Astrid mal tinha conseguido dormir. Estava pensando o tempo inteiro na tal profecia que Galila falara para ela. Aden entrou em sua casa e Astrid ainda estava na cama. Ele tinha nas mãos uma bandeja cheia de quitutes deliciosos. Sempre com aquele sorriso meigo estampado no rosto. Astrid estava normal, digamos que ela não estava mais com a roupa de guerreira-exorcista. Aden meio que estava aliviado vendo a amiga assim, com os cabelos bagunçados e com seu vestido branco. Ela levantou esticando os braços,cumprimentou o amigo e falou com a sua pomba branca, Esperança. Astrid sentou em uma pedra que havia em sua casa e deixou Esperança voar, afinal, ela era um espírito livre.
Aden sentou em seu lado e ofereceu os quitutes. Ainda em silêncio comiam. Aden adorava admirar os olhos cinzentos de Astrid, eram graciosos e pareciam estar longe.

–Você está bem?- perguntou Aden.

–Por quê não estaria?

–Você ainda não leu o jornal?

–Não.- ele entregou a ela o jornal e seus olhos quase pularam para fora- "Guerreira exorcista espiã? Foi consultar Galila e a fez ficar possuída? Não se sabe, mas ficaremos de olho você 'exorcistazinha'." O que é isso?! "Por Mensageira Celeste"?! Mas que porcaria é essa Aden?!

–Celeste foi considerada uma anjo mensageira. Como seu dever, deve deixar os anjos sabendo de qual quer tipo de informação que acontece por aqui. Mas mudando de assunto... Que assunto é esse de profecia?

–Nem me fale Aden...- Astrid suspirou cansada- não dormi ontem pensando nessa profecia.

Ficaram em silêncio de novo. Quando Astrid ouviu uma mensagem de Deus em sua mente. "Compareça a fonte de pedra. Preciso falar com você. E é urgente.". Astrid sacou as asas e voou. Aden a acompanhou. Deus estava sentado na fonte de pedra ponderando. Astrid se aproximou dele. Tentou imaginar o que ele estava pensando, ele estava tão longe que nem notara que Astrid estava ao seu lado. Logo ele virou o rosto, com os mesmo olhos inquietos e o sorriso divertido, como deixara a ultima vez que o viu. Ele pareceu pensar em algo, então seu sorriso se desfez e ficou com uma cara amarga. Deus deu um suspiro.

–Astrid. Um caminho longo e perigoso a aguarda. Então você deve partir amanhã para o mundo dos mortais, para descobrir o que está havendo. O que significa suas previsões e a profecia que Galila recitou.

–Eu entendo.- disse Astrid

–Deus, você não pode deixar ela ir sozinha! Eu me ofereço como anjo guerreiro!- protestou Aden

–Hum... Tem razão. Vou mandar você Aden e um anjo mensageiro como...- Deus olhou para o jornal- Como Celeste.

–Celeste?! Ah por favor Deus! Ela não! Todos menos ela!- disse Astrid

–Não podemos viver em guerra com a nossa família Astrid. Agora que você protestou...agora mesmo que Celeste vai. Devemos manter a harmonia no céu.

Astrid suspirou. Não era a primeira vez que Celeste aprontava com ela. Parecia que ela fazia de tudo pra Astrid ser expulsa do céu. Deus chamou aquela filha de satã para a fonte de pedra. Quando Celeste chegou, ela deu um sorriso irônico para Astrid, a ameaçando.
Seus cabelos negros sempre muito bem organizados e com roupas vermelhas. Ela sacou as asas e as bateu, ameaçando de voar, como se estivesse perturbando um papagaio. Astrid sacou suas asas também e a imitou, porém o dela era mais rápido. Deus cruzou os braços e olhou para as duas, decepcionado.

Astrid suspirou, impaciente e explicou tudo para Celeste e ela não tirava o sorriso irônico no rosto, como se estivesse ouvindo uma pura brincadeira. Astrid a olhava brava, estava com vontade de voar no pescoço dela. Até que Deus a olhou e fez um gesto de negação com o dedo. Ela havia esquecido que ele conhecia o coração de todos. Celeste aplaudiu no final da história.

–Quem inventou isso?- disse tentando conter o riso.

–Não inventei nada! A vida de alguém está em jogo!- gritou Astrid e Aden a segurou.

–Ela sonhou com esse alguém...- observou Aden.

–Então me escuta chuchu... Como era esse- Celeste fez um gesto de aspas- "alguém"?

–Ele tem cabelos escuros, olhos vermelhos e verdes, tem apenas uma asa e...- ela foi cortada

–Uma asa! Um anjo-caído! Você acha que devemos salvar um anjo-caído?! Nossos inimigos?!

–Só se forem seus Celeste- finalmente protestou Deus- não temos inimigos. Não queremos guerras. Eles querem. Agora,Astrid sonhou com esse alguém. Existe a profecia que parece de alguma forma ter acesso ao sonho. Ela precisa salvá-lo e precisa também de uma equipe. Você vai, ou não vai?

Celeste engoliu o seco. Ela assentiu. Deus pediu para eles se arrumarem para a missão. Os três voaram. Astrid foi até sua casa e pegou uma mochila e colocou água, um pacote de biscoitos, corda, fósforos e seu punhal. Amarrou os cabelos loiros com uma liga. Trocou de roupa, colocou uma legging preta e uma blusa frouxa escrito: Keep Calm e um tênis de cano longo. Em sua aula, aprendeu que devia se "camuflar" no mundo terrestre. Devia ter os mesmos trajes de humanos e se misturar.
Astrid ficou com a cabeça latejando, mas não deu muita atenção, até que ficou com mais e mais dor de cabeça. Até que ela desmaiou.
Acordou em um ambiente diferente, estava em um sonho. Nunca esteve num ambiente desse antes. Observou que a população de seu sonho apenas tinha uma asa. Eram anjos-caídos.
Astrid voou e explorou o sonho. Até que viu um anjo-caído de cabelos negros até o pescoço, usava calça jeans e uma blusa branca. Ele era pálido e parecia estar irritado com alguma coisa. Uma mulher tentava acalma-lo mas era inútil e ele a ignorava. Ele gritou de ódio e olhou em direção a Astrid, porém ele não a viu, ela era um espírito. Seus olhos eram afiados e frios. O sonho mudou, não, ela acordou e voou meio atordoada até a fonte de pedra. Aden estava de bermuda, blusa regata, tênis de corrida e um boné da Nike.
Celeste estava com uma blusa verde colada, saia preta e um par de sapatilhas. Todos estavam com mochilas. Partiram no mesmo minuto para o mundo dos mortais. Quando chegaram ao chão finalmente respiraram. Estavam no interior de New York, em um terreno baldio. Astrid apalpou suas costas e não sentiu suas asas. Em suas aulas, Astrid aprendeu que quando as criaturas pousavam no chão dos mortais, elas sumiam, mas se as criaturas quisessem voar poderiam. Aden e Celeste também não estavam com suas asas. Astrid suspirou fundo.

–Precisamos de um carro.

–Descobriu isso tudo sozinha gênio?- resmungou Celeste.

–Pelo menos eu descubro em vês de inventar coisas ridículas da vida alheia dos outros!

–O que você quis dizer com...- Aden separou elas e olhou feio para as duas- bem... Eu trouxe um notbook que me da acesso ao dinheiro dos mortais. Eu sei, eu sei. Eu sou incrível. Mas não esqueçam que o dinheiro não é infinito ok?

Alugaram um carro a poucos metros de onde estavam. Aden sentou no banco do motorista, Celeste sentou no banco do passageiro da frente e Astrid no banco de trás.
Foram de carro até a cidade. Astrid observava a cidade da janela. Até que viu o anjo-caído de seus sonhos, o de olhos afiados e frios. Astrid ficou pasma e gritou:

–Pare!

Antes que alguém falasse alguma coisa, ela desceu do carro e foi ao encontro do homem que seria o anjo-caído de seus sonhos. Astrid tocou em seu ombro e ele a olhou assustado.

A pupila dele dilatou, como se ele já a tivesse visto em algum lugar... Ou em algum sonho.Eles ficaram se olhando.

–Eu vi você no meu sonho.- falaram em unissom

–Você sabe onde esta meu irmão?- perguntou ele.- O anjo-caído...

–Não... Eu sinto muito. Eu o vi preso a correntes eternas. Eu acho que de alguma forma, sou ligada a você ou a seu irmão.

–Sou Daemon.- disse ele.

–Daemon... Já estudei você. Seu pecado é a Ira. Um anjo-caído e...- ela foi cortada.

–Não precisa me falar o que eu já sei.- disse Daemon friamente- eu sei que você pode me ajudar. Agora vamos, tenho que achar meu irmão

–Sou Astrid, obrigada por perguntar- disse ela revirando os olhos- tem um carro ali. Estou com os meus amigos a procura de seu irmão. Venha.

Astrid levou Daemon até o carro que estava parado no meio da avenida. Carros atrás estavam buzinando impacientemente. Astrid e Daemon entraram no carro. Celeste se virou no banco e viu o quanto Daemon era bonito. A pele pálida e olhos negros e frios, parecia querer quebrar os ossos de qual quer um e usar como palito de dente. Ele observava Celeste tentando entender por quê ela o encarava.

–Não podemos ter relações com anjos-caídos Celeste.- avisou Astrid sem olhar para ela.

–Anjos-caídos?!- Aden e Celeste gritaram.

–Ele é Daemon. Irmão do anjo-caído dos meus sonhos.

– Ah... Bem... Ele é bonitinho.- disse Celeste num sorriso.

Daemon olhou para Astrid com um olhar vazio tipo: Esses são seus amigos?
Ele pôs a mão no rosto dela. Aden quase para o carro. Daemon fechou os olhos e pareceu tentar se concentrar. Astrid estava assustada com o que podia acontecer. Poucos segundos depois, ele abriu os olhos e fez uma boca torta.

–Não consigo ler sua mente... Acho que estou enfraquecido com o mundo mortal ou coisa assim.- declarou Daemon

O resto da viagem foi feita em silêncio. Eles alugaram um quarto e Astrid tentou resolver a profecia, algo que parecia impossível! "Olhos cortantes á alma sombria, costurado por uma razão impura..." Pensou ela. "O que me lembra olhos cortantes? Daemon? Com aquele olhar dele eu viraria pó. É uma teoria,mas alma sombria? Eu não faço a menor..."
Ela foi interrompida em seus pensamentos por uma batida na porta de seu quarto. Se levantou e atendeu. Era Aden, ele estava com uma blusa branca, uma bermuda e um tênis de corrida. Ele parecia um tanto incomodado.

–O que foi?- perguntou Astrid.

–Bem... Eu não confio nesse novo sujeito. Precisamos levar ele?- Astrid fez uma careta e curvou o pescoço- Tá legal! Indo direto ao assunto, Deus me enviou uma mensagem. Ele disse que temos que falar com Sabedoria, uma mulher que "traduz" profecias.

–Ótimo! Vamos partir agora mesmo!- disse ela empolgada.

Vestiu uma blusa cinza como seus olhos, regata, uma calça jeans até o joelho e tênis all star. Amarrou os cabelos num coque e saiu do quarto. Todos estavam com mochilas nas costas. Celeste lia um livro e avisou a todos que a tal Sabedoria morava num monte. Os quatro foram para o monte de van. O triste desse dinheiro, é que ele não é infinito,então teriam que economizar. Chegando no monte, desceram da van e viram uma velha sentada junto a uma macieira. Porém todas as maçãs estavam murchas, assim como a pele da velha, que parecia tão frágil quanto seu vestido de seda. Ela era Sabedoria, decifradora
de profecias. O local era tão incomum, era difícil de descrever. A mulher se levantou, sua pele estava tão enrugada quanto a maçã, andava de uma forma enrolada e tinha longos cabelos grisalhos. Tinha olhos azuis como o céu. Astrid estava tão aliviada que achara alguém para decifrar a profecia que quase senta e grita: Obrigada! Obrigada!
Porém se conteve o máximo. Daemon chegou próximo da mulher, que parecia um gigante comparado a altura dos dois. Ele respirou fundo e exclamou:

–Não sinto sua alma.

–E nem eu a sua.- respondeu Sabedoria, que fez Daemon cambalear.

–Estamos aqui para a senhora resolver essa profecia- Astrid entregou a profecia.

–Está claro. Porém não vai custar barato.- disse a velha.

–Ah! Essa é boa! Uma coroa que cobra os serviços de doida! Vamos vazar daqui.-respondeu Celeste.

–Celeste... Guarda um grande segredo, que pode lhe queimar literalmente.- Sabedoria disse.

–Eu...- Celeste respirava com dificuldade.

–Diga logo o quanto vai custar.- respondeu Astrid, impaciente

–Eu sou uma pobre velha... Eu gostaria da maçã dourada que irá fará as minhas maçãs brotarem novamente. Ela se encontra no lugar mais frio do mundo, se forem inteligentes, saberão onde ela estará. Eu também queria a adaga de prata, que se encontra dentro da água dançarina, que está numa fonte governada por quatro gigantes e quatro leões e mais uma galerinha... Também queria a foice da verdade, vocês a acharão, sei que sim.

–Só isso tia?!- protestou Celeste

–Essa profecia é a melhor que eu vi em toda a minha vida. Tem que custar caro.

Assim que os jovens saíram, a velha se transformou em um demônio. Com o mesmo olhar de serpente, a pele pálida e sem blusa. Ele voou até uma árvore próxima e se viu de frente para uma velha. Tinha a mesma aparência que ele tinha há poucos minutos atrás. Ela estava amarrada contra a árvore seca. Tinha uma fita na boca e parecia chorar. O demônio sorriu com dentes afiados como navalha e tirou a fita de sua boca.

–Por que esta fazendo isso? Por que pediu para eles pegarem aquilo?- perguntou Sabedoria

–Tola. Eles vão pegar as armas da própria morte deles. Eles vão pegar a corda de sua forca.- respondeu o demônio.

Ele riu, cantando vitória. Demônio abriu a boca e saiu uma fumaça negra de dentro dele e vagou por todo o lugar até chagar em Sabedoria. Ele a secou, tirou mais anos de sua vida e seu poder. O demônio se chamava Agares, o demônio da maldade e da linguagem demoníaca.
Os quatro chegaram no hotel e arrumaram roupas de frio. Celeste disse a todos uma notícia boa e uma ruim. A boa era que ela descobrira a localização da maçã, Verkhoyansk,Sibéria, Rússia (-69.8° C). E a ruim é que nem tinham mais o dinheiro das passagens de avião. Eles gastaram muito o dinheiro. O jeito era ir voando, porém Daemon não voava, só tinha uma asa. Ficou combinado que Aden o levaria. Isso não cheirava bem, Aden não gostava nem um pouco de Daemon. Existia uma uma camada entre os mortais e os imortais, ou seja, essa camada fazia os mortais não verem coisas fantasiosas, como um grupo de jovens voando.

Os três sacaram suas asas e saíram pela janela. Astrid olhava para o olhar assassino de Aden. Ela tinha a sensação que ele ia derrubar Daemon e dizer: foi sem querer. Tinham muita viagem pela frente, a Rússia era tão longe...
Com três horas voando, Aden deixou Daemon cair no mar. Celeste gritou:

–Por que você fez isso?!

Astrid mergulhou numa velocidade gigante atrás de Daemon, que estava caindo no mar.