Já se passaram duas semanas desde que encontrei o Alto Evolucionário e desde aquela época eu fico muito pensativa. Não sei porquê desses pensamentos, mas só penso. Alguns são referentes ao relatório que dei sobre meu sumiço - eles não se importaram muito com o Alto Evolucionário, mas sim com o paradeiro do presidente. Coincidentemente, o corpo apareceu na Casa Branca no dia seguinte ao relatório.

Também penso muito em meus pais. Lutei cerca de 8 anos para não sofrer por perdê-los misteriosamente e, de repente, soube o que aconteceu. Aliás, não contei sobre isso no relatório.

E uma última coisa que costumo pensar é em minha vida amorosa. Não estou pensando num namorado, mas em meus feromônios. Eles nunca estiveram tão ativos quanto agora. Todo lugar que passo sou cantada, seja por um homem, uma mulher, e não importa a idade - até uma idosa já me deu uma cantada. Acho muito constrangedor essa situação e ninguém consegue me explicar o motivo de estar tão seduzente.

Melhor voltar para a realidade, Jessica. Concentre-se em sua missão.

Hoje estou de vigia na cidade. Como os Vingadores estão fora do país, o Quarteto está em outra dimensão com o grupo do Dr. Strange - os tais Defensores, que nunca os conheci pessoal - e os X-Men bem longe da cidade, me voluntariei para pegar alguns bandidos. Até agora prendi uns três caras, todos se distraindo no momento de minha chegada - sempre os feromônios...

No momento, estou sentada numa parede. Sim, eu disse sentada. E só estou esperando o próximo desafio para mim. Tomara que seja mais difícil, preciso de coisas para fazer e esquecer de meus pensamentos.

Chega, cansei de ficar na mesma posição. Escalo a parede e, ao chegar no topo, salto e disparo teias, balançando-me. Nada mais acontecerá por esta parte, melhor procurar por alguns becos, mercadinhos ou joalherias.

Passado um tempo, meu sentido-aranha vibra levemente. Ok, deve haver algum perigo por perto. Pouso no prédio de onde senti a vibração, que aumenta a cada passo. Escalo a parte externa e vejo o que há lá dentro por uma janela. Traficantes vestidos de apicultores. Faz um longo tempo que não vejo a I.M.A., até pensei que eles estivessem desativados após eu derrotar seu líder. Subo para o topo do prédio e tento fazer uma ligação à base da SHIELD.

–Aqui é a agente Drew.

–Agente Drew, é a Simmons. O que houve?

–Por acaso a I.M.A. está em nossa lista de Natal?

–Como disse?

–Deixa pra lá. Encontrei alguns agentes da I.M.A. aqui em Nova York. Seria de muita ajuda mandar alguns agentes da SHIELD para a limpeza.

–Consegue dar conta deles?

–Claro. Afinal, é a I.M.A.

–Certo. Alguns agentes serão enviados. - Ela desliga a comunicação.

Pretendo fazer uma entrada triunfal, não posso simplesmente entrar pela porta da frente ou pelo telhado de forma sorrateira. Disparo uma teia no prédio ao lado e me balanço. Dou uma volta no prédio vizinho e então invado a janela da sala em que os agentes da I.M.A. estão.

Calculei mal minha entrada. Coincidentemente, acertei um agente deles, mas chamei muita atenção com essa entrada. Logicamente, eles começam a atirar em mim. Não há tempo para fazer piada, nem para contar quantas centenas de agentes estão nesta sala - sim, com certeza existem mais de cem por aqui. Acho que atrapalhei a reunião.

Consigo me esconder atrás de uma coluna, mas não significa que estou segura. Na verdade, longe disso. Ouço correria tanto da esquerda quanto da direita. Conto até 5 e...

–Ops! Não ouvi vocês chegando. - Brinco, esticando os dois braços e acertando a cabeça dos dois agentes que corriam.

Salto para o lado e confronto dezenas de agentes ao mesmo tempo. Soco um, dois, três, quarto. Levo soco de um, dois, três, quatro. O intervalo de tempo para desviar dos socos é curtíssimo, quase inexistente.

Salto outra vez, agarro-me no teto e depois pouso no chão. Dou uma rasteira, derrubando 4 e errando 10. Definitivamente não foi uma boa ideia entrar no prédio daquela forma. Poderia ter planejado melhor. Aprendendo com os erros...

Pulo e dou chute no ar com as duas pernas. Continuo chutando todos que vejo, cotovelando todos que não vejo e me protegendo da forma que consigo. Não dá, são muitos! Alguns deles agarram meus braços, meu pescoço. Eu tento chutar, mas também seguram minhas pernas. Estou completamente imobilizada.

Não por muito tempo. Disparo rajadas bioelétricas das duas mãos, algo que nunca acontecera antes - disparo das duas mãos é novidade. Ao mesmo tempo também libero meu pé esquerdo de um jeito bem inusitado - consegui ficar descalça. Para ficar livre de uma vez, chuto um dos caras e fico com o pé direito livre, para enfim ficar equilibrada e jogar o cara que segura meu pescoço para longe.

Sentido-aranha vibrando. Mais disparos com as armas. É incrível como eles não param de vir. Já fico preparada para bater em mais agentes da I.M.A., mas...

–Chega! - Grita alguém - Abram espaço para mim.

Os agentes da I.M.A. ficam quietos e em sentido. Continuo preparada para contra-atacar qualquer um. Algo me diz que não enfrentarei mais os agentes, mas alguém bem pior.

–Quem ousa interferir em nossas negociações?

É um homem com o rosto de cor púrpura e usando um terno da mesma cor. Ele está bem estiloso para um traficante de armas. Não faço ideia de quem seja este cara.

–Quem é você?

–Te pergunto o mesmo, senhor.

–Homem-Púrpura.

–Je...Jess...Jessica Drew. - Que estranho. Eu não queria contar meu nome, mas algo me obrigou a fazê-lo.

–Ah! - Ele sorri e aponta o dedo. - Lembro-me de ti. A verräter que Strucker e Víbora tanto falaram no ano passado. A prisioneira especial da HIDRA.

O quê? Não acredito que ele seja da HIDRA. Pode ser algum representante para comprar as armas da I.M.A. É a única explicação plausível.

–Diga-me, Jess, o que faz aqui?

–Eu sou a mocinha daqui. - Respondo involuntariamente de novo. O que está acontecendo?

–Uma dama como você não pode lutar contra tanta testosterona à toa. O que deseja realmente? - Ele se aproxima de mim. A voz dele é muito calma.

–Eu vi os agentes e decidi entrar. Sou uma agente da... - O que eu estou falando?! Cala a boca, idiota! - ...SHIELD. - Tentei hesitar, mas não pude.

–Ah, faz sentido.

Ele sorri. Mesmo com seu rosto roxo, literalmente roxo, e cheio de cicatrizes, sinto algo por ele. E acho que ele também sente algo por mim, já que se aproxima bem devagar - e quando me chamam de dama é porque querem me beijar.

Sinto olhares desconfiados dos agentes ao nosso redor. Ele também sente, e me tranquiliza sussurrando algo.

–Não se preocupe com eles, não deixarei que ataquem-na. Aliás, gostei de seu perfume.

Perfume? Não usei perfume hoje para saber se minha sedução diminuiria. Deve ser o shampoo ou o desodorante - será que os feromônios têm cheiro?

–Obrigada - Respondo timidamente. Ouço algumas risadinhas dos agentes ao nosso redor. Preciso recuperar a compostura - Você se importa de eu bater em algum destes caras? Daqui a pouco os reforços chegam e não quero receber sermão.

–Fique à vontade. Já vendi meus equipamentos a eles, mesmo. Preciso ir, senhorita Drew. - Ele diz, afastando-se de mim.

Eu fico com vontade de socá-lo, afinal é um bandido! Mas algo me impede. Fico imóvel enquanto ele sai pela multidão de agentes da I.M.A. De repente, começa o tiroteio e, claro, o alvo sou eu. Agora que já não me sinto indisposta para lutar, consigo me proteger. Segundos depois, os agentes da SHIELD chegam pelas portas e janelas.

...

Eu diria que esta missão foi um sucesso, pois prendemos dezenas ou centenas de agentes da I.M.A. No entanto, uma parte de mim discorda dessa ideia e acredita que eu fracassei, pois não prendi o 'chefão' do tráfico. De qualquer forma, isto está no relatório e certamente levarei bronca.