I Can't Love You escrita por hpforever


Capítulo 4
Segunda Opção




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Point Of View: Breno

No dia seguinte, eu enrolei o máximo possível para me arrumar, e cheguei na escola na última hora, o motivo pra isso é óbvio não é? Eu não quero conversar com o Henrique, estou envergonhado e com medo do que ele vai me dizer, mas sei que uma hora ou outra, nós vamos ter que nos falar.

Minha sala estava na aula de Educação Física. Eu e mais alguns meninos estávamos no banheiro, trocando de roupa. Eu já estava acabando de colocar minha chuteira, quando um valentão chamado David, se aproxima de mim:

–Vai jogar bola mariquinha? Já que você é gay por que não se troca no banheiro das meninas?

Ele sempre me faz essas provocações e isso me deixa puto.

–Seria até melhor, porque lá não tem pessoas babacas igual você!

–O que você disse?!- ele me puxou pela gola do uniforme e me prensou contra a parede. Em seguida ergueu o punho e eu já estava sentindo a dor do soco que ele me daria, quando vi Henrique segurando o braço dele.

–Para David! Deixa o garoto!- manda o loiro.

Ao ouvir isso, o valentão me soltou.

–Olha só mariquinha, arrumou um guarda-costas?- ele ri e se vai.

–Obrigado- digo, ajeitando a gola do meu uniforme, que ficou enlarguecida.

–Por que está me evitando?- ele pergunta.

–Não estou te evitando- ele ergue uma sobrancelha- ok, eu estou. Só não quero falar sobre o que aconteceu está bem?

–Tá bom. Mas eu só quero que você saiba que não me arrependi de ter te beijado.

–O que isso quer dizer?

–Não quer dizer nada. Apenas que não quero que fique estranho comigo.

–Desculpa- peço.

–E se o David te causar mais problemas me chame ok?

–Ele sempre me causa problemas. Estou até acostumado.

–Não quero que você se acostume com isso. Então não vou deixar ele encostar mais um dedo em você!

–Obrigado.

Ele assente e sai do banheiro, eu vou logo depois e nos dirigimos para a quadra.

Não sei por que gosto tanto de jogar futebol. Mas gosto. Não só para ver os meninos correndo pela quadra suados e sem camisa (por isso também), mas eu gosto muito do esporte mesmo. Nós treinamos a aula inteira, depois fomos liberados uns minutos antes de bater o sinal para podermos tomar um banho.

Todos os meninos se dirigiram para o banheiro menos eu e Henrique. Ele porque a professora pediu sua ajuda para transportar umas caixas, ou algo assim. Eu por dois motivos: 1º os meninos sempre ficam se empurrando, socando e batendo para ver quem pega ducha primeiro. 2º eles sempre pensam que eu fico olhando para as partes íntimas deles e ficam me zoando e ameaçando me bater. Então eu espero eles irem primeiro.

Quando vejo que todos já saíram me dirijo para o banheiro, tiro a roupa suada e entro no chuveiro. Sinto a água gelada escorrer pelo meu corpo de forma relaxante. Eu viro de costas (de frente pra parede) e fecho os olhos enquanto me ensabôo.

Uns instantes depois, eu já tinha praticamente acabado, quando me viro de volta para a frente e reabro meus olhos.

Primeiramente fiquei surpreso com o que vi, depois sorri.

Henrique estava parado de frente para mim e encarava meu corpo mordendo o lábio inferior. Quando percebeu que eu olhava pra ele, corou levemente.

Ele vestia apenas a cueca vermelha, não deve ter tomado banho ainda.

Eu retribuo seu olhar, sorrindo no canto dos lábios.

–Sério que você vai ficar só me olhando?!- provoco.

Ele sorri e entra no chuveiro junto comigo. Vejo a água molhar seu corpo e seu cabelo e o prendo num beijo de tirar o fôlego. Ele retribui com a mesma vontade, passando a mão pelas minhas costas. Eu o prenso contra a parede e entrelaço meus dedos em seu cabelo. Eu já estava ficando excitado, é incrível como ele tem um efeito tão grande sobre mim.

Fomos finalizando o beijo de forma calma, mas antes que nos soltássemos, escuto passos atrás de nós. Me viro, com medo de ser David novamente, mas não era.

Era pior.

A vice diretora da escola estava parada de braços cruzados à nossa frente e nos lançava um olhar muito sério.

–Então é por isso que vocês dois não retornaram para a sala de aula?- ela indaga.

Nós não respondemos. Henrique parecia paralisado ao meu lado e eu não sabia o que dizer.

–O que foi?! O gato comeu a língua de vocês?- continua a mulher- porque ela pareceu bem eficiente alguns segundos atrás!

–Desculpe- peço, quase num sussurro.

–Desculpas não vão adiantar. Se vistam e vão para a sala da diretora. Agora!

Imediatamente, Henrique saiu de perto de mim e recolocou suas roupas. Ele não parecia apenas preocupado, parecia furioso!

Nós nos vestimos e fomos para a diretoria. A diretora é uma mulher de meia idade, rígida, porém simpática, ela nos esperava com a expressão séria e nos pediu para sentar à sua frente.

–Dá pra explicar o que estava acontecendo no banheiro?- ela pede.

Eu olho Henrique pelo canto do olho e ele encarava seus pés, a expressão dele me deu medo, parecia arquitetar um plano para matar. Para me matar, sendo mais específico.

–Olha, eu sei que vocês são adolescentes e que nessa idade os hormônios ficam uma loucura! Mas vocês tem que se controlar! Aqui é uma escola!!! E é exatamente por isso que separamos meninos e meninas...

–Mas do jeito que está essa juventude, isso já não resolve mais- se intromete a vice-diretora que estava na sala.

–Eu não posso me intrometer na vida pessoal de vocês e nem na escolha sexual que vocês têm, mas...

–E não sou gay- diz Henrique, inesperadamente. Eu o encaro.

–Como?- pergunta a diretora- de qualquer forma, vocês estavam se beijando...

–Foi um erro- ele a interrompe novamente.

–Sim, foi um erro. E não poderá ser repetido em hipótese alguma! Vocês entenderam?!

–Sim- eu murmuro.

–Ótimo! Mas saibam que os pais de vocês serão comunicados quanto à isso.

–Não!!!- brada Henrique- por favor diretora, não diga pros meus pais!

–Devia ter pensado nisso antes!

–A senhora não entende, eles não vão aceitar...

–Aceitar o que?! Que o filho adolescente deles, de 17 anos, sabe beijar de língua?!

–Aceitar que ele beijou um garoto de língua- esclareço.

–Entendo... Seus pais não sabem que você tem atração por meninos também?- ela pergunta para Henrique.

–É, meu pai me mata se souber!

–Então, tudo bem, dessa vez passa. Mas só dessa vez!-cede ela.

–Obrigado diretora- eu digo e nós nos levantamos.

Quando faltava um passo para sairmos da sala dela, ela diz:

–Você precisa contar para seus pais Henrique. Eles te amam, tem que te entender.

Ele olha brevemente para ela e sai da sala com passos apressados. Eu corro atrás dele até alcançá-lo.

–Henrique espera!- peço.

–O que você quer Breno?! Não vê que já estragou o suficiente?!

–Desculpa- eu peço assustado cm o tom de voz dele.

–Faz um favor?! Me esquece, ok?! Não quero mais olhar pra você!

–Não faz isso Henrique, por favor- eu digo e meus olhos se enchem de lágrimas.

–Você já pensou se meus pais descobrissem?! Eles iam me matar! Eu não tô a fim de estragar toda minha vida por causa dos seus caprichos...

–Não fala assim!

–Falo porque é verdade! Não chegue mais perto de mim!- dizendo isso ele caminha para a sala de aula.

Eu sento num dos bancos do pátio e começo a chorar silenciosamente.

Point Of View: Manoela

Já estávamos na última aula. O tempo voou. É aula de história e a professora é super gente boa, ela apenas nos passou um texto e depois se pôs a bater papo com a gente.

Quando o sinal bateu, nós saímos da escola e eu vi Breno passar como um furacão em direção ao carro do pai dele, achei estranho, mas ignorei o fato. Quando Henrique saiu nós nos dirigimos para o carro de minha mãe.

–Foi boa a aula?- ela puxa assunto.

–Até que foi- respondo, ligando o rádio e colocando Avril Lavigne para tocar.

–Dá pra abaixar isso?!- pede Henrique.

–Nossa, está de mau humor?- digo, abaixando um pouco o volume.

Ele revira os olhos.

Nós chegamos em casa em poucos minutos e eu fui para meu quarto trocar de roupa. Pus uma regata vermelha e um shorts preto, passei a escova pelos meus cabelos que estavam soltos e desci para almoçar.

–O Raffa já tem carteira de motorista?- questiona minha mãe- eu o vi indo embora de moto.

–Não sei se ele já tirou carta, mas ele vai embora dirigindo todo dia- conta Henrique- por quê?

–Por nada. Parece que essa Raquel não cuida nada dele...

–Ela é horrível e você sabe disso, já conversamos sobre esse assunto- fala Henrique se servindo de comida.

–Eu sei, eu e seu pai vamos fazer alguma coisa para ajudá-lo!- ela diz para ele- por que está tão nervoso, Henrique?

–Por nada mãe, por nada- ele diz e começa a comer.

Quando minha mãe terminou, ela deixou a mesa, me deixando sozinha com Henrique.

–Hoje eu vi que o Breno não tava nada feliz na saída da escola- comento- está acontecendo alguma coisa?

Ela solta o garfo, bate as mãos na mesa e me encara soltando um suspiro exasperado.

–Deveria estar? Ele simplesmente me beijou na escola e a vice-diretora viu!

Eu abro a boca num perfeito "O".

–Como assim?! O que ela fez?

–Nos levou à diretoria e a diretora disse que dessa vez passa... Mas ela queria ligar pros nossos pais!

–Por isso você está bravo com ele?- indago- ele não tem culpa dela ter visto... E se ele te beijou foi porque você deixou.

O rosto de Henrique fica levemente vermelho.

–Vamos esquecer esse assunto, ok?- pede ele, se levantando da mesa, sem nem terminar de comer.

–Você sabe que o Breno gosta de você e ainda retribui os beijos dele... Depois fica tratando ele mal? O garoto deve sofrer! Ele não tem culpa da sua bipolaridade!

–Aah Manoela, vai arrumar alguma coisa pra fazer, vai!- ele diz e começa a subir as escadas.

Termino minha refeição e também subo para meu quarto. Chegando lá, me atiro na cama e pego meu celular, telefonando para minha melhor amiga; Luma.

–Hey amiga!- cumprimento.

–Fala Manu!- ela responde.

–Você pode vir aqui em casa, tipo, agora?!- pergunto.

–Que tal a gente ir num salão de jogos?- ela propõe.

–Haha sim, aquele antigo?

–Isso, soube que o Raffa vai estar lá!- eu sorrio automaticamente.

–Ok, te vejo lá!

Digo e desligo o celular. Eu ainda não contei pra Luma que gosto do Raffa, mas vou contar. O problema é que ela é um pouco fofoqueira e tenho medo de que de uma hora para outra, a escola toda já esteja sabendo.

Eu pego uma bolsinha transversal bege com franja e desço as escadas. Com certeza não vou pedir para minha mãe ou meu pai para me levar ao salão de jogos. Eu já fui lá algumas vezes e sei que não é muito bem frequentado. Henrique ainda deve estar de mau humor, e não quero incomodar o Breno, portanto a única alternativa que me resta, é pegar um taxi.

Quando o veículo estaciona em frente à casa, eu o adentro e parto para meu destino. Conforme chegamos mais perto, mais as ruas iam ficando estreitas e sujas, eu via calçadas esburacadas e casas quase caindo aos pedaços. Ele parou em frente à um estabelecimento de aparência antiga, como se não fosse pintado há cerca de 20 anos.

Eu adentro o local e logo avisto Raffael e meu olhar se ilumina. Ele estava vestindo uma calça jeans escura e uma camiseta preta que deixava seus músculos marcados. Mas logo avisto Luma se aproximar e o abraçar pela cintura. Franzi a testa, achando aquilo muito estranho. Eu chego perto deles e eles se soltam.

–Olá Manu!- cumprimenta Luma, alegremente.

Ela tem cabelos loiros até a cintura e olhos azuis. Vestia um vestido azul claro e carregava sempre um brilho metido no olhar. Somos muito diferentes uma da outra, mas melhores amigas desde a 4ª série.

–Toda loira tem sua morena!- disse Raffa abrindo um sorriso- até que em fim você chegou!

Ele me abraçou e me apertou contra si. Pude sentir o maravilhoso calor que seu corpo transmitia e seu cheiro de perfume masculino.

–Que tal jogarmos cestas?- sugere ele.

–Pode ser- nós duas concordamos e rumamos para uma máquina que oferecia bolas de basquete, que você tem que acertar numa cesta localizada há uns 4 metros de distância.

Raffa é o primeiro a jogar e ele acerta logo 5 bolas consecutivas.

–Meu Deus! Como ficou tão bom nisso?- indago, sorrindo.

–Tenho sorte- ele afirma, com um sorriso torto e logo prepara outra bola, acertando-a também.

–Posso tentar?- pede Luma e sinto um tom mais doce que o normal em sua voz. Ele sorri pra ela.

–Claro.

Ela retribui o sorriso e pega uma das bolas de basquete, Raffa cochicha no ouvido dela como deve jogar e ela o faz, marcando cesta. Esta cena se repete mais algumas vezes. Vezes demais para o meu gosto. Me sinto um tanto desconfortável.

–Eu vou ao banheiro!- aviso.

–Vai lá, Manu!- responde Raffa sem prestar muita atenção em mim.

Eu reviro os olhos e caminho para o fundo do salão.

Os homens que haviam ali não me agradavam nem um pouco; variavam de 15 à 25 anos e todos eles pareciam me comer com o olhar, senti um arrepio na espinha e uma sensação estranha tomou posse do meu corpo.

Eu realmente estava com vontade de fazer xixi, mas com certeza não sentaria naquele vaso sanitário imundo. Apenas me posicionei em frente ao espelho e mirei meu reflexo, passando as mãos pelos cabelos.

O que estava acontecendo entre o Raffa e a Luma? Ela quase nunca mencionava o nome dele numa conversa e tampouco eu. Se eu senti ciúme dele? Com certeza sim. Se eu tenho direito disso? Não, não tenho. O Raffa não pertence a mim, na verdade nunca pertenceu a ninguém; ajo como se não soubesse que ele não é nada fã de relacionamentos sérios e acho que sou burra por achar que posso fazê-lo mudar de ideia quanto a isso. Respiro fundo e decido voltar para lá, mesmo agora não estando mais tão animada quanto antes.

Entretanto, enquanto passo por entre as mesas de sinuca e baralho, sinto um garoto me segurar pelo ombro. Era Fernando e dá pra ver que ele tinha bebido. Por que será que não estou surpresa?

–Não sabia que vinha nesses lugares, Manoela- ela diz num sorriso.

Por mais que ele me irrite e pareça um babaca não posso negar que Fernando é bem bonito. Ele tem cabelos escuros erguidos num topete bagunçado, os braços bem tatuados e a barba por fazer. Ele é sexy e eu seria desonesta se dissesse que eu nunca ficaria com ele.

–Se eu soubesse que você estaria aqui, nem teria vindo- mando na lata. Sim, eu estou de mau humor agora.

–Nossa, eu não tenho culpa se seu encontro amoroso não esteja dando certo!

–Como assim?- pergunto franzindo o cenho.

–Eu vi o Raffa e a Luma juntos enquanto você estava no banheiro... E se você já estava brava antes, sugiro que fique mais agora- ele ergue uma sobrancelha.

–Por que eu ficaria?- indago, tentando disfarçar a insegurança em minha voz.

Ele não diz nada, apenas aponta com a cabeça na direção dos dois e eu me viro para lá, vendo os dois se beijando; as mãos dela massageando a nuca dele e ele retribuindo passando as mãos pelas costas dela. Algo gelado cai em meu estômago e eu sinto lágrimas molharem meus olhos. Fernando percebe minha reação e me abraça por trás, sussurrando em meu ouvido:

–Sinto muito. Sei que gosta dele. Posso te levar pra casa se quiser.

Estranhamente eu sabia que ele estava sendo sincero com o que dizia. Seu tom de voz não era descontraído e sedutor como eu havia ouvido das outras vezes; era sério e até preocupado.

Eu me viro de volta pra ele e assinto com a cabeça. Que outra alternativa eu teria? Voltar ali com eles nem pensar.

–Tudo bem- digo engolindo as lágrimas.

Ele sorri minimamente e me acompanha até fora do salão de jogos.

Eu estava sentada na garupa da moto de Fernando o agarrando firme enquanto meus cabelos voavam para trás, devido à alta velocidade em que ele dirigia. Eu havia deixado algumas lágrimas escorrerem por meu rosto, mas logo quis abandonar a sensação de ter sido traída. Afinal, aquilo foi só um beijo, pode não significar nada.

Ou pode significar tudo.

Isso é a última coisa no mundo em que quero pensar, mas infelizmente é só o que passa pela minha cabeça. Quando já estava de volta ao meu bairro eu desço da moto dele e o agradeço.

–Não precisa agradecer, princesa. Sempre que quiser um amigo, um ombro pra chorar, uma boca pra beijar... - ele faz uma pausa e ri- estou brincando. Mas vou estar aqui. Mesmo.

–Obrigada Fernando. Não sabia que você podia ser tão legal.

–Eu sou legal. Você é quem nunca me deu a chance de mostrar isso.

Eu sorrio. Talvez ele tenha razão. Nunca pude conhecer quem ele realmente é de verdade, quem sabe ele pode me surpreender?

–Pode ser que eu te dê uma chance...

Ele sorri de canto e se debruça para me dar um beijo rápido.

–A gente se vê!- ele diz e aperta o acelerador. Depois de me lançar uma piscadinha marota, volta a voar pelas ruas.


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Notas finais do capítulo

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