O guarda pôs uma sacola de papel em minha cabeça para que eu não veja o caminho. Tive que ser conduzida e empurrada a cada cinco passos por cerca de cinco guardas da HIDRA.

Quando virei à esquerda, fui forçada a me sentar e presa numa cadeira que pinicava muito. O guarda tirou a sacola e eu quase fiquei cega por causa da forte luz branca, mas logo estava acostumada.

–Deixem-nos a sós - Ordenou a voz de Strucker, em alemão.

Os guardas assentiram e saíram da sala, fechando a porta com força. A luz foi desligada, mas a sala continuou iluminada pela luz mais fraca daqui. Pude ver o Strucker com a mão deformada para trás e segurando alguma coisa, acho que era uma esfera. Ela refletia a luz solar na pequena brecha que havia.

–Ficaria surpresa em saber de onde eu tirei esta esfera.

–Onde?

–Não lhe contarei. Mas troquei-a por uma falsa na sala de troféus que encontrei. Esta é legítima, a dele não.

–Dele?

–Eu faço as perguntas - Ele apertou um botão na mesa e a coleira se eletrificou - Verräter. Você me dá nojo. Vou logo ao assunto principal.

Strucker pousou a esfera na mesa e puxou uma cadeira, sentando-se ao meu lado. Aquele rosto dele...Eu tinha vontade de arranhá-lo. Como minhas unhas estão grandes e afiadas, eu pensava em fazer isso. Mas estou com as mãos presas na parte de trás da cadeira. Ao menos, posso tentar me soltar com as unhas.

–Nunca prestei atenção, mas você é bonita, apesar de magra. Seria uma bela madame HIDRA.

–Eu sei o que elas fazem, Strucker. Eu era agente da HIDRA e conheço tudo até hoje.

–Nem tudo. Por exemplo, você não conhecia sobre o nosso passado.

–Mas eu lembro qual a função da madame HIDRA.

–Dar ordens aos subordinados, participar das próprias missões, com ou sem interferência.

–E dormir com o führer da HIDRA. No caso, espero que você esteja satisfazendo a Víbora na cama. Se bem me lembro, ela era exigente com os namorados que tinha dentro da HIDRA.

Strucker riu. Não foi aquele riso de achar meu comentário engraçado. Foi mais um aviso para não continuar mencionando isso. O barão levantou-se e rodeou minha cadeira. Ele pousou sua mão boa em meu ombro.

–Vou direto ao assunto desta conversa. Se você colaborar, salvará milhões de vidas, inclusive à de seu namorado playboy e à de sua amiga nerd.

–Não colaborarei com nada.

–Você não morrerá. Não antes de seu mundo virar cinzas. Você nos traiu no passado, uniu-se à SHIELD. Deve saber o que eu quero.

–Sei. E a resposta continua a mesma.

Quando cheguei à esta prisão, Strucker foi à minha cela entregar pessoalmente minha roupa de prisioneira. Antes de entregar, porém, ele exigiu que lhe contasse algumas coisas sobre a HIDRA. Ele disse que precisava apenas confirmar comigo. Eu me neguei, claro.

–Você é convicta com suas decisões. Não importa o quanto te maltratem, o quanto te abusem fisicamente, você não abre a boca. - Ele apertou meu rosto - Você cederá mais cedo ou mais tarde.

Ele estalou os dedos e a porta se abriu. Droga! Ainda não estou pronta para ir. Preciso de mais tempo para conseguir me soltar. Tarde demais.

–Leve-a daqui. Eu ainda quero que ela continue viva, entendeu?

–Alto e claro, herr Strucker. - Eu conheço essa voz.

–Brock?!

–Bingo!

A sacola foi posta novamente em minha cabeça e eu fui conduzida pelo corredor. Sentia a mão grossa de Brock em meu pescoço e ele apertava-o a cada passo. Também sentia o toque das armas dos soldados que ajudavam na condução. E eu insistia com minhas unhas grandes para tentar destrancar as algemas, mas era complicado. Já ouvi histórias da Natasha fazendo tal façanha, mas nunca acreditei.

Sinto o chão úmido. Chegamos às celas. Junto, também chegava o almoço. Arrancaram a sacola e me jogaram dentro da cela. Depois, o prato com a sopa quente deslizou.

–Brock! Como você escapou? Brock! Brock! - Eu gritava.

–Cala a boca, sua idiota! Quer que todos levemos mais choque? - Gritou o prisioneiro da cela à minha frente.

–Calem a boca vocês dois!

E uma gritaria tomou conta das celas. Todos pediam para que eu me calasse. O guarda notou e puxou a alavanca. As coleiras se ativaram e todos se calaram.

Por que tudo de errado está acontecendo comigo? A HIDRA me pegou, não sei como estão as coisas em Nova York e Strucker ameaçou a vida de meus amigos. Sem contar meus pesadelos.

Algumas horas se passaram, já tomamos o banho da mangueira de pressão e já havíamos jantado. Só esperava a hora do sono chegar. Porém, um barulho familiar começou a tocar. E vinha da parede. Poderia ser uma música, mas eram apenas batidas. O legal é que não eram aleatórias.

–Código morse? - Sussurrei para mim mesma. Encostei o ouvido na parede e escutei o final da mensagem.

"Com Strucker?", dizia o fim.

Eu procurei uma pedra, o que não faltava nessa prisão, e comecei a bater na parede.

"Por favor, repita a mensagem"

"Como foi com Strucker", repetiu seja lá quem for.

"Nada bom. Acabo de descobrir que Rumlow está solto novamente".

"Que mal".

Eu esperei que a mensagem continuasse, mas não aconteceu. Eu peguei novamente a pedra e mandei uma outra mensagem.

"Como você sabe código morse?"

"Eu trabalhava no exército".

"Quem é você?"

"Um monstro"

Eu tentei enviar mais mensagens, mas não obtive respostas. À certa altura da noite, o guarda apareceu e bateu nas grades.

–Pare com este barulho, verräter. Vá dormir! - Ele ordenou, apontando uma lanterna para mim - Se tentar fugir, você vai dormir sem roupa e com outro prisioneiro!

–Chama isso de roupa? Parece um saco de arroz! - Reclamei.

–Calada e vá dormir. - Ele desligou a lanterna e saiu. Tive que obedecer.

"Boa noite", disse finalmente o mensageiro anônimo.