusa ao castelo, sem sair sequer para caminhar nas ruas como gostava de fazer. Dedicou-se inteiramente a criar e ensinar ao sobrinho tudo o que sabia. Suas aparições eram realizadas apenas quando estritamente necessárias e ela nunca se apresentava realmente, sendo representada por uma de suas criadas, com quem se parecia fisicamente, afinal Anne não era mais tão jovem – beirava os quarenta anos -, mas tinha a mesma aparência de quando chegou à Edimburgo, aos 26. Sua sósia era sempre instruída sobre como deveria falar e se comportar, usava as roupas da rainha e uma peruca idêntica ao cabelo de Anne, era uma mulher mais velha, com cerca de cinquenta anos e o boato que corria sobre a aparência atual da rainha, era o fato de que suas obrigações a esmagavam, com o tempo dando-a a aparência de uma mulher muito mais velha.

Sempre que possível, Ezio enviava cartas para Anne, descrevendo suas aventuras e missões, contando sobre os lugares pelos quais passava. Anne respondia sempre, entregando a carta para uma das águias que criava.

Os anos que se seguiram foram melancólicos e Anne sentia-se afundar em um poço do qual não havia saída. Raramente saía de seus aposentos, as noites eram mal dormidas e ela quase não comia. A Irmandade escocesa havia crescido nos últimos anos, mas Anne havia decidido se afastar, evitando que sua imagem se espalhasse e seu disfarce caísse por terra.

Em poucos meses Jaime completaria vinte anos e conforme ditava a lei, ele poderia assumir o trono. Anne tinha tudo planejado.

No dia 12 de abril de 1524, espalhou-se a notícia da morte da Rainha Anne-Marie. A comoção foi total, apesar de ter-se distanciado do povo, Anne foi conhecida por seus gestos caridosos e seus esforços militares.

Naquele mesmo dia, no meio da noite, Anne cavalgou escondida para longe da capital escocesa, sentindo-se livre pela primeira vez em vinte e um anos. Em seu bolso carregava a carta que a fez partir com pressa naquele mesmo dia.

Uma carta de Ezio.


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Notas finais do capítulo

Pois é meus amores, estamos chegando ao final.
Sim, corri muitos anos nesse capítulo, a Anne tem cerca de 60 anos no final disso tudo.
Preparem-se para o grand finale!



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