–Você é...

–Sim, Jessica, sou o Alto Evolucionário. - Diz ele, com a voz grossa - Não sou um inimigo, mas um aliado. Venho lhe observando há muitos anos.

Meu sentido-aranha vibra, mas estou em estado de choque e não consigo reagir. O Alto Evolucionário bate com o dorso da mão em meu rosto. Foi um tapa muito forte, principalmente por causa de sua armadura. Fico caída no chão.

–Se você é um aliado, por que me bateu?

Ele não responde, apenas gesticula com a mão. De repente, um cabo de aço segura minha perna. Depois, outros cabos de aço surgem e me prendem. Acho que isso foi uma resposta.

–Me dói bater em um ser especial como você, mas era necessário. Você não vai escapar, apenas ouvir.

Ele vira-se para a Mulher-Aranha e, simplesmente, liberta-a à distância. As teias sumiram misteriosamente ela está de pé ao lado de meu aliado/inimigo.

–Charlotte, seja uma boa menina e inicie a operação de nosso convidado.

Ela assente e dá uma piscada para mim. Em seguida, foi-se embora. Só estamos eu - uma magrela surpresa e presa em cabos de aço - e o Alto Evolucionário - um cara de armadura cujos poderes eu desconheço.

–Quero lhe contar uma história, Jessica. Venha comigo.

Ele se afasta. Eu pensei que os cabos me soltariam, mas não é isso que acontece. O chão aonde estou se ergue e flutua, girando alguns graus para frente e, então, seguindo o Alto Evolucionário. Como será que ele fez isso?

–Tenho telecinese e telepatia, respondendo à sua pergunta - Ele diz. Ah tá, entendi. Ele também lê pensamentos.

–Que história você quer me contar?

–Seu presidente veio à Trânsia por um pedido especial do presidente local. Entretanto, ele não sabia que este era eu. Ninguém sabe, exceto eu. Charlotte matou-o e arrancou sua cabeça. Em breve, ele será o primeiro presidente híbrido dos Estados Unidos.

–Híbrido?

–Sim. Corpo de humano, partes de animais. Pensei em cavalo, pois nunca testei antes. Ah, sinto uma dúvida em sua cabeça. Uma não, várias. Por favor, organize-as e tentarei responder o máximo possível.

–Onde realmente estamos? Pensei que esta base fosse...aquela antiga da HIDRA, em que vivi por anos.

–E é. Só que esta parte apenas Zola e Strucker tinham acesso. Aqui foi onde eu entreguei o corpo do Caveira Vermelha a eles.

–Mas você disse que estamos na Trânsia.

–Sim. Esta base da HIDRA se localiza na Montanha Wundagore, na Trânsia. Jessica, depois que seu pai fez o que fez, prometi que Bova cuidaria de você e dos gêmeos, mas principalmente de você.

–Bova? É aquele...

–Corpo aberto na mesa. Sim. Infelizmente, morreu de velhice. Tentei recuperá-la, mas não havia solução. Enfim, após sua morte, entreguei vocês três à HIDRA para que treinassem e aprimorassem seus poderes. Não podia cuidar de vocês e como Jonathan tinha um passado lá dentro, não foi difícil convencê-los a aceitá-la. Já os gêmeos...

–Os gêmeos...Você fala de Pietro e Wanda, não é?

–Exato. Por serem mutantes, Strucker relutou bastante em aceitá-los. Eu o convenci, mas com a condição que eu deveria encontrar o corpo do Caveira Vermelha.

–Quando foi que isso tudo aconteceu?

–Logo após seu pai matar sua mãe e se suicidar. Por aqui.

Nova informação. Não sabia que meu pai havia se suicidado. Eu sabia que ele estava morto, mas por suicídio...

O Alto Evolucionário vira a esquerda e eu, ainda amarrada nos cabos, sigo-o. Eu sinto alguma coisa incomodando minha perna, mas não posso alcançá-la por motivos óbvios. Queria saber o que é, mas é melhor afastar estes pensamentos. Torço para que ele não esteja lendo-os.

–Próxima dúvida?

–Quem são as outras Mulheres-Aranha? Sempre pensei que eu fosse a primeira e única.

–Ah, na verdade você foi a 2° a adotar tal nome. Julia Carpenter foi a primeira, mas não sobreviveu às minhas experiências. Acho que você reconhece a Mattie Franklin pelos noticiários. Observo-a desde antes daqueles Vingadores da Costa Oeste surgirem meses atrás. Tem você, é claro. E Charlotte, criação minha a partir do DNA de vocês 3.

Ótimo, outra novidade desanimadora para mim. Além de não ser a primeira, também não sou a única.

Ficamos um longo tempo quietos. Creio que ele esteja lendo meus pensamentos outra vez. Ou talvez não, acho que ele já teria se manifestado. De qualquer forma, este passeio silencioso não me agrada.

–Temos tempo para mais uma dúvida.

Só mais uma? Tenho várias, nem dá para listar todas. Queria saber aonde está o Nathaniel Essex, que parece bastante perigoso para os X-Men. Qual a relação do Alto Evolucionário com meu pai para ele confiar minha segurança numa vaca-humana e em nazistas. Se aquelas duas silhuetas que me perseguiam são ele e a Mulher-Aranha... São tantas, mas acredito que ele espera por uma.

–O que quer comigo?

Ele para de andar. Será que fiz a pergunta correta?

–Achei que eu devia lhe contar tudo pessoalmente. Como já disse antes, não sou um inimigo, mas um aliado.

–Desculpe, mas você não respondeu a pergunta.

–Não concluí. - Ele vira-se para mim e gesticula. Então, os cabos de aço se soltaram de mim - Você pode fazer uma escolha. Sair pacificamente com sua amiga, cujo pensamentos estou sentindo há muito tempo. Ou simplesmente continuar por aqui e honrar o legado de seu pai, mas ao meu lado.

–Legado? Como assim?

Ele para de falar. Mesmo com o capacete cobrindo seu rosto, ele hesita em continuar a conversa. O que será que ele está pensando? E que amiga é essa na qual ele falou?

–Como assim legado? - Pergunto outra vez, ainda aguardando a resposta.

–Eu...Eu acredito que você não esteja pronta. Ainda não.

–Mas...

–Tens 18 anos e já demonstrou inteligência, mas não é tão parecida com seu pai. Pode partir, Jessica Drew.

Ele vira-se e se prepara para ir embora, mas eu seguro seu braço. Ele se solta e vira-se de volta para mim. Acho que não gostou de eu tocá-lo, pois ele estica a mão e me sufoca como um Jedi nos filmes de Star Wars, ou seja, à distância. Maldita seja esta telecinese.

Aos poucos, tudo fica escuro. Respirar fica difícil. Também não consigo me mexer. Entretanto, eu fico de joelhos contra minha vontade. Ele também controla meus movimentos.

–Não temos mais o que conversar. - Senti fúria na voz dele - Está livre para partir. Fale com Charlotte quando você estiver pronta.

Então o ar voltou a entrar em meu corpo. Ufa! Como é bom respirar outra vez. Entretanto estou tonta. E meu nariz está sangrando também. Depois de um tempo, fico de pé, mas com dificuldades. Caminho encostada na parede. Curioso que eu esteja bem ao lado de meu antigo quarto, exatamente onde meu dia (re)começou.

Não devo sair daqui. Ele está com o corpo do presidente, é um assassino. Trabalhou com a HIDRA, é um ser perigoso demais para ficar solto. Porém estou muito fraca para confrontá-lo sozinha. Melhor partir e retornar com reforços mais tarde.

Caminho insegura até aonde era o hangar. A base continua com a mesma planta, apesar de ainda estar destruída. Chego ao local e encontro a Charlotte parada ao lado do helicóptero que me trouxe aqui. Ela sorri.

–Cumpri minha promessa de mostrá-la ao mestre. Mereço uma recompensa.

Fito ela com um olhar agressivo. Pelo menos eu acho que estava agressivo.

–Estou brincando. - Ela joga as chaves para mim - Gire para a esquerda e conseguirá decolar. Bon voyage, Jessica.

Ela vai embora. Estou meio incomodada com esta situação. Quer dizer, não sei pilotar um helicóptero e queria que essa Mulher-Aranha me levasse de volta - o que me incomoda mais ainda. Abro a porta do veículo e vejo que já há alguém sentado no banco do co-piloto.

–Ah, então era você a quem ele se referia. - Digo, pouco animada com a presença da Nink.

–Oi. Sabe pilotar um helicóptero?

–Não.

–Nem eu.

–Procure o botão do piloto automático.

Dou a volta no helicóptero. Antes de subir, verifico se não há uma bomba implantada no veículo. É sempre bom verificar. Abro a porta, mas olho para trás. Vejo aquelas duas silhuetas nos olhando. Sim, confirmo que eram eles dois. Espero nunca mais vê-los - em especial, aquela mulher!

–Achei! - Grita Noemia.

–Ótimo. - Subo e fecho a porta. Eu ligo o helicóptero e decolo, saindo do hangar. - Pode apertar o botão.