A garota do caderno preto (SENDO REESCRITA) escrita por LuaReyna


Capítulo 3
Estou deixando você ir




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– Você saiu com quem?! - Gritou Alex no carro enquanto me dava carona para a escola

– Eu já disse! Não foi um encontro! Eu só a chamei pra tomar um cappuccino! Tinha que fazer alguma coisa! Afinal, não é a primeira vez que causo danos físicos a ela!

– Do jeito que as coisas andam você vai causar a ela muito mais do que danos físicos.

– Para de falar besteiras e preste atenção na estrada seu idiota! Quer nos matar antes das férias?

– Cara... É segunda! Qualquer pessoa tentaria se matar

Chegamos à escola super atrasados. Até tentamos entrar sem fazer barulho, mas nossos tênis molhados nos denunciaram fazendo um barulho irritante

– Kevin e Alex! Venham aqui agora! - A diretora nos deu ocorrências e uma ameaça de detenção.

Fomos pra sala, mas infelizmente eu tinha aula de biologia e Alex de história, então só nos encontraríamos no intervalo.

Quando entrei na sala, o professor me olhou com desaprovação e anotou alguma coisa em seu caderno

–Kevin, está atrasado. - Ele fez uma pausa para me avaliar, mas logo depois deu de ombros - Sente ali. - Disse indiferente apontando para a garota do caderno preto que estava sentada sozinha no fundo da sala olhando dentro de um microscópio. Acho que ela não percebeu minha presença.

Fui andando até o local indicado pelo professor, mas novamente, o infeliz do tênis barulhento me denunciou

– Ah! Oi Kevin, - Disse com um sorriso olhando pra mim

– Oi garota do caderno preto. - Disse com um sorriso. No inicio ela tentou me explicar o exercício, mas a cada palavra minha mente ficava mais confusa, então ambos desistimos e ela fez tudo sozinha e colocou meu nome, mesmo depois de eu insistir para ela não colocar.

– É Alice? - Perguntei

– Hã?

– O seu nome.

– Não. - Disse rindo - Tenho cara de Alice?

– Não sei... Eu só gosto desse nome, - Disse dando de ombros. Não pude conter meu olhar que desceu um pouco, e desceria mais se eu não tivesse me deparado com um colar, parecia uma pedra, era azul e amarrado em uma corda - O que é isso? - Disse apontando para o tal "colar".

– Ah! É um colar de pedra da lua. - Disse ela sorrindo, pela primeira vez não foi um sorriso pequeno - Na Grécia é conhecida como Afroselene. - Era uma informação desnecessária, afinal não estamos na Grécia, mas essa informação só me fez concluir minha teoria: Ela é muito inteligente! -É usado como amuleto, para proteção.

– Nunca tinha reparado nele. - "Talvez eu tenha que começar a olhar pra baixo" completei mentalmente

Ela girou o colar nos dedos e sorriu, eu teria sorrido de volta mas, eu estava concentrando todas as minhas energias em não ficar com cara de bobo, mas não tenho certeza se estava dando certo, até que o professor nos interrompeu. Nunca fiquei com tanta vontade de socar um professor na minha vida.

Depois de aturar longas horas de Alex enchendo a minha cabeça, eu fui pra casa. Quando cheguei, encontrei minha avó, sentada na mesa da sala, fazendo tricô. Isso era a cena mais comum nessa casa. Minha avó tinha uma variada coleção de objetos de tricô e passava o dia inteiro tricotando, eu acho que tinha mais suéteres do que fios de cabelo. Além de ter que vê-la fazendo isso o dia inteiro, ela tinha uma regra rígida de ninguém nunca tocar nem um dedo em sua preciosa caixa de tricô.

– Bom dia avó. - Disse me jogando no sofá

– Bom dia Kevin, como foi na escola?

– Bem. - Muito bem

Minha avó era uma das pessoas mais importantes do mundo pra mim. Ela tinha me criado e criado minha tia junto com minha mãe. Era uma guerreira, ninguém podia discordar disso. Lembro-me até hoje de quando eu era pequeno e caiu um passarinho machucado no nosso quintal, nós dois cuidamos dele até ele ficar bom, mas eu acabei gostando muito dele e quando sua asa já estava curada eu não queria devolve-lo a natureza de jeito nenhum, mas minha avó me convenceu dizendo "Às vezes quando amamos uma coisa é melhor deixá-la ir, se ela realmente te amar também, ela vai voltar" e no dia seguinte o passarinho estava voando entre as árvores do nosso jardim

– Kevin, pode ir ao mercado comigo? - Disse guardando um rolo

– Claro. - Eu fui dirigindo o carro dela até o mercado, chegando lá fui consultando a lista para ajudar a pegar tudo e voltarmos pra casa o mais rápido possível. Enquanto estava ouvindo uma aula sobre a diferença das marcas de creme de leite eu ouvi uma gritaria, do nada todos começaram a gritar e correr para um lado e pro outro, até que eu ouvi o som de um tiro e todos ficaram quietos

– Isso é um assalto! - gritou o homem entrando em meu campo de visão, coisa que não fazia muita diferença, já que ele e seus outros dois amiguinhos estavam de máscara. Enquanto um dos bandidos ameaçava a moça do caixa forçando-a a dar-lhe todo o dinheiro, os outros dois controlavam os reféns.

Depois de dez minutos nas mãos dos criminosos a polícia chegou. Vários homens entraram armados. Assim que um dos bandidos viu a polícia, atirou em uma mulher que estava parada do lado da seção de biscoitos

– Pare! - gritou o policial nervoso. Enquanto ele tentava negociar com os bandidos eu fazia o possível para manter minha avó calma, coisa que poderia ser considerada impossível. Quando os bandidos tentaram fugir, um policial atirou nele fazendo-o cair morto no chão. O outro logo reagiu atirando na...

Minha...

Avó...

Assim que a bala penetrou seu corpo eu fiquei sem reação, vi os dois últimos bandidos restantes fugirem e metade dos policiais entrando em seus carros para persegui-los. O corpo de minha avó lançado no ar até cair de forma bruta no chão. Minhas pernas falharam e eu involuntariamente me ajoelhei ao seu lado com todo o meu corpo tremendo e minha garganta incapaz de produzir som. A abracei com toda a delicadeza que consegui, porém foi um abraço firme, com meu ouvido posicionado em frente ao seu coração, entrei em um mar de desespero enquanto ouvia seus últimos batimentos chegarem ao fim.

Não me lembro do que aconteceu depois disso, só consigo me recordar de várias pessoas tentando me afastar do corpo morto de minha avó enquanto eu soltava gritos horrendos por todo o estabelecimento e depois eu apaguei. Acordei no meu quarto com o céu já cheio de estrelas. Quando me levantei, fui até a janela e vi uma estrela diferente, era mais brilhante que as outras e trazia consigo um brilho meio azulado.

– Estou te deixando ir. - Disse fechando a cortina - Se você realmente me ama, eu sei que vai voltar.


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Notas finais do capítulo

Capitulo grande para compensar o anterior que foi muito pequeno kkk
Espero que tenham gostado