Minha cabeça dói e muito! O sentido-aranha pirou demais! Wanda, ao meu lado, me segura para que eu não caia. Ela grita pedidos para as outras, mas é tanta dor que não consigo distinguir o que ela fala. Wanda retira minha máscara e me senta no chão.

—Jessica, fala comigo. JEAN! - Agora sim consigo ouvi-la.

—Estou tentando, mas algo impede que eu entre na mente dela. É algo poderoso. - Que ótimo, nem a mais poderosa telepata pode me salvar.

—Se concentra, Jessica. - Sussurra Wanda. - Permita que Jean entre na sua cabeça.

Sentido-aranha, às vezes eu te odeio. Mas ele está me alertando de um perigo. E se for uma invasão mental? Quero dizer, Jean não é uma ameaça para mim, mas esse misterioso invasor é. Lembro-me que na Inglaterra meu sentido-aranha também pirou deste jeito, nunca entendi bem aquele surto - assim como não entendo este.

Ah, um rosto! É o rosto de... Peter? Não, o cabelo está maior. Mas é muito parecido. Até o uniforme é parecido com o do Homem-Aranha, só que mais vermelho e com partes pretas. Também há outras pessoas, estão em meio-círculo. Ele, uma garota ruiva sem máscara, um garoto negro também sem máscara, agora sim o Peter sem máscara. Vejo também uma mulher com patas nas costas e, por fim, eu me vejo. Estamos ao redor de alguém, conversando. Duas pessoas, na verdade.

—O destino de todos depende de vocês - Diz uma voz de mulher. Parece com a voz de Julia.

O outro rosto está se decifrando. É idoso, o corpo está sentado numa cadeira e...

—Ah! - Droga, acordei!

—Jessica! Você está bem? O que houve?

—Não sei. - Estou suada, minha testa está muito molhada. Ah não, é só um pano. - Não sei o que houve, Wanda. Foi confuso, meu sentido-aranha disparou e tudo ficou... - Respiro fundo. Não consigo encontrar as palavras certas.

Eu analiso o ambiente. Estamos eu e Wanda a sós no chão. As outras estão espalhadas por aí, mas não importa agora. Aquilo era uma visão, um convite?

—Você teve sua pulsação acelerada, depois diminuiu. Seu nariz sangrou e muito, você perdeu muito sangue e ainda compartilhou comigo. - Wanda sorri, mostrando o uniforme ensanguentado - Jean tentou entrar em sua mente, mas estava bloqueada. E não era por você, mas por outra pessoa. Ou coisa.

Será que a pessoa era realmente a Julia? Bom, se ela quisesse aparecer agora, seria bem-vinda. Não? Ok, posso suportar isso. Ela disse que não era telepata, não lia minha mente, apenas adivinhava o que eu pensava. Bom, eu nunca fiquei cem por cento convencida.

—Desculpa pelo compartilhamento de sangue.

—Poderia ser pior. E eu já estava pensando em abandonar essa roupa mesmo, então seu sangue só acelerou o processo - Ela diz, rindo mais uma vez.

Eu sorrio para ela, é bom conversar com Wanda outra vez. Faz muito tempo e eu nem era mais eu. Jean aproxima-se de nós duas, ela fica parada e então fala.

—Está melhor, Jessica?

—Estou. Obrigada Jean, por tentar me salvar. Acho que eu te devo uma.

—De nada, é bom vê-la bem. Planejamos atacar o Arcade em breve, mas é bom descansarem. Wanda, preciso de sua ajuda.

—Sim, estou indo.

Ela se despede de mim, então segue a mutante ruiva. Nem me lembrava mais do Arcade, havia esquecido que este é o tal Mundo do Crime - ou Jogos Mortais na vida real. Havia esquecido que minha vida e a de outras super-heroínas de verdade estão em risco. Maldita visão desnecessária.

—Oi. - Diz uma voz atrás de mim. É ela. Até que enfim ela decidiu reaparecer.

—Julia. Foi você?

—Não, meus poderes não permitem uma ligação mental.

—Então quem foi? E não venha com enigmas, já estou cansada deles! - Reclamo, erguendo-me.

—Nosso inimigo. Não posso contar detalhes, lamento por isso. E lamento por ter visto aquilo.

—Quem te proibiu de contar os detalhes? - Grito - Quem é o nosso inimigo?

—Ei, garota! - Tigresa chega e toca em meu ombro. Viro-me para ela, depois para Julia, que desapareceu. É claro, ela me obriga a fazer papel de otária. - Com quem você falava?

—Não importa, você não acreditaria em mim.

—Pode tentar.

—Não, não sei se confio em você.

A Tigresa sorri. Ela analisa-me da cabeça aos pés e depois dos pés à cabeça. E continua sorrindo.

—Você não se parece com ela. É uma Mulher-Aranha diferente.

Ela deve estar falando da Mulher-Aranha da Costa Oeste. Martha... Marty... Mattie Franklin, eu acho. Julia foi quem mencionou, ou foi o Alto Evolucionário. Ou pior, foi Charlotte. Enfim, alguém mencionou essa Mulher-Aranha da Costa Oeste.

—Com certeza, não sou clone dela. - Respondo.

—Eu sei, Mattie é menos infantil, mais confiável, porém também já a peguei conversando sozinha. Ela mentiu, parece sentir medo de contar a alguém sobre o que viu.

—Aonde quer chegar, Tigresa? - Já estou impaciente e cansada.

—Quero dizer que você não precisa guardar segredos, conte a alguém sobre essa sua conversa misteriosa. Eu digo o mesmo para a Mattie, mas ela continua guardando. Seja diferente.

—Ok, vou levar sua dica adiante. - Mas é claro que não contarei à Tigresa, não confio em qualquer pessoa que acabo de conhecer. Antes sim, mas não agora! - Obrigada.

Meu sentido-aranha vibra. Não é como antes, é apenas uma vibração leve, uma vibração comum. Já até fico assustada quando meu sexto sentido vibra. Viro-me para trás e vejo duas... de mim? Como assim?

—Quem são... - Aponto para as duas de mim.

—Ah não. - Diz Tigresa - São do Arcade, são robôs que copiam a aparência dos heróis e vilões. Por exemplo, você. Precisamos chegar à Susan. Vamos.

Corremos na direção da Mulher Invisível, que está com a Mulher-Hulk. Assim que paramos de correr, meu sentido-aranha vibrou novamente.

—Cuidado. - Impeço Tigresa de prosseguir - Acho que não são elas.

Disparo teias só para constar. Acerto a Mulher-Hulk, que se vira para mim e confirmo a teoria. Não são elas, os olhos estão vermelhos. A robô puxa a teia e eu vou junto, caindo de cara no chão. Ai! Sou arrastada, porém solto a teia e Tigresa me ajuda a ficar de pé de novo.

—Seu plano foi uma droga. - Diz ela.

—O que queria que eu fizesse? Não posso atacar sem certeza se são ameaças mesmo.

A Mulher Invisível robô vira-se também e estica as mãos. Elas começam a brilhar, então um raio de energia é disparado. Desviamos a tempo para não sermos atingidas, mas Tigresa salta rapidamente e avança contra as inimigas. Como um animal feroz, ela arranha a cara da Mulher Invisível e dá um chute na Mulher-Hulk. Levanto-me e disparo teias nos pés da Mulher-Hulk robô, derrubando-a. Tigresa pisa na cabeça dela, mas as mãos seguram-na e ela é arremessada até mim.

—Já enfrentou robôs antes? - Ela pergunta.

—Só nos treinos. - Disparo teias novamente, agora na Mulher Invisível. Consigo acertar suas mãos, assim ela não disparará novamente o raio.

Tanto a Mulher-Hulk robótica quanto a Mulher Invisível ficam cobertas por auras rubras, então se despedaçam em várias partes. Legal.

—Tigresa, Jessica, por aqui! - Diz Wanda, apontando para aonde ela e Jean estavam.

Eu e Tigresa fomos até elas num salto, literalmente.

—Eu consigo identificar os robôs, o sentido-aranha vibra quando fico perto deles. - Comento. - Aonde estão as outras?

—Jen e Sue foram cercadas e levadas, precisamos reencontrá-las. - Explica Wanda.

—Posso farejá-las, seu um super-faro como qualquer animal.

Dá para notar. Eu diria isso se ela não tivesse garras afiadas o suficiente para atravessar minha pele. Essa atitude me faz acreditar mais ainda que ela gostaria de ser a nossa líder.

—Não precisa, eu rastreei a mente delas. - Comenta Jean - Elas estão vivas por enquanto. Inconscientes, mas vivas.

—Vamos, não podemos perder tempo. - Diz Wanda. Eu olho rapidamente para Tigresa, novamente bastante frustrada pela falta de liderança.